
(tirando a camisa, logo na primeira cena do filme. Bom, foi basicamente para isso que as meninas foram no cinema mesmo, logo...)
Sério. Não faça. Mesmo.
O que você está fazendo aqui, Edward? Minha avó pode te ver.
(brilhando no Sol)
Acho isso meio difícil. Ainda mais se levarmos em conta que isso é um sonho. E que aquela velha é você.
Esperto esse diretor, não?]
(acorda do sonho, assustada. É claro que você não é capaz de dizer que ela está assustada olhando para a sua expressão facial, mas é o que eu imagino que a cena deveria passar para o público)
Oh, não! Hoje é meu aniversário. O que quer dizer que estou ficando cada dia mais velha. Enquanto meu amor eterno para o todo sempre não envelhece. Porque ele é um vampiro, sabe. E eu sou humana. E humanos envelhecem e um dia morrem, enquanto ele vai continuar sendo perfeito enquanto eu vou acabar enrugada, exatamente como aquela velhinha que vi no meu sonho que era na verdade uma metáfora do meu pavor de...
Juro que não é minha culpa. O original consegue ser pior.
Cena: primeiro beijo da casal principal do filme
(aparecendo de novo. Só que dessa vez em plano americano, e em câmera lenta. Não, é sério. Sabe quando falta um segundo para acabar o jogo e o time de basquete joga a bola em direção à cesta, e todos ficam com os olhos presos na cena, e a velocidade da câmera diminui para esticar o momento de tensão? Exatamente igual. Mas no caso é só para que as fãs comprem a Capricho do mês que vem com o pôster do ator.)
Oi.
Oi.
E pensar que essa autora brilhante vendeu bem mais livros do que eu.
(usando mais batom do que qualquer outra pessoa no filme. Quando eles acertam – mais ou menos – na base branca no rosto do pobre, erram no batom. É tão difícil assim encontrar um maquiador decente para trabalhar no filme mais esperado de 2009?)
Feliz aniversário.
Aaaaaaaaaaaaaaaaaaw!
(cinco ou seis coitados, no máximo)
E eu paguei para ver isso.
Parabéns!
(que tem o cabelo mais lindo de todo o filme)
Abra os presentes, Bella!
(em seu momento Peter Parker de ser)
Sinto muito, Bella. Sinto muito que um dos meus irmãos tentou te atacar e que te coloquei em perigo. Não sou bom o suficiente para você. Você merece uma pessoa normal que possa acompanhar sua vida sem quase causar sua morte.
Mas você não pode me deixar! Não pode! Não pode!
Claro que posso. Sou o homem perfeito, lembra? Vou me sacrificar por você. Mas só na próxima cena, porque é bem mais legal te dar o fora no meio da floresta.
Olha só, eu e minha família estamos indo embora. E desconsidere tudo o que eu disse/o que aconteceu ontem e não tente PENSAR sobre as razões de eu estar terminando com você. Ao invés disso é bem melhor acreditar que simplesmente não estou mais a fim de você.
(direto da escola Reinaldo Gianecchini de atuação)
O quê? Mas... mas... como?
É isso. Tchau. Ah, e antes de ir, pode me prometer que não vai tentar fazer algo estúpido, como subir na garupa de um motoqueiro desconhecido, ou pular de um penhasco? Obrigado.
Meu Deus do Céu, onde é que está a minha filha?
Não se preocupe, vamos encontrá-la.
(carregando a Bella)
Aqui está, senhor. Ela estava no meio da floresta, desmaiada.
O que tem de errado com ela?? Será que é minha culpa? Será que fui um pai relapso, que deveria se...
Nada disse, senhor. Ela só não tem personalidade. A culpa não é sua. Ela provavelmente nasceu dessa maneira.
Cena: como desvirtuar os valores de meninas de treze anos ao redor do mundo
(ou Bella)
[sentada da cadeira, olhando para a janela. A câmera começa a girar, indicando a passagem do tempo e seu estado catatônico de ser humano incapaz de funcionar sem estar na presença de seu macho]
Anos de luta indo por água abaixo em menos de duas horas e meia.
Logo, fica a dica: não precisa tratar os pobres coitados que estão no cinema como deficientes mentais. Afinal, se eles não conseguem entender isso por conta própria, eles que fiquem em casa assistindo Teletubbies.
Olha só, filha, já se passaram ____ meses. Acho que já está na hora de você procurar terapia. Isso não é normal. Não quer voltar a morar com a sua mãe?
(em pânico, no estilo Bella de entrar em pânico, que é... bem.. manter exatamente a mesma expressão facial)
Não! Não posso sair daqui! Vai ser como se ele não tivesse existido se for embora e não for mais capaz de respirar o mesmo ar que ele respirou, ou andar pelo mesmo chão onde ele andou, ou...
Sério que VOCÊ é o modelo feminino das garotas de hoje?
Aparentemente. E estou bem. Para provar isso vou sair com uma das minhas amigas do primeiro filme. Vamos ver um filme de zumbis qualquer.
Cena: logo após de ver um filme de zumbi qualquer, Bella e sua amiga andam pela rua.
(mas de uma maneira que a torna mais simpática e real em meio minuto do que a Bella conseguiu em quase um ato inteiro do filme)
Aham. É. Aham. Olha lá, não são os Caras Mal Encarados Do Primeiro Filme?
Acho que é uma boa ideia dar moral para esses caras e ver o que acontece.
Continua não sendo minha culpa. Juro por tudo o que é mais sagrado que na história original a Bella realmente começa a ter visões do Edward toda as vezes que ela está em perigo.
Você está querendo mesmo me dizer que o nó narrativo principal dessa coisa é que a mocinha fica tão lunática em conta de não ter mais um namorado que começa a tentar se matar, para assim poder vê-lo?
Vou começar a andar por aí com uma camiseta escrita Não é minha culpa.
(para Bella)
Vá embora.
Hm. Acho que é bem mais produtivo para o meu crescimento como pessoa se desobedecer essa miragem e subir na moto de um desconhecido qualquer.
Pare a moto!
(faz isso! Porque todos os motoqueiros que ficam mexendo com as meninas adolescentes param a moto e deixam você descer no primeiro grito)
Você não acabou de ir dar uma volta numa moto de um louco qualquer, acabou? E eu não fiquei te esperando voltar, fiquei?
Deus, quanto pior esse filme pode ficar?
(o único do trio principal que entende os princípios básicos da atuação - que você deve alterar as feições do rosto de acordo com o que você quer passar em uma cena. Lado a lado com a múmia da Bella então... alguém dá logo um MTV Movie Awards para essa pessoa e pronto.)
Oi Bella, lembra de mim? Seu amigo franzino do primeiro filme? 14 kg de músculos depois, sou o gostosão dessa versão, uma vez que o Vampiro está sendo nobre ou algo assim e não está tanto em cena.
Oh! Um homem! E sem camisa! De alguma forma, o fato de que tenho uma presença masculina que me adora perto de mim faz com que me sinta completa novamente. Por que será?
Acho que esse é um bom momento para mencionar que todos aqueles caras que andam por aí sem camisa fazem parte de um grupinho POP da reserva e que eu os odeio por alguma razão. Ah, e eles também gostam de pular do penhasco no rio.
Acho que estou com febre, não me sinto muito bem.
(faz a mesma cara de sempre. Só Deus sabe o que ela estava sentindo na cena. Cigano Igor teria orgulho dessa menina.)
Acho melhor eu ir para casa, já que estou prestes a sofrer uma metamorfose em lobisomem. Por que isso acontece? Não faço ideia. E nem você, já que não foi explicado. Nasci assim, creio.
(fica desesperada novamente quando dias se passam e não consegue entrar em contato com seu macho número dois)
Oh, pai, por que ele não atende minhas ligações?
Talvez porque ele tenha percebido o tamanho do problema psicológico que você tem?
Não acredito! Tenho que ver isso com meus próprios olhos!
Por que você não me ama?
Por que VOCÊ não me ama? Sou mais bonito, meu tanquinho é bem mais impressionante, não quero chupar seu sangue, e sou capaz de demonstrar emoções quando falo. Mas não. Você prefere o albino. Que seja. É bom você ficar longe de mim, porque não sou bom o bastante para você.
Já ouvi esse fora antes.
Não é você, Bella, sou eu.
(sai)
Não posso deixar que o Lobisomem acabe assim com nossa amizade.
Espera!
(abre a porta)
Está brincando comigo que para dormir você coloca uma camiseta??
(surgindo do nada)
Oi, Bella! O que está fazendo usando uma mochila e ajoelhando no meio de uma relva?
....
Onde estão os Vampiros Do Bem que moravam aqui?
(cumprindo a sua cota da Presença Obrigatória A Cada Quatro Trocas De Cena Do Contrário As Fãs Se Sentem Lesadas)
Minta.
(obedecendo ordens da miragem de um homem)
Hm. É... então... eles estão, sabe... hm... viajando?
(rola os olhos)
Mas você é muito burra, mesmo. Minta que nem gente.
...
Você é patética. Bom, estou aqui a mando da Vampira Ruiva Do Primeiro Filme. Por que estou obedecendo ela? Sei lá, não parecia ser algo compatível com a imagem montada do meu personagem na primeira parte dessa história. Mas tudo bem. Ela quer que você morra, então vou te matar.
Okay.
Não ouviu o que eu disse? Vou chupar todo o seu sangue.
É, eu imaginei.
Não, é sério. Vai mesmo morrer. Como, em parar de viver.
Aham.
Sério que você não vai nem tentar correr para salvar sua vida?
Por quê? Sem Edward, não há mais vida.
Por favor, mata logo e acaba com nossa desgraça!
Já que um vampiro não conseguiu me matar, quem sabe não faço sozinha?
É ridículo demais até para que eu analise o caso.
QuantaS vezes eu vou ser obrigado a salvar essa menina?
(tremendo de frio)
Pode vir se esquentar aqui. Eu, por motivos puramente necessários para aumentar e evidenciar a oposição entre meu personagem e o do Vampiro, sou um ser muito quente. Tipo, minha temperatura média corporal é de 47º. Por que não vem se esquentar aqui?
(faz isso)
Hm. Você é como seu próprio Sol.
(revira no túmulo)
Cena: e os Vampiros do Bem estão de volta. Isso quer dizer que está acabando, não? Por favor, diz que sim, diz que sim, sim?
Ai meu Deus, ai meu Deus, ai meu Deus, o carro do Pai Do Vampiro Que Brilha No Sol está aí! Eles estão de volta!
É uma cilada, Bino!
Bella! Por que você não está morta? Tive uma visão da sua pessoa pulando de um penhasco. Certamente que deveria ter morrido.
(concordando)
Meu segundo macho me salvou. Agora, por que está aqui? E onde está meu primeiro macho? Já faz quase quatro cenas que ele não aparece, logo...
(atende e faz cara feia)
Não. Não. Sei. Ele está num funeral. Aham. Até.
Era ele, não era? Meu bofe principal? Por que você não me deixou falar com ele?
Porque ele não pediu para falar com você, oras.
(mão na parede = desespero. Só para constar)
Oh, não! Meu irmão acha que você está morta, e agora vai tentar se matar!
Por quê?
Porque sem Bella, não há mais vida.
Vocês dois se merecem, sabe.
Hm.
Não!
Diz aí, como a autora deturpou de uma maneira tão absurda a lenda dos vampiros, como ele pode fazer para conseguir se matar?
Bons tempos aqueles em que eu virava pó e não purpurina quando saía no Sol...
Bom. Ele pode pedir para os Volturi. Lembra, eles foram mencionados no começo do filme em uma cena obviamente forçada na narrativa para dar o embasamento para o desenvolver final da trama?
Ah, claro. É só pedir, tipo disk-pizza?
Sei lá, os particulares não estão muito claros. Mas aparentemente eles se negaram a matar meu irmão porque ele é muito gostoso e sexy, então o que meu brilhante parente vai fazer é: tirar a camisa...
Tem razão. A gente *realmente* se merece.
Você não pode se matar!
Você está viva! Como?
É, como??
Isso não é importante. O importante é que eu te amo.
Eu também te amo. Mas você merece uma vida normal e... blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá.
(se revirando)
Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaw
(é, ela faz esse filme, lembra?)
Oi, gente. Estou aqui para a minha Primeira Fala, que é: me sigam.
Han?
(aparecendo)
Bom, Edward pode não ter se matado, mas tentou. E essa situação tem que ser revisada pelo conselho dos Volturi.
Por que?
Só segue o fluxo, Bella. Agora não é hora de questionar narrativa.
Cena: os Volturi. Que são três caras vestindo roupas da França antiga e com maquiagens extremamente homo-tendenciosas em um salão de pedra. Ah, e a Dakota Fanning no canto.
E aí, galera, tudo de bom? Então, você tentou se matar, né? Mas você é um besta mesmo. Nem é tão difícil assim. E essa é a sua mina? Beleza. Tô ligado que ela é imune aos teus poderes, rapaz que brilha no Sol, mas será que minha adorada Dakota não consegue alguma coisa?
Olha, lá vem minha Última Fala: Dor!
(entra na frente. E, dã, sente dor.)
Naaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaao!
Legal. Nem cócegas. Bom o papo está divertido e tals, mas e aí? Acha que eu tinha que matar a branquela porque ela sabe muito sobre a nossa raça ou algum motivo que não faz muito sentido no caso?
Claro. Por que não?
Espera. Não precisa fazer isso. Ela vai acabar virando vampira também. Eu vi.
Sério? Legal. Será que posso ver também?
(usando uma roupa leve de tecido branco, com um coletinho do tipo latin lover por cima)
Olha só para mim, eu corro como uma gazela!
(usando um vestido azul esvoaçante no melhor estilo ninfa do bosque)
Eu também!
Fiz meu dia!
Okay. Agora é mesmo minha culpa. Desculpe.
Lição n.6: olha, não sei nem mesmo como escrever isso, já que me parece uma coisa tão óbvia: quando você faz um filme, escolhe a maneira - ou o tom - que quer usar para realizá-lo. Para a “saga twilight” a escolha foi cenas de um tom escuro e cinzento, acentuando o aspecto filme gótico de terror da coisa. Não vou nem entrar na questão de se a escolha foi acertada (ou NÃO), meu ponto aqui é: termine o que você começou. Não altere drasticamente o estilo de cena em apenas uma passagem do filme, sem o menor contexto e motivo além de você querer que o Vampiro Principal aparecesse usando roupa clara. Fica estranho, quebra o clima e a continuidade da narrativa, sem contar o alto quociente de ridículo que uma cena dessas produz em qualquer um com mais de 39 de QI.
Então era só falar que eu viraria uma vampira/ninfa e os Volturi me deixariam ir embora? Então porque toda aquela cena de luta entre o Edward e um dos caras que trabalham para os Volturi?
Sei lá. Provavelmente porque acharam que estava faltando emoção, ou uma cena que atraísse a porção masculina do cinema. Estou bem mais interessado em saber porque a minha pele racha no meio da luta, e se regenera logo em seguida.
Bom, esse tipo de discussão sobre a qualidade da narrativa não leva a nada. O que importa agora é que estamos juntos, para todo o sempre. E que eu vou virar uma vampira e finalmente acabar com essa lenga-lenga.
Não vai não.
Vou sim.
Não vai não.
Vou sim.
Não vai não.
Vou sim.
Não vai não.
{continua no próximo Capítulo... se você sobreviver.}
Lição n. 7: se mata. Agora mesmo, sem olhar para trás ou deixar bilhete de suicídio. Depois dessa desgraça, é a única maneira de tentar fazer da humanidade um lugar melhor.