E mais um ano chega, mais um horário de verão termina, e
mais um Oscar é transmitido com tradução simultânea na TNT. Cada vez mais, o
Oscar tá ali porque acontece todo ano e ninguém liga muito – é tipo aquele
caminho que você faz quando dirige da casa pro trabalho. Liga o piloto
automático e só vai. É tipo o “Altas Horas”, programa mais esquecível do mundo
que ainda existe na programação da TV. É tipo aquele doce de gelatina que sua
tia faz e ninguém gosta muito mas ainda assim tem em todo churrasco de domingo, e como está em cima da mesa mesmo você acaba comendo.
A única diferença deste Oscar para o dos últimos anos foi
apenas uma: todos os filmes foram super fáceis de achar no PirateBay. O que já
faz dele um Oscar melhor do que o de 2013, por exemplo.
Sem mais delongas, os indicados a Melhor Filme deste ano
na ordem que aparecem no site oficial:
A Grande Aposta
(The Big Short. Adam McKay, 2015)
Aí me chamaram pra ver esse filme no cinema. Sobre o que é, quis saber. “Sobre a quebra do sistema de hipotecas americano”.
....
....
....
Sem surpresas que não estava exatamente querendo
assistir, né?
A Grande Aposta foi
uma grata surpresa não só por (a) não ser a coisa mais chata do mundo (é bem
entretente, na verdade) e (b) ser capaz de explicar economia ao menos
superficialmente para que eu acompanhasse a narrativa, mas por (c) usar o meio
cinematográfico para contar uma história.
Isso é algo que vem me incomodando faz um tempo, e só me
toquei o quanto no meio da minha maratona Oscar: cada vez menos filmes estão
usando as possibilidades visuais e criativas do cinema pra contar uma história.
Explico: um filme é um meio visual, diferente de um livro (ou um roteiro) que é
um meio escrito. Sim, sei que isso é óbvio e até o Lula admite saber essa
diferença, mas por conta disto, um filme deveria ser mais do que apenas um roteiro televisionado. Ele deveria aproveitar
a composição de cena, a edição, a trilha sonora, a computação gráfica, o
caralho a quatro disponível no meio tridimensional e enriquecer e alterar a
maneira como a narrativa é passada.
A Grande Aposta
usa e abusa do fato de ser um filme, introduzindo cenas e cortes e edições que
um livro não seria capaz de fazer com a mesma eficácia. Isso está cada vez mais
raro de tal forma, que seriamente gostaria que levasse o prêmio de melhor
filme. No mais, é uma ótima escolha dessa lista e recomendo mesmo se você, como
eu, nunca conseguiu entender economia.
Indicações: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator Coadjuvante (Christian Bale), Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Edição
Deve levar: Melhor Roteiro Adaptado, a não ser que perca para O quarto de Jack. Eu gostaria, de verdade, que levasse Melhor Filme, mas esse deve ser O Regresso mesmo. Melhor Edição deve ser dele tb.
Esse
é um filme do Spielberg. Com o Tom Hanks. Sobre um homem de princípios e a
guerra fria.
Podia
parar a descrição por aqui, porque você já sabe o resto.
Tom
Hanks segura o filme sozinho só por ser Tom Hanks, interpretando um advogado
que defende um espião russo acusado de traição em plena guerra fria nos EUA. O
filme é baseado em fatos reais (que é outro problema que eu tenho com a ficção
atual, mas posso reclamar disso outra hora) e é beeeem direção e roteiro “siga
os pontos” – tudo como deve ser, sem nunca fugir do tradicional e honrando a
moral e os bons costumes. É ruim? Não. É bom? Olha, não é ruim.
Honestamente?
Se alguém lembrar desse filme em 5 anos, vou ficar surpresa. Está indicado pra
cumprir tabela, e vai ganhar nada além do direito de colocar “Indicado a Melhor
Filme” no Oscar na capa do DVD.
Indicações: Melhor Filme, Melhor Ator Coajuvante (Mark Rylance), Melhor Roteiro Original, Melhor Direção de Arte, Melhor Mixagem de Som
Deve levar: Minha aposta? Nada. Sempre existe a chance de Melhor Roteiro Original, mas prefiro ter fé na humanidade e apostar em Straight Outta Compton ou Divertida Mente.
Também
conhecido como Sofrência branca: o filme.
Brooklyn
é a história de uma imigrante irlandesa (Saoirse Ronan) que muda pros EUA pra ter uma
vida melhor. E é isso. Juro. É isso. O filme se resume em uma frase. E tem mais
de duas horas. Sabe o que eu podia ter feito nessas duas horas?? Podia ter reassistido
4 episódios de Parks & Rec. Você
me deve 4 episódios, filme.
Ouvi
pessoas amando esse filme. Ouvi pessoas dizendo que a XXX vai levar o Oscar de
melhor atriz. E para essas pessoas eu pergunto: quem machucou vocês? Porque
considerar as desventuras da Moça Branca (que nem existem, porque ela sai da
Irlanda com lugar pra morar e trabalho e acha um macho logo em seguida, então,
oi?) enquanto nada acontece na vida normal dela como qualquer coisa além de
perda de tempo e energia vai além da minha capacidade de compreensão.
E
não tenho nada contra a Ronan. Acho inclusive que ela fez um trabalho decente
considerando a personagem sem personalidade (sei que ela é irlandesa, e que é
tímida e... e... e...). Mas o problema dela é a falta de carisma. Como já disse
(e repito todos os anos), talento e carismas não necessariamente vão juntos, e
você segurar um filme que é basicamente você não é pra qualquer um. Matt Damon
consegue em Perdido em Marte. Tom
Hanks consegue em Jogo de espiões. James
Franco não conseguiu em 127 horas e Saoirse Ronan definitivamente não consegue em Brooklyn.
E,
finalmente, só tenho a dizer que um filme que termina com freeze frame em 2016
não merece o ar que respira.
Indicações: Melhor Filme, Melhotr Atriz Principal (Saoirse Ronan), Melhor Roteiro Adaptado
Deve levar: existe
uma chance real de levar Melhor Atriz Principal, mas minha torcida vai pra Brie Larson até o fim (ou pra Cate Diva Blanchett em Carol,
que não vi, não particularmente pretendo ver, mas meu amor pela Cate é assim,
incondicional).
Merecia levar: um
tapa na cara pra ver se encontra Jesus
Mad Max: Estrada da Fúria
(Mad Max: Fury Road. George Miller, 2015)
Quando vi a lista de indicações, dois filmes me surpreenderam. Mad Max foi um deles. A Academia indicar para o prêmio máximo um filme de ação futurista com quase nenhum diálogo e perseguição a cada quatro trocas de cenas? Pouca importa se o filme é válido ou não, só a indicação já abre precendente para um futuro menos esnobe (esperamos).
Especialmente
curto que Mad Max foi indicado e
oscar baits óbvios ficaram de fora dessa lista (olhando pra você, Garota dinamarquesa).
Sobre
o filme: gostei. Bem mais do que esperava. O primeiro Mad Max é um dos filmes mais chatos que já vi, em que nada acontece
por mais de uma hora (sei porque apostei com o meu irmão quando alguma coisa ia
finalmente acontecer no filme. Meu palpite foi 1h15min e eu ganhei) então
estava meio cética em relação a este. Mas de similar os dois têm apenas o nome
e a ambientação.
Muito
bem editado e atuado (Tom Hardy é meu pastor e nada me faltará), Mad Max é um filme que consegue criar um
ambiente novo e surreal que é mostrado pelo visual e por detalhes, e não por
diálogos e exposição. É um filme-filme e não um filme-livro. E tem todo o meu
amor e respeito por isso.
Claro
que não vai ganhar Melhor Filme. Ninguém realmente sonha. Mas sua indicação é
um ótimo sinal pro futuro, deve ganhar vários (se não todos) prêmios técnicos e
tomara que a inevitável continuação seja tão boa quanto. E tenha o Tom Hardy.
Amén.
Indicações: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Cinematografia, Melhor Edição, Melhor Direção de Arte, Melhor Figurino, Melhor Maquiagem, Melhor Efeito Visual, Melhor Mixagem de Som, Melhor Edição de Som
Deve levar: todos
os prêmios técnicos do universo. Pense Senhor
dos Aneis no passado.
Esse
foi a minha segunda surpresa. Porque Perdido
em Marte é uma comédia, e comédia não são indicadas a não ser que sejam
dirigidas pelo Woody Allen. Ridley Scott é um diretor reconhecido, claro, mas
ainda assim: comédia. Comédia com ficção científica e um certo drama no espaço,
mas não deixa de ser um filme com mais humor do que drama.
De qualquer
forma, é outro bom sinal, assim como Mad
Max, para a possibilidade de um futuro com filmes diferentes indicados, e
não apenas mais do mesmo dramalhão com filtro azul de duas horas com um
protagonista sofrendo.
Matt
Damon está indicado como melhor ator (o que muito me surpreende quando XXX de O quarto de Jack não foi, mas beleza) e
ele faz, como normalmente, um ótimo trabalho. O filme é basicamente ele sendo
maravilhoso em Marte e é isso. É entretente, é divertido, ótimos efeitos, não
posso opinar sobre a ciência da coisa como sei nada sobre o espaço, mas ouvi
falar que estava ok.
Embora
tenha gostado, ainda assim tive dois grandes problemas com esse filme: 1) som. Galera,
sei que Inception foi um puta filme,
ainda amo mais do que muita gente na minha vida, mas precisa colocar aquele “PAM”
de música de suspense a cada 5 segundos em uma cena? Certas influências devem
morrer, porque isso é irritante pra caramba; 2) o filme chama de Perdido em Marte, vi no trailer que ele
está perdido em Marte criando plantas, todos sabe que o filme tem mais de duas
horas então é claro que ele não vai morrer nos primeiros 15minutos. Filmes podiam
parar de tentar criar tensões óbvias e só seguir com a vida – pula pra próxima
cena que ninguém vai morrer, caralho.
Fora
isso, bom filme. Não deve levar nada, claro, exceto talvez algum prêmio técnico.
Mas válido. Pessoalmente, acho que Divertida
Mente deveria ter sido indicado a Melhor Filme mais do que esse, mas o que
um bom lobby e o nome do diretor não faz, não é mesmo?
Indicações: Melhor Filme, Melhor Ator Principal (Matt Damon), Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Efeito Visual, Melhor Direção de Arte, Melhor Mixagem de Som, Melhor Edição de Som
Deve levar: Sempre existe a chance de algum técnico (sou bem ruim em adivinhar técnicos, sempre fui), mas ainda acho que Mad Max tem mais chance nessa parte.
O Regresso
(The Revenant. Alejando Iñárritu, 2015)
Unpopular opinion time: Leonardo diCaprio não merece o Oscar que vai ganhar por esse filme.
Ele
merece um Oscar? Sem a menor dúvida. Jamais me conformarei que não ganhou um
por Revolutionary Road (e nem
indicação, pq a Academia decidiu que indicar por Diamente de Sangue era melhor? Babacas). Ele é um ótimo ator
injustiçado a um ponto que virou piada? Claramente. Essa é a melhor atuação do
ano e portando merecia ser premiada? Não. Desculpa, mas não.
Tudo
o que o diCaprio faz nesse filme é grunhir e não morrer. Quero nem saber o
desconforto que o ator sofreu, ou que ele dormiu numa carcaça de animal e pegou
pneumonia e quase morreu. Isso pouco importa (é tipo quando você assiste, sei
lá, The Voice e a pessoa fica “ai,
mas eu larguei tudo para estar aqui, emprego/família/escola, só tenho essa
chance!” – ninguém mandou, se não cantar bem vai ficar sem
emprego/família/escola pra largar de ser besta). O que importa, por exemplo, é
que Tom Hardy está melhor do que diCaprio nesse filme (o fato de que ele vai
perder o Oscar pro Rocky me machuca profundamente pq Tom Hardy é vida) e
ninguém nem fala dele pq o momentum Oscar é todo diCaprio. Ele vai ganhar,
claramente, e em geral ele merece ter um Oscar no currículo. Uma pena que venha
por esse filme.
Que não
gostei, inclusive. Em geral, curto o Iñárritu. Birdman foi um dos meus
favoritos anos passado. Esse filme é a definição maior de “trying too hard” – a
pessoa DORMIU NUMA CARCAÇA, galera. Se isso não é forçar demais a barra, não
sei o que é.
Achei
o filme longo, desnecessário, monótono, azul e um pouco óbvio demais com certos
comentários sobre direitos dos índios americanos (o que não seria um problema
em si se a edição do filme não tentasse muito ser artística com composições de
imagens metafóricas de sonho. Ou você brinca de metáfora ou você brinca de
comentário escancarado. Os dois? Fode o tom do seu filme). De positivo tenho a
dizer: Tom Hardy (can I get an Amen?) e o fato de que os índios não falam inglês.
Indicações: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator (Leonardo diCaprio), Melhor Ator Coajuvante (Tom Hardy), Melhor Cinematografia, Melhor Direção de Arte, Melhor Maquiagem, Melhor Efeito Visual, Melhor Edição de Som, Melhor Mixagem de Som, Melhor Edição, Melhor Figurino
Deve levar: Melhor
Ator Principal. Gostaria muito de Melhor Ator Coadjuvante. Pessoalmente, não
queria bem Melhor Filme nem Melhor Diretor, mas né? Um dos dois deve levar (se
não os dois). Num mundo ideal, levaria Melhor Diretor e perderia Melhor Filme
para A Grande Aposta.
Deve melhor Melhor Cinematografia pq "ai meu Deus, filmado com luz natural!!!!". Sem desmerecer esse feito, por quê? Só porque você pode não quer dizer que deveria, pq a iluminação desse filme cansa demais os olhos.
Deve melhor Melhor Cinematografia pq "ai meu Deus, filmado com luz natural!!!!". Sem desmerecer esse feito, por quê? Só porque você pode não quer dizer que deveria, pq a iluminação desse filme cansa demais os olhos.
Vamos
falar de coisa séria agora: o que é a atuação dessa criança, e como ela não foi
indicada? Pelo amor de Deus, galera, prestenção.
The Room é o meu favorito dessa lista,
de longe. Lindo filme, fotografia fantástica, ótima história, atuação
impressionante tanto da Brie Larson (a mãe) quanto do Jacob Tremblay (o Jack do título) e se você
precisar ver apenas um filme da lista dos melhores desse ano, faça um favor a
si mesmo e escolha esse.
Tudo o que sabia quando
comecei a assistir é que uma mãe e um filho moravam num quarto pequeno pq sim. Não
quero contar mais detalhes caso você queira ver esse filme e prefira assistir
sem preparação (como eu fiz, e foi uma excelente escolha). Só tenho a dizer que
é amor, e que se todas as indicações fossem nesse nível, não teria mais do que
reclamar.
Indicações: Melhor Filme, Melhor Atriz Principal (Brie Larson), Melhor Diretor, Melhor Roteiro Adaptado
Deve levar: se
existe justiça nesse mundo, Melhor Atriz Principal. Se existisse justiça nesse
mundo, Jacob Tremblaylevaria Melhor Ator Principal, mas acho que o mundo não tinha mais
condições de não dar esse prêmio pro diCaprio, então nem indicação ele levou.
Spotlight conta a história de um grupo
de jornalistas que descobre o escândalo de padres pedófilos na igreja católica.
Ponto final.
Filmes
que são perfeitamente resumidos em uma frase, em geral, não são bons filmes.
Filmes baseados em fatos reais que são perfeitamente resumidos em uma frase
quase nunca são bons filmes. Ainda mais quando seguem a fórmula de narração
ainda presa a uma estrutura escrita e ficam ainda mais tradicionais e sem
graça.
A
história desse filme é interessante. O livro dessa história seria ótimo. O
filme em si? É ok. Não é ofensivo, tem atores bons, Mark Ruffalo é sempre uma
graça, mas... bleh. O filme como ferramenta narrativa visual foi tão mal
utilizado que seria engraçado se não fosse tão comum. O fato desse filme estar indicado para Melhor Diretor e Melhor Edição é um tapa na cara da sociedade.
Indicações: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator Coadjuvante (Mark Ruffalo), Melhor Atriz Coadjuvante (Rachael McAddams), Melhor Roteiro Original, Melhor Edição
Deve levar: risos ao fundoTá, mentira. Pode levar Melhor Roteiro Original.
Saudades dos seus posts, Livia! Não vi nenhum da lista, mas agora fiquei com vontade de assistir O Quarto de Jack. Já vou atrás disso! Grande beijo e parabéns pelo texto! <3
ResponderExcluirConcordo plenamente com tudo que escreveu, Lívia. Adorei e sorri. Spotlight nem é chato, mas não tem brilho algum. O regresso, excessivo demais e a história em si parece um manual para sobreviver a um ataque de urso e à neve. Porém O Quarto de Jack é realmente fantástico, o melhor pra mim da lista e que gostaria que levasse melhor filme, ator e direção, além do que Brie Larsson ganhou.
ResponderExcluirKKKK, Lívia vc me diverte até de longe. Te escuto fazendo esses comentários. Engraçado é que só assisti os que vc achou surpresa terem sido indicados, foi-se meu tempo de ver indicados ao Oscar, ou seria o contrário? Acho q não pq aqui no Brasil a gente só sabe desses filmes depois da indicação. Bjo fia!!!
ResponderExcluirps. me diz, XXX eh um ator gostoso ou um que vc não lembrava o nome na hr que escreveu?