Porque se o José Wilker pode, eu também posso.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Speed Racer

(Speed Racer, irmãos Wachowski)

Quando era criança, Speed Racer era um daqueles desenhos que só assistia porque começava logo antes de algum outro desenho que realmente gostava – não me lembro exatamente qual no momento, teria que desencavar a programação do SBT para ter essa resposta. As minhas lembranças sobre o desenho se resumiam a duas coisas:
1)o Speed sempre ganhava as corridas importantes (ele podia perder uma ou duas secundárias, para aumentar a tensão, mais o Grande Prêmio Mundial Absoluto era dele com certeza)
2) O macaco Zequinha e o irmão menor do Speed me irritavam até a morte. Os melhores episódios eram aqueles em que os dois ficavam trancados no maldito porta-malas o tempo todo e davam um descanso.
Anos depois, após ter assistido o filme, percebi que minha memória está excelente.

A tão aguardada adaptação do desenho – não sei quem a estava aguardando, mas enfim... – traz o filme todo em um visual psicodélico de clipe de banda pop drogada dos anos sessenta. Não sei quanto a você, mas existe um limite na quantidade de estímulo visual que posso agüentar. Faltou apenas mais uma explosão púrpura para que eu saísse da sala de cinema com dor de cabeça.
Efeitos visuais a parte, a história não linear, contada através de mini-flashbacks irritantes que entram em tipo de edição sobreposta que tenho certeza que os editores acharam o máximo, se foca no drama do personagem de Emile Hirsch (Speed Racer): aceitar ou não aceitar patrocínio, eis a questão.
Speed é o filho do meio de Pops Racer (John Goodman, Eterno Fred Flinstone) e Mom Racer (Susas Sarandon, não sei fazendo o quê em um filme desse), tendo como irmão mais velho Rex Racer (Scott Potter) e como caçula o insuportável do Gorducho (Paulie Litt) e seu macaco, Zequinha.
Rex era o melhor piloto de carros de corrida do mundo, até que um belo dia saiu de casa, começou a ser acusado de causar acidente atrás de acidentes e capotou um rali nas montanhas. Speed sente que é seu dever honrar o bom nome da família, trazer novamente orgulho para seus pais e toda essas coisas. E ele faz isso dirigindo seu famosos Mach 5 em pistas cheia de looping dignas de Hot Wheels e cores primárias.
A vida de Speed está indo muito bem, obrigada, quando recebe a visita de um homem rico, poderoso e diretor de conglomerado comercial que está a fim de patrocinar Speed. Como você já deve ter adivinha, o tal não tem escrúpulos e está a fim de usar corrida como uma maneira de ganhar dinheiro.
Chocado pela noção de que alguém pode estar usando esse digno esporte para aumentar sua fonte de renda pessoal, Speed não aceita a proposta e decidi ir contra o sistema.
Sem grandes surpresas, o sistema caí em sua cabeça.
É aí que entra o misterioso Corredor X ( Matthew Fox , Jack de Lost, também fazendo sei lá o quê nesse filme. O cara está numa das séries de maior sucessos americanas. Não é como se estivesse precisando de dinheiro), que todo mundo já sabe quem é, e que está lutando contra o cartel que forja resultado de corrida. Qualquer coisa que diga além desse ponto é tanto desnecessária como previsível.
Vai notar que não mencionei Trixie (Christina Ricci , a eterna garota perfeita para assumir o papel de Carrie, a estranha). Isso é porque ela é tão secundária que chega a dar dó. O macaco é mais relevante para a história do que ela. A única coisa digna de nota de seu personagem é seu figurino. Vai arranjar roupas assim no inferno.
O filme, em si, não é lá essas coisas. Sem grandes surpresas. Duvido que alguém realmente esperava que fosse bom. Podem argumentar comigo até ficarem roxos que o visual e os efeitos especiais fazem com que o filme valha a pena. Olha, nada do que está na tela de cinema é original. Pense Dick Tracy e a última versão de Fantástica Fabrica de Chocolares
Mais três coisas merecem ser apontadas. A primeira sobre uma cena em especial, mais para o final do filme, em que Speed e o Corredor X fazem um tipo de DR na pista. Se não me engano, existem seis cortes na cena (entre os rostos de Matthew Fox e Emile Hirsch ) . Nas seis tomadas, todas as vezes que a câmera volta para o Corredor X, ele está com um cabelo diferente. Vergonhoso.
A segunda é que... onde estava a música clássica no final da Grande Corrida do filme? Fiquei esperando em vão o Go Speed Racer, go Speed Racer, go Speed Racer, Go! Ela toca no decorrer do filme, em pequenos pedaços e versões estilizadas, mas no momento em que ela deveria tocar... silêncio. É um sacrilégio. Vergonhoso II.
A terceira é... Mach 6?

segunda-feira, 19 de maio de 2008

O assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford

(The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford - Andrew Dominik)


(Pois é, eu voltei. Só cinco meses depois. O que posso dizer? Quando a vida aperta, a primeira coisa a se deixar de lado é a net.)



O Assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford é um filme que você provavelmente já viu, ainda mais contando que ele não é nenhuma estréia. Mas como o dito não passou no cinema da minha cidade (pois é, pois é) e só o assisti ontem, vai ser sobre ele mesmo que vou falar.


A história do filme é, bem... sobre o assassinato de Jesse James (Brad Pitt) pelo 'covarde' Robert Ford (Casey Affeck). Para quem nunca ouviu falar no nome, Jesse James foi uma lenda entre os assaltante/bandidos/pistoleiros americanos, roubando bancos e trens e vivendo livre, leve, solto por cerca de doze anos. Brad Pitt atua exatamente como o Brad Pitt sempre atua - o que não chega a ser uma crítica exata - retratando um homem que está ligeiramente se tornando mas paranóico e preocupado com a possibilidade de ser entregado para a polícia.

É nesse contexto que entra Bob Ford. Desde criança, sonhava em ser exatamente como Jesse James, acreditando que ele se tratava de um ser humano excepcional, capaz de escapar de cinquenta policias armados até os dentes sem suar, de transformar metal em ouro e de ficar invisível. É claro que, quando chega perto o suficiente para conhecê-lo, percebe que ele não "passa de um ser humano."

É nesse ponto que a relação dos dois muda e Rob Ford percebe que:

a) uma vez que Jesse James não é a reencarnação de Deus na Terra, ele bem que poderia lucrar alguma coisa entregando o cara para a polícia

b) se ele não tomasse alguma atitude, o próximo a levar um tiro na testa ia ser ele próprio, já que Jesse não é idiota e sabe que alguma coisa não estava muito bem na história toda.

Em volta desses dois personagens principais - ao meu ver, Robert Ford é o verdadeiro protagonista desse filme, ainda mais porque Casey Affeck arrasa no papel do garoto perdedor que morre de amores por seu ídolo - surgem vários secundários, todos membros do bando de Jesse e interessados em tirar vantagem de qualquer situação. Temos Dick Liddil (Paul Schneider), Wood Hite (Jeremy Renner) e Charley Ford (Sam Rockwell) como os mais importantes.


O filme é narrado por uma voz que tudo sabe e tudo vê, e que é responsável por alguma das construções frasais mais exageradamente poéticas do filme - e não, isso não foi um elogio. A fotografia é perfeita, com uma grande número de paisagens com uma forte semelhança com aquelas presentes nas propagandas antigas da marlboro.

Meu problema com o filme consiste em três coisas. Primeiro, o fato de que é muito longo. Quase três horas sentada no sofá me trazem recordações de Senhor dos Anéis. E as lembranças não são nada agradáveis.

Segundo, estruturaram com tanto cuidado a 'jornada' de Bob Ford até o momento em que realmente atira em Jesse James, que deixaram a parte posterior a morte muito fraca e vaga - embora não exatamente curta. E o que, me pergunto, acontece com Dick Liddil, um dos meus personagens preferidos na coisa toda?

Terceiro, o título. E nem é pelo fato de que ele conta o filme, mas sim pq ele sugere que Rob Ford é um covarde, dando a entender que Jesse James é um herói. E a coisa não é bem assim. Robert Ford pode ter sido um assassino, mas Jesse James não ficava muito atrás não. Era uma ladrão qualquer e só mesmo o mito e a fome americana por ídolos o transformou em tudo o que é hoje em dia.