Porque se o José Wilker pode, eu também posso.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

A origem

(Inception. Christopher Nolan, 2010)

Fazia um tempo razoável que não fazia isso ("isso" sendo escrever um texto com mais cara de crítica do que de roteiro), mas dessa vez não tenho muita escolha. Nem que quisesse poderia fazer um roteiro desse filme sem quantidades absurdas de spoilers desabando na cabeça de todo mundo. E depois, não sei fazer piada da perfeição.

[Você, leitor atento e observador, vai notar o fato de que a parcialidade é praticamente inexistente nesse post. Posso até me acalmar um pouco mais tarde, mas nesse segundo da minha existência, menos de 1 hora depois de sair da sala de cinema, estou em êxtase. E não vou ser contida agora. Dá licença.]

Nem me lembro da última vez que assisti a um filme no cinema que me deixou nesse estado. Claro, vejo filmes bons. Mas eles normalmente são datados de 1940 e estão em preto e branco. Mesmo no cinema, quando finalmente aparece algo com mais conteúdo (Ilha do medo, por exemplo, também com o DiCaprio) acaba sendo 'bom', talvez 'ótimo' - mas quando foi mesmo a última vez que foi 'genial'?
Christopher Nolan me simpatizou nas férias com Amnésia, como o post abaixo indica. Ele acabou de ganhar o meu amor pela sua realização de A origem. Entrei na sala do cinema esperando um filme bom, do tipo ok-isso-até-que-foi-interessante-agora-você-viu-a-novela-ontem?. E ele praticamente explodiu minha cabeça.

A trama do filme é até que simples: existe uma tecnologia que permite a entrada nos sonhos das pessoas, deixando assim mais fácil de descobrir seus segredos e os roubar. Cobb (DiCaprio, impecável como sempre. Acho que na mesma hora que ele deixou de ser bonito, ele passou a ser talentoso.) é um especialista nesse tipo de invasão, e acaba aceitando trabalhar para Saito (Ken Watanabe) em uma tentativa perigosa de implantar uma ideia na cabeça de alguém.
Claro, deixei alguns detalhes de lado, mas o básico é bem esse mesmo. A partir daí, é uma sequência de sonhos e realidades e sonhos dentro de sonhos e mais realidade que é designada para não facilitar a sua compreensão. E é aí que o filme me ganhou: ele não me chamou de burra. Nem uma vez. É tão legal quando você assiste alguma coisa que não te entrega a explicação mastigada e realmente necessita que você preste atenção/pense a respeito para chegar a uma conclusão. Algo me diz até que rejuvenesce.

Sim, algumas pessoas sairam da sala de cinema. Se você está sem prática, pensar dói. A origem me deixou feliz de uma maneira que poucos filmes dessa década foram capaz de fazer. E talvez ler essa declaração de amor disfarçada de crítica antes de ver o filme acabe fazendo mais mal do que bem (aumento de expectativas já acabou com mais de um filme para mim antes), mas precisava fazer isso do mesmo jeito.
Porque o que o senhor Nolan fez foi mais do que um filme absurdamente excelente. Ele restaurou a minha esperança no cinema norte-americano de grande porte: de que você pode fazer um filme que tenha efeitos especiais surpreendentes e ainda assim ter um roteiro decente no meio da coisa. E, com o sucesso comercial que esse filme está tendo, talvez mais diretores acordem e pensem "hei, talvez as pessoas realmente consigam lidar com algo mais complexo do que humanos-contra-aliens-azuis-em-um-planeta-distante. Talvez, quem sabe, os telespectadores tenham um cérebro!".

14 comentários:

  1. ainda n vi, + quero mto ver esse filme

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  2. Então um dos motivos para você gostar do filme é que ele te fez sentir mais inteligente? Digo em relação àquelas "algumas pessoas [que] sairam da sala de cinema."?

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  3. Não. Um dos motivos que me faz respeitar um filme é ele não me chamar de burra.
    Não exatamente a mesma coisa.

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  4. Que bom. Porque a impressão que seu texto dá é a de uma oposição entre "aqueles que têm a prática de pensar" (você se incluiria nesse grupo) em oposição a "aqueles que não pensam e saem do cinema no meio do filme". Sendo que a condição para uma pessoa ser uma "pensadora" seria ela gostar/entender o A Origem.
    Acho então que a questão não era essa.
    Aproveitando a deixa, o filme te faz pensar em quê?

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  5. Ah, entendi o q vc quis dizer. Olha, considerando que escrevi esse texto assim que cheguei em casa do cinema, nem me espanto dele não estar lá essas coisas no que diz respeito a coerência.

    O que quis dizer foi mais para o lado de: A Origem não é o tipo de filme que dá para seguir sem prestar uma mínima atenção no que está acontencendo. O meu 'pensar' não é grandes reflexões sobre a vida e a morte, e sim pensar sobre o roteiro na sua frente. Os filmes vem tão mastigados hoje em dia que ngm precisa pensar sobre nada - eles meio que fazem isso para vc. Pode sair no meio do filme, dar uma volta, comer pipoca, assobiar e ainda assim seguir a sequência td sem problemas. Em A Origem isso fica um pouco mais complicado.

    Mas, o que vc achou do filme?

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  6. Eu achei o filme simpático (http://poisepraque.blogspot.com/2010/08/voltando-de-origem.html)... Achei que, em relação aos outros filmes do Nolan, ele não traz nenhuma novidade. Não acho (de maneira nenhuma), por exemplo, que ele exija mais do público do que O Cavaleiro das Trevas, por exemplo. Achei que, na comparação, O Cavaleiro das Trevas é até mais complexo porque não tem os momentos de preparação que A Origem tem (que acabam, querendo ou não, explicando o filme). Nesse sentido, mesmo O Grande Truque e Amnésia (que é o "grande truque" de Nolan, porque apesar de eu gostar desse filme ele é mais "enganador" do que diferente) são mais complexos (e exigem mais atenção - e complementação do leitor. Em suma, mesmo sendo um bom filme, pode-se dizer que A Origem é um "retrocesso" (o que não é necessariamente negativo) na produção do Nolan.

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  7. Ainda prefiro 'grande truque', amiga. e nem é só pelo ator que faz o filme, não. o final daquele foi mais surpreendente para mim.

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  8. as vezes me pergunto o que Deus está tentando me dizer ao me colocar na terra rodeada de pessoas fascinadas com 'cavaleiro das trevas', viu... hahahahhahah


    'grande truque' não me fez roer as unhas. ou ter pesadelos com a piaf-com-olhos-de-possuida.

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  9. Você está assistindo Supernatural demais.

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  10. hahahhahhaha ok, agora vc me ofendeu.

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  11. Por que? Supernatural é muito pop pra vc?

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  12. Não. Supernatural é mto ruim para mim.

    [pq? a série é pop? achava que pop tinha que ter vampiros hj em dia.]

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  13. Eu gosto de Supernatural, acho legal a leitura que eles fazem das histórias de terror. Mais pop que Supernatural é difícil a série toda se estrutura em cima de citações e referências à cultura pop (mas se precisa ter vampiro, fique tranquila porque tem).
    De que série você gosta?

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  14. Olha, honestamente, depois que lost passou da terceira temporada, e amy sherman saiu de gilmore girls nada mais é a mesma coisa no mundo maravilhoso das séries americanas.

    eu ainda assisto modern family e glee, mas não faço questão de nenhuma delas. minha esperança no futuro das séries se foi qdo eles cancelaram pushing daisies, logo...

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vamos ver o quanto você discorda de mim