Porque se o José Wilker pode, eu também posso.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Retrospectiva 2010

Final do ano está aí, e nada como proximidade do dia primeiro de Janeiro para fazer uma lista básica de “Melhores e Piores do Ano”. Um grande problema disso reside no fato de que não vi tantos filmes assim esse ano (pelo menos, não filmes atuais), então não é como se tivesse aquela base para comparação. Não que isso tenha me impedido antes... Certeza que tem algum curta iraniano que não vai estar nessa lista, mas já aprendi a viver com esse desapontamento.

De qquer jeito, aí vai a minha lista, levando como base os filmes que eu vi esse ano, e a minha própria interpretação sobre eles (notou o pronome de primeira pessoa, né? Então). Os Cinco Melhores Filmes 2010, segundo Livia Lavachi:

(Razão simples para a lista não conter dez itens: quem disse que consigo escolher uma dezena dentre os lançamentos desse ano, que eu tenha visto? Triste, muito triste. Preciso de mais tempo livre e de uma locadora melhor pro ano que vem.)

(ordem não importante)


5. Ilha do Medo (Shutter Island. Scorsese, 2010)

DiCaprio e Scorsese, ao meu ver a melhor dupla diretor-ator do momento (desculpa, Depp-Burton, mas vai precisar de alguma coisa muito boa para apagar Alice da minha memória), com thriller muito bem feito, do tipo que fazia tempo que não via. Como não sou muito fã do gênero, a surpresa foi ainda mais agradável. Dediquei muito do meu tempo nesse ano em conhecer mais da carreira do diretor, e gosto cada vez mais.
Ignore o título em português, e se não viu ainda, assista. Vale muito a pena.

(obs:) Estranho, muito estranho, que DiCaprio não tenha recebido nenhuma indicação para o Globo de Ouro esse ano (nem por Ilha do medo nem por A Origem) – ainda mais quando vc pega o histórico do cara: basicamente uma indicação por ano, mesmo qdo não merece. Sabe, se vc dá duas indicações para o meu amado Johnny Depp (uma por Alice, ainda por cima), quer dizer que tinha espaço sobrando na lista...


4. Scott Pilgrim contra o mundo (Scott Pilgrim vs. The world. Edgar Wright, 2010)

Baseado em uma série de história em quadrinhos, e um dos filmes mais legais e divertidos que vi na minha vida, Scott Pilgrim é uma viagem non-sense tão interessante que nem mesmo a falta de expressão do Michael Cera estraga a experiência (acho que ele vai ser para sempre aqueles atores que, não importa o que faça, vão ter sempre a mesma cara. Tipo Nicolas Cage ou Brad Pitt.) Amei esse filme no segundo em que o vi – ao meu ver, o cinema em geral precisa de mais filmes assim: leves, divertidos e não-idiotizantes. Sem contar, uma das melhores edições que vi esse ano. Muito ótimo.


3. A rede social (The Social Network. David Fincher, 2010).

Juro para você que não sei qual é a do David Fincher. Não tem um filme dele (que eu tenha visto, é claro), que não caí ou na categoria Amei ou na categoria O Que Ele Estava Pensando Quando Filmou Isso? Meio termo praticamente não existe. Então temos filmes muito bons (Clube da luta, Zodíaco) e filmes meio... não tão bons (estou simpática hj), como Quarto do pânico e O curioso caso de Benjamin Button. Dessa vez, A rede social se encaixa na primeira categoria, fazendo um excelente trabalho na narração da história do criador do Facebook e mais novo bilionário do mundo. Jesse Eisenberg está muito bem no papel principal e não me espantaria muito se conseguisse o Globo de ouro (ele é meio novo, mas mesmo assim, não seria tão absurdo. Ele certamente merece mais do que o meu amado Depp).
Interessante, muito bem montado e contado, com até mesmo o Justin Timberlake fazendo um bom trabalho, e David Fincher em um dia bom. O que mais se pode querer?


2. Toy Story 3 (Toy Story 3. Lee Unkrich, 2010)

Pixar. Ah, Pixar. É tão legal ver que eles vão lançar mais um filme, pq vc sabe que vai ser bom. Qual outro estúdio lança uma sequência como Os incríveis, Wall-e, Up – nas alturas, Toy Story 3 sem nem mesmo suar? Não sei que tipo de mágica eles fazem por lá, mas espero que continue assim.
(Será que gosto da Pixar? Será? Será?)
Dizem que Enrolados, que é o último lançamento deles, também vale muito a pena. Como esse ainda não passou por aqui, estou na expectativa. Toy Story, no entanto, foi um ótimo filme. Já está ficando quase redundante falar que Pixar foi bem, mas fazer o quê? Foi engraçado, foi bem feito, e emocionante (e olha que nunca fui muito ligada na franquia. Se tivesse sido fã quando criança, certeza que tinha chorado no cinema.)
Só mais uma vez, pra não perder o costume: Go, Pixar, amo vocês.

[Errata básica: Enrolados não é Pixar, é só Disney mesmo. Descobri da pior maneira possível: nos créditos na sala de cinema. Qdo vc está não está no clima, escutar os números musicais cada vez piores dos novos filmes da Disney... dói. Sem contar que colocaram o LUCIANO HULK pra dublar o protagonista, e depois q vc percebe isso... acabou. O filme perdeu a chance.]

1. A Origem (Inception. Christopher Nolan, 2010.)

Acho que ninguém que me conheça duvidou que esse filme estaria aqui. Tem um post nesse blog, feito assim que voltei pra casa da primeira vez que vi essa maravilha no cinema, e minha reação continua basicamente a mesma. Voltei pra ver de novo, li críticas, discuti na internet, esperei pra ver se meu cinismo se manifestava – mas não adiantou nada: estou tão apaixonada pela A origem agora quanto estava quando o filme foi lançado. Digam o que quiserem, nada ganha da obra prima de Nolan pra esse ano.
[É tão raro um filme que eu goste ter chance real de ganhar prêmios, mas nesse caso... Na cara de todas as pessoas que eu vi saírem da sala de cinema no meio da apresentação.]


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Como não poderia deixar de ser, levando em conta que moro em uma cidade com apenas um cinema relativamente decente (o que seria de nós sem o Eldorado, me pergunto?), seria fácil fácil montar uma lista com dez filmes ruins de 2010. Não vou fazer isso, é claro. Cinco já é mais do que o suficiente.
Algo para se notar, no entanto, é que os filmes ruins desse ano não são tão ruins assim. Sabe, já vi coisas piores. Então, embora 2010 não tenha sido um ano cheio de realizações positivas, ao menos não foi o pior que já vi em termos de fracasso.
Já é alguma coisa.

(again, ordem não importante)


5. Salt (Salt. Phillip Noyce, 2010.)

Angelina Jolie, fazendo o papel que ela sempre faz (gostosa e boa com armas – Fetiche é o seu nome do meio), em uma versão bem mais sem graça de... bom, qualquer filme que tenha uma espiã russa fugindo da força policial dos EUA. Se vc for parar para pensar, o filme não é tão ruim assim, mas quando vc é a Angelina Jolie vc DEVERIA ter um agente decente e não entrar em filmes desse naipe. Nem mesmo como uma explosão de ação o filme tem mérito, pq já vi melhores. Ele é tão mediano que ganha um lugar nessa lista.


4. Eclipse (Eclipse. David Slade, 2010.)

Me sinto até meio mal de colocar um membro da saga Twilight nessa lista – é tipo bater em aleijado, não parece uma coisa muito decente de ser feita. Mas não se pode argumentar com a realidade, e a realidade diz que esse buraco-negro cinematográfico é uma vergonha pra praticamente todos os envolvidos em sua realização.
O lado bom é que passamos da metade da franquia. Aeh! Só mais dois, provavelmente em 3D! Nada como ver o parto da personagem principal em 3D, não? (pesadelos/)


3. Tron: o Legado (Tron:Legacy. Joseph Kosinski, 2010)

Como tem roteiro mais pra baixo, nem vou perder mais meu tempo falando mal. O básico que tinha pra dizer, já disse. É chato, tem um diálogo que chega a doer nos ouvidos, é mal explicado, e se não fosse 3D já teria sido relegado ao esquecimento, que é o que merece. E é bem por aí mesmo.


2. Wall Street: o dinheiro nunca dorme. (Wall Street: Money never sleeps. Oliver Stone, 2010).

Continuação do clássico Wall Street: poder e cobiça, de 1987, esse filme tem muitos problemas (a começar pelo que eu considero a parte mais importante de um filme: o roteiro), mas poderia até relevar tudo se não fosse pela edição. Ah meu Deus, a edição desse filme. Sem brincadeira, parece coisa de criança que aprendeu a mexer no moviemaker ontem, e quis experimentar de tudo, de uma vez. Sei que parece que estou exagerando, mas se ainda não viu esse filme, veja e depois me diga: o que eles estavam pensando?
Ainda tenho pesadelos com alguns cortes de cenas...


1. Comer Rezar Amar (Eat Pray Love. Ryan Murphy, 2010).

Oh horror! Oh, o horror desse filme.
Seja o que for fazer, não assista. Ele dói. Ele queima a retina. E com a Júlia Roberts, ainda por cima.
Como tem roteiro dele mais pra baixo, me reservo o direito de não voltar a descrever essa coisa, e assim me manter de bom humor, pode ser?
O horror.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Tron - o legado


(Tron: Legacy. Joseph Kosinski, 2010.)


Tron – o Legado


Ou


Eles Não Estão Nem Mais Tentando, Não É Possível


Existem filmes com roteiros vagabundos. Mal escritos. Ridículos. Absurdos. Depressivos. E existe “Tron”, que conseguiu a proeza de juntar todos os adjetivos acima e mais alguns em duas horas excruciantes da minha vida que nunca mais terei de volta. E sabe qual foi a pior parte? Foi que não entendi qual é a do filme até agora. É uma mistura tão grande de tanta coisa que não possuiu nem sombra de uma identidade própria. Visualmente a gente tem, sem nem mesmo forçar muito: "Atlantis, o reino perdido"; "Speed Racer" (a versão dos irmãos Wachowski), "Matrix",e os jogos do Mario Kart. Narrativamente a gente tem: de tudo e mais um pouco, sem a menor preocupação em ver se as peças combinam. Então, já que roteiro é lenda mesmo, qual era o grande chamariz desse filme? O visual. As críticas estão ai, dizendo que “Tron” é para esse ano o que “Avatar” foi para o ano passado. Olha, não vou negar que é tudo muito bem feito, bonito, perfeito e tals... mas quem se importa? Quem, fora aquele seu primo idiota que tem “Velozes e Furiosos: desafio em Tokio” como favorito no filmow, se importa com o visual quando nem um grama de pensamento foi colocado no roteiro?
(fim da explosão de indignação/)

É muito triste de pensar que aqueles diálogos que eu vi no cinema foram escritos por alguém, aprovados por outro alguém, dirigidos, editados, lançados... e ninguém, em momento algum, parou e apontou o óbvio: “mas que merda estamos fazendo aqui?”
(fim mesmo da explosão de indignação/)

“Tron- o legado” é uma colagem de clichês esquecíveis e dispensáveis. Ele é ruim, mas não é nem mesmo um ruim memorável ou engraçado (como “Battelfield Earth”, por exemplo). Ainda pior do que isso, é chato. É só uma porcaria que ganha atenção pq é 3D e gastou uma penca de dinheiros em efeitos especiais. Acho que a gente vai ter pelo menos um desses por ano enquanto a febre dos óculos coloridos não der uma abaixada.

[Não tem spoilers, pq não há nada nem remotamente complicada de ser descoberto antes mesmo de vc sentar na cadeira do cinema. A não ser que você seja uma ameba. Nesse caso...]



*antes do filmes, trailer 3D de Never say never, a biografia dos doze anos de vida intensa e agitada do astro maior da música atual, Justin Bieber. Só quem presenciou essa magia consegue entender o nível de vergonha alheia que se sente. 2011 promete...*


Cena: 1989, uma casa de subúrbio americana

PAI DO HEROI
Meu sonho era criar uma espécie de mundo virtual utópico e guiar a humanidade para um caminho das luzes (ou algo assim). Mas precisava de ajuda para isso. Então criei o Clu, que é uma copia minha digital que é capaz de pensar por si só. De alguma forma meu intelecto superior não racionalizou que nunca presta quando um humano cria alguma coisa capaz de pensar sozinha, mas enfim... Também criei o Tron, que embora seja o personagem-título do filme não tem a menor importância para a história. Bom, esse mundo virtual utópico se chama Grade. E tudo ia muito bem até que aconteceu um milagre...

HEROI CRIANÇA
Milagre?

PAI DO HEROI
É. Mais eu vou deixar para contar essa parte, que é a mais importante da coisa toda, mais tarde. Agora, tenho que sair de cena e convenientemente deixar de revelar o nó narrativo.
(vai embora, entra numa moto, e... você adivinhou... nunca mais volta).


Cena: suponho que seja o presente. Agora, se é no nosso presente mesmo ou em algum presente alternativo, vai da sua interpretação do momento.

HEROI ADULTO, AKA FRACASSO EM FRASES DE EFEITO
(que tem 27 anos, com corpinho de 21, e está loiro)
(andando de moto em alta velocidade pelas ruas, desafiando as leis dos homens e da gravidade enquanto pula de pontes e costura carros em movimento. Para em frente a uma porta mecânica, invade o código de segurança, e entra no local)

Local = empresa que o pai dele criou, criadora de tecnologia de ponta. O Herói é o maior acionista, mas é rebelde demais para assumir o controle. Ao invés disso, uma vez por ano ele aparece e apronta alguma coisa.

FRACASSO EM FRASES DE EFEITO
(pega um laser e apaga a imagem da câmera de segurança)

SEGURANÇA GORDO
(bate com a caneca de café no monitor e a imagem, que tinha sumido, volta a aparecer)

TECNOLOGIA DA EMPRESA
Nota 10

DIRETOR DA EMPRESA
(em uma sala de reuniões cinza-escuro-metálico, como tudo nesse filme)
... e conseguimos uma alta das ações, e vamos vender para o mundo inteiro nosso sistema de segurança. Pq queremos lucro, e não seguimos mais aquele sonho idiota do Pai Do Herói de disponibilizar as coisas de graça para a galera. Não é mesmo?

CILIAN MURPHY
(diz alguma coisa. Não sei o que é, pq estava chocada demais com o fato de um ator decente estar fazendo uma ponta de menos de cinco minutos e não-creditada em Tron.)


[O Segurança Gordo percebe uma quebra de segurança em uma das salas, e decide investigar aquilo sozinho, sem nem mesmo parar para chamar ajuda. Ele não consegue chegar a tempo de impedir nosso Herói de liberar o último produto da empresa de graça na internet, mas sempre sobra alguns segundos para um diálogo e a tentativa de fazer o Herói soltar alguma frase de efeito decente. Essa tentativa continua durante o filme inteiro, ficando cada vez mais patente que os roteiristas não conseguem brincar de criar diálogos decentes.]
Cena: olha só, se você faz um filme com um ator loiro-genérico-qualquer como personagem principal, mataria tentar achar um que soubesse mudar as expressões do rosto?

FRACASSO EM FRASES DE EFEITO
(chega no apartamento, depois de pagar fiança e sair da cadeia e troca de camisa, pq ele precisa mostrar os abdominais em algum momento, não?)

SÓCIO BONZINHO DA EMPRESA
Fracasso, o que você pensa que está fazendo?

FRACASSO EM FRASES DE EFEITO
Olha só, você ser uma figura paterna quando eu era criança, tudo bem... mas agora? (sutileza é um forte desse roteiro) Tenho tudo sob controle.

SÓCIO BONZINHO DA EMPRESA
Tá. Que seja. Só vim aqui dizer mesmo que recebi um bipe da linha do antigo escritório do seu pai no fliperama. Toma a chave, boa investigação pra você e até a cena final do filme.


Cena: fliperama antigo, que está abandonado há uns 20 anos, mas cujas luze e música ainda funcionam. É quase mágica.

[Fracasso tenta colocar uma moeda na máquina do jogo Tron, mas derruba e descobre uma passagem secreta para um escritório escondido. Ele tira, sei lá de onde, uma lanterna, e acaba entrando na Grade, onde todo mundo usa roupas colantes e futurísticas com um design absurdamente semelhante ao de Atlantis, um reino perdido. É tudo Disney mesmo, então não pode ser considerado plágio. Pode?]


Cena: não, vocês não conseguiram uma linha decente de diálogo para o herói até agora. Acho que podiam muito bem desistir e deixá-lo em silêncio. Eu agradeceria.

FRACASSO EM FRASES DE EFEITO
(é digitalizado para outro universo, e logo em seguida capturado por uma galera que usa roupas com detalhes vermelhos. Os caras bonzinhos usam roupas com detalhes brancos. Só para facilitar a identificação mesmo.)
Olha, sei que vocês devem escutar muito isso, mas cometeram um engano...

*risadas digitalizadas do Chaves ao fundo*

CARA QUALQUER QUE TAMBÉM ESTÁ PRESO
Cala a boca se não quiser morrer.

Melhor. Frase. Do. Filme.

[Ele é levado para algum lugar, onde um monte de mulheres com corpo de modelo e roupas brancas colantes colocam um disco brilhante na costa do Fracasso.]

FRACASSO EM FRASES DE EFEITO
Espera. Mas o que eu tenho que fazer agora?

BARBIE-ROBO
Sobreviver.
(é, a Barbie-Robô tem uma frase de efeito melhor que a do Herói. Para você ver como é)


Cena: efeitos especiais e mais efeitos especiais. É claro que todo o filme é basicamente um altar para o Deus da Computação Gráfica, mas a partir de agora até os diálogos diminuem.
Graças a Deus.

FRACASSO EM FRASES DE EFEITO
(luta contra uma galera qualquer com discos. Estilo coliseu. Quem ganha, vive.)

DARTH VADER
(observa tudo do camarote)

CONSELHEIRO CARECA COM ARES DE JAFAR
Está tudo correndo como o planejado, senhor. Agora, se pudesse me contar mais alguma coisa sobre o que pretende, poderia ser de mais ajuda...

[A última luta do Herói chega ao fim. Quando parece que o Adversário Final vai dar o golpe de misericórdia, uma gota do sangue dele cai no chão e... dã-dã-dã, descobrem que ele é humano.]

DARTH VADER
Tragam-no para cá.

FRACASSO EM FRASES DE EFEITO
(tenta de novo ser o Sam Spade. Falha, de novo. Está ficando constrangedor, já.)

[Darth Vader tira a mascara e na verdade é o pai do herói (!!!!)
Ele explica o mais ou menos o roteiro, dizendo que aquele disco que o Herói recebeu nas costas é tipo o chip com todas as informações da vida dele e coisas assim.
Pq vc coloca algo tão importante nas suas costas, ao invés de no banco, ou ao menos na sua frente, não foi mencionado. Duvido que tenham pensando nisso, de qquer forma.]

DARTH VADER
Então você é um usuário, e como tal deve morrer.

[Nesse filme, usuário são os seres humanos reais. Para todo o resto da humanidade, usuário é um drogado. É um tanto quando estranho ver um filme da Disney em que a galera fica afirmando com orgulho que é usuário...]

FRACASSO EM FRASES DE EFEITO
Que ótima maneira de receber seu filho.

DARTH VADER
(textual)
Sam, eu não sou seu pai.

CONTAGEM DE FACEPALMS ATÉ O MOMENTO
Uns dez, mais ou menos.


Cena: Darth Vader, ou Clu, segue a linha de idiotice de todos os vilões do mundo: ao invés de matar o Fracasso quando ele estava preso e indefeso no escritório dele, o desafia para uma corrida de motos mortal. Várias explosões de cor acontecem.

PESSOAS COM EPILEPSIA
(provavelmente deveriam ficar longe da sala de cinema)

FAN SERVICE AMBULANTE
(que é a Thirteen, de House, com peruca de espiã russa e roupa escura colante)
(aparece em um carro branco e salva o Fracasso. Os dois vão embora juntos.)

FRACASSO EM FRASES DE EFEITO
O que está acontecendo aqui? Quem é você?

FAN SERVICE AMBULANTE
(mais uma vez, textual)
Paciência. Tudo vai ser explicado no seu tempo.


Cena: e você achava que o roteiro estava ruim? Espera só por mais essa.

[Eles chegam em uma espécie de apartamento branco-futurista. Lá, o Verdadeiro Pai Do Herói está levitando. Aparentemente, ele é tipo o Sr. Miyagi da Fan Service.]

PAI DO HERÓI
Meu filho. Nunca achei que fosse vê-lo de novo. Tenho certeza que tem muitas perguntas. Por que não te conto a história toda como um flashback? Isso vai ajudar a nossa audiência a entender o enredo desse filme, não acha?

Bom, primeiro deixa eu usar algumas explicações vagas que cheiram a algo científico para explicar como descobri esse universo. Já contei no começo que criei o Clu e o Tron para me ajudarem, né? Aí meu milagre aconteceu. Os ISOs surgiram. ISO é a sigla para Isomorphic algorithms. Eles eram um tipo de forma de vida muito sábia, e com eles eu poderia ajudar a humanidade a mudar o mundo, ou algo do tipo. Mantenha a referência a Atlantis, o reino perdido na sua cabeça. Mas então Clu ficou louco, e decidiu interpretar as minhas ordens de “criar um sistema perfeito” da maneira dele, e essa maneira exigia a eliminação dos ISOs. Assim, todos eles morreram no que foi chamado de Purgação. Tron tentou me defender, e nunca mais o vi. Desde então, estou escondido nesse deserto, meditando e curtindo uma vibe.

FRACASSO EM FRASES DE EFEITO
Okay. Só para eu ver se entendi... isso aqui é tipo uma realidade alternativa, não? Por que não volta pra Terra normal e dá um alt+F4 no videogame?

PAI DO HERÓI
Pq para isso preciso ir para um portal. E o portal fica no meio da cidade. E não posso arriscar que o Clu pegue o meu disco. Como eu sou o criador, meu disco é muito foda, e com ele Clu poderia entrar no mundo real e tocar terror na humanidade.

FRACASSO EM FRASES DE EFEITO
Então, vc fica aqui, sem fazer nada?

FAN SERVICE AMBULANTE
(deitada no sofá, em pose de Cleópatra)
...

PAI DO HERÓI
Bem por aí.

FRACASSO EM FRASES DE EFEITO
Mas eu posso ir embora? Pegar o portal e voltar para o meu mundo?

PAI DO HERÓI
Não vejo pq não. Acho até bom. Você vai, sem mim, e de lá mexe na programação do sistema.

FRACASSO EM FRASES DE EFEITO
Isso parece razoável. Logo, não vou fazer. Ou a gente sai daqui juntou ou não saímos nunca mais. Somos um time, ou qualquer coisa que o valha.


Cena: o grande ato temerário do herói em busca de uma solução. O que, todo mundo sabe, vai acabar dando merda.

FAN SERVICE AMBULANTE
Então. Eu conheço um cara. Ele pode leva qualquer um para qualquer lugar. Se for até o setor ____ da cidade, ele vai te encontrar por lá. E pode ser que te ajude.

FRACASSO EM FRASES DE EFEITO
Como assim, existe um cara que em essa habilidade e ele fica solto por aí? Se ele estivesse do lado dos caras bons, ele já teria sido morto (ou reprogramado, ou seja lá qual eufemismo usem nesse filme). Se estiver do lado dos caras maus, vai ser uma cilada.

FAN SERVICE AMBULANTE
É, esse raciocínio seria válido de algum de nossos personagens realmente pensasse....

[Logo, ele vai em direção a um clube noturno – que é basicamente uma desculpa para colocarem mais da trilha sonora para tocar. Considerando que a trilha sonora é uma das coisas menos piores do filme todo, isso não é assim tão ruim assim. Sem contar Daft Punk como djs.]

BARBIE-ROBO
Lembra de mim? Então. Bom ver que você sobreviveu.

FRACASSO EM FRASES DE EFEITO
Ahn... é.

BARBIE-ROBO
Está procurando alguém, não? Vem comigo, que eu te levo.

[Então Fracasso segue um dos responsáveis por colocá-lo na arena no começo do filme. Sem nem mesmo parar para pensar que, sei lá, talvez, seja um pouco suspeito. Só um pouco.]

DAVID BOWIE WANNABE
Oh, quem temos aqui. Se não é o Fracasso, filho do nosso Criador.

FRACASSO EM FRASES DE EFEITO
Não sei como vc sabe disso, mas não me preocupo com questões triviais como furos no roteiro. Será que pode me ajudar a chegar até o portal?

DAVID BOWIE
Claro. Espera só enquanto eu pego o meu comunicador e aviso os soldados de Clu que você está aqui, sozinho e indefeso no meio do meu clube...


Cena: luta. A trilha sonora ainda é interessante, pelo menos.

[Um monte de carinhas usando preto e vermelho (maus!) lutam contra o Herói, a Fan Service e o Pai do Herói, que estão usando preto e branco (bons!). Fan Service perde o braço; eles estão quase conseguindo escapar quando Bowie rouba o disco das costas do Pai Do Herói.]

FRACASSO EM FRASES DE EFEITO
(textual)
Pai, você está sem o seu disco.

PAI DO HERÓI
É, eu reparei. Droga! Pq não pensei em tirar esse disco das minhas costas enquanto atacava meu inimigo mais numeroso e poderoso? Agora Clu pode dominar o mundo real. Eu acho.

FRACASSO EM FRASES DE EFEITO
E quanto a ela?

PAI DO HERÓI
Bom, não é como se o papel dela tivesse qualquer relevância além de ser gostosa. Deixa ela deitada aí por um tempo, daqui a pouco melhora. Ah, mencionei que ela é um ISO?

[Eles então pegam uma espécie de trem e tentam chegar no portal antes do Clu, operando na ideia de que se voltarem para o mundo real podem controlá-lo de alguma forma. Tirando da tomada, talvez. Olha, pelo que entendi (e confesso que minha atenção não foi a mais completa, já que em muitos momentos estava ocupada rolando os olhos e contendo o vômito) você não precisa do disco do Pai Do Herói para passar pelo portal. Quer dizer, o plano deles nesse momento é justamente fazer isso, e eles estão sem o disco.
Se esse é o caso, pq Clu não fez a travessia a mais tempo?
Um argumento possível é que só mesmo um usuário pode voltar para o mundo real sem o Disco Todo Poderoso. Se esse for o caso, pq diabos o Pai do Herói não escondeu o disco em algum lugar, atravessou o portão e apertou esc no programa?]


Cena: mais luta. Já nem sei se a trilha sonora é boa ou não, pq minha paciência tinha se esgotado e estava começando a me cansar de ficar sentada.

[Basicamente: Clu construiu um exército, que imagino que seja para dominar o mundo e tals. Fan Service é capturada. Fracasso consegue roubar o disco do Pai e resgatar Fan Service, tudo sem nem mesmo suar. Sério, não tinha um campo de força em volta do disco, ou nada parecido. Amadores.

FRACASSO EM FRASES DE EFEITO
(abrindo a porta com um chute, a câmera dando um close no rosto dele de alguns segundos)
Meu nome é _________. E sou um usuário.

[Sim, isso foi o melhor que ele pode fazer. Sem comentários.]

Pai do Herói, Fracasso e Fan Service roubam um avião e saem voando em direção ao portal.
Clu e seus capangas fazem a mesma coisa.]

CENAS OBRIGATÓRIAS DE PERSEGUIÇÕES AEREAS EM FILMES 3D
Checado. E com louvor.

TRON
(que agora virou do mal, e está lutando pelo Clu, persegue o avião branco da galera do bem)

PAI DO HERÓI
(textual)
No que foi que você se tornou?

E isso, só isso, essas simples palavras fazem com que Tron reveja todos os seus conceitos e decida que na verdade quer lutar pelo Criador, e não contra ele.
Essa cena de *desenvolvimento de personagem* durou um total de 2.7 segundos.

TRON
(textual)
Eu luto pelos usuários.

PLANET HEMP
É, nós também.

(Tron bate na nave de Clu. Os dois caem para a morte certa... exceto que Clu consegue escapar e Tron afunda. Mais, ao menos, ele afunda em 3D).


Cena: momento final da coisa toda. Em alguma plataforma, perto do portal.

CLU
Eu fiz o que você me pediu. Criei o sistema perfeito.

PAI DO HERÓI
Eu sei. Da maneira como vc interpretou, ao menos. Não podia saber que a perfeição está bem diante dos nossos olhos. Não podia saber pq eu não sabia qdo te fiz. E nós somos um.

WILL SMITH
Eu já fiz esse filme antes...

CLU
Que seja. Quero que morra.

[Eles lutam, o filho grita, a música sobe...
*bocejo*
Olha, sei que eles estavam mesmo tentando me fazer chorar – ou ao menos sentir qualquer tipo de emoção mais do que “vamos logo com isso que estou com fome”, mas para isso eu teria que estar minimamente envolvida com os personagens e dilemas do filme.
E, sério, se a morte fosse querer dizer que o Herói calaria a boca, ele teria morrido na primeira cena. No final, Pai Do Herói e Clu voltam a virar um ser só, e nisso explodem todo o mundo digital que tinha sido criado ali. Fracasso e Fan Service voltam para o mundo real.
Como se alguém se importasse.]


Cena: final mesmo

FRACASSO EM FRASES DE EFEITO
Acho que é isso. Vou assumir meu lugar na empresa e continuar o sonho do meu pai.

FAN SERVICE AMBULANTE
E eu?

FRACASSO EM FRASES DE EFEITO
Bom, primeiro a gente dá um jeito na sua peruca. Ela é torta, pelo amor de Deus. Depois, acho que a gente faz aquilo que o nosso pai quis: a gente muda o mundo.

[Os dois sobem na moto e andam pela estrada, para que Fan Service possa finalmente ver um pôr do sol. É tipo o final ruim de Blade Runner, exceto que eu sei que não vai sair um corte do diretor transformando Tron eu uma obra prima cinematográfica.]



FIM



sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Harry Potter e as relíquias da morte - parte 1

(Harry Potter and the deathly hallows: Part 1. David Yates, 2010)


Harry Potter e as Relíquias da Morte Parte I

Ou

Hermione Diz: Sou Foda

Ou Ainda

Quando A Palavra "Idiota" É Usada Tantas Vezes Que Perde Todo O Sentido


Bom, vamos lá.
Escrever qualquer coisa sobre Harry Potter é algo complicado para mim por uma simples razão: durante uma fase grande da minha pré-adolescência, eu amava o personagem. Ok, não de um jeito ai-meu-Deus-Harry-Potter-morri, mas de uma maneira grande o suficiente para passar a madrugada que o sétimo livro vasou na net lendo na tela do computador.
(não se esqueçam, pessoas, pirataria é crime. Não tentem em casa)
Portanto, não prometo nada imparcial – não que normalmente meus roteiros sejam imparciais, mas vc entendeu o que quis dizer.

Agora, mais em específico, o sétimo livro. Deus, o sétimo livro.
Anos de espera, de especulações, de pessoas filhas da puta me contando que o Snape tinha matado Dumbledore (Komatsu vai arder no mármore do inferno por essa. Acha que eu esqueci?), de teorias malucas de que o Harry ia morrer no final... para ISSO??
Teria sido melhor se o Harry morresse mesmo no final.
Até hoje não sei qual foi a intenção da J K Rolling. Não sei mesmo. Ela realmente achou que tinha feito um bom trabalho narrativo? Ela só não estava mais ligando para nada? Ela já estava rica o suficiente para se preocupar com coisas triviais como reescrita? O editor dela tinha entrado de férias no Havaí?
Pq em que universo você passa capítulos e mais capítulos com os três personagens principais em uma cabana, acampando e não fazendo nada exceto se tornando pessoas odiosas que vc quer ver sofrer de forma lenta e gradual? Bom trabalho em arruinar anos e livros de construção de personagens, pq td o que me restou do sétimo livro foi um ódio inigualável pelo sr. Harry Potter e sua capacidade intelectual de uma ervilha.
E nem me façam comentar sobre a crise-emo do HP sobre como Dumbledore não tinha contado da sua infância para ele. Grande merda, sabe. O mundo está sendo destruído, o bruxo mais poderoso do universo quer te matar, e vc está ligando para isso?
Foda-se isso. Pior ideia de nó narrativa que vi em anos.
(disse que não seria imparcial, não disse? Não estava brincando).
Já deu para perceber, só de leve, que meio que não gosto do último livro. E não gosto mesmo. Me senti pessoalmente ofendida que foram necessários sete volumes para Harry ganhar do Voldemort com o p***** do poder do amor.
De repente me senti dentro de um episódio de Barney, o dinossauro roxo, sobre a importância da amizade e do amor na vida das pessoas.
Tenho mais coisas sobre o que reclamar, mas acho melhor cortar por aqui e deixar o resto para a segunda parte, do contrário não começo nunca esse roteiro.

Já o filme, no entanto, foi uma grata surpresa. É o melhor trabalho de adaptação que consigo me lembrar em anos, e nem mesmo as cenas pseudo-3D me irritaram tanto assim. Considerando o material original, não foi tão porre como poderia ter sido. Palmas para que seja que tenha adaptado esse filme, que no momento estou com preguiça demais de checar no imdb.

(ah, e vai ter spoilers. Se alguém ainda não souber, por osmose coletiva, o final de HP.)


Cena: vamos começar esse filme mostrando o nosso personagem principal realizando alguma ação heróica, só para entrar no clima épico de final de saga, não?

HERMIONE
(com uma das 5 expressões de que é capaz de fazer)
Obliviate!
(apaga a si mesma da memória dos pais, em um momento muito tocante e que exigiu muita coragem de nossa protagonista. Sim, pq se nos outros filmes o pessoal já reclamava que Hermione aparecia demais, nessa ela praticamente redefine o que é ser um personagem principal.)


Cena: Voldemort e sua reunião com a turma do mal

VOLDEMORT
Então, fiquei sabendo que não consigo tocar no moleque maldito com a minha varinha. Então preciso de outra. Lucius, passa a sua aê.

LUCIUS MALFOY
Como escolha é lenda, aí está.

VOLDEMORT
Ótimo. Vamos ver se funciona enquanto mato essa pessoa que está flutuando em cima da minha mesa em uma paródia leve de O Exorcista? E depois, acho bem legal dar para a minha cobra comer e forçar um ângulo de cena que deveria ser 3D, mas não é. Que tal?

(faz isso)

MÃE COM CRIANÇA NA SALA DO CINEMA
Pera. Não deveria ser infantil?


Cena: show de efeitos especiais. Seja lá o que você fale sobre esse filme, nunca poderá reclamar sobre a qualidade dos efeitos especiais.
Pelo amor de Deus, aprende, Twilight.

OLHO-TONTO MUDDY
(chega na casa do Harry com a Turma Do Bem toda)
E então, vamos escapar logo daqui para um lugar seguro?

[Harry reclama sobre como não quer colocar ninguém em risco por causa dele, blá, blá, blá, whiskas sache, aí a Super Hermione pega um pouco do cabelo dele, td mundo bebe a poção polissuco e se transforma em uma versão do Harry Potter.

VEZES QUE DANIEL RADCLIFF APARECE SEM CAMISA
Uma vez.

QUANTIDADE DE GRITOS DE FÃS QUANDO DANIEL RADCLIFF APARECE SEM CAMISA
Zero.

[Todos fogem, e são logos atacados por uma horda de comensais da morte. O Verdadeiro Harry, que está na moto com Hagrid (deixando assim, ao meu ver, meio óbvio que aquele era o Verdadeiro, mas tudo bem) é atacado pelo próprio Voldemort. Efeitos especiais depois, a Edwiges morre e eles chegam na Toca – a casa dos Weasleys.]

MÃE DO RONY
Oh, ainda bem que vocês chegaram? Onde estão todos?
[A Galera do Bem vai voltando. Fred/George está com a orelha machucada (é, não sei mesmo reconhecer os dois), então alguém anuncia:]
Olho-Tonto está morto.

[E todo mundo vai dormir logo em seguida, porque quem se importa com o fato de que um cara morreu, não é mesmo? Harry Potter 7 é, antes de mais nada, um estudo em insensibilidade. Especialmente o seu final, que será mostrado no próximo filme.]


Cena: em que Harry Potter começa a mostrar que a habilidade intelectual nunca foi, e nunca será, o seu forte.
Mas tudo bem, ele tem o poder do amor. Então não tem problema, né?

HARRY POTTER
(levanta no meio da noite, pega a mochila e decide que vai sair de casa, a pé)

[Posso só apontar o quanto é absurdo que ninguém tenha feito nenhum feitiço impedindo o maldito de simplesmente sair por aí se ele assim quiser? Vamos lá, galera. O moleque tem 17 anos, vocês deveriam ter mais poderes mágicos do que ele.]

RONY
O que pensa que está fazendo?

HARRY POTTER
(frase clichê chegando em 3... 2... 1..)
Ninguém mais vai morrer por minha causa!

RONY
Olha lá, ego. Sei que vc é o escolhido e tals, mas isso é ligeiramente mais importante do que vc. Então larga de ser idiota e volta para cama.

HARRY POTTER
(faz isso. Ele é idiota, mas ao menos é fácil de ser convencido)


Cena: aprendendo a seduzir com J K Rolling/ casamento de Gui e Fleur

GINA
(tentando o máximo que pode. Uma pena que a atriz não consegue ser bonita, nem mesmo com td o poder do dinheiro por trás da franquia Harry Potter...)
Será que você poderia fechar meu vestido?

HARRY POTTER
(cara de idiota™)
Ahn...

[Ele fecha o vestido, e ela beija ele – pq nem isso a criatura tapada é capaz de fazer sozinho. Então temos um corte dessa Pequena Aula De Sedução para a festa de casamento. Todo mundo está alegre, feliz e possivelmente bêbado. HP decide então conversar com dois velhos com caras de doentes ao invés de ir pegar sua namorada...]

VELHO
Dumbledore? Ele foi um grande um grande bruxo.

VELHA
Ah, sim. Mesmo se vocês descontar _______, __________ e _________.

HARRY POTTER
Do que vocês estão falando?

VELHA
Como não sabe sobre isso? Ttz, tsz, tsz. Tem certeza que o conhecia de verdade??

[Antes que HP pudesse entrar em reflexão profunda sobre o fato de não saber detalhes pessoais da vida de Dumbledore, o casamento é atacado e Rony, Hermione e Harry aparatam para o meio de uma rua qualquer cujo nome não lembro.]


Cena: os três são atacados mais uma vez, e Hermione acaba com tudo pq, sabe, ela pode. Então decidem ir procurar abrigo num lugar seguro, e escolhem a casa do Sirius Black.

HERMIONE
(na manhã seguinte, explorando a casa)
Gente, olha só isso aqui!

Isso aqui = uma placa em um dos quartos onde está escrito Regulus Black, que é a sigla que está dentro do bilhete deixado no ex-horcrux do final do filme 6 – caso alguém tenha se esquecido, eles explicam rapidinho.
O curioso é que, no quarto do Sirius, a placa só diz Sirius, sem explicitação do sobrenome. Mas, tudo bem...

HERMIONE
Isso quer dizer que foi ele quem pegou o medalhão. O que quer dizer que...

ELFO DOMÉSTICO DA CASA DO SIRIUS
(aparece)

HERMIONE
... ele deve saber onde está.

[Harry, então, consegue arrancar do Elfo a indicação de que o medalhão foi roubado por Mundungus Fletcher, que diz tê-lo vendido para a minha adorada de rosa, srta. Dolores Umbridge, que está trabalhando como braço direito do novo ministro da magia – que virou uma organização ditatorial que quer escravizar os humanos.]


Cena: Ministério da Magia
[Resumindo: Os três tomam opção polissuco e viram outras pessoas, e então temos algo muito interessante: a Atriz Que Faz A Hermione tem a melhor cara de assustada durante todas as cenas, e o Ator Que Faz O Harry exagera ainda mais na idiotice do personagem. Não sei se foi intencional, mas eu ri.]

O ATOR QUE FAZ O HARRY
(consegue pegar o medalhão, mas o efeito da poção acaba e... bem, ele é o Harry Freaking Potter no meio do ministério da magia. O que ele faz, então?
Pega o elevador normalmente.
Falar nem nada.)

BRUXOS REUNIDOS NO SAGUÃO DO MINISTÉRIO
Espera, essa pessoa passando aqui, descaradamente, não é o Harry Potter?

POLICIAIS-BRUXOS
Peguem ele!

(O Trio Maravilha começa a correr em direção às lareiras, enquanto são perseguidos por bruxos uniformizados por entre o mar de pessoas. Preciso apontar mesmo que todo mundo aí é mágico e tem varinha, e que ao invés de correr como um idiota você manda um feitiço e prende todo mundo?)

A ÚNICA PESSOA COM CÉREBRO NA CENA
(pega a varinha e começa a bloquear as rotas de fuga com uma grade. Infelizmente, ele só consegue fazer isso uma lareira por vez, ao invés de fechar todas. Logo, o nosso Trio Maravilha consegue escapar...)


Cena: o começo da porção quilométrica do filme em que nossos personagens ficam acampados, em lugares feios, sem fazer nada, andando por aí, sendo insuportáveis e basicamente fazendo com que você queria sair do cinema e ir comprar doce.
Ei, espera só um pouco aí...

HARRY POTTER
Bom, estamos com o medalhão. Mas como vamos destruí-lo?

RONY
*reclama sobre alguma coisa*

HERMIONE
Não sei. Sinto que está bem debaixo de nosso nariz...

RONY
*reclama ainda mais*

[Então o medalhão começa a afetar negativamente as pessoas, deixando quem estiver com ele ainda mais chato do que o normal. Quer dizer, afeta todo mundo menos a Hermione, que só fica um pouquinho mais triste, ao invés de se transformar em uma idiota insensível como todo o resto do universo.]

J K ROLLING
Nem te conto qual das personagens foi inspirada em mim mesma.

[Eles andam mais um pouco, reclamam mais um pouco, brigam, são tão insuportáveis quanto as capacidades limitadas de atuação deles permitem que sejam, e qdo vc apensa que não vai mais suportar a mesmice:]

RONY
Cansei de brincar de ficar no descampado. Fui.

[o que nos leva a algo que provocou pesadelos em um número incontável de pessoas: Daniel Radicliff dançando. Dançando, Deus meu. Não tinha tanto medo dele assim desde que ele entrou em cartaz em Equus, decidido a provar para o mundo que era um bom ator e ficando pelado no palco.]
*arrepio*


Cena: as pessoas não deveriam ser tão idiotas assim, deveriam?

HARRY POTTER
Olha, estou em crise pq Dumbledore não me falou nada sobre a vida maravilhosa que levou antes de me conhecer. Graças a Deus a crise é menor do que no livro, mas ela ainda existe. (pausa)
Acho que tenho que ir visitar o local onde meus pais morreram.

[Hermione e Harry aparatam para lá. É véspera de natal, e temos luzes brilhando em algumas janelas, mas ainda é escuro, cheio de neve e bem soturno.]

SUPER HERMIONE
Olha só, Harry. Achei a lápide dos seus pais, de primeira. Meio estranho que vc nunca tenha nem pensando em vir visitá-los antes. Ainda mais levando em consideração o tamanho do complexo de culpa q vc tem por causa da morte deles...

HARRY POTTER
Né? Mas, olha. Tem uma velha estranha olhando para a gente. Vamos seguir ela?

[Eles fazem isso. Então, sem grandes surpresas, são atacados quando a velha (que é uma historiadora famosa que sabe tudo sobre a vida de Dumbledore) se transforma em uma cobra. Olha, precisaria do livro para me lembrar de detalhes e explicações da cena, mas pelo que entendi na sala de cinema posso dizer que: a velha já estava morta desde o começo da cena, era tudo uma cilada Bino, e o Harry Potter está brincando de tentar virar o Kel, pq idiotice tem limite.]

SUPER HERMIONE
Eu tenho que fazer tudo aqui?
(ataca a velha, salva a vida do Harry Potter e tira os dois de lá.)


Cena: ok, pulando um monte, pq se continuar nesse ritmo nunca mais termino esse roteiro.

HARRY POTTER
(está parado, no escuro, de vigia, quando vê uma luz a distância. Como qualquer um faria, ele segue a luz, abandonando sua melhor amiga dormindo desamparada e sem varinha enquanto vai atrás de algo suspeito. A luz leva o dito até um lago congelado, onde vê que a espada de Gryffindor (aka a única coisa que pode destruir o medalhão, informação descoberta pela Super Hermione) está lá no fundo.
Então o nosso herói tira a roupa, ficando só de cueca no meio do inverno europeu.

VEZES QUE DANIEL RADCLIFF APARECE SEM CAMISA
Duas vezes.

QUANTIDADE DE GRITOS DE FÃS QUANDO DANIEL RADCLIFF APARECE SEM CAMISA
Zero. E olha que era a pré-estreia.

[HP pula no lago gelado, sem a varinha e sem nem ao menos esgotar as possibilidades de obter a maldita espada com mágica, e começa a nadar até o objeto fálico. O medalhão reage a proximidade com a espada e tenta voltar a superfície, levando Potter com ele – que deixou a varinha do lado de fora mas entrou na água com uma horcrux. Ele começa a morrer de falta de ar, sem contar na temperatura da água de um lado congelado, quando é salvo por seu Deux Ex Machina particular, ou Rony Weasley.]

CONTAGEM DE IDIOTICES DA CENA
Mais do que seria de se esperar do salvador do mundo como o conhecemos.

RONY
Você está tentando se matar? Que tipo de coisa idiota de se fazer foi essa?

Rony Weasley, observando o óbvio desde o segundo filme da franquia.

HARRY POTTER
(coloca a roupa, sem nem ao menos trincar os dentes. Até agora não sei se hipotermia não tem efeito nenhum se vc foi O Escolhido, ou se Daniel Radcliffe simplesmente não tem a capacidade de atuar batendo os dentes.)
Bom, ao menos temos a espada, não? Agora a gente pode destruir o medalhão. Rony, já que você foi a pessoa mais afetada por ele, e é sobre quem o medalhão tem mais influência e poder, não quer tentar?

RONY
Não vejo pq não.

[Ele tenta atacar o medalhão. Uma fumaça negra do tipo Lost sai de lá e começa a falar com o Rony, dizendo que ele é um idiota e vai acabar sozinho, que ngm ama ele e tals. Então temos uma ilusão de ótica do Harry Potter e da Hermione, nus e se pegando (preste atenção: é quase possível ouvir o grito de êxtase de milhares de escritos de fanfiction ao redor do mundo), antes do Rony decidir acabar logo com aquilo e destruir o medalhão.]

Sabe o que isso significa não? 2/3 do primeiro filme e apenas 1 horcrux destruído.
Prova de que J K Rolling foi influenciada pelas novelas da globo em seu último trabalho.


Cena: pulando mais um monte de coisa (basicamente, a explicação do título do filme sobre a existência de três relíquias da morte: uma capa de invisibilidade, uma varinha super poderosa e a pedra da ressurreição), e nosso Trio Maravilha foi capturado e levado para a mansão dos Malfoy.

BELLATRIX
Legal. Um trio composto por Rony, Hermione e... quem diabos é essa pessoa com o rosto desfigurado?

HARRY POTTER
(com o rosto todo torto pq Super Hermione jogou um feitiço na cara dele)
Meu nome é Duda.

BELLATRIX
Hm. Não sei se acredito. Ele tem uma ligeira cicatriz na testa e está andando na companhia de Rony e Hermione. Será que não é o Harry Potter?

Ao menos a idiotice não é propriedade privada do personagem principal.

[Enquanto ela não consegue decidir sobre isso, repara que um dos Carinhas Que Capturaram O Trio está com a espada de Gryffindor. Fica puta, já que a dita deveria estar guardada em seu cofre. Decide, então, torturar alguém para saber como conseguiram a espada. Quem ela escolhe? Será que foi a pessoa que pensa ser Harry Potter, matando assim dois coelhos com uma cajadada só?
Mas é claro que não. É a Super Hermione mesmo. Pq ser torturada com honra está na escala de Coisas Que Uma Pessoa Precisa Passar Para Se Tornar Um Heroi De Respeito, logo abaixo de sacrifício pessoal para um bem maior, que, sabe, ela já fez na primeira cena desse filme.
Muito. Foda.]

HARRY POTTER
(no porão, junto com Luna e o Sr. Olivaras, que também estavam presos por lá. Ele tira um pedaço de vidro do bolso e pede ajuda. Olha, eu sei do que se trata pq lembro do livro. Se não tivesse lido, duvido que me recordaria desse caco como sendo parte do espelho que o Sirius deu para o Harry no quinto filme. Considerando que gde parte da audiência do filme não é leitora, não mataria ter explicado do que se tratava.)

DOBBY
(aparece do nada)
Olá.

QUANTIDADE DE GRITOS DE FÃS QUANDO DOBBY APARECE DE TÊNIS
Alta.

QUANTIDADE DE GRITOS DE FÃS QUANDO DANIEL RADCLIFF APARECE SEM CAMISA
Ainda zero.


Cena: final

[Em que três adolescentes ganham de uma sala de comensais da morte. Gente, o Trio sabeuma conta de cinco feitiços, dos quais um é Expelliarmus e outro é Accio (ta, Super Hermione provavelmente sabe mais). Como é possível que ninguém consiga matar as criaturas? De qualquer jeito, quando estão aparatando com ajuda do Dobby, Bellatrix joga uma faca que acerta em cheio no peito do elfo doméstico.]

DOBBY
(deitado, morrendo, em alguma praia. E, mesmo sendo um boneco de computação gráfica, atuando bem melhor do que qualquer um dos três atores principais do filme)
Estou contente por estar com meus amigos. Estou contente por ter ajudado Harry Potter.

MENINA DESCONHECIDA NA FILEIRA DE TRÁS NO CINEMA
(soluçando como se não houvesse amanhã)

[A cena se arrasta mais um pouco, e então Dobby morre.
Mais algumas pessoas começam a chorar.]


Cena: pós-final

VOLDEMORT
(abre o túmulo de Dumbledore, que simplesmente não entrou em nenhum tipo de decomposição, e pega a varinha dele. Pq, é claro, a varinha de Dumbledore é a varinha da relíquia da morte. Um efeito especial depois...)

FIM – até o ano que vem, pelo menos

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Comer Rezar Amar

(Eat Pray Love, Ryan Murphy. 2010)

Comer Rezar Amar

Ou

Material Restante Após A Digestão E Absorção Dos Alimentos Pelo Tubo Digestivo, Expelido Pelo Ânus No Ato De Defecar

“Comer rezar amar” já começa com dois problemas. O primeiro, é baseado em um livro que cheira demais a auto-ajuda para o meu conforto próprio (sim, tenho preconceito assumido com esse tipo de literatura. Ao meu ver, se precisa comprar um livro chamado “Como fazer amigos e influenciar pessoas”, você vai morrer sozinha, tendo só seu gato chamado Skipper como companhia. Mas enfim...). O segundo, é a Júlia Roberts – de quem nunca gostei, sabe-se lá pq. Mas, por outro lado, temos o Javier Barden, então a coisa não poderia ser assim tão ruim...
Exceto que foi. Deus, raramente um filme me faz querer bater a cabeça na quina da parede para aliviar a dor nos primeiros quatro segundos. Mas esse conseguiu.
Era como se alguém tivesse pedido para o Paulo Coelho escrever um roteiro baseado nas visões feministas de pensadores como a Stephanie Meyers. E, só para aumentar o nível da dor, colocassem a Julia Roberts no papel principal, como a mulher mais chata do mundo.

[Se importar, tem spoilers mesmo. Nem fiz questão de disfarçar.]

Cena: uau, Julia Roberts, odeio o seu personagem no prólogo. Isso deve ser algum tipo de recorde.

JULIA ROBERTS
(em voice over. Se vc é como eu, e pensa que essa ferramenta de exposição de narrativa deveria ter sido abandonada junto com a moda de usar sandália com meia colorida, prepare-se: é assim a porcaria do filme todo)
Bom, aqui estou eu. Andando de bicicleta em Bali, com os meus cabelos esvoaçantes e milhões gastos em um bom técnico de photoshop. E o que estou fazendo aqui? Vim encontrar um xamã de sabedoria milenar. E não, não quero falar sobre a paz mundial ou a exploração infantil... tudo o que quero é discutir o meu relacionamento.

QUALQUER PESSOA COM BOM SENSO
É, pq virar para o lado na cama e conversar com o marido sobre o relacionamento não rola. Bem melhor atravessar o mundo para falar com um xamã.

JULIA ROBERTS
Você ainda não viu nada...

Cena: com o grande problema, muito difícil, praticamente insolúvel, de nossa protagonista.

JULIA ROBERTS
(acordando no meio da noite, andando pela casa vazia e explicando o que está acontecendo em, sim, voice over)
Comprei essa casa com o meu marido faz menos de um ano... e não me sinto satisfeita. É como se alguma coisa estivesse faltando na minha vida. Alguma coisa... algo... não sei o quê.

QI
Pode sentir minha falta o qto quiser, já disse que não volto.

O VOICE OVER DA JULIA ROBERTS
Acho que estou prestes a tomar medidas drásticas: vou fazer algo que nunca fiz antes em toda a minha vida. Vou rezar. Querido Deus, prazer em conhecê-lo. Sei que deve andar ocupado e tals, mas espero que veja como a minha vida é miserável e me ajude. Me ajude nesse grande problema que estou tendo, que tira o meu sono e me faz andar pela casa de madrugada: eu... ahn... uhm... não amo o meu marido?

[trovão no céu]

Essa eu vou até transformar em interativa:
Qual das alternativas abaixo não contém um problema?
a) Tenho quinze anos, estou grávida, e fui abandonada pela minha família.
b) Fui ontem ao médico e descobri que estou com uma doença terminal. Tenho mais 2 meses de vida.
c) Acho que não amo mais meu marido.
d) Corto cana desde que tinha seis anos de idade.

JULIA ROBERTS
(volta para a cama, acorda o marido, e sendo o personagem mais legal do mundo, solta:)
Não quero mais estar casada com você.

+1 BITCH POINT

Cena: O quê, você não começa a pegar alguém mais novo no segundo que termina um relacionamento de oito anos? Pq é super normal, sabe.

VOICE OVER DA JULIA ROBERTS
Um dos meus problemas como ser humano é que sou incapaz de ficar sem uma presença masculina ao meu lado para me sentir bem comigo mesma. Logo, vou aproveitar que terminei meu casamento e me redescob... ai meu Deus, é o James Franco. James Franco, olha pra mim, pra mim!

JAMES FRANCO
(ou o filho do duende verde em Homem Aranha, para os íntimos)
E aê?

JULIA ROBERTS
Homem da minha vida!

[Então ela começa a namorar o James Franco, enquanto o voice over nos explica (pq vc não tinha entendido da primeira, segunda ou mesmo terceira vez que foi dito) sobre a dependência que ela tem pelos homens, e como ela sublima a personalidade dela nos relacionamentos... ah, tá bom que esse personagem TEM uma personalidade, Julia Roberts. Só pq vc quer.]

JULIA ROBERTS
Não estou feliz. De novo.

AMIGA NEGRA DA JULIA ROBERTS
Provavelmente pq vive no mundo real.

JULIA ROBERTS
Não. Quero mais do que isso para a minha vida. Mais do que um carinha de 20 anos dobrando as minhas calcinhas (e isso não foi uma piada, infelizmente). Acho que vou viajar durante um ano. Conhecer o mundo. O que acha?

+1 BITCH POINT

AMIGA NEGRA DA JULIA ROBERTS
A censura do filme subiria se dissesse o que realmente acho. Logo...

Parte 1: COMER

Cena: Itália, do modo mais clichê possível

Julia Roberts abandona tudo (embora “tudo” seja um namorado de dois meses que tem metade da idade dela) e parte para a Itália. De alguma forma, os produtores do filme não viram essa reviravolta como uma ação de uma criança mimada, pensando se tratar de uma decisão corajosa de uma mulher moderna.
Prefiro me abster de comentar para evitar uma morte prematura.

VOICE OVER DA JULIA ROBERTS
Bom, aí eu cheguei na Itália e não conhecia ninguém. O que foi um porre. Mas depois de um tempo eu fiz amigos, o que foi bem legal. Ah, também comi muita massa – pq é só isso que a Itália tem. Comida. E pessoas comendo essas comidas.
E também aprendi algumas lições valiosas, como:

AMIGA EUROPEIA DA JULIA ROBERTS
(que é, sabe, magra e loira e bonita)
Não sei se quero comer essa pizza. Estou ficando gorda.

JULIA ROBERTS
Depois de pensar muito sobre as coisas, aprendi que não vou me negar o prazer da comida por causa das regras que a sociedade me dita. Não é que quero ser obesa, mas não tem nada de errado em comer uma pizza inteira de vez em quando, sem sentir culpa.

AMIGA EUROPEIA DA JULIA ROBERTS
Oh! Mas você é tão sábia! Não sei pq decidiu viajar o mundo para se auto-conhecer quando sabe esse tipo de coisa...
(come a pizza, e consequentemente sobe da calça número 32 para a 34)

VOICE OVER DA JULIA ROBERTS
Enfim, foi uma experiência e tanto. A única coisa ruim foi ficar explicando para a galera que eu não era casada...

DONA DA CASA EM QUE A JULIA ROBERTS ESTÁ HOSPEDADA
Como assim, não está casada? Toda mulher precisa de um bom homem.

PARENTE DE UM DOS AMIGOS DA JULIA ROBERTS
Não é casada? O quê, ela é lésbica?

PESSOA QUALQUER PASSANDO NA RUA
Mas todo mundo é casado. Quer dizer, todo mundo é casado. Não?

[Aparentemente, no mundo desse filme, é a coisa mais absurda do mundo uma mulher não estar com uma aliança na mão. Ou então a Itália vai na contra-mão de todos os outros países, e por lá a norma é o casamento e não o divórcio. Ou, mais provavelmente, os responsáveis por esse filme simplesmente não estavam nem aí para nada e fizeram o que bem quiseram.
Deus sabe que a audiência com útero não vai reclamar, não enquanto tiver estrogênio o suficiente em tela.]

Parte 2: REZAR

Cena: Índia

JULIA ROBERTS
(em um carro, andando pelo caos que é o trânsito indiano, rodeado de crianças pedindo esmolas. Aí eu pergunto, quem mesmo tem um problema? Então.)
Estou pronta para encontrar Deus e entrar em comunhão comigo mesma, me transformando assim em uma pessoa melhor.

CARINHA DO TEMPLO
Nós temos uma sala de meditação com ar-condicionado, uma cama para você dormir, e não se esqueça que todos os membros devem fazer trabalho voluntário. Você vai esfregar o chão.

[Enquanto Julia Roberts esfrega o chão, ela encontra uma Adolescente Indiana, que conta sobre como queria fazer faculdade de psicologia, mas ao invés disso terá que se casar com uma pessoa escolhida pela sua família.]

ADOLESCENTE INDIANA
Minha vida é tão injusta...

JULIA ROBERTS
A sua vida é injusta? Espere só até escutar os abusos que eu sofri.

[Depois ela conhece o Velho Que Fala Em Metáforas, de quem não gosta no começo já que ele é um homem muito ruim que tem a cara-de-pau de apontar que talvez, só de leve, se pá, Julia Roberts não tem problemas porcaria nenhuma, e só está passando por uma crise de meia idade. Mas, com o tempo, eles ficam amigos e ela recebe o grande relato da vida dele.]

VELHO QUE FALA EM METÁFORAS
Basicamente, eu era um bêbado filho da puta e quase atropelei meu filho.

JULIA ROBERTS
Bom, eu não amava meu marido.

+1 BITCH POINT

VELHO QUE FALA EM METÁFORAS
You win.

Cena: casamento da Adolescente Indiana

ADOLESCENTE INDIANA
Não acredito que todos os meus sonhos estão destruídos.

JULIA ROBERTS
Olha, meu presente de casamento para você é que venho dedicando minha prece matinal para você nos últimos meses. Foi a única coisa que me fez acordar cedo todos os dias: imaginar você feliz com seu novo marido. Afinal, quem precisa de estudo quando se está casada?

+1 BITCH POINT

ADOLESCENTE INDIANA
Uau. Valeu mesmo, Julia Roberts. Era tudo o que precisava para me sentir melhor!

Parte 3: AMAR

Cena: Indonésia.

VOICE OVER DA JULIA ROBERTS
Então eu voltei para cá, onde estava no prólogo do filme, e onde conheci o Xamã Banguela. Agora que já passei por tanta coisa, creio que não falta tanto assim para atingir o nirvana.

XAMÃ BANGUELA
Oi Julia Roberts, como vai? Funciona assim: você reza de manhã, medita pela tarde, copia meu livro durante a noite e se diverte de vez em quando, e pronto. Vai se tornar uma pessoa melhor.

[Então somos agraciados com Vinícius de Moraes (pq? Pq Garota de Ipanema está manjado demais, né, galera?) enquanto Javier Bardem atropela Julia Roberts.]

MANUEL CARLOS
Achava que Bossa Nova era meu direito exclusivo. Tenho certeza que está em algum lugar no meu contrato.

JAVIER BARDEM
(em português)
Desculpa.

[Mencionei que ele interpreta um brasileiro? Então.]

Cena: dois meses após o semi-atropelamento. Do qual ela escapa sem problema quase nenhum – olha a oportunidade perdida. Se ficasse paralítica, podia reclamar com propriedade da vida.

VOICE OVER DA JULIA ROBERTS
(escrevendo um carta para todos os amigos que fez ao redor do mundo – que são muitos, pq ela é uma pessoa super legal e agradável e comunicativa e... e... e...)
Meu aniversário está chegando, e se estivesse em Nova York provavelmente gastaria dinheiro em uma festa cara e supérflua que mostrava como eu era antes de fazer essa viagem e me transformar em uma pessoa muito melhor. De qualquer forma, pensei em uma forma melhor de vocês me darem um presente: conheci aqui em Bali uma mulher que é divorciada (como eu), e que sofre preconceito com isso (como eu) e que precisa se mudar de um lado para o outro para escapar do preconceito (não exatamente como eu, mas vamos tentar manter o paralelo vivo por mais um tempo, pode ser?). Ela tem uma filha muito fofa que se chama Tutti. A gente bem que podia ajudá-la a construir uma casa. O que acham?

[Podia ter parado por aí. É claro que podia. Mas então esse não seria o filme que conhecemos e amamos, o filme que tem a certeza absoluta que útero e cérebro são órgãos mutuamente exclusivos.]

VOICE OVER DA JULIA ROBERTS
Aprendi na Itália que Tutti quer dizer “todo mundo”. Assim, ao darem dinheiro para Tutti construir uma casa com a mãe dela, estarão, metaforicamente, ajudando o mundo todo.
Não é lindo?

JAVIER BARDEM
Pois acho que você é uma pessoa muito impressionante. Mesmo que tenha trocado duas palavras comigo (“vai embora”) e tenha ficado bêbada e se jogado para cima de um moço de vinte anos. Ainda queria sair com você.

JULIA ROBERTS
Não sei... mas considerando que você é brasileiro. E brasileiros são tudo de bom.

[Eles começam um relacionamento regado a viagens à praia e um pouco mais de comida. Conhecemos até o filho do Javier Bardem, que tem uns 20 anos e ainda recebe um beijo na boca do pai quando eles se vêem. Mas, sem problemas, já que:

FILHO DO JAVIER BARDEM
Todo mundo faz isso no Brasil.

Cena: você não consegue imaginar qual é o problema de nossa protagonista agora. Não, é pior que esse. Muito, mas muito pior. Ó, o horror!

MOÇA QUE RECEBEU DINHEIRO DA JULIA ROBERTS PARA CONSTRUIR UMA CASA
Você está com _______. Acontece com gente que ficou muito tempo sem sexo, depois começa a fazer sexo com muita frequência.

JULIA ROBERTS
Faz duas semanas que eu o Javier Bardem não nos largamos.
(pausa)
Não sei mais o que fazer! Estou tão deprimida. Acho que preciso falar com o meu xamã.

+15 BITCH POINTS

XAMÃ BANGUELA
Pq está toda chorosa, menina?

JULIA ROBERTS
O Javier Bardem me ama! E quer me levar para fazer passeios românticos a sós por ilhas abandonadas! Pq, Deus, o senhor é tão cruel comigo?
Então eu terminei com ele. Pq ele me ama, me respeito, e... ele é o Javier Bardem. O que mais poderia fazer a não ser terminar com ele?
(textual:) Ele acaba com o meu equilíbrio.

+123 BITCH POINTS

XAMÃ BANGUELA
(dá mais uma das muitas lições de moral cheia de metáforas e pseudo-ocultismos de como a vida deve ser vivida ao máximo, e o equilíbrio e Deus estão dentro de cada um de nós e mais dessas coisas que me recuso a reproduzir.
É só ler Ao margem do rio Piedra sentei e chorei. Se tiver coragem, é claro.)

Cena: final feliz

VOICE OVER DA JULIA ROBERTS
Bom, depois de tudo o que eu meu xamã me disse, não podia fazer outra coisa a não ser voltar para o Javier Bardem, não é mesmo?
Pelo menos por enquanto, é claro. Certeza que, do jeito que sou, vou me entendiar daqui a pouco, e ao invés de falar com ele sobre isso, vou fugir para a China e tentar encontrar minha personalidade por lá... mas por enquanto, estou feliz.

XX NO CINEMA
(suspiro)
Que filme mais inspirador!

VOCÊ
(precisa urgentemente de um Dramim)

FIM

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Descrítica Apresenta

Stanley Kubrick

Aiai, Kubrick. O segundo diretor preferido dos neo-indies-pseudo-intelectuais-mamãe-entendo-de-cinema (o campeão imbatível de referências é, claro, Ingmar Bergman). É sempre complicado falar dele, uma vez que a coisa normalmente acontece assim:
Time “Já Passei Dessa Fase”: Kubrick? Superestimado.
Time “Descobri Que Quero Ser Cinéfilo”: Gênio. Viu o que ele fez em Laranja Mecânica?
Time “Tenho American Pie Nos Preferidos Do Filmow”: Quem?
E, para ser bem honesta, qualquer uma dessas três visões me incomoda.

Tenho uma relação meio amor-ódio com esse diretor. Não vi tantos filmes dele quanto deveria (é triste de perceber que não assisti nem metade da filmografia de Kubrick, e só falta um para completar a do Shyamalan, mas a gente tenta superar essa), então não é como se tivesse aquela propriedade para falar profundamente sobre o assunto. Mas não é como se uma coisa pqna dessas fosse me deter, logo....

Lolita -1962



Finalmente, depois de anos e anos assisti esse filme. É uma espécie de vitória pessoal isso, já que estou nessa de vejo-não-vejo desde a época do colegial. Todo mundo sabe pelo menos a base da trama desse filme: um cara mais velho desenvolve uma obsessão sexual por uma adolescente. Não vou nem explicar mais nada, qto menos se sabe sobre um filme, mais interessante é para assistir.
Quem já me viu falando sobre Kubrick, já escutou a minha reclamação básica desse diretor: ritmo. Oh, Deus, ritmo. Peter Jackson não é nada perto do que Kubrick consegue fazer. Na verdade, ele só não é medalha de ouro no quesito Como Arrastar Seu Filme Para Que Ele Pareça Ter O Dobro De Duração pq Kurosawa existe.
[deixa só eu clarificar: conseguir que seu filme seja monótono é fácil. Qualquer um faz isso. Mas conseguir que seu filme seja bom, interessante E MESMO ASSIM monótono é um feito para poucos. Sei que parece uma contradição, mas é isso que Kubrick faz comigo: que legal isso... quanto falta para acabar mesmo?]
Mas, tirando essa coisa básica do caminho, presente em todos os filmes que vi dele (mesmo Laranja Mecânica e Doutor Fantástico podiam ser um pouco menores. E nem me faça começar falar de Iluminado), Lolita é um filme e tanto. Você pode gostar dos personagens, ou odiá-los, mas duvido que consiga ficar indiferente. Fora isso, ainda tem a quantidade absurda de duplo sentido presente no filme, especialmente no começo. Sem brincadeira, fiquei até preocupada – por um segundo foi como se tivesse caído na 4ª série: qdo td o q td mundo fala parece querer dizer outra coisa. A cena da festa, logo no começo da narrativa: te desafio a não pensar besteira.
Considerando que o tema do filme é obsessão sexual e que nem um beijo é trocado na tela, e mesmo assim vc sente a doença de praticamente todos os personagens do filme... bom, não é coisa para qualquer um. Se nunca viu Kubrick, esse é um bom lugar para começar.


Doutor Fantástico – Ou Como Parei de Me Preocupar E Amar A Bomba -1964

(Dr. Strangelove - or how I learned to stop worrying and love the bomb)

Ok. Você não explica a trama de Dr. Fantástico (ao menos, não de forma satisfatória). Até pq, bem mais importante do que a trama em si, são os diálogos, as montagens, as cenas. Qual a graça de um cowboy cavalgando uma bomba atômica? Nenhuma, a não ser que você veja essa cena no meio do que, para mim, é o melhor filme do diretor. Comédia de humor negro, temperada com nazismo e bomba atômica, e Peter Salles (também em Lolita). O que mais alguém pode querer?
Ah, e não podemos esquecer que o filme tem apenas 95min, então mesmo sendo feito pelo Sr. Kubrick, ainda não fica tão grande assim quando poderia ficar (2001 tem 141min, e juro que passei cinco horas sentadas no sofá. Tenho certeza).



Descrítica Não Apresenta:

De olhos bem fechados


(Eyes Wide Shut)

Último filme do diretor – uma pena acabar a carreira tendo Tom Comedor De Placenta Cruise no papel principal, provando mais uma vez que não tem a menor química com sua então esposa Nicole Kidman (vulgo, a Estátua De Cera).
Evidente que não gosto do casal principal, mas ainda poderia relevar isso se eles conseguissem me passar qualquer tipo de emoção. Até a trama do filme não me convence: casal entre em crise quando o marido descobre que a esposa pensou em, um dia, talvez, quem sabe, colocar um par de chifres nele. O que temos a seguir é uma sequência de duas horas em que Tom Cruise tenta dar o troco na esposa, sem conseguir – pq quem vê pensa que um médico com a cara do TC ia ter problemas em arranjar um caso extraconjugal, mas beleza.
Nada nesse filme me cativou (Pequeno Príncipe/): os atores, a história, o cenário... nem mesmo me deixou com aquela sensação de tensão e desconfiança que deveria ficar quando o TC entra na paranoia.No final, td o que senti desse filme foi: desperdício de vida. Teria sido bem melhor assistir episódios velhos de Friends...