E o Oscar 2015
chegou, minha gente. E, pela primeira vez, o Oscar mais branco de todos os
tempos não é patrocinado pelo Pirate Bay (foram semanas difíceis, amigo, não me
abandone novamente).
Dessa vez, nem dá
mais pra fingir direito que alguém se importa. Ele existe, o mesmo filme batido
vai ganhar, pessoas vão comentar do vestido da Angelina Jolie, a Jennifer
Lawrence deve cair em algum momento, espero pelo menos uma piada de 50 tons de
cinza, e depois todo mundo volta a ignorar este momento, assim como deve ser.
Foi o mesmo que
tomar café no Starbucks: você sabe que vai ser fraco, e ainda assim fica
desapontado quando termina.
O Oscar de 2015
está um ótimo reflexo do ano passado: o cinema mainstream americano não está
mais conseguindo lidar com a vida. Dos oito indicados deste ano, apenas dois
não são baseados em fatos reais (sem surpresas, os que eu mais gostei).
Criatividade não existe mais, então bora adaptar de livros e/ou contar uma
história emocionante de alguém que sofreu/lutou/morreu pelo aprimoramento da
raça humana. Estou cansada de bater na mesma tecla em todo post que faço do
Oscar, mas Deus meu, será que dá para parar de tentar criar tensão em filme
baseados em fatos reais sobre o que vai acontecer quando todo mundo sabe muito
bem o que vai acontecer, já que é por isso que o filme foi feito? Ninguém ia
fazer um filme de um cara que tentou e NÃO CONSEGUIU desvendar o código secreto
de guerra nazista, sabe. Tome tento, Hollywood.
Agora, sem mais
delongas, um Oscar protagonista-de-malhação-insosso-desse-anos apresenta
(na ordem em que eu assisti):
[Já disse antes,
mil vezes, mas não custa nada repetir: minha opinião, você tem o direito de estar
errado, liberdade de expressão, bla bla bla]
O Grande Hotel
Budapeste
(The Grand Budapest Hotel. Wes
Anderson, 2014)
Esse é, sem a menor dúvida, o meu favorito deste ano. Este
eu assisti porque realmente queria, quando saiu no ano passado, e não
simplesmente porque estava na lista do Oscar e eu tenho uma tradição a manter
(olhando para você, Sniper Americano).
O filme conta as peripécias de M. Gustave (Ralph Fiennes) e seu ajudante, tendo
altas aventuras em clima de azaração. Ocupando o lugar de “Comédia Cult Deste
Ano Que É Provavelmente Melhor Do Que 80% Da Lista Mas Jamais Ganhará Porque É
Uma Comédia E A Academia Precisa Premiar Filme Sério”, O Grande Hotel Budapeste é um ótimo filme do Wes Anderson, que
quando acerta o tom de fantasia e absurdo, sem ir demais para o pseudocult da
coisa, é fantástico.
Indicações:
Melhor Filme; Melhor Diretor; Melhor Roteiro Original; Melhor Montagem; Melhor
Figurino; Melhor maquiagem; Melhor Fotografia; Melhor Direção de Arte; Melhor
Trilha Sonora.
O que deve levar: Eu
apostaria em Melhor Roteiro Original – o filme pode ter perdido no Globo de
Ouro, mas levou o BAFTA, então é de se considerar. Claro, pode ir pra Birdman no lugar desse, mas a esperança
é a última que morre. Como sempre, não vou chutar técnicos porque nunca acerto.
O que merecia
levar: Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Original. Um dia,
ainda verei uma comédia levar o prêmio máximo, só no aguardo aqui.
Birdman (A
Inesperada Virtude da Ignorância)
(Birdman or The Unexpected Virtue of Ignorance. Alejando Gonzáles Iñárritu, 2014)
Comecei a ver este filme completamente no escuro. Sabia absolutamente
nada dele. O que foi uma coisa boa, porque assim não tinha opinião alguma
formada a respeito. Um dos poucos dessa lista que não é baseado em fatos reais
(Glória, Aleluia), Birdman é um dos
mais válidos deste ano. Contando a história da obsessão de Riggan Thomson
(Michael Keaton) por ser reconhecido como um ator de verdade, e não apenas um
cara que ficou famoso por interpretar um super-herói no passado, Birdman foi onde Ela não foi ano passado: loucura. Podia ter aprofundado mais (o
terço final do filme é de longe sua parte mais interessante e podia ter ocupado
mais espaço), mas mesmo assim, é um bem válido.
Embora esse filme esteja super cotado para ganhar Melhor
Cinematografia, esta foi a coisa que mais me irritou. Eu entendi o propósito da cinematografia
do filme, compreendo que ela foi montada para fazer parte do filme de modo
orgânico, e que o próprio estilo reflete o tumulto interior do personagem, que
foi extremamente bem feita e o caralho a quatro que críticos curtem falar. Mas nada
disso muda o fato de que rodar a câmera quando os personagens falam me lembra
imediatamente de um anime.
Indicações: Melhor
filme; Melhor Direção (Iñárritu); Melhor Ator Principal (Michael Keaton); Melhor
Roteiro Original; Melhor Ator Coadjuvante (Edward Norton); Melhor Atriz
Coadjuvante (Emma Stone); Melhor Cinematografia; Melhor Mixagem de Som; Melhor
Edição de Som.
Deve levar: Esse
filme é nossa maior esperança de Boyhood não
levar Melhor Filme e Melhor Direção, e torcerei até o fim dos tempos para que
isso aconteça. Deve levar Melhor Cinematografia.
A teoria de tudo
(The Theory of Everything. James Marsh,
2014)
Ok, pergunta rápida: você sabe quem é Stephen Hawking?
Ótimo, ótimo. E sabe se ele está vivo ou morto? Isso mesmo! Ele está vivo! Sabe
o que isso quer dizer? Que todas as cenas em que o filme tenta passar tensão
sobre o futuro do personagem são completamente inúteis porque todo mundo sabe
que o cara não morreu.
Olha, eu não sabia patavinas sobre o Stephen Hawking – a
não ser que ele falava por computador e era um super gênio. Depois do filme,
sei que ele fala por computador, é um super gênio e tem um ótimo senso de
humor. E é isso. Um avanço, claro, mas por duas horas de filme, era de se
esperar mais.
O filme não é bem a história dele, mas sim a da esposa
dele, Jane (Felicity Jones). Por isso, o filme é na verdade um romance + um
drama sobre ciência vs. religião, que eles tentam muito, mas muito forte
encaixar na narrativa. O problema disso é que, pessoalmente, eu não ligo pro
romance dos dois. Um romance é um romance é um romance. Me interessaria bem
mais pelas teorias sobre o universo do cara – que até que são comentadas, mas
não a fundo, e não o suficiente. Mas, dentro do propósito do filme, é ok. E Felicity
Jones faz um excelente trabalho humanizando um personagem que poderia ser
facilmente endeusado ou demonificado – uma pena que ninguém repara muito dela ao
lado do Hawking na cadeira de rodas.
Eddie Redmayne (de Les
Miserables) interpreta Hawking, e como todos sabemos, interpretar alguém
com alguma deficiência física é praticamente um Oscar na sua mão.
Indicações: Melhor
Filme; Melhor Trilha Sonora Original; Melhor Roteiro Adaptado; Melhor Atriz
Principal (Felicity Jones); Melhor Ator Principal (Eddie Redmayne)
Deve levar: Melhor
Ator Principal. Pode ser que leve Melhor Roteiro Adaptado, e muito antes este
do que Sniper Americano.
Sniper americano
(American Sniper. Clint
Eastwood, 2014)
Honestamente? Já vi propagandas nazistas mais sutis que
esse filme.
Puta que me pariu, América. A gente sabe do seu
patriotismo loucura. O mundo sabe que vocês têm um complexo de superioridade
infinito. Mas nesse nível? Em 2015? E sendo indicado como um dos melhores
filmes produzidos pelo setor em um período de 365 dias?? Vergonhoso.
Clint Eastwood está de volta, fazendo o que ele sempre
faz: masturbando o ufanismo americano no cinema descaradamente. Esse é o tipo
de filme que, a não ser que você seja americano, não dá pra engolir. E, mesmo
sendo americano, há restrições. Conta a história de Chris Kyle (Bradley Cooper),
um soldado com a personalidade de uma caixa de papelão que é o Messias com uma
arma na mão, e mata todos. Os muçulmanos são chamados de “selvagens” o filme
todo, todos são horríveis e animais e merecem a morte, o personagem-título está
“lutando pelo bem de seu país” e não se arrepende ou entra em conflito sobre as
mortes que causou... exausta, só de escrever isso. Perda de tempo ofensiva e
lavagem cerebral mal feita.
Mas nada disso importa diante da coisa mais fantástica
desse filme: A BONECA. Sério. Até agora, não sei como lidar com a boneca. Em uma
cena, Bradley Cooper está conversando com a esposa, segurando o filho bebê. Exceto
que, após um corte de cena, não é mais um bebê de verdade, mas é uma boneca. Uma
boneca extremamente falsa. O filho da Bella no Crepúsculo era mais real do que essa boneca. Após a boneca, nada
mais poderá ser levado a sério em relação a esse filme. UMA BONECA, CARA. Não.
Não. Me recuso.
Indicações: Melhor
Filme; Melhor Ator (Bradley Cooper); Melhor Roteiro Adaptado; Melhor Edição;
Melhor Edição de Som; Melhor Mixagem de Som
Deve levar: eu
vou ser bem dessas e vou pedir ao universo que essa porra não leve nada além do
desdém universal, porque um filme que usa uma boneca tão falsa e deixa a cena
após a edição final não merece a vida.
Boyhood
(Boyhood. Richard
Linklater, 2014)
E esse é o filme de que todos estão falando. Porque esse
é o filme que demorou mais de dez anos para ser filmado! Não é impressionante! Onze
anos, isso que é compromisso!
Sabe o que isso me lembra? Quando você está na sua casa,
assistindo um reality show de talentos (tipo X Factor, American Idol, The Voice) e um concorrente faz um
discurso chorando de que abandonou trabalho/faculdade/escola/casamento para
participar do programa e essa é a única chance que ele tem e...e....e... quem
se importa? Desculpa, alguém pediu
para você fazer isso? Pq, ok, vc quer gastar onze anos filmando um filme, vai
com Deus. Mas não use somente esse fato para
que seu filme seja notado. Porque Boyhood
não tem NADA demais. Nada. Nadinha. Exceto pelo fato de que foi filmado ao
longo de onze anos. O imperador está nu e não tenho problema nenhum em dizer
isso em voz alta.
Entendo o que o diretor quis passar, entendo que o
propósito do filme é ser um reflexo da vida em tempo real, de uma vida comum,
genérica, o que faria dele um retrato universal da vida. Mas, gente, desculpa
mundo, e podem vir até a minha casa e tirar minha carteirinha de pseudocult,
mas se for pra ver a vida de um adolescente americano hétero branco genérico,
eu tenho a minha própria vida de adulta hétero branca genérica latinoamericana.
Existem momentos de certo interesse no filme (como quando o segundo marido
começa a beber), mas não existe nada que segure a atenção por quase três horas.
E todo mundo sabe que essa desgraça vai ganhar pq AI MEU DEUS, ONZE ANOS!
Fico só no aguardo de quando filmarem um mesmo filme por
20 anos. Te vejo no Oscar de 2035.
Indicações: Melhor
Filme; Melhor Diretor (Richard Linklater); Melhor Ator Coadjuvante (Ethan
Hawke); Melhor Atriz Coadjuvante (Patricia Arquette); Melhor Roteiro Original
Deve levar: Melhor
Filme é uma possibilidade gigante. Melhor Diretor deve ir mesmo pro Iñárritu,
então chance bem menor dessa. Melhor Atriz Coadjuvante é possível também, mas eu
honestamente preferia a Keira Knightley.
Merecia levar: um
soco bem dado na cara pra largar de ser pretensioso.
O jogo da imitação
(The Imitation Game. Morten Tydlum, 2014)
Benedict Cumbartch interpreta um gênio gay britânico
antissocial. O mundo choca, não é mesmo?
O jogo da imitação conta
a história de um homem que decodificou um código alemão super importante na
segunda guerra mundial e com isso ajudou a encurtar a guerra em sei lá quantos
anos. O que é meio que a premissa da coisa, então o fato do filme gastar 1/3 do
seu tempo na coisa toda do
será-que-ele-vai-conseguir-mesmo-quando-todos-os-outros-falharam um puta
desperdício de tempo. Até porque, a parte mais interessante, a parte que
valeria a pena ser discutida (spoiler alert/) vem bem espremida no final:
quando eles desvendam o código, não podem deixar o inimigo descobrir, então
precisam fingir que não sabem quando a Alemanha mata pessoas, e, de certa
forma, são “responsáveis” por essas mortes. Só as ramificações ideológicas e morais
disso já daria um filme. Mas não. Imagina. Para quê discutir coisas que
realmente podem fazer seu público pensar, não é mesmo? Vamos explicar tudo em
uma narração voice-over e pular para
a próxima cena rapidinho – não podemos deixar que o mundo pensa que a
Inglaterra tem qualquer tipo de culpa.
Fora isso, nada demais: Benedict Cumbartch interpreta
Sherlock + Sheldon Cooper – o filme diz que ele é gay, e não preciso de uma cena de sexo a la Brokeback Mountain para provar isso, mas
ao menos ele adulto é tão completamente assexuado e desprovido de interesse
humano que duvido que ele curta qualquer coisa, independente dos órgãos
genitais; Keira Knightley é a melhor coisa desse filme; ele salva o mundo no
final e os últimos 3 minutos mostram como o mundo foi injusto com ele (mas bem
rápido, lembrem-se, Inglaterra é amor, olha só, a Rainha perdoou o cara por ser
gay [?] no final!).
Indicações: Melhor
Filme; Melhor Diretor (Morten Tyldum); Melhor Ator Principal (Benedict
Cumberbatch); Melhor Atriz Coadjuvante (Keira Knightley); Melhor Roteiro
Adaptado; Melhor Edição; Melhor Trilha Sonora Original; Melhor Produção
Deve levar: Se
levar algum dos principais, e muito se
levar, Melhor Atriz Coadjuvante. Mas acho que Boyhood leva essa.
Selma
(Selma. Ava
DuverNay, 2014)
Narrando a história das caminhadas de Selma (uma cidade
do Alabama) para Washington, pedindo o direito real do voto negro – e de como
galera não estava querendo deixar e matou/agrediu geral, Selma foi, para mim, uma coisa que 12 anos de escravidão não foi ano passado: relevante.
Todo mundo sabe que escravidão é algo ruim. Todo mundo
sabe que é bárbaro e é absurdo. Você não encontra mais negros amarrados no
tronco com frequência. Mas o tipo de racismo e ignorância cega em Selma? É só ligar a TV.
O filme tem vários problemas, é construído em cima de
clichês (posso ter chorado na cena da marcha dos negros apanhando em câmera
lenta ao som de gospel, mas isso não
diminui a manipulação emocional descarada da cena) e faz tentativas muito rasas
de humanizar seus personagens para além de seus nomes e títulos, já conhecidos
pela história. Ainda assim, Selma é
um filme válido (mesmo que não sólido), e embora não vá ganhar melhor filme
jamais, merece bem mais estar nesta lista do que aquela merda branca, azul e
vermelha do Sr. Eastwood.
Indicações: Melhor
Filme; Melhor Música Original
Deve levar: Melhor
Música Original
Whiplash
(Whiplash. Damien
Chazelle, 2014)
Todo o ano, o Oscar tem um filme que ninguém nunca ouviu
falar – aquele que o Zé Wilker gostaria mais e me daria mais trabalho para
encontrar no Pirate Bay. Mas, em 2015, não só Zé Wilker não está mais entre
nós, como Pirate Bay saiu do ar e este filme é um dos meu favoritos da lista.
Assim como Nebraska
no ano passado, esse é um filme que ninguém viu/vai ver, e ninguém vai se
importar, mas que merecia mesmo ser assistido. Contando a história de um
condutor de orquestra louco do pó (J. K. Simmons) e um de seus estudantes (Milles
Teller), que vai a extremos tentando ser o melhor possível.
Interessante, com um ótimo pacing, bem atuado, bem editado,
esse filme é uma belezinha e com certeza vale duas horas da sua vida. Filme bem
mais qualquer-outra-premiação-do-mundo-do-que-as-americanas, Whiplash não faz o perfil-Oscar e não
vai ganhar Melhor Filme. Meu voto é, eternamente, em J. K. Simmons para Ator
Coadjuvante, mas honestamente não assisti todos os filmes dos outros indicados,
logo...
Indicações: Melhor
Filme; Melhor Ator Coadjuvante (J. K. Simmons); Melhor Roteiro Adaptado; Melhor
Edição; Melhor Edição de Som
Deveria levar: Melhor
Ator Coajuvante, Melhor Edição de Som
primeira regra do clube da luta: não falamos da boneca de american sniper
ResponderExcluirAmerican Sniper é tão pena, realmente dar uma olhada na história. Além de que a maioria dos filmes do Bradley Cooper são realmente muito divertido. Seus papéis todos têm os seus prós e contras, mas no geral eu acho que é um excelente ator, como a versatilidade de seus papéis é grande, recentemente eu vi americana Sniper e ficou encantado com o seu papel, mas o filme não foi inteiramente de o meu gosto.
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