Porque se o José Wilker pode, eu também posso.

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Oscar 2015



E o Oscar 2015 chegou, minha gente. E, pela primeira vez, o Oscar mais branco de todos os tempos não é patrocinado pelo Pirate Bay (foram semanas difíceis, amigo, não me abandone novamente).
Dessa vez, nem dá mais pra fingir direito que alguém se importa. Ele existe, o mesmo filme batido vai ganhar, pessoas vão comentar do vestido da Angelina Jolie, a Jennifer Lawrence deve cair em algum momento, espero pelo menos uma piada de 50 tons de cinza, e depois todo mundo volta a ignorar este momento, assim como deve ser.
Foi o mesmo que tomar café no Starbucks: você sabe que vai ser fraco, e ainda assim fica desapontado quando termina.
O Oscar de 2015 está um ótimo reflexo do ano passado: o cinema mainstream americano não está mais conseguindo lidar com a vida. Dos oito indicados deste ano, apenas dois não são baseados em fatos reais (sem surpresas, os que eu mais gostei). Criatividade não existe mais, então bora adaptar de livros e/ou contar uma história emocionante de alguém que sofreu/lutou/morreu pelo aprimoramento da raça humana. Estou cansada de bater na mesma tecla em todo post que faço do Oscar, mas Deus meu, será que dá para parar de tentar criar tensão em filme baseados em fatos reais sobre o que vai acontecer quando todo mundo sabe muito bem o que vai acontecer, já que é por isso que o filme foi feito? Ninguém ia fazer um filme de um cara que tentou e NÃO CONSEGUIU desvendar o código secreto de guerra nazista, sabe. Tome tento, Hollywood.

Agora, sem mais delongas, um Oscar protagonista-de-malhação-insosso-desse-anos apresenta (na ordem em que eu assisti):

[Já disse antes, mil vezes, mas não custa nada repetir: minha opinião, você tem o direito de estar errado, liberdade de expressão, bla bla bla]


O Grande Hotel Budapeste


(The Grand Budapest Hotel. Wes Anderson, 2014)

Esse é, sem a menor dúvida, o meu favorito deste ano. Este eu assisti porque realmente queria, quando saiu no ano passado, e não simplesmente porque estava na lista do Oscar e eu tenho uma tradição a manter (olhando para você, Sniper Americano). O filme conta as peripécias de M. Gustave (Ralph Fiennes) e seu ajudante, tendo altas aventuras em clima de azaração. Ocupando o lugar de “Comédia Cult Deste Ano Que É Provavelmente Melhor Do Que 80% Da Lista Mas Jamais Ganhará Porque É Uma Comédia E A Academia Precisa Premiar Filme Sério”, O Grande Hotel Budapeste é um ótimo filme do Wes Anderson, que quando acerta o tom de fantasia e absurdo, sem ir demais para o pseudocult da coisa, é fantástico.
Indicações: Melhor Filme; Melhor Diretor; Melhor Roteiro Original; Melhor Montagem; Melhor Figurino; Melhor maquiagem; Melhor Fotografia; Melhor Direção de Arte; Melhor Trilha Sonora.
O que deve levar: Eu apostaria em Melhor Roteiro Original – o filme pode ter perdido no Globo de Ouro, mas levou o BAFTA, então é de se considerar. Claro, pode ir pra Birdman no lugar desse, mas a esperança é a última que morre. Como sempre, não vou chutar técnicos porque nunca acerto.
O que merecia levar: Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Original. Um dia, ainda verei uma comédia levar o prêmio máximo, só no aguardo aqui.


Birdman (A Inesperada Virtude da Ignorância)


(Birdman or The Unexpected Virtue of Ignorance. Alejando Gonzáles Iñárritu, 2014)

Comecei a ver este filme completamente no escuro. Sabia absolutamente nada dele. O que foi uma coisa boa, porque assim não tinha opinião alguma formada a respeito. Um dos poucos dessa lista que não é baseado em fatos reais (Glória, Aleluia), Birdman é um dos mais válidos deste ano. Contando a história da obsessão de Riggan Thomson (Michael Keaton) por ser reconhecido como um ator de verdade, e não apenas um cara que ficou famoso por interpretar um super-herói no passado, Birdman foi onde Ela não foi ano passado: loucura. Podia ter aprofundado mais (o terço final do filme é de longe sua parte mais interessante e podia ter ocupado mais espaço), mas mesmo assim, é um bem válido.
Embora esse filme esteja super cotado para ganhar Melhor Cinematografia, esta foi a coisa que mais me irritou. Eu entendi o propósito da cinematografia do filme, compreendo que ela foi montada para fazer parte do filme de modo orgânico, e que o próprio estilo reflete o tumulto interior do personagem, que foi extremamente bem feita e o caralho a quatro que críticos curtem falar. Mas nada disso muda o fato de que rodar a câmera quando os personagens falam me lembra imediatamente de um anime.
Indicações: Melhor filme; Melhor Direção (Iñárritu); Melhor Ator Principal (Michael Keaton); Melhor Roteiro Original; Melhor Ator Coadjuvante (Edward Norton); Melhor Atriz Coadjuvante (Emma Stone); Melhor Cinematografia; Melhor Mixagem de Som; Melhor Edição de Som.
Deve levar: Esse filme é nossa maior esperança de Boyhood não levar Melhor Filme e Melhor Direção, e torcerei até o fim dos tempos para que isso aconteça. Deve levar Melhor Cinematografia.

A teoria de tudo

 (The Theory of Everything. James Marsh, 2014)

Ok, pergunta rápida: você sabe quem é Stephen Hawking? Ótimo, ótimo. E sabe se ele está vivo ou morto? Isso mesmo! Ele está vivo! Sabe o que isso quer dizer? Que todas as cenas em que o filme tenta passar tensão sobre o futuro do personagem são completamente inúteis porque todo mundo sabe que o cara não morreu.
Olha, eu não sabia patavinas sobre o Stephen Hawking – a não ser que ele falava por computador e era um super gênio. Depois do filme, sei que ele fala por computador, é um super gênio e tem um ótimo senso de humor. E é isso. Um avanço, claro, mas por duas horas de filme, era de se esperar mais.
O filme não é bem a história dele, mas sim a da esposa dele, Jane (Felicity Jones). Por isso, o filme é na verdade um romance + um drama sobre ciência vs. religião, que eles tentam muito, mas muito forte encaixar na narrativa. O problema disso é que, pessoalmente, eu não ligo pro romance dos dois. Um romance é um romance é um romance. Me interessaria bem mais pelas teorias sobre o universo do cara – que até que são comentadas, mas não a fundo, e não o suficiente. Mas, dentro do propósito do filme, é ok. E Felicity Jones faz um excelente trabalho humanizando um personagem que poderia ser facilmente endeusado ou demonificado – uma pena que ninguém repara muito dela ao lado do Hawking na cadeira de rodas.
Eddie Redmayne (de Les Miserables) interpreta Hawking, e como todos sabemos, interpretar alguém com alguma deficiência física é praticamente um Oscar na sua mão.
Indicações: Melhor Filme; Melhor Trilha Sonora Original; Melhor Roteiro Adaptado; Melhor Atriz Principal (Felicity Jones); Melhor Ator Principal (Eddie Redmayne)
Deve levar: Melhor Ator Principal. Pode ser que leve Melhor Roteiro Adaptado, e muito antes este do que Sniper Americano.


Sniper americano


(American Sniper. Clint Eastwood, 2014)

Honestamente? Já vi propagandas nazistas mais sutis que esse filme.
Puta que me pariu, América. A gente sabe do seu patriotismo loucura. O mundo sabe que vocês têm um complexo de superioridade infinito. Mas nesse nível? Em 2015? E sendo indicado como um dos melhores filmes produzidos pelo setor em um período de 365 dias?? Vergonhoso.
Clint Eastwood está de volta, fazendo o que ele sempre faz: masturbando o ufanismo americano no cinema descaradamente. Esse é o tipo de filme que, a não ser que você seja americano, não dá pra engolir. E, mesmo sendo americano, há restrições. Conta a história de Chris Kyle (Bradley Cooper), um soldado com a personalidade de uma caixa de papelão que é o Messias com uma arma na mão, e mata todos. Os muçulmanos são chamados de “selvagens” o filme todo, todos são horríveis e animais e merecem a morte, o personagem-título está “lutando pelo bem de seu país” e não se arrepende ou entra em conflito sobre as mortes que causou... exausta, só de escrever isso. Perda de tempo ofensiva e lavagem cerebral mal feita.
Mas nada disso importa diante da coisa mais fantástica desse filme: A BONECA. Sério. Até agora, não sei como lidar com a boneca. Em uma cena, Bradley Cooper está conversando com a esposa, segurando o filho bebê. Exceto que, após um corte de cena, não é mais um bebê de verdade, mas é uma boneca. Uma boneca extremamente falsa. O filho da Bella no Crepúsculo era mais real do que essa boneca. Após a boneca, nada mais poderá ser levado a sério em relação a esse filme. UMA BONECA, CARA. Não. Não. Me recuso.
Indicações: Melhor Filme; Melhor Ator (Bradley Cooper); Melhor Roteiro Adaptado; Melhor Edição; Melhor Edição de Som; Melhor Mixagem de Som
Deve levar: eu vou ser bem dessas e vou pedir ao universo que essa porra não leve nada além do desdém universal, porque um filme que usa uma boneca tão falsa e deixa a cena após a edição final não merece a vida.

Boyhood


(Boyhood. Richard Linklater, 2014)

E esse é o filme de que todos estão falando. Porque esse é o filme que demorou mais de dez anos para ser filmado! Não é impressionante! Onze anos, isso que é compromisso!
Sabe o que isso me lembra? Quando você está na sua casa, assistindo um reality show de talentos (tipo X Factor, American Idol, The Voice) e um concorrente faz um discurso chorando de que abandonou trabalho/faculdade/escola/casamento para participar do programa e essa é a única chance que ele tem e...e....e... quem se importa? Desculpa, alguém pediu para você fazer isso? Pq, ok, vc quer gastar onze anos filmando um filme, vai com Deus. Mas não use somente esse fato para que seu filme seja notado. Porque Boyhood não tem NADA demais. Nada. Nadinha. Exceto pelo fato de que foi filmado ao longo de onze anos. O imperador está nu e não tenho problema nenhum em dizer isso em voz alta.
Entendo o que o diretor quis passar, entendo que o propósito do filme é ser um reflexo da vida em tempo real, de uma vida comum, genérica, o que faria dele um retrato universal da vida. Mas, gente, desculpa mundo, e podem vir até a minha casa e tirar minha carteirinha de pseudocult, mas se for pra ver a vida de um adolescente americano hétero branco genérico, eu tenho a minha própria vida de adulta hétero branca genérica latinoamericana. Existem momentos de certo interesse no filme (como quando o segundo marido começa a beber), mas não existe nada que segure a atenção por quase três horas. E todo mundo sabe que essa desgraça vai ganhar pq AI MEU DEUS, ONZE ANOS!
Fico só no aguardo de quando filmarem um mesmo filme por 20 anos. Te vejo no Oscar de 2035.
Indicações: Melhor Filme; Melhor Diretor (Richard Linklater); Melhor Ator Coadjuvante (Ethan Hawke); Melhor Atriz Coadjuvante (Patricia Arquette); Melhor Roteiro Original
Deve levar: Melhor Filme é uma possibilidade gigante. Melhor Diretor deve ir mesmo pro Iñárritu, então chance bem menor dessa. Melhor Atriz Coadjuvante é possível também, mas eu honestamente preferia a Keira Knightley.
Merecia levar: um soco bem dado na cara pra largar de ser pretensioso.

O jogo da imitação


(The Imitation Game. Morten Tydlum, 2014)

Benedict Cumbartch interpreta um gênio gay britânico antissocial. O mundo choca, não é mesmo?
O jogo da imitação conta a história de um homem que decodificou um código alemão super importante na segunda guerra mundial e com isso ajudou a encurtar a guerra em sei lá quantos anos. O que é meio que a premissa da coisa, então o fato do filme gastar 1/3 do seu tempo na coisa toda do será-que-ele-vai-conseguir-mesmo-quando-todos-os-outros-falharam um puta desperdício de tempo. Até porque, a parte mais interessante, a parte que valeria a pena ser discutida (spoiler alert/) vem bem espremida no final: quando eles desvendam o código, não podem deixar o inimigo descobrir, então precisam fingir que não sabem quando a Alemanha mata pessoas, e, de certa forma, são “responsáveis” por essas mortes. Só as ramificações ideológicas e morais disso já daria um filme. Mas não. Imagina. Para quê discutir coisas que realmente podem fazer seu público pensar, não é mesmo? Vamos explicar tudo em uma narração voice-over e pular para a próxima cena rapidinho – não podemos deixar que o mundo pensa que a Inglaterra tem qualquer tipo de culpa.
Fora isso, nada demais: Benedict Cumbartch interpreta Sherlock + Sheldon Cooper – o filme diz que ele é gay, e não preciso de uma cena de sexo a la Brokeback Mountain para provar isso, mas ao menos ele adulto é tão completamente assexuado e desprovido de interesse humano que duvido que ele curta qualquer coisa, independente dos órgãos genitais; Keira Knightley é a melhor coisa desse filme; ele salva o mundo no final e os últimos 3 minutos mostram como o mundo foi injusto com ele (mas bem rápido, lembrem-se, Inglaterra é amor, olha só, a Rainha perdoou o cara por ser gay [?] no final!).
Indicações: Melhor Filme; Melhor Diretor (Morten Tyldum); Melhor Ator Principal (Benedict Cumberbatch); Melhor Atriz Coadjuvante (Keira Knightley); Melhor Roteiro Adaptado; Melhor Edição; Melhor Trilha Sonora Original; Melhor Produção
Deve levar: Se levar algum dos principais, e muito se levar, Melhor Atriz Coadjuvante. Mas acho que Boyhood leva essa.


Selma


(Selma. Ava DuverNay, 2014)

Narrando a história das caminhadas de Selma (uma cidade do Alabama) para Washington, pedindo o direito real do voto negro – e de como galera não estava querendo deixar e matou/agrediu geral, Selma foi, para mim, uma coisa que 12 anos de escravidão não foi ano passado: relevante.
Todo mundo sabe que escravidão é algo ruim. Todo mundo sabe que é bárbaro e é absurdo. Você não encontra mais negros amarrados no tronco com frequência. Mas o tipo de racismo e ignorância cega em Selma? É só ligar a TV.
O filme tem vários problemas, é construído em cima de clichês (posso ter chorado na cena da marcha dos negros apanhando em câmera lenta ao som de gospel, mas isso não diminui a manipulação emocional descarada da cena) e faz tentativas muito rasas de humanizar seus personagens para além de seus nomes e títulos, já conhecidos pela história. Ainda assim, Selma é um filme válido (mesmo que não sólido), e embora não vá ganhar melhor filme jamais, merece bem mais estar nesta lista do que aquela merda branca, azul e vermelha do Sr. Eastwood.
Indicações: Melhor Filme; Melhor Música Original
Deve levar: Melhor Música Original


Whiplash

(Whiplash. Damien Chazelle, 2014)

Todo o ano, o Oscar tem um filme que ninguém nunca ouviu falar – aquele que o Zé Wilker gostaria mais e me daria mais trabalho para encontrar no Pirate Bay. Mas, em 2015, não só Zé Wilker não está mais entre nós, como Pirate Bay saiu do ar e este filme é um dos meu favoritos da lista.
Assim como Nebraska no ano passado, esse é um filme que ninguém viu/vai ver, e ninguém vai se importar, mas que merecia mesmo ser assistido. Contando a história de um condutor de orquestra louco do pó (J. K. Simmons) e um de seus estudantes (Milles Teller), que vai a extremos tentando ser o melhor possível.
Interessante, com um ótimo pacing, bem atuado, bem editado, esse filme é uma belezinha e com certeza vale duas horas da sua vida. Filme bem mais qualquer-outra-premiação-do-mundo-do-que-as-americanas, Whiplash não faz o perfil-Oscar e não vai ganhar Melhor Filme. Meu voto é, eternamente, em J. K. Simmons para Ator Coadjuvante, mas honestamente não assisti todos os filmes dos outros indicados, logo...
Indicações: Melhor Filme; Melhor Ator Coadjuvante (J. K. Simmons); Melhor Roteiro Adaptado; Melhor Edição; Melhor Edição de Som
Deveria levar: Melhor Ator Coajuvante, Melhor Edição de Som

2 comentários:

  1. primeira regra do clube da luta: não falamos da boneca de american sniper

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  2. American Sniper é tão pena, realmente dar uma olhada na história. Além de que a maioria dos filmes do Bradley Cooper são realmente muito divertido. Seus papéis todos têm os seus prós e contras, mas no geral eu acho que é um excelente ator, como a versatilidade de seus papéis é grande, recentemente eu vi americana Sniper e ficou encantado com o seu papel, mas o filme não foi inteiramente de o meu gosto.

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vamos ver o quanto você discorda de mim