Porque se o José Wilker pode, eu também posso.

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Oscar 2015



E o Oscar 2015 chegou, minha gente. E, pela primeira vez, o Oscar mais branco de todos os tempos não é patrocinado pelo Pirate Bay (foram semanas difíceis, amigo, não me abandone novamente).
Dessa vez, nem dá mais pra fingir direito que alguém se importa. Ele existe, o mesmo filme batido vai ganhar, pessoas vão comentar do vestido da Angelina Jolie, a Jennifer Lawrence deve cair em algum momento, espero pelo menos uma piada de 50 tons de cinza, e depois todo mundo volta a ignorar este momento, assim como deve ser.
Foi o mesmo que tomar café no Starbucks: você sabe que vai ser fraco, e ainda assim fica desapontado quando termina.
O Oscar de 2015 está um ótimo reflexo do ano passado: o cinema mainstream americano não está mais conseguindo lidar com a vida. Dos oito indicados deste ano, apenas dois não são baseados em fatos reais (sem surpresas, os que eu mais gostei). Criatividade não existe mais, então bora adaptar de livros e/ou contar uma história emocionante de alguém que sofreu/lutou/morreu pelo aprimoramento da raça humana. Estou cansada de bater na mesma tecla em todo post que faço do Oscar, mas Deus meu, será que dá para parar de tentar criar tensão em filme baseados em fatos reais sobre o que vai acontecer quando todo mundo sabe muito bem o que vai acontecer, já que é por isso que o filme foi feito? Ninguém ia fazer um filme de um cara que tentou e NÃO CONSEGUIU desvendar o código secreto de guerra nazista, sabe. Tome tento, Hollywood.

Agora, sem mais delongas, um Oscar protagonista-de-malhação-insosso-desse-anos apresenta (na ordem em que eu assisti):

[Já disse antes, mil vezes, mas não custa nada repetir: minha opinião, você tem o direito de estar errado, liberdade de expressão, bla bla bla]


O Grande Hotel Budapeste


(The Grand Budapest Hotel. Wes Anderson, 2014)

Esse é, sem a menor dúvida, o meu favorito deste ano. Este eu assisti porque realmente queria, quando saiu no ano passado, e não simplesmente porque estava na lista do Oscar e eu tenho uma tradição a manter (olhando para você, Sniper Americano). O filme conta as peripécias de M. Gustave (Ralph Fiennes) e seu ajudante, tendo altas aventuras em clima de azaração. Ocupando o lugar de “Comédia Cult Deste Ano Que É Provavelmente Melhor Do Que 80% Da Lista Mas Jamais Ganhará Porque É Uma Comédia E A Academia Precisa Premiar Filme Sério”, O Grande Hotel Budapeste é um ótimo filme do Wes Anderson, que quando acerta o tom de fantasia e absurdo, sem ir demais para o pseudocult da coisa, é fantástico.
Indicações: Melhor Filme; Melhor Diretor; Melhor Roteiro Original; Melhor Montagem; Melhor Figurino; Melhor maquiagem; Melhor Fotografia; Melhor Direção de Arte; Melhor Trilha Sonora.
O que deve levar: Eu apostaria em Melhor Roteiro Original – o filme pode ter perdido no Globo de Ouro, mas levou o BAFTA, então é de se considerar. Claro, pode ir pra Birdman no lugar desse, mas a esperança é a última que morre. Como sempre, não vou chutar técnicos porque nunca acerto.
O que merecia levar: Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Original. Um dia, ainda verei uma comédia levar o prêmio máximo, só no aguardo aqui.


Birdman (A Inesperada Virtude da Ignorância)


(Birdman or The Unexpected Virtue of Ignorance. Alejando Gonzáles Iñárritu, 2014)

Comecei a ver este filme completamente no escuro. Sabia absolutamente nada dele. O que foi uma coisa boa, porque assim não tinha opinião alguma formada a respeito. Um dos poucos dessa lista que não é baseado em fatos reais (Glória, Aleluia), Birdman é um dos mais válidos deste ano. Contando a história da obsessão de Riggan Thomson (Michael Keaton) por ser reconhecido como um ator de verdade, e não apenas um cara que ficou famoso por interpretar um super-herói no passado, Birdman foi onde Ela não foi ano passado: loucura. Podia ter aprofundado mais (o terço final do filme é de longe sua parte mais interessante e podia ter ocupado mais espaço), mas mesmo assim, é um bem válido.
Embora esse filme esteja super cotado para ganhar Melhor Cinematografia, esta foi a coisa que mais me irritou. Eu entendi o propósito da cinematografia do filme, compreendo que ela foi montada para fazer parte do filme de modo orgânico, e que o próprio estilo reflete o tumulto interior do personagem, que foi extremamente bem feita e o caralho a quatro que críticos curtem falar. Mas nada disso muda o fato de que rodar a câmera quando os personagens falam me lembra imediatamente de um anime.
Indicações: Melhor filme; Melhor Direção (Iñárritu); Melhor Ator Principal (Michael Keaton); Melhor Roteiro Original; Melhor Ator Coadjuvante (Edward Norton); Melhor Atriz Coadjuvante (Emma Stone); Melhor Cinematografia; Melhor Mixagem de Som; Melhor Edição de Som.
Deve levar: Esse filme é nossa maior esperança de Boyhood não levar Melhor Filme e Melhor Direção, e torcerei até o fim dos tempos para que isso aconteça. Deve levar Melhor Cinematografia.

A teoria de tudo

 (The Theory of Everything. James Marsh, 2014)

Ok, pergunta rápida: você sabe quem é Stephen Hawking? Ótimo, ótimo. E sabe se ele está vivo ou morto? Isso mesmo! Ele está vivo! Sabe o que isso quer dizer? Que todas as cenas em que o filme tenta passar tensão sobre o futuro do personagem são completamente inúteis porque todo mundo sabe que o cara não morreu.
Olha, eu não sabia patavinas sobre o Stephen Hawking – a não ser que ele falava por computador e era um super gênio. Depois do filme, sei que ele fala por computador, é um super gênio e tem um ótimo senso de humor. E é isso. Um avanço, claro, mas por duas horas de filme, era de se esperar mais.
O filme não é bem a história dele, mas sim a da esposa dele, Jane (Felicity Jones). Por isso, o filme é na verdade um romance + um drama sobre ciência vs. religião, que eles tentam muito, mas muito forte encaixar na narrativa. O problema disso é que, pessoalmente, eu não ligo pro romance dos dois. Um romance é um romance é um romance. Me interessaria bem mais pelas teorias sobre o universo do cara – que até que são comentadas, mas não a fundo, e não o suficiente. Mas, dentro do propósito do filme, é ok. E Felicity Jones faz um excelente trabalho humanizando um personagem que poderia ser facilmente endeusado ou demonificado – uma pena que ninguém repara muito dela ao lado do Hawking na cadeira de rodas.
Eddie Redmayne (de Les Miserables) interpreta Hawking, e como todos sabemos, interpretar alguém com alguma deficiência física é praticamente um Oscar na sua mão.
Indicações: Melhor Filme; Melhor Trilha Sonora Original; Melhor Roteiro Adaptado; Melhor Atriz Principal (Felicity Jones); Melhor Ator Principal (Eddie Redmayne)
Deve levar: Melhor Ator Principal. Pode ser que leve Melhor Roteiro Adaptado, e muito antes este do que Sniper Americano.


Sniper americano


(American Sniper. Clint Eastwood, 2014)

Honestamente? Já vi propagandas nazistas mais sutis que esse filme.
Puta que me pariu, América. A gente sabe do seu patriotismo loucura. O mundo sabe que vocês têm um complexo de superioridade infinito. Mas nesse nível? Em 2015? E sendo indicado como um dos melhores filmes produzidos pelo setor em um período de 365 dias?? Vergonhoso.
Clint Eastwood está de volta, fazendo o que ele sempre faz: masturbando o ufanismo americano no cinema descaradamente. Esse é o tipo de filme que, a não ser que você seja americano, não dá pra engolir. E, mesmo sendo americano, há restrições. Conta a história de Chris Kyle (Bradley Cooper), um soldado com a personalidade de uma caixa de papelão que é o Messias com uma arma na mão, e mata todos. Os muçulmanos são chamados de “selvagens” o filme todo, todos são horríveis e animais e merecem a morte, o personagem-título está “lutando pelo bem de seu país” e não se arrepende ou entra em conflito sobre as mortes que causou... exausta, só de escrever isso. Perda de tempo ofensiva e lavagem cerebral mal feita.
Mas nada disso importa diante da coisa mais fantástica desse filme: A BONECA. Sério. Até agora, não sei como lidar com a boneca. Em uma cena, Bradley Cooper está conversando com a esposa, segurando o filho bebê. Exceto que, após um corte de cena, não é mais um bebê de verdade, mas é uma boneca. Uma boneca extremamente falsa. O filho da Bella no Crepúsculo era mais real do que essa boneca. Após a boneca, nada mais poderá ser levado a sério em relação a esse filme. UMA BONECA, CARA. Não. Não. Me recuso.
Indicações: Melhor Filme; Melhor Ator (Bradley Cooper); Melhor Roteiro Adaptado; Melhor Edição; Melhor Edição de Som; Melhor Mixagem de Som
Deve levar: eu vou ser bem dessas e vou pedir ao universo que essa porra não leve nada além do desdém universal, porque um filme que usa uma boneca tão falsa e deixa a cena após a edição final não merece a vida.

Boyhood


(Boyhood. Richard Linklater, 2014)

E esse é o filme de que todos estão falando. Porque esse é o filme que demorou mais de dez anos para ser filmado! Não é impressionante! Onze anos, isso que é compromisso!
Sabe o que isso me lembra? Quando você está na sua casa, assistindo um reality show de talentos (tipo X Factor, American Idol, The Voice) e um concorrente faz um discurso chorando de que abandonou trabalho/faculdade/escola/casamento para participar do programa e essa é a única chance que ele tem e...e....e... quem se importa? Desculpa, alguém pediu para você fazer isso? Pq, ok, vc quer gastar onze anos filmando um filme, vai com Deus. Mas não use somente esse fato para que seu filme seja notado. Porque Boyhood não tem NADA demais. Nada. Nadinha. Exceto pelo fato de que foi filmado ao longo de onze anos. O imperador está nu e não tenho problema nenhum em dizer isso em voz alta.
Entendo o que o diretor quis passar, entendo que o propósito do filme é ser um reflexo da vida em tempo real, de uma vida comum, genérica, o que faria dele um retrato universal da vida. Mas, gente, desculpa mundo, e podem vir até a minha casa e tirar minha carteirinha de pseudocult, mas se for pra ver a vida de um adolescente americano hétero branco genérico, eu tenho a minha própria vida de adulta hétero branca genérica latinoamericana. Existem momentos de certo interesse no filme (como quando o segundo marido começa a beber), mas não existe nada que segure a atenção por quase três horas. E todo mundo sabe que essa desgraça vai ganhar pq AI MEU DEUS, ONZE ANOS!
Fico só no aguardo de quando filmarem um mesmo filme por 20 anos. Te vejo no Oscar de 2035.
Indicações: Melhor Filme; Melhor Diretor (Richard Linklater); Melhor Ator Coadjuvante (Ethan Hawke); Melhor Atriz Coadjuvante (Patricia Arquette); Melhor Roteiro Original
Deve levar: Melhor Filme é uma possibilidade gigante. Melhor Diretor deve ir mesmo pro Iñárritu, então chance bem menor dessa. Melhor Atriz Coadjuvante é possível também, mas eu honestamente preferia a Keira Knightley.
Merecia levar: um soco bem dado na cara pra largar de ser pretensioso.

O jogo da imitação


(The Imitation Game. Morten Tydlum, 2014)

Benedict Cumbartch interpreta um gênio gay britânico antissocial. O mundo choca, não é mesmo?
O jogo da imitação conta a história de um homem que decodificou um código alemão super importante na segunda guerra mundial e com isso ajudou a encurtar a guerra em sei lá quantos anos. O que é meio que a premissa da coisa, então o fato do filme gastar 1/3 do seu tempo na coisa toda do será-que-ele-vai-conseguir-mesmo-quando-todos-os-outros-falharam um puta desperdício de tempo. Até porque, a parte mais interessante, a parte que valeria a pena ser discutida (spoiler alert/) vem bem espremida no final: quando eles desvendam o código, não podem deixar o inimigo descobrir, então precisam fingir que não sabem quando a Alemanha mata pessoas, e, de certa forma, são “responsáveis” por essas mortes. Só as ramificações ideológicas e morais disso já daria um filme. Mas não. Imagina. Para quê discutir coisas que realmente podem fazer seu público pensar, não é mesmo? Vamos explicar tudo em uma narração voice-over e pular para a próxima cena rapidinho – não podemos deixar que o mundo pensa que a Inglaterra tem qualquer tipo de culpa.
Fora isso, nada demais: Benedict Cumbartch interpreta Sherlock + Sheldon Cooper – o filme diz que ele é gay, e não preciso de uma cena de sexo a la Brokeback Mountain para provar isso, mas ao menos ele adulto é tão completamente assexuado e desprovido de interesse humano que duvido que ele curta qualquer coisa, independente dos órgãos genitais; Keira Knightley é a melhor coisa desse filme; ele salva o mundo no final e os últimos 3 minutos mostram como o mundo foi injusto com ele (mas bem rápido, lembrem-se, Inglaterra é amor, olha só, a Rainha perdoou o cara por ser gay [?] no final!).
Indicações: Melhor Filme; Melhor Diretor (Morten Tyldum); Melhor Ator Principal (Benedict Cumberbatch); Melhor Atriz Coadjuvante (Keira Knightley); Melhor Roteiro Adaptado; Melhor Edição; Melhor Trilha Sonora Original; Melhor Produção
Deve levar: Se levar algum dos principais, e muito se levar, Melhor Atriz Coadjuvante. Mas acho que Boyhood leva essa.


Selma


(Selma. Ava DuverNay, 2014)

Narrando a história das caminhadas de Selma (uma cidade do Alabama) para Washington, pedindo o direito real do voto negro – e de como galera não estava querendo deixar e matou/agrediu geral, Selma foi, para mim, uma coisa que 12 anos de escravidão não foi ano passado: relevante.
Todo mundo sabe que escravidão é algo ruim. Todo mundo sabe que é bárbaro e é absurdo. Você não encontra mais negros amarrados no tronco com frequência. Mas o tipo de racismo e ignorância cega em Selma? É só ligar a TV.
O filme tem vários problemas, é construído em cima de clichês (posso ter chorado na cena da marcha dos negros apanhando em câmera lenta ao som de gospel, mas isso não diminui a manipulação emocional descarada da cena) e faz tentativas muito rasas de humanizar seus personagens para além de seus nomes e títulos, já conhecidos pela história. Ainda assim, Selma é um filme válido (mesmo que não sólido), e embora não vá ganhar melhor filme jamais, merece bem mais estar nesta lista do que aquela merda branca, azul e vermelha do Sr. Eastwood.
Indicações: Melhor Filme; Melhor Música Original
Deve levar: Melhor Música Original


Whiplash

(Whiplash. Damien Chazelle, 2014)

Todo o ano, o Oscar tem um filme que ninguém nunca ouviu falar – aquele que o Zé Wilker gostaria mais e me daria mais trabalho para encontrar no Pirate Bay. Mas, em 2015, não só Zé Wilker não está mais entre nós, como Pirate Bay saiu do ar e este filme é um dos meu favoritos da lista.
Assim como Nebraska no ano passado, esse é um filme que ninguém viu/vai ver, e ninguém vai se importar, mas que merecia mesmo ser assistido. Contando a história de um condutor de orquestra louco do pó (J. K. Simmons) e um de seus estudantes (Milles Teller), que vai a extremos tentando ser o melhor possível.
Interessante, com um ótimo pacing, bem atuado, bem editado, esse filme é uma belezinha e com certeza vale duas horas da sua vida. Filme bem mais qualquer-outra-premiação-do-mundo-do-que-as-americanas, Whiplash não faz o perfil-Oscar e não vai ganhar Melhor Filme. Meu voto é, eternamente, em J. K. Simmons para Ator Coadjuvante, mas honestamente não assisti todos os filmes dos outros indicados, logo...
Indicações: Melhor Filme; Melhor Ator Coadjuvante (J. K. Simmons); Melhor Roteiro Adaptado; Melhor Edição; Melhor Edição de Som
Deveria levar: Melhor Ator Coajuvante, Melhor Edição de Som

sábado, 21 de fevereiro de 2015

Cinquenta tons de cinza






Cinquenta tons de cinza

Ou

Bella Swan cresceu e tem vida sexual ativa


Esclarecimento: não, eu não li o livro. Comecei, parei antes mesmo de chegar no sexo – era mal escrito demais para aguentar. E não, eu não tinha a intenção de ver este filme. Uma amiga me chamou para o cinema, e chegando lá descobri que já tínhamos visto todos os filmes passando, com exceção de: Bob Esponja e 50 tons. Honestamente, preferia Bob Esponja, mas...
Não vou entrar em uma discussão sobre como esse livro/filme mascara violência/abuso emocional como romantismo, ou como não é uma descrição real de sadomasoquismo. O que vou dizer é: esse filme é um porre.
Sério.
Esse deve ter sido o filme mais monótono que vi nos últimos anos. NADA ACONTECE por duas horas. É irreal. Esse filme é muito, muito, muito chato. Esse filme é sua aula de matemática do ensino médio, oito da manhã numa quinta. Esse filme é sua tia contando tudo sobre a viagem que ela fez para a praia (pela quarta vez). Esse filme é a semifinal de um campeonato de curling.
Ah, mas e o sexo?, você se pergunta. O livro é praticamente isso, cadê sexo no filme? Pelo menos isso é bom, né?
*risos ao fundo*
Vamos começar pelo fato de que a química entre os dois é inexistente. Tem mais química entre um moleque de treze anos e sua mão. Vamos continuar com o fato de que as cenas de sexo são editadas a ponto de esterilidade, sem emoção, mecânicas e completamente entediantes. Não sei como é no livro, mas se ISSO é o suficiente pra excitar a galera, estou genuinamente triste pela sexualidade humana. E vamos terminar com o fato de que, em um filme que tem um de seus pontos explorar a sexualidade, ninguém nunca tem um orgasmo. Triste.

[Spoilers? Não vou nem responder esta]


Cena: Mocinha do Filme™ entrevista Par Romântico™

MOCINHA DO FILME
Oi, eu sou a Personagem Principal deste filme, e como tal eu não tenho personalidade alguma além de ser desastrada (o que é mostrado apenas uma vez e nunca mais mencionado). Estou aqui para ser o mais bege possível e conhecer o meu macho. Pode ser?

RECEPCIONISTA GATA
Clara, só passar por aquela porta.

MOCINHA DO FILME
*tropeça e cai*
Ai, meu Deus, como sou desastrada!

PAR ROMÂNTICO
Tudo bem. Contra todas as possibilidades reais da vida, estou instantaneamente interessado em você.

MOCINHA DO FILME
*olha para o par romântico*

PAR ROMÂNTICO
*olha para a Mocinha do Filme*

CÂMERA
(dá um close nas mãos dos dois)

UM CARINHA ATRÁS DE MIM NO CINEMA
*começa a rir*

UM CARINHA DO MEU LADO NO CINEMA
(para mim)
Será que você pode parar de rir? Está atrapalhando.


Cena: Como assim você não conhece bilionários solteiros com menos de 30 anos e eles se apaixonam perdidamente por você depois de 10 minutos?

PAR ROMÂNTICO
Oi, Mocinha. Eu descobri onde você trabalha de algum jeito e vim aqui comprar “materiais” super inocentes, como cordas e cabos. Me ajuda?

MOCINHA DO FILME
Claro.

O MONSTRO DO LAGO NESS
Eu sou mais real que a química entre vocês.

CARINHA GATO QUE TRABALHA NA LOJA E NUNCA MAIS APARECE E É MUITO MAIS BONITO DO QUE O PAR ROMÂNTICO
Oi!


Cena: nada continua acontecendo, mas dessa vez é outro dia e eles estão tomando café

PAR ROMÂNTICO
Eu não tenho costume de namorar e ter relacionamentos.

MOCINHA DO FILME
...

PAR ROMÂNTICO
Eu não sou bom para você.

MOCINHA DO FILME
...

PAR ROMÂNTICO
Acho que vou ter que deixar você ir.

MOCINHA DO FILME
Pera, me corrija se eu estiver errada, mas eu estava super de boa vivendo e você que veio atrás de mim?

PAR ROMÂNTICO
O nosso amor não é para ser!!


Cena: Mocinha do Filme fica bêbada, Par Romântico é um stalker.

MOCINHA DO FILME
E eu me formei em Literatura Inglesa! Um brinde ao desemprego!
(toma um shot, fica bêbada, liga pro Par Romântico)
Oi, Par Romântico. Eu estou te ligando para dizer que não posso aceitar o presente caro que você me mandou e...

PAR ROMÂNTICO
Para tudo, você está bêbada?

MOCINHA DO FILME
Hm... estou, claro.

PAR ROMÂNTICO
Como você se atrave a beber? COMO? Isso é um absurdo, mulher. Fica aê que eu vou te buscar.

MOCINHA DO FILME
Mas você nem sabe onde eu estou.

PAR ROMÂNTICO
Não preciso de coisas mundanas como informações. Eu sou Jesus.

(De alguma forma, Par Romântico chega no barzinho e salva a Mocinha de receber um beijo de seu Amigo Latino!)

PAR ROMÂNTICO
Vou te levar para o meu hotel, onde vou tirar a sua roupa com você desacordada e te colocar na minha cama.

ROMANCE
E ainda dizem que eu morri.


Cena: e cadê sexo? E cadê história? E cadê qualquer coisa pra me tirar esse sono?

PAR ROMÂNTICO
Assim, quero te pegar, mas você precisa assinar um contrato comigo primeiro.

MOCINHA DO FILME
Oi?

PAR ROMÂNTICO
Mas antes, deixa eu te distrair com como eu sou rico!
(Mocinha e Par Romântico sobrevoam Seattle em um helicóptero, em uma cena que dura pelo menos o dobro do que deveria)

PAR ROMÂNTICO
Preciso que assine um contrato de não divulgação. Meu advogado insiste. Não pode contar nada sobre mim para ninguém e talz.

MOCINHA DO FILME
Isso quer dizer que não posso dar detalhes ou que não posso marcar você nas minhas fotos do facebook?

PAR ROMÂNTICO
Só assina.

MOCINHA DO FILME
*assina o documento, sem ler*

MILHARES DE ADVOGADOS EM TODO O MUNDO
Idiota.

PAR ROMÂNTICO
Então, seguinte: curto sadomasoquismo. Aqui é o meu quarto especial.

PESSOA RESPONSÁVEL PELA DECORAÇÃO DO QUARTO ESPECIAL
Veja como escolhi couro e tons de vermelho, pq sutileza não é o forte deste filme.

PAR ROMÂNTICO
Quero fazer altas coisas com você. E quero que você se submeta a mim.

MOCINHA DO FILME
Você quer me bater e me pendurar do teto? E o que eu ganho com isso?

PAR ROMÂNTICO
Você me ganha.

MOCINHA DO FILME
Uau.


Cena: sexo #1

E eles transam.
E é a coisa mais monótona do universo.

PAR ROMÂNTICO
*respira perto da barriga da Mocinha*

MOCINHA DO FILME
*geme*

PAR ROMÂNTICO
*é um deus do sexo?*


Cena: meia hora de putaria para ver se ela vai assinar o contrato de submissa ou nem.
Me pergunto se é possível processar por este contrato ou se a contrato de não divulgação não permite essas coisas.

CONTRATO DE SEXO
Se aceitar a posição de submissa do Sr. Par Romântico, a Mocinha do Filme terá que:
- ir num ginecologista à escolha do Par Romântico
- comer direito, de uma lista de comidas anexa
- fazer exercícios
- não beber, fumar ou usar drogas

MOCINHA DO FILME
Estou completamente de boa quanto a como isso é controlador e abusivo, a única coisa que me preocupa é: por que não podemos dormir na mesma cama?

PAR ROMÂNTICO
Já disse mil vezes, não sou assim.
Mesmo que tenha dormido na sua cama mais de uma vez. Só não sou assim, ok?
Vai assinar logo essa porra de contrato?

MOCINHA DO FILME
Hm... não sei.


Cena: a mesma discussão de “eu quero mais do que isso” vs. “essa é a minha natureza” acontecem ad nauseam por mais uns vinte minutos.

MINHA PACIÊNCIA
Tão inexistente quanto a química do casal.

MOCINHA DO FILME
Tem alguns pontos do contrato que gostaria de renegociar. Como, por exemplo, o que é um plug anal?

GOOGLE
Eu existo nesse universo, né?

PAR ROMÂNTICO
Como curto muito você, que tal se adicionar uma cláusula dizendo que uma vez por semana a gente faz alguma coisa, tipo um encontro?

MULHERES NO MEU CINEMA
(de verdade)
Awwwn!

MOCINHA DO FILME
#fechoubalada


Cena: sexo sadomasô

EDITOR Nº1 DESSA CENA
Aposto 10 reais que consigo transformar essa cena na coisa mais sem graça do mundo.

EDITOR Nº2 DESSA CENA
Apostado.

EDITOR Nº1 DESSA CENA
10 reais mais fáceis que já ganhei na vida.


O resto do filme é basicamente Mocinha querendo mais, Par Romântico dizendo que nem pode fazer mais mesmo quando ele obviamente já fez as coisas que diz não fazer, e bem de vez em quando (e bota de vez em quando nisso), eles transam. E é bem isso.


Cena: a Mocinha trabalha? Não que tenha qualquer coisa a ver com a paçoca, mas o filme está tão chato mesmo que a especulação é mais interessante.

MOCINHA DO FILME
*toma um segundo drink*

PAR ROMÂNTICO
(que seguiu a mocinha até a casa da mãe dela, em outro estado, pq ele é incapaz de deixar a Mocinha ter uma vida sem ele colado)
Outro drink? Mulher, pelo amor.

AVRIL LAVIGNE
She was a girl, he was a creepy controlling stalker, can I make it any more obvious?

MOCINHA DO FILME
A gente faz alguma coisa além de sexo ao som de Beyoncé com edição zoada? A gente conversa ou algo do tipo?

PAR ROMÂNTICO
Pra que preciso conversar com você quando sou rico?


Cena: ZzzzZZZzzzzzZZZZZzzz

MOCINHA DO FILME
Você quer bater em mim, né? Ok, me “punir”, se quiser brincar de mudar o termo, mas mesma coisa.

PAR ROMÂNTICO
É, quero.

MOCINHA DO FILME
Mas pq? Pq você é uma pessoa assim?

PAR ROMÂNTICO
Pq a minha mãe era viciada em crack e morreu quando eu tinha 4 anos?

MOCINHA DO FILME
Claro, parece lógico. Ok, quero ver qualé. Bora lá, pode me punir.

PAR ROMÂNTICO
(dá seis chicotadas na Mocinha. Sim, parece doer. Não, não é sexy.)

MOCINHA DO FILME
(finalmente)
Ai meu Deus, não coloca a mão em mim, você é doente! Nunca mais faça isso.

PAR ROMÂNTICO
Mas...

MOCINHA DO FILME
(usando uma camiseta Eu preciso de mais)
Eu me apaixonei por você!

PAR ROMÂNTICO
Não! Ninguém pode gostar de mim! Eu sou um monstro...

MOCINHA DO FILME
(vai embora)

FILME
(acaba)

CARA ATRÁS DE MIM NO CINEMA
Acabou? É isso?

FIM