Porque se o José Wilker pode, eu também posso.

domingo, 9 de fevereiro de 2020

Oscar 2020

Oscar 2020

ou

It’s raining man, huh, e já estava mais do que na hora de parar


Vamos começar logo de cara falando sobre o ano passado: sim, Oscar 2019 existiu. Sim, “Green Book” ganhou Melhor Filme. Não, não vamos admitir que esse fato foi realidade. Da mesma forma como a sociedade decidiu em conjunto ignorar o epílogo do último livro do Harry Potter por ser a coisa mais idiota do mundo, vamos também fazer de conta que a premiação do ano passado não aconteceu. Green Book? I don’t know her.

Agora, sobre Oscar 2020. Nove filmes, que insisto sempre em deixar destacado que deveriam representar as melhores produções cinematográficas de uma das maiores indústrias do mundo, já que o pessoal parece sempre se esquece desse singelo detalhe e continua me indicando coisas como “Ford vs Ferrari” e “História de um casamento”. Nove filmes dos quais apenas dois salvam, e desses dois, um é tão incrivelmente superior que não tem nem o que falar aqui, só sentir (sim, claramente “Parasita”, qual mais poderia ser?). Nunca antes vi um Oscar tão desigual em qualidade e nunca antes vai ficar mais claro o caminho pelo qual a premiação decide seguir a próxima década: Parasita vai levar Melhor Filme para o Oscar conseguir ainda fingir que tem qualquer relevância e que sabe o caminho futuro do mundo, ou Parasita vai levar apenas Melhor Filme Estrangeiro e Oscar vai provar mais uma vez que é um antro de xenofobia e privilégio branco sem fim com audiência cada vez mais baixa?
Só o tempo dirá, mas alguém tem coragem de colocar a mão no fogo?

Também nunca antes vi um Oscar tão cheio de filmes masculinos – Deus sabe o quanto não curto o trabalho da Greta Gerwig de um ponto de vista puramente pessoal, mas a alegria que tive de assistir “Mulheres adoráveis” e finalmente parar de ver XYs na minha tela sem parar... 1917, Ford vs Ferrari, Coringa, O irlandês e Era uma vez em Hollywood (Margot Cotas-Feminina Robbie dançando e aparecendo deitada seminua não conta, ok)... santa testosterona, Batman. Se mulheres existem, são as esposas de fundo ou as filhas de fundo ou as mães de fundo e aparecem por breves 5 segundos apenas para o filme não ser literalmente apenas homens – e olha, num universo de 786 filmes produzidos em Hollywood em 2019, você olhar na minha cara e me dizer seriamente que top 9 incluem 5 só de homens, nessa altura do campeonato, e não ver o que tem de errado e absurdo nessa frase (ainda mais quando FORD VS FERRARI TÁ NESSA LISTA, PELO AMOR), isso é um problema puramente seu e desejo sorte no seu futuro.
Exausta: define.




1917


 (Sam Mendes, 2019)


E 1917 é um filme de guerra.
Se você não é um estranho no meu blog, sabe o quanto ­­odeio filmes de guerra, todos eles. Quantas vezes nós, como sociedade, precisamos criar filmes que mostram 1) as atrocidades da guerra e quanto ela é horrível, 2) o sofrimento das pessoas comuns que só queriam viver a vida e acabam no meio da guerra, 3) a coragem das pessoas comuns que só queriam a viver a vida e acabam no meio da guerra? Caso esteja na duvida, esse filme aqui é sobre o ponto 2.
1917 é o favorito desse Oscar para Melhor Filme e Melhor Direção (Parasita existe, mas também existe xenofobia) e você pode estar pensando: mas é assim tão bom? A resposta pra sua pergunta é: não, mas é filmado em plano contínuo e, como a história retrata dois soldados levando uma mensagem do ponto A para ponto B em uma zona de guerra, o trabalho e o cuidado necessários para filmar essa história estão são bem evidentes.
Posso não gostar de filme de guerra, mas não sou cega a ponto de não ver que foi um incrível feito técnico. Mas é apenas isso: um feito técnico. A escolha de filmagem em plano contínuo não agrega nada à narrativa além de sua dificuldade intrínseca, e se você retirar esse elemento extra do filme, não sobra absolutamente nada de valor. O filme foi filmado assim por algum motivo além de mostrar olha o que eu sei fazer, mãe e assim ganhar prêmios? No aguardo de mais e mais filmes serem produzidos dessa forma, já que esse tipo de filmagem está para diretores assim como perder peso e morrer em câmera está para atores quando o quesito é “como ganhar um prêmio”.
É complicado analisar esse filme, já que por mais que não vejo o ponto de filmar em plano contínuo, ele foi filmado assim e o resultado final é realmente impressionante. A desnecessariedade não apaga a realidade, e entendo muito bem pq esse filme deve levar Melhor Diretor. Mas o precedente está mais do que aberto para filmes vazios bem filmados, e agora só aguenta coração pro futuro.

Indicações: Melhor Filme, Melhor Diretor (Sam Mendes), Melhor Roteiro Original, Melhor Trilha Sonora, Melhor Cinematografia, Melhor Maquiagem, Melhor Direção de Arte, Melhor Edição de Som, Melhor Mixagem de Som, Melhor Efeitos Visuais
Deve levar: a grande maioria, se não todos, dos prêmios técnicos. Ficaria extremamente surpresa se não levasse Melhor Direção. Como a esperança ainda é a última que morre, gostaria que perdesse Melhor Filme para Parasita. Mas, milagre não acontecendo, meu voto está nele para Melhor Filme.


Ford vs. Ferrari



(James Mangold, 2019)

Puta que me pariu, esse filme.
Conta a história, baseada em fatos reais, da rivalidade entre o dono da Ford e o dono da Ferrari, e como a Ford decidiu construir um carro novo de corrida com a ajuda de Carroll Shelby (Matt Dmanon) e corredor Ken Miles (Christian Bale) só para ganhar da Ferrari na 24 horas de Le Mans na França. Tenho absoluta que existiu mais por trás dessa decisão de negócios do que apenas o dono da Ferrari ter chamando o dono da Ford de gordo e o recalque que esse comentário gerou, mas o filme faz o máximo possível para você encarar a situação toda como uma batalha de egos entre homens que discutem quem tem o pau maior via seus carros, com zero profundidade ou interesse, mas olha carros rápidos!
Imagino que deva existir alguém no mundo que tem interesse por essa história, contada da forma mais não inspirada possível por um diretor que seriamente chama Mangold (piada_pronta.jpeg) e que também nos brinda com uma sequência de 40 minutos no final do filme de apenas corrida e mais corrida e mais corrida. O resto do mundo só viu um filme de sessão da tarde com dois atores francamente bons demais para essa produção (a Mulher Cotas desse filme é a esposa do Christian Bale, a única pessoa não homem presente), com um Christian Bale tentando demais ser indicado para Melhor Ator, conotações sexuais não intencionais de que o Batman quer mesmo transar com carros, e um final que não só destoa da produção como um todo, mas é de mau gosto e péssimo tom. Uma nulidade que gastou 2h30 da minha vida, que podia ter passado procurando pontas duplas no cabelo e teria sido uma tarde mais proveitosa.
Será que deu pra perceber que odiei esse filme?

Indicações: Melhor Filme, Melhor Edição, Melhor Edição de Som, Melhor Mixagem de Som
Deve levar: HAHAHHAHAHAHAHHAHHAHHAHAH




Coringa


(Joker. Todd Phillips, 2019)

Se foi um das pessoas que se chocou com a indicação de Coringa pro Oscar de 2020, você não estava prestando atenção. Depois de Mad Max e Pantera Negra, temos precedente e era apenas uma questão de “qual filme”. Já disse antes e repito: tenho zero problema com filmes mais “populares” ou baseados em HQ serem indicados, desde que tais filmes tenham qualidade pra isso. Coringa é tão médio quanto a grande maioria nessa lista, então o fato de que é um vilão do Batman importa negativo nesse blog. 
O que me importa mesmo é: estamos falando de um filme que foi hypado ao máximo pela interwebs e que tenta tão forte ser político que qualquer toque de sutileza é rejeitado e a mensagem do filme é enfiada na sua goela sem qualquer análise posterior ou maior, violência disfarçada de ativismo e justificada pela negligência social – o tipo de coisa que um moleque de 15 anos que acabou de ver Clube da Luta e acha que ser ateu é traço de personalidade escreve em seu blog enquanto escuta Eminem muito alto.
O filme não respeita o telespectador em nenhum momento. Nada é implícito, tudo é explicado, algumas vezes repetido, para que você não perca nenhum segundo. Absolutamente ninguém nessa produção acreditava na capacidade interpretativa da audiência – esse filme é o equivalente a uma tia do pré falando devagar com um menino de 5 anos que não pode bater no amiguinho.
No entanto, esse filme tem o Joacquin Phoenix, que mesmo no meio das cenas mais forçadas do mundo, tem talento o suficiente para fazer você esquecer do absurdo e comprar o filme. Por mais talentoso que ele seja, e por melhor que seja essa trilha sonora, o filme só realmente vale a pena pelo terço final, e passa tempo demais procurando um fio narrativo condutor por mais de 1h. Ainda assim, diria pra assistir Coringa antes de Ford vs. Ferrari.
   
Indicações: Melhor Filme, Melhor Diretor (Todd Phillips), Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Ator (Joaquin Phoenix), Melhor Fotografia, Melhor Maquiagem, Melhor Figurino, Melhor Edição, Melhor Trilha Sonora, Melhor Edição de Som, Melhor Mixagem de Som
Deve levar: risos pra Melhor Filme, Melhor Direção ou Melhor Roteiro Adaptado. A possibilidade do Joacquin levar Melhor Ator existe e não me ofende nem um pouco – ainda mais levando em consideração quem mais está na categoria. Raramente opino de técnicos, mas a Trilha Sonora desse filme está sensacional e, se levasse, seria bem merecido.


Era uma vez em... Hollywood
  (Once upon a time in... Hollywood. Quentin Tarantino, 2019)

Ai, ai, ai Tarantino. Me ajuda a te ajudar, colega.
Já vou deixar claro que gosto dos filmes do Tarantino – mas isso? Isso é ridículo.
Sabe quando um cantor fica muito famoso e para de produzir música boa, por que sabe que qualquer coisa que fizer no estúdio vai vender pra caramba baseado no nome dele apenas (tipo Justin Biener, Ed Sheeran e Taylor Swift em 2019)? Então. É exatamente isso que senti com Era uma vez em Hollywood.
Contando a história de um ator em fim de carreira de filmes de faroeste (Leonardo DiCaprio) e seu dublê/amigo/motorista (Brad Pitt), o filme dá a impressão real de que começou a ser filmado antes de saber para onde ia, foi feito apenas porque o Tarantino achou a ideia legal e queria colocar pedaços de filmes antigos e referências na filmagem, e o “plot twist” foi feito apenas porque alguém deve ter comentando que tava faltando violência.
Tem momentos muito bons. Tem cenas excelentes. Tem uma ótima trilha sonora, ótimos atores, ótima direção de arte. E isso tudo só me deixa mais puta de pq um ótimo filme não foi feito: porque não tem uma direção clara ou uma história coesa. E, como alguém que viu a filmografia praticamente completa do Tarantino, sei muito bem que ele sabe fazer melhor do que isso, e a escolha de não ter feito aqui? Ofensiva.
Qualquer outra pessoa no mundo que não ele que lançasse esse filme seria ridicularizado por ter tentado emular Tarantino das antigas e nunca o peso de um nome foi tão evidente para justificar as críticas positivas. Quem sabe se tivesse rescrito esse roteiro umas três vezes em vez de acrescentar mais e mais cenas do Brad Pitt dirigindo por Hollywood, a coisa seria diferente. No momento? Vindo na cola do Oito odiados, que já não curti muito, esse filme me faz pensar se não está na hora de deixar Tarantino novo de lado e só reassistir Kill Bill de vez em quando mesmo.

Indicações: Melhor Filme, Melhor Diretor (Quentin Tarantino), Melhor Ator (Leonardo DiCaprio), Melhor Ator Coadjuvante (Brad Pitt), Melhor Roteiro Original, Melhor Fotografia, Melhor Figurino, Melhor Direção de Arte, Melhor Mixagem de Som, Melhor Edição de Som
Pode levar: Brad Pitt está cotado para Melhor Ator Coadjuvante. Ele é a melhor coisa desse filme, o que não quer dizer lá essas coisas, mas Brad Pitt nunca vai atuar nada diferente do Brad Pitt, então ainda preferia que Al Pacino levasse.
Agora, existe a chance real de Melhor Roteiro Original e Deus põe a mão se essa bagunça ganhar melhor roteiro em cima de Parasita... fujam paras colinas.





Parasita


(Gisaengchung. Bong Joon-ho, 2019)

Se você ainda não viu Parasita, por favor, vá assistir.
Se você já viu Parasita, por favor, vá reassistir.
O melhor filme dessa lista, um dos melhores filmes do ano passado, um dos melhores filmes em muito tempo e tudo o que você já deve ter ouvido de pessoas falando bem desse filme é 100% correto – faça esse favor a você mesmo e assista Parasita.
Já tinha gostado do filme antes mesmo de sair a lista de indicações. Depois que fui forçada a ver todos os filmes desse ano, é incrível o quanto a qualidade superior salta aos olhos quando comparado com o restante...
Contando a história de uma família em situação econômica precária que começa a trabalhar para uma família rica, o filme é um estudo social entre diferenças de classe econômica – trata-se de um filme coreano e é incrível o quanto isso não importa: pobre é pobre e rico é rico em qualquer lugar, e os sentimentos e as situações expressas no filme ressoam mundialmente sem empecilho cultural.
Não tenho muito o que dizer aqui sem parecer uma lista interminável de adjetivos (impactante, singelo, real, sagaz, emocionante, genial...), mas que fique registrado que há anos escrevendo esse blog não via um filme assim tão bom indicado ao Oscar. Em qualquer outra situação, ele seria o favorito disparado e ninguém nem se atreveria a esboçar a possibilidade de outro filme levar o prêmio máximo. Mas estamos falando de um filme em coreano na América do Trump, então...
Seja como for, Parasita é sensacional e o Oscar decidir coroar isso (ou não) diz muito mais sobre a própria premiação e sua relevância do que sobre o mérito indiscutível do filme.
Sério, vai ver Parasita.

Indicações: Melhor Filme, Melhor Diretor (Bong Joon-ho), Melhor Roteiro Original, Melhor Filme Internacional, Melhor Direção de Arte, Melhor Edição
Merecia levar, se o mundo fosse justo: Tudo. Literalmente todos os prêmios nessa lista, e ainda mais, porque os atores deveriam ter sido indicados nas categorias de atuação também.
Deve levar: Melhor Filme Estrangeiro, a escolha segura
Talvez leve: Melhor Roteiro Original, a escolha um pouco menos segura
Ia ficar chocada mas feliz se levasse: Melhor Filme. Porque é o Melhor Filme dessa lista, sem nem o que discutir, tão melhor que é vergonhoso pra qualquer pessoa ir pro palco receber esse prêmio.


O irlandês


(The Irishman, Martin Scorsese, 2019)

Antes de ver esse filme, sabia apenas três coisas sobre ele: era sobre máfia, tinha o Al Pacino e o De Niro no elenco, e tinha 3h30 de duração.
Após acabar esse filme, tenho a dizer que é literalmente isso.
Em uma espécie de slice of life da máfia, você tem o personagem Frank Sheeran (De Niro), o irlandês do título, num asilo contando pra câmera suas peripécias quando mais novo. O filme não tem uma história principal, mas sim vários contos interligados pela presença dos mesmos personagens. Por mais de 3h, você navega pela narração e extrema falta de personalidade do personagem principal enquanto é apresentado a outros personagens e as brigas internas da máfia americana.
A impressão que tive desse filme é que não é um filme, mas sim uma série que não acabou. Scorsese estava em dúvida se devia fazer uma série ou em um filme, ficou com preguiça de filmar os últimos três episódios, pegou o material que já tinha gravado e transformou em um filme de 3h30 que não tem muito ponto de existir além de que foi filmado.
Sei que mencionei o tamanho aqui algumas vezes, mas o motivo pra isso não é apenas que acho um abuso qualquer filme ter mais de 3h de duração, mas é ainda pior um filme ter mais de 3h de duração e ainda assim não desenvolver pontos importantes da narrativa – o quê, faltou tempo de mostrar o relacionamento do De Niro com a filha, já que decidiu usar como ponto-chave nos momentos finais?? Quase 4h e não tinha como explorar esse relacionamento? Colocar uma mulher em cena por mais de 2 minutos ia corroer seu filme?
O irlandês é uma boa primeira temporada de série, sem os últimos dois episódios. Como filme? Se você gosta muito do De Niro e do Alpacino, vai passar 15% do seu dia se divertindo. Do contrário, tem Ilha do Medo no Amazon Prime se quiser um filme coeso do mesmo diretor.

Indicações: Melhor Filme, Melhor Diretor (Scorsese), Melhor Ator Coadjuvante (Al Pacino, Joe Pesci), Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Direção de Arte, Melhor Fotografia, Melhor Edição, Melhor Efeitos Visuais
Pode levar: Ator Coadjuvante pro Al Pacino é sempre uma opção; não costumo opinar em prêmios técnicos, mas fora isso não vejo levando Melhor Filme/Diretor. Honestamente, indicar Scorsese para melhor diretor parece ter sido feito mais por inércia do que por qualquer outra coisa.


Adoráveis mulheres


 (Little women. Greta Gerwig, 2019)

 Baseado no romance de 1868 do mesmo nome, Adoráveis Mulheres conta a história de quatro irmãs que tentam sobreviver com a mãe enquanto o pai luta na guerra civil americana. Jo (Saoirse Ronan) é escritora e “empoderada”, Amy (Florence Pugh) é mimada e quer ser artista, Beth (Eliza Scanlen) é quieta e toca piano e Meg (Emma Watson) tenta muito forte provar que consegue atuar no mesmo nível das outras em cena e só desaponta.
Nunca li o livro, então não tenho o que dizer sobre sua adaptação. No entanto, um dos grandes problemas quando se adapta uma obra clássica pro cinema está na quantidade enorme de cartas presentes na história – elas precisam ser mantidas pra narrativa fazer sentido, mas é muito difícil transpor para um meio visual algo tão estático quanto uma carta. Nesse filme, a escolha foi deixar o personagem que escreveu a carta em pé, olhando pra câmera e declamando o conteúdo do texto. Algo que, confesso, desgostei e muito.
A escolha da edição de ir e voltar no tempo foi mais desnecessária do que qualquer outra coisa, e não acrescentou nada a uma história que já não é nada demais. Meryl Streep aparece algumas vezes e nos abençoa com algumas risadas, e o filme é fofo o suficiente para ser divertido – mesmo sendo mais um filme de sofrência feminina e branca da Saoirse Ronan, que logo mais vai ser incapaz de atuar em qualquer outro papel.
Não deve ganhar nada importante, mas é bem menos exaustivo do que a grande maioria nessa lista, e ao menos me deu um descanso do desfile sem fim de homens sendo machos na minha televisão.

Indicações: Melhor Filme, Melhor Atriz (Saorise Ronan), Melhor Atriz Coadjuvante (Florence Pugh), Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Trilha Sonora, Melhor Figurino
Poderia levar: Florence Pugh é a melhor coisa desse filme como Amy, mas ainda prefiro Laura Dern (História de um casamento) ou mesmo Scarlett Johansson (Jojo rabbit) para esse prêmio. Filme de época sempre tem chance de levar Melhor Figurino, e filme adaptado de clássico da literatura também pode levar Melhor Roteiro Adaptado (embora continue preferindo Jojo rabbit pra esse prêmio).


Jojo rabbit


(Taika Waititi, 2019)

Fora Parasita, o único filme dessa lista que realmente gostei. Um encanto de filme, contando a história de uma criança de 10 anos, Johannes Jojo (Roman Griffin Davis), que vive na Alemanha nazista, se diz apoiador da causa e tem como amigo imaginário nada menos do que sua interpretação infantil do Hitler (Taika Waititi). Comédia em seu início, nos apresenta a visão infantil dos absurdos da guerra e do perigo da repetição contínua de conceitos sem análise ou raciocínio, o filme gradualmente deixa seu lado mais comédia de lado e volta-se para a realidade mais crua da guerra, representando pela perda da inocência do protagonista quando confrontando com os efeitos reais do conflito que sua imaginação não é mais capaz de mascarar.
Um belo filme, divertido sem nunca chegar a ser desrespeitoso, alcançando um equilíbrio leve em um assunto complicado e trazendo uma perspectiva nova sobre um tema tão batido quanto o nazismo. Outra surpresa desse filme é a personagem da Scarlett Johansson (que atua como a mãe), que não só tem uma personalidade (!) como é engraçada (!!) e honestamente nunca soube que a Scarjo era capaz de algo assim – a diferença que um personagem bem escrito não faz, não é mesmo. Nunca escondi que não sou a maior fã do mundo dela, mas sua presença nesse filme está ótima e se ganhar Melhor Atriz Coadjuvante, não será um problema.
Recomendo Jojo rabbit com uma ressalva: pode começar como uma comédia mas é, em sua essência, um filme dos horrores do nazismo, e seu tom leve inicial esmaece com o seu desenvolvimento. Se está procurando apenas uma comédia engraçada sobre Hitler, recomendo Primavera para Hitler (de 1968); do contrário, Jojo rabbit vale muito a pena.

Indicações: Melhor Filme, Melhor Atriz Coadjuvante (Scarlett Johansson), Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Direção de Arte, Melhor Figurino, Melhor Edição
Pode levar: Melhor Atriz Coadjuvante (Scarlett Johansson), que está com duas indicações essa noite (uma para Melhor Atriz também) e imagino o quanto não deve ser triste você ter duas indicações na noite e sair sem nada?
Deve levar: Melhor Roteiro Adaptado é de Jojo rabbit e só não vê quem não quer. Absolutamente genial e não existe motivo algum para Taika não sair com o Oscar na mão no domingo.


História de um casamento


(Marriage story. Noah Baumbach, 2019)

Quero que feche os olhos e tente imaginar um filme feito direto para TV sobre um casal no meio de um divórcio. Quero que pense nas escolhas mais clichês do mundo (cortes de cenas com fade to black, simbolismo forçado e nada de sutileza) com atores que não inspirem uma gota de simpatia. Imaginou? História de um casamento é pior.
Não sei quem chupou quem para esse filme entrar nessa lista, porque não estamos falando apenas de uma história genérica clichê branca e heterossexual ao extremo, mas é também um dos filmes mais mal dirigidos que já vi nos últimos tempos. A grande maioria dos diretores atuais é genérica, e posso não elogiar ninguém, mas dificilmente é problemático – isso aqui, com a quantidade de cenas simbólicas (o casal fechando o portão, um de cada lado, a câmera lenta enquanto se encaram até o portão da garagem finalmente fechar e não conseguirem mais ver o rosto um do outro, como metáfora pela separação do casamento?? Sério?? In front of my salad???) forçadas e a escolha de usar fade to black como fechamento de todas as cenas consideradas importantes pra narrativa? Isso aqui se chama amadorismo, o que nem é o caso porque o diretor atua desde 1995. Então vou chamar apenas de incompetência.
O fato de que tanto a Scarlett Johansson quanto o Adam Driver estão indicados como Melhor Ator/Atriz é só mais um tapa na cara de que ninguém de Parasita recebeu essa honra – os dois são tão críveis como seres humanos reais como qualquer personagem de "Twilight". A cena principal, da briga entre os dois (que o twitter fez o favor de transformar em um meme)? Atroz. Absolutamente ridícula e hilária. Talvez você precise ser muito mais branco e hétero do que eu jamais vou ser para apreciar esse filme. Talvez o pessoal precise de mais contato com filmes melhores. Talvez rezar para ter Jesus no coração ajude na causa.
Não tenho nada de positivo a dizer aqui. Absolutamente nada. Ok, Laura Dern como a advogada de divórcio da Scarlett Johansson é um ponto de luz na escuridão total que foi esse filme. Fora isso?
Para você ter uma noção, temos uma cena inteira de Adam Driver tentando (e falhando) cantar Broadway e essa cena nem é top 10 piores cenas do filme.
Um minuto de silêncio pela morte real da qualidade cinematográfica e pela vitória das conexões dentro da indústria. Da próxima vez, Netflix, escolhe um filme menos ruim para forçar na nossa vida, pode ser?

Indicações: Melhor Filme, Melhor Ator (Adam Driver), Melhor Atriz (Scarlett Johansson), Melhor Atriz Coadjuvante (Laura Dern), Melhor Roteiro Original, Melhor Trilha Sonora
Deve levar: Me recuso a entreter sequer a possibilidade disso aqui ganhar qualquer coisa além de talvez Melhor Atriz Coadjuvante para Laura Dern. O fato de que isso foi indicado pra Melhor Roteiro Original me faz acreditar que ninguém na Academia saiu de casa nos últimos 20 anos.  

domingo, 24 de fevereiro de 2019

Oscar 2019


Oscar 2019

ou

Oscar? Relevante? Nessa economia?


 Mais um ano, mais um Oscar, mais um post no blog porque me falta vergonha na cara de deixar essa “tradição” morrer. A premiação tá cada vez mais batida, os filmes cada vez menos válidos, o interesse do público cada vez menor, mas eu continuo aqui – como aquela espinha que você acha que sumiu mas fica voltando no seu rosto sempre que como chocolate.

Esse ano, a coisa estava tão feia que a Academia não conseguiu nem achar dez filmes que dava pra fingir que eram ok o suficiente para indicar para Melhor Filme: temos apenas oito dessa vez. E desses oito, cinco são... ok. “Ok” define o Oscar desse ano como nunca antes – nada é realmente ruim, mas pouca coisa é realmente boa. Um desfile de mediocridade que sempre poderá escrever “Filme indicado ao Oscar” na capa do DVD. Depois ainda reclamam que “ai mais o Oscar está perdendo a audiência, ai está perdendo a relevância...” Susan, quando você me indica ao mesmo Oscar Nasce uma estrela e Green Book – o Guia, o que espera? A palavra “ok” praticamente patrocinou a premiação desse ano – dá pra fazer um drinking game lendo esse meu post.

Bem-vindo à decepção deste ano, patrocinada por 3 filmes com tema de racismo pq a white guilt nunca esteve tão viva em Hollywood:


A Pantera Negra

(Black Panther. Ryan Coogler, 2018)



Quando A Pantera Negra recebeu a indicação para Melhor Filme, algumas pessoas vieram me perguntar o que achava disso, já que é a primeira vez que um filme de super-herói popular recebeu essa distinção, e não é óbvio que foi para a Academia parecer mais antenada e descolada e na vibe da galera jovem e que está forçando porque é um filme popular de super-herói que ainda por cima lida com questões de raça e racismo e blá blá blá.
Em 2015, quando Mad Max recebeu a indicação, escrevi o seguinte neste mesmo blog: “...só a indicação já abre precedente para um futuro menos esnobe”.
Não tenho problema nenhum com a possibilidade de filmes de ação/populares serem indicados ao Oscar. Se o filme for bom, não quero nem saber em qual sessão do Netflix ele vai ser colocado depois. Agora, o ponto principal aqui é: A Pantera Negra é bom o suficiente para ser indicado ao Oscar?
Resposta curta: não. Resposta longa: o Oscar está tão ruim esse ano que claro, por que não?
Se você me indicar Nasce uma estrela, não tem razão nenhuma para não indicar A Pantera Negra. Um é um romance musical bege e o outro é um filme de ação bege, os dois têm direitos iguais na minha casa. Não vi ninguém (além de mim) reclamando que o filme da Lady Gaga foi indicado, mas a internet ficou louca e mto puta que tiveram a pachorra de indicar A Pantera Negra. Se isso aqui fosse 2011 quando a gente tinha filmes como Discurso do Rei e A Origem e Cisne Negro, claro, ia ficar brava também. Na conjuntura atual da vida? Ele tem tanto direito (ou nenhum direito) de estar aqui como cinco de oito dessa lista.
Galera puta no twitter gritando “cotas!!” pode ficar tranquila de qualquer forma, pq não vai ganhar Melhor Filme de qualquer forma.
E não, não vou resumir a história desse filme pq todo mundo e seu cachorro já assistiu, e se você não viu, é claramente pq não quis.
Indicações: Melhor Filme, Melhor Trilha Sonora Original, Melhor Figurino, Melhor Direção de Arte, Melhor Edição de Som, Melhor Mixagem de Som
Deve levar: Nunca Melhor Filme, foi claramente uma sinalização da Academia que vão começar a seguir cada vez mais para um futuro menos Filme Silencioso Europeu Que Só Duas Pessoas Assistiram e não uma coisa real com chance de ganhar. Queria muito Melhor Trilha Sonora Original pq Kendrick Lamar, ganhador do Oscar? Sim, pfvr.


Infiltrado na Klan

(BlacKkKlansman. Spike Lee, 2018)



Infiltrado na Klan é um filme baseado em fatos reais (nº 1 nessa lista) sobre a história de um policial negro que se infiltrou na KKK e tem uma carteirinha com o nome dele e número de associação até hoje. O que me leva a minha primeira surpresa: a KKK tem na real uma carteirinha de associação, olha as coisas.
A história é bem o que você espera mesmo: bando de racistas babacas querendo matar negros e judeus e gays pq são racistas babacas, exceto que no final você fica deprimido com a vida pq o bando de racistas babacas está vivo e bem e no poder.
De qualquer forma, esse é um daqueles filmes... ok. A história é melhor do que o filme em si, e pela história tem sempre o livro que você pode comprar e ler. Esse filme sofre do mesmo problema que a maioria dos filmes e uma das coisas que mais me irrita e que mais reclamo nesse blog: não quero um livro filmado, quero um filme que use todas as possibilidades e aspectos do meio visual para contar uma história. Considerando que a direção é do Spike Lee, esperava uma direção criativa um pouco além do convencional, mas não. O filme liga todos os pontos necessários para criar um filme e não é ruim ou mal feito nem nada. É só... mais um. Podia ser tão melhor.
Vale a pena pela história, tecnicamente não pelo filme. É apenas ok.

Indicações: Melhor Filme, Melhor Diretor (Spike Lee), Melhor Ator Coadjuvante (Adam Driver), Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Trilha Sonora, Melhor Edição
Deve levar: Não vai levar Melhor Filme nem Melhor Direção, risos. Pode levar Melhor Roteiro Adaptado, o que seria justo (é um livro filmado, como mencionei) e/ou Melhor Trilha Sonora.


Bohemian Rhapsody

 (Bryan Singer, Dexter Fletcher. 2018)



Filme baseado em fatos reais (n.º 2 da lista) contando a história da banda Queen, focando mais no papel do Fred Mercury na história do que qualquer coisa. É um filme muito divertido, e se você curte Queen (quem não, na real?) vai gostar do produto final. Meu pai até chorou e tudo.
Agora, sei muito bem a reação do mundo ao dizer isso, mas não é como se ligasse de irritar pessoas com esse blog: é apenas ok.
“Ai Livia, mais pelo amor, como você é chata. Acabou de falar que gostou do filme, caralho”
Sim, gostei. Assistira de novo. Mas isso aqui é o Oscar, que deveria ser os melhores filmes produzidos durante um período de 365 dias na maior indústria de produção cinematográfica do mundo. OS MELHORES. ENTRE TODOS. OS FILMES.
Bohemian Rhapsody é legal, é ok (mais uma dose), é divertido, mas é um exemplo da sétima arte? É diferente, é inovador, tem uma marca, um ponto de vista, algo a dizer que faz com que se destaque de qualquer outro filme produzido antes ou depois? Não, não tem.
A única coisa digna de nota real desse filme é a atuação do Rami Malek como Fred Mercury, que deve levar Melhor Ator. Fora isso... a trilha sonora é incrível, mas a trilha sonora é Queen e Queen é incrível, então não é exatamente um mérito do filme.
Honestamente, senti que o filme ficou perdido entre ser uma biografia do Fred Mercury ou uma história da banda, e ficou num meio-termo morno que não foi fundo em nenhum dos dois caminhos. Sem contar a hesitação do filme de realmente-realmente mostrar o Fred Mercury como um babaca narcisista: colocou o pé na água da piscina, mas achou que estava muito frio e perdeu a coragem. Quem sabe se tivesse mergulhado, poderia ter sido excepcional.

Indicações: Melhor Filme, Melhor Ator (Rami Malek), Melhor Edição de Som, Melhor Mixagem de Som, Melhor Edição
Vai levar: Melhor Ator (Rami Malek), muito merecido. Sinto muito Christian Bale sendo gordo e velho, não foi dessa vez.
Pode levar: por mais que me doa escrever isso, Melhor Filme é uma opção pq o universo é uma piada. Não opino em prêmios técnicos de som, mas não ficaria surpresa se levasse.


A Favorita

(The Favourite. Yorgos Lanthimos, 2018)

Finalmente, senhor, um filme realmente bom nessa lista! Glória está entre nós.
A Favorita conta a história (fictícia, outra glória, não aguento mais “baseado em fatos reais” no meu escapismo cinematográfico) do reinado da Rainha Anne (Olivia Colman), comandante fraca e perturbada, controlada pela Duquesa de Marlbourough (Rachel Weisz) por meio de um relacionamento codependente e autodestrutivo. Até chegar a pobre Abigail (Emma Stone), que tenta se tornar a nova favorita da Rainha e ocupar uma posição social melhor.
O trio principal está todo indicado por atuação, e todas elas merecem. O diretor grego, que não conhecia (e nunca vi nada antes) criou um universo da realeza sem glamour ou disfarces: o filme é sujo, visceral, brutal e não tem a menor vergonha ou problema com isso.
Você sai do filme com um desconforto perverso de ter visto algo que não deveria, mas ao mesmo tempo quer sofrer mais da sujeira e podridão da época, da segurança de seu sofá.
Filmes que evocam emoções além da história escrita, que conseguem criar visualmente sensações me deixam extremamente felizes, pq é justamente isso que um filme deveria ser. Yorgos Lanthimos não cria um filme agradável, mas cria uma obra marcante – e me deixou interessada o suficiente para ir atrás de outros filmes com sua assinatura.
Dica? Assistam A Favorita. Você pode não gostar, mas vai sentir alguma coisa, o que é mais do que qualquer filme que veio antes nessa lista conseguiu de verdade.

Indicações: Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Atriz (Olivia Colman), Melhor Atriz Coadjuvante (Emma Stone, Rachel Weisz), Melhor Roteiro Original, Melhor Cinematografia, Melhor Direção de Arte, Melhor Figurino, Melhor Edição
Pode levar: queria muito de verdade que levasse a dupla Melhor Atriz e Melhor Atriz Coadjuvante (difícil escolher entre Rachel Weisz e Emma Stone, mas apostaria na Emma Stone por pura preferência pessoal. As duas estão absurdas). Reza a lenda que Glenn Close leva Melhor Atriz por um filme que ainda não vi, então nem sei opinar. Estou dividida sobre Melhor Cinematografia / Melhor Direção de Arte pq Roma existe, e os dois filmes são sublimes, mas com pontos de vista muito diferentes.
Deveria levar: Melhor Roteiro Original. Nem se atrevam a dar para Green Book que vou pessoalmente dar na cara de todos os envolvidos. Melhor Figurino é sempre uma aposta segura em filme de época.


Green Book – O guia

(Green Book. Peter Farrelly, 2018)



Esse filme. Ai meu Deus, esse filme. Argh.
Baseado em fatos reais (choque!), conta a história de um pianista negro (Mahershala Ali) que vai fazer uma turnê pelo sul dos EUA nos anos 1960 e precisa de uma proteção. Para isso, contrata um estereótipo ambulante italiano (Viggo Mortensen) para ser seu guarda-costas nessa empreitada. Nesse Conduzindo Miss Daisy em reverso, os dois passam por poucas e boas em busca de aventura e em clima de azaração.
Será que o pianista vai deixar de ser tão certinho e comer frango com a mão?
Será que o italiano vai deixar de ser preconceituoso e aceitar o negro como amigo?
O filme é tão clichê que dói. Pior: o filme é desnecessário e seria considerado “datado” se tivesse sido lançado há 15 anos. Por que ele está nesta lista? Não faço ideia, pq, honestamente, a única coisa que o personagem branco do filme faz é ter a coragem de conhecer o pianista. É isso. Cadê o desfile em honra dessa alma caridosa que se dignou a conversar com um negro como se eles fossem iguais? Estou no aguardo.
É ruim, é batido, é forçado para um caramba pra você chorar ou sentir “mas olha, somos todos iguais no fundo! Mais uma vez, um branco com a “mente aberta” venceu o racismo”
Sério. Assiste Conduzindo Miss Daisy mesmo que pelo menos aquele filme tem a desculpa de ser antigo e tem o Morgan Freeman.
Desgraça de filme ridículo que me roubou 2h da minha vida para ser um grande zero.

Indicações: Melhor Filme, Melhor Ator (Viggo Mortensen), Melhor Ator Coadjuvante (Mahershala Ali), Melhor Roteiro Original, Melhor Edição
Pode levar: ah sim, esse filme pode levar coisas! Como Melhor Ator Coadjuvante. Considerando a competição, que tá fraquíssima, nem ligaria.
Não deveria levar nem com reza brava: Melhor Roteiro Original. Pega na minha e balança que é por esse tipo de coisa que ninguém leva o Oscar mais a sério, Susan.

 Roma

 (Alfonso Cuáron, 2018)



Todo mundo tinha ouvido falar desse filme. Tem até disponível no Netflix, sabe.
O filme preto e branco em espanhol indicado ao Oscar de Melhor Filme. Um dos (se não o mais) cotado a ganhar e ser o querido da noite. Ouvi muita coisa antes de assistir e confesso que esperava que fosse basicamente hype sem sentido.
E estava errada. Adoro estar errada nessas situações.
Roma é o melhor filme dessa lista. Ponto final, sem discussão.
Roma veio na minha casa, curou minhas feridas, salvou meu primogênito da pneumonia, assou um bolo de cenoura e foi embora depois de me colocar na cama.
Não sei nem como explicar Roma, pq não é um filme em que a história em si (a história de uma empregada doméstica e a família para a qual trabalha em meio à turbulenta situação política e social do México de 1970) é importante: não tanto quanto o simbolismo e a cinematografia. Praticamente o oposto de A Favorita – nele, temos um filme duro, bruto, pesado, ofensivo. Aqui, temos um filme belo, suave, sutil, delicado, artístico. Cada tomada é uma pintura simbólica, cada escolha artística tem um significado profundo.
Como brasileira, é ainda interessante notar como as estruturas sociais da América Latina se repetem. Posso não morar no México daquela época, mas conheço cada um daqueles personagens pq já vi todos por aqui, no Brasil do século XXI.
Não existe razão nenhum pq Roma não deveria terminar esta noite com Melhor Filme e Melhor Direção. Nenhuma. Nada aqui chega nem perto – é como comparar uma criança pintando um casinha com um sol no canto com um quadro do Van Gogh.
Esse filme está indicado para Melhor Filme e Melhor Filme Estrangeiro e claramente não vai ganhar os dois. É possível que ganhe Melhor Filme Estrangeiro e perca Melhor Filme, mas boa sorte em achar qualquer justificativa que não xenofobia aqui, pq é honestamente outro nível de qualidade sendo jogado na nossa cara. Mas, sabe, estamos falando dos EUA, logo...

Indicações: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Atriz (Yalitza Aparicio), Melhor Atriz Coadjuvante (Marina de Tavira), Melhor Roteiro Original, Melhor Filme Estrangeiro, Melhor Cinematografia, Melhor Direção de Arte, Melhor Edição de Som, Melhor Mixagem de Som
Deveria levar se galera quer ter qualquer tipo de credibilidade: Melhor Filme. Não me lembro de nenhum Oscar em que um dos filmes fosse tão claramente superior ao resto como esse. Se levar Melhor Filme, não deve levar Melhor Filme Estrangeiro (e vice-versa) – ou seja, Melhor Filme Estrangeiro é anunciado antes do prêmio máximo, vai dar pra ter uma boa noção do final da noite após esse prêmio. Independentemente de qual dos “Melhor Filme” levar, Melhor Direção é do Cuarón.
Pode levar: Melhor Cinematografia e Melhor Direção de Arte. Esse filme é seriamente ofensivo de tão lindo.


Nasce uma estrela

(A Star is Born. Bradley Cooper, 2018)



Bom, seguinte: sei que todo mundo amou esse filme. Sei que todo mundo ama a Lady Gaga. Sei que todo mundo quer que a Lady Gaga ganhe seu Oscar de Melhor Atriz para sambar na cara da sociedade. Mas, sinto muito para todos os envolvidos, preciso ser honesta: esse filme é meramente mais um filme clichê (ainda mais considerando que é a quarta vez que eles refazem esse mesmo filme, gente, segura essa onda, tá pior que os reboots do Homem Aranha) e não merece um terço de toda a atenção.
Contando a história de uma garçonete com uma voz de ouro (Lady Gaga) que sonha em ser famosa e seu romance com um cantor famoso que abre portas para ela (Bradley Cooper). Mas nem tudo está bem no reino da Dinamarca, pq ele é viciado em drogas e álcool! Oh não! O romance deles dará certo em meios aos vícios e ao drama de ser famoso?
O filme vale a pena por uma razão e uma razão apenas: pq a Lady Gaga canta para caramba. Fora isso? Divide em cinco partes e passa na sessão da tarde. Ele é divertido e entretente, e vale a pena assistir. Mas como você quer olhar na minha cara e me falar que Roma e A Favorita existem no mesmo universo de qualidade que Nasce uma estrela? Tome tento.

Indicações: Melhor Filme, Melhor Ator (Bradley Cooper), Melhor Atriz (Lady Gaga), Melhor Ator Coadjuvante (Sam Elliott), Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Cinematografia, Melhor Mixagem de Som, Melhor Canção Original
Vai levar: Melhor Canção Original.
Pode levar: não descarto a possibilidade de a Lady Gaga levar Melhor Atriz. Não acho que leva, mas se levar, nada pra se ofender também. Ela é a única coisa que eleva um pouco esse filme.


Vice


(Vice. Adam McKay, 2018)

Esse filme conta a história de Dick Cheney, o vice-presidente do George W. Bush. E assim que li essa frase, já pensei “mas que merda. A única coisa que me importa menos que saber sobre o Bush é saber sobre o vice dele”. Mas, como está na lista, fui assistir. E só depois de dar play que me percebi que era um filme do Adam McKay.
Quem é Adam McKay, você se pergunta? O diretor de A grande aposta, o meu filme favorito do Oscar de 2015 (e que, claro não ganhou nada, assim como esse tb não vai).
Adam McKlay está rapidamente se tornando um dos meus diretores favoritos pela forma como escolhe para contar a história: seus filmes não seguem os padrões tradicionais de narração e usam e abusam dos efeitos, edições e saídas visuais criativas e diferentes. O assunto em si (política, ew, política americana, mais ew ainda) não me interessa nem um pouco. Mas em A Grande Aposta, ele estava falando sobre a bolha da crise hipotecária americana e foi um ótimo filme. Aqui, ele fala sobre Dick Chaney e é interessante. Esse dom é algo mágico e mal posso esperar pelo próximo filme dele. Se um dia ele decidir fazer um filme sobre um tema que me interessa de verdade, tem potencial de ser um dos meus favoritos da vida.
Se quer uma representação concreta da minha reclamação de “filmes não devem ser livros filmados”, assista Infiltrados na Klan e depois veja O Vice. Vai saber exatamente o que quero dizer.
Um filme irreverente, diferente, com um diretor autoral (saudades que estava desse conceito) e uma perspectiva nova: um exemplo do que espero de um filme na lista dos melhores do ano de Hollywood.

Indicações: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator (Christian Bale), Melhor Atriz Coadjuvante (Amy Adams), Melhor Roteiro Original, Melhor Edição, Melhor Maquiagem e Cabelo
Deve levar: um grande sorriso e um troféu de participação (talvez Maquiagem e Cabelo como consolação). Christian Bale teria chance em qualquer outro ano, mas com o Malek deitando como Fred Mercury, não dever rolar esse ano. Sinto que a Amy Adams também não leva esse ano, e honestamente, qualquer uma das duas amigas de A Favorita merecem mais que ela mesmo. Amo a Amy, mas não por esse filme.
Gostaria que levasse: Melhor Roteiro Original. Sei que amei A Favorita, mas se tivesse que escolher entre os dois pra “Original”? Esse mesmo.

domingo, 4 de março de 2018

Oscar 2018


Mais um ano que começa, mas uma premiação do Oscar com piadinhas forçadas, baixa audiência e desinteresse geral da nação. Ah, tradições!
Falando em tradições, mais uma vez temos uma lista de indicações completamente bege. Se você for realmente me falar que esses filmes são os nove melhores exemplos de produções cinematográficas produzidas nos EUA durante o ano de 2017 todo, não é de se espantar que Hollywood tá ganhando cada vez menos dinheiro. Dessa lista, apenas dois são realmente bons, e gostei de três. Um terço. O resto? Várias horas da minha vida que não voltam mais.

Mas, assim como aqueles casais de namorados que estão juntos faz 10 anos, não têm mais assunto e ainda assim continuam saindo pra comer lanche de sábado a noite só porque faziam isso no começo de namoro, eu também continuo com esse blog e meu post anual sobre o Oscar – rotina manda beijos.

Me chame pelo seu nome


(Call me by your name. Luca Guadagnino, 2017)

A primeira e única coisa que sabia sobre esse filme, muito antes de ele ser indicado ou de ter parado para assisti-lo, é que tratava de um romance homossexual entre dois homens. Agora, um dos problemas que sempre ocorrem quando você tem um filme com um tema “polêmico” (racismo, homossexualidade, machismo) é que muitas vezes o pessoal desculpa muito das faltas do filme só pq ele trata sobre um assunto culturalmente relevante. Na maioria das vezes que vejo um filme indicado ao Oscar desse naipe, ele é... ok. Nada demais, ou de menos. Vocês lembram de Brokeback Mountain, né? Quer filme mais superestimado do universo do que esse, mas como tinha um casal gay, todos pirou na época? Então cheguei com um certo pé atrás antes de assistir, confesso, insegura de se estávamos falando de um bom filme que lida com homossexualidade ou apenas de um filme com gays no pôster.
Estamos falando de um bom filme que lida com homossexualidade, graças.
Contando a história de um romance de verão entre Elio (Timothée Chalamet) e Oliver (Armie Hammer), o filme cria uma colagem de momentos comuns da vida, cada peça, por menos que pareça, criando a composição final de como alguns meses podem alterar toda uma vida. Estamos falando aqui de um filme sem muita história além do romance básico, com um diretor europeu que claramente segue a escola Europeia Tradicional De Se Fazer Filmes (planos abertos, cenas estáticas mantidas por vários segundos, silêncio, trilha sonora instrumental) e atuações excelentes, especialmente do Timothée Chalamet, que mal conheço mas já considero pacas.
O resultado é um filme singelo e honesto sobre o amor, lindamente filmado e com ótima cinematografia. Sem dar spoilers, mas é digno de nota que a cena final desse filme (se você assistiu, sabe do que estou falando) é uma das melhores decisões autorais de um diretor que vi nos últimos tempos, e tudo nela é perfeito: iluminação, composição, música, e principalmente atuação.

Indicações: Melhor Filme; Melhor Ator (Timothée Chalamet); Melhor Roteiro Adaptado; Melhor Canção Original
Vai levar: Imagino que nada, além de um aumento de vendas do dvd por poder colocar “4 indicações ao Oscar!” na capa.


O destino de uma nação




(Darkest Hour. Joe Wrigh, 2017)

Olha só, fizeram um filme sobre Churchill. Alguém estava querendo um filme sobre ele? Se você é uma das 15 pessoas no mundo que estavam morrendo pra ver uma produção em grande escala sobre esse líder político inglês na segunda guerra mundial, esse é o seu momento. Se é uma pessoa normal como o resto de nós... é apenas mais um filme de guerra.
Quem me conhece sabe que não suporto filme de guerra – de um ponto de vista puramente pessoal, claro, mas pra mim são todos iguais, e a mensagem é sempre a mesma: guerra é ruim, a humanidade é um monstro, precisamos ser melhores no futuro.
Todos sabem, amigo, sempre souberam e isso nunca impediu a humanidade de continuar fazendo guerra e sendo um monstro.
Um filme de guerra costuma ter duas embalagens tradicionais: aquele que ocorre no meio da batalha (com tiros e sangues e soldados gritando e provavelmente pelo menos uma cena em câmera lenta) e aquele que ocorre nos bastidores e conta a política por trás da barbárie. O destino de uma nação é o segundo caso – Churchill (Gary Oldman, que deve levar o Oscar porque a Academia pira em transformação corporal) assume como primeiro ministro na Inglaterra qdo a Europa está a beira da guerra, e precisa decidir se vai lutar contra Hitler ou tentar um acordo, “salvar” o Reino Unido e
Se você terminou o colegial, sabe a decisão que ele tomou.
Se você já viu qualquer filme na vida, sabe muito bem como esse será: mais uma multidão que jamais lembrarei em três anos.

Indicações: Melhor Filme; Melhor Ator Principal (Gary Oldman); Melhor Direção de Arte; Melhor Cinematografia; Melhor Maquiagem; Melhor Figurino
Deve levar: Gary Oldman deve levar melhor ator, ficaria muito surpresa se não fosse o caso. Sou bem ruim em prever qualquer coisa técnica (até porque, em geral, nunca vejo todos os filmes indicados para todas as categorias, então muitos deles eu não assisti), mas Melhor Maquiagem não seria nem um pouco chocante.


Dunkirk



(Dunkirk. Christopher Nolan, 2017)

Mais um filme de guerra, yay – só que dessa vez do segundo tipo, pra você ver de perto a dor que é morrer pelo seu país.
Baseado em fatos reais, o filme conta a história dos soldados que ficaram presos na praia de Dunkirk, esperando a evacuação (caso ela viesse) e sendo mortos por artilharia alemã durante o processo. Não é exatamente um filme ruim, e tenho vários pontos a elogiar aqui (especificamente cinematografia, que é absurda de linda, e edição), mas tem um grande problema incontornável: o filme nunca cala a boca.
Durante mais de 2 horas fui obrigada a ouvir um som ao fundo de todas as cenas, que variava de intensidade e de estilo, mas estava sempre ali: possivelmente pra destacar o quanto a situação é hostil e tensa, mas na realidade me dando nos nervos como nunca antes. Sei que deu certo em Inception, amigo, mas deu porque rolou de vez em quando. Em todas as cenas? É forçar demais. O fato de que esse filme tá indicado pra melhor edição e mixagem de som me faz pensar que todos na Academia precisam de um abraço.
 Nolan é um dos meus roteiristas favoritos (e um diretor ok, a meu ver, nunca achei nada demais ou menos) quando ele cria um roteiro original. Nesse caso, nesse filme? Podia ser de qualquer outra pessoa – se me falasse que o JJ Abrams dirigiu, eu acreditava, de tão genérico.
É ruim? Não. É bom? Também não. É bem filmado e não ofensivo e relativamente entretentente, então se estiver sem nada para fazer num domingo a tarde... eu ainda tiraria uma soneca, mas se estiver sem sono, esse filme pode até valer a pena – mas não garanto nada.

Indicações: Melhor Filme; Melhor Diretor (Christopher Nolan); Melhor Cinematografia; Melhor Edição; Melhor Trilha Original; Melhor Edição de Som; Melhor Mixagem de Som; Melhor Direção de Arte
Dele levar: Só pra rir da minha cara, é capaz dessa moléstia levar Melhor Edição e Mixagem de Som, pq o universo não está de brincadeira. Se não fosse porque A forma da água existe, apostaria nele para Melhor Cinematografia e Direção de Arte – ele ainda pode levar, ao menos um dos dois, mas o outro é melhor. Melhor Edição deve ser dele.


Corra



(Get out. Jordan Peele, 2017)

O meu filme favorito dessa lista, de longe, e também o único que já tinha assistido antes das indicações sairem (ou seja, vi por livre e espontânea vontade, e não só pq sim). Um dos dois filmes nessa lista (o outro é A forma da água) que considero filmes verdadeiramente bons, em todos os pontos de vista: desde técnicos até roteiro e atuação e música e... e...
Por que quem consegue transformar o que poderia ser mais um filme de terror clichê em um comentário extremamente bem estruturado sobre o racismo nos Estados Unidos, com uma atuação deslumbrante do Daniel Kaluuya (minha escolha pra melhor ator, embora saiba que não vai ganhar) e uma direção magistral que me deixou chocada a cada segundo sobre como é brilhante? Sério, tudo nesse filme é incrível, e de um ponto de vista puramente técnico, é possível fazer uma tese de mestrado somente sobre as escolhas de ângulo de câmeras nas cenas. Se você pode ver apenas um dessa lista, assista Corra e mergulhe nessa genialidade – isso não acontece sempre.

Indicações: Melhor Filme; Melhor Diretor (Jordan Peele); Melhor Ator (Daniel Kaluuya); Melhor Roteiro Original
Merecia levar: Se esse filme não levar Melhor Roteiro Original eu juro por todos os deuses que vou dar um jeito de aparecer em LA e quebrar tudo naquele teatro – sei que A forma da água também é incrível, mas já vai levar Melhor Filme/Diretor. Deixa meu Melhor Roteiro Original pra Corra, por favor.


  

Lady Bird: é hora de voar
 (Lady Bird. Greta Gerwig, 2017)

Então, esse filme... existe.
Contando a história de uma adolescente chamada Christine, mas que insiste em ser chamada de “Lady Bird” (Saoirse Ronan) e suas aventuras em clima de muita azaração com uma galerinha da pesada (além da relação conturbada com a mãe), esse é um filme bem sólido sobre uma pessoa se encontrando na vida adulta. E apenas isso.
Do jeito que ouvi falar antes de assistir, era para se esperar que Jesus tivesse voltado à terra – mas não, não tem seriamente nada demais (ou de menos, é só genérico) nesse filme.
O fato de que foi indicado pra melhor filme quando o infinitamente superior Eu, Tonya não foi é bizarro pra mim. O fato de que foi indicado pra melhor direção é ainda pior pq a direção desse filme só não é mais previsível e sem graça porque ele não é maior.
Juro que não sei nem o que escrever sobre esse filme, ele é tão... normal. Divide em 5 partes e dubla e rola passar na sessão da tarde, depois de vale a pena ver de novo.

Indicações: Melhor Filme; Melhor Direção (Greta Gerwig); Melhor Atriz (Saoirse Ronan); Melhor Atriz Coadjuvante (Laurie Metcalf); Melhor Roteiro Original
Deve levar: Eu diria que nada. Tem gente apostando na Saoirse pra Melhor Atriz Principal, e ok, ela faz um bom trabalho – mas tem gente melhor. Espero que nem se atrevam a dar Melhor Roteiro Original pra isso e não pra Corra, que vai ter sangue nas ruas se esse for o caso.


Trama Fantasma



(Phanton Thread. Paul Thomas Anderson, 2017)

Ai, esse filme. Esse filme, meu senhor.
2h20 de pura sofrência e ódio no sofá da minha sala, questionando seriamente que tipo de vida estou vivendo, que me forço a fazer essas coisas todos os anos.
A história é a seguinte: um costureiro solteirão Reynolds (Daniel Day-Lewis) se apaixona por uma garçonete desastrada Alma (Vicky Krieps) e ela acaba se tornando sua musa durante um relacionamento conturbado e emocionalmente abusivo.
Tenho uma série de problemas reais com esse filme. Os principais são: o diretor (Paul Thomas Anderson) queria muito fazer um filme europeu – exceto que ele não é europeu, e emular a escola Europeia Tradicional De Se Fazer Filmes não é pra qualquer um. Tudo o que eu senti foi como a pessoa estava querendo muito ser mais profundo e artístico do que provavelmente é; estamos falando de um universo em que todas as mulheres ricas se sentem feias até serem validadas pela roupa do estilista que é um filha da puta – pq nada como a aprovação masculina pra animar o seu dia. Duvido que preciso explicar o quanto isso é problemático, e o filme não toca de verdade nesse ponto (nem para aprovar ou desaprovar) e tenho minhas dúvidas se tal ponto foi sequer considerado; o personagem do Daniel Day-Lewis é o único homem do filme inteiro (um médico aparece no final e fala por 3 segundos) e os flashbacks de anime de harém foram reais aqui; e finalmente o roteiro é tão “fake deep” que o nome da personagem principal é ALMA e ela dá um novo sentido a vida do cara.
De um ponto de vista técnico, sim, admito que é um bom filme. Mas odiei, e não recomendo para ninguém. Me deixou desconfortável durante todo o processo, e a melhor coisa pra mim, que foi a atuação da personagem principal, não recebeu indicação. Logo...

Indicações: Melhor Filme; Melhor Ator (Daniel Day-Lewis); Melhor Atriz Coadjuvante (Lesley Manville); Melhor Trilha Sonora; Melhor Figurino
Deve levar: Melhor Figurino é sempre possível quando temos um filme sobre roupas, e o Daniel Day-Lewis está ótimo nesse papel (mas o Sirius Black tá gordo pro Churchill, então não tem competição real), mas seriamente espero que não leve nada. E que apague minha memória também.
Merecia levar: um tapa na cara, pra largar de ser besta


The Post: a guerra secreta



(The Post. Steven Spielberg, 2017)

Ok, é um filme: baseado em fatos reais, sobre a liberdade de imprensa na América do Trump, com a Meryl fucking Streep e o Tom fucking Hanks e dirigido pelo Steven Spielberg e existe uma chance de isso ser mais oscar bait do que já é no momento?
O santo graal dos filmes criados especificamente para o Oscar, The Post é exatamente aquilo que você está esperando que seja, nada mais, nada menos. Meryl Streep é fisicamente incapaz de ser algo além de maravilhosa, e o Tom Hanks é o Tom Hanks. A história sobre como um jornal enfrenta tudo e todos para manter seu direito de contar a verdade sobre o governo é só de leve relevante num país em que o presidente disse mais “fake news” do que o nome da esposa no último ano. Mas, deixando tudo isso de lado, é um bom filme? Não. É um filme ruim? Não. É um filme do qual me lembrarei em 3 meses? Não. É entretente e uma boa opção para uma noite chuvosa? Sim. Espera entrar no Netflix, pq pagar pra ver no cinema é um pouco demais.

Indicações: Melhor Filme; Melhor Atriz (Meryl Streep)
Deve levar: um grande sorriso no rosto e pelo menos duas piadas a custas do Trump durante a apresentação do Oscar



A forma da água



(The shape of water. Guillermo del Toro, 2017)

Antes de saber qualquer coisa sobre esse filme, antes de ver o nome ou o conceito de arte ou mesmo quem dirigia, a internet me informou que ia rolar um filme em que “a mina pega um monstro-peixe”. O que, tecnicamente, é verdade: mas é tão mais que isso.
Só tinha ouvido boas coisas sobre esse filme e foi o último que assisti de verdade. É sempre um perigo assistir qualquer coisa com expectativas altas, já que isso pode influenciar e muito sua opinião. Mas A forma da água não teve esse problema: esse filme é lindo. Ridiculamente lindo. Ofensivamente lindo. A cinematografia, a edição, a direção de arte... fiquei triste de não ter visto no cinema, pq presenciar esse mundo na tela grande deve ser algo maravilhoso.
Quem diria que um filme romântico de ficção científica seria um dos melhores filmes que vi nos últimos anos? A escolha de arte de criar um universo Bioshock lúdico foi inspirada e respeitei todas as decisões de direção e arte de uma forma que não me via fazendo há muito tempo. A história em si é simples: uma faxineira muda chamada Elisa (Sally Hawkins) trabalha em um laboratório no qual o governo encontrou uma criatura-peixe. O encontro de Elisa e da criatura muda a vida dos dois. Eu sei o quanto isso parece absurdo, mas dê uma chance pra esse filme: finalmente alguma coisa que podemos realmente chamar de sétima arte.

Indicações: Melhor Filme; Melhor Diretor (Guillermo del Toro); Melhor Atriz (Sally Hawkins); Melhor Ator Coadjuvante (Richard Jenkins); Melhor Atriz Coadjuvante (Octavia Spencer); Melhor Roteiro Original; Melhor Cinematografia; Melhor Figurino; Melhor Edição; Melhor Trilha Original; Melhor Direção de Arte; Melhor Edição de Som e Melhor Mixagem de Som
Merecia levar: honestamente? Quero que leve todos os técnicos. Só põe na conta, nem me importo: Melhor Cinematografia; Melhor Figurino; Melhor Edição; Melhor Trilha Original; Melhor Direção de Arte; Melhor Edição de Som e Melhor Mixagem de Som
Deve levar: Melhor Diretor vai levar com toda certeza. Melhor Filme é uma possibilidade real, mas faz um tempo desde que não tivemos o mesmo filme ganhando esses dois prêmios, o que me faz pensar que a Academia gosta de causar e não de votar pra mesma pessoa.


Três anúncios para um crime


(Three Billboards Outside Ebbing, Missouri. Martin McDonagh, 2018)

Todo ano temos aquele filme. Sabe, aquele – aquele que ninguém nunca ouviu falar e todos fazem cara de surpresa porque “oi, como chama isso mesmo? Com quem é?”. Mas, como tem acontecido nos últimos anos, o filme hipster da lista acaba sendo um dos meus favoritos: tenho que aceitar que sou esse tipo de pessoa agora.
Um roteiro original interessante, cheio de reviravoltas, sobre uma mãe (Frances McDormand) que fica exausta com a falta de solução pro crime da filha, aluga 3 billboards na cidade pra pedir satisfação pro delegado – que está morrendo de câncer. Humor negro, ótimas atuações, diálogos bem escritos e um final satisfatório: o que mais você pode querer de um filme hipster do Oscar?

Indicações: Melhor Atriz (Frances McDormand); Melhor Filme; Melhor Ator Coadjuvante (Woody Harrelson e Sam Rockwell); Melhor Roteiro Original; Melhor Edição; Melhor Trilha Original
Deve levar: de verdade, gostaria que levasse Melhor Atriz e Melhor Ator Coadjuvante (Sam Rockwell tá incrível), mas não ficaria chocada se não levasse nada.