Oscar 2014
(Antes tarde do que nunca)
Ai ai Oscar. Está
cada vez mais difícil não só se importar, como ver alguma coisa realmente boa
na lista escolhida para representar os melhores filmes produzidos em 2013 na
indústria de Hollywood. É tipo a opinião daquela sua tia velha: você escuta pq
está acostumado e ela está ali, mas não presta atenção e não se importa de
verdade. Não é nem ruim, é só
medíocre. O que é ainda mais triste, na minha opinião. Pq pelo menos quando a
coisa é ruim, vc tem algum sentimento em relação a coisa. Quando é... bege,
você assiste, dá de ombros, vai comer pizza, dorme e nunca mais lembra do
filme. Esse é o ano em que o Oscar bait ganhou
disparado em número de indicações [Para quem não sabe, Oscar bait é um filme feito sob medida para conseguir simpatia do
público/críticos tratando de temas de coisas que a humanidade tem vergonha de
ter feito e mostrando como essas coisas não deveriam ter sido feitas mesmo
sendo meio que óbvio: por exemplo, escravidão, holocausto, guerra, algum tipo
de doença terminal, e por aí vai.] e fica super complicado julgar pq se vc fala
mal de um filme que denuncia os abusos da escravidão demora 3 segundos para
alguém te chamar de racista, é o pesadelo do politicamente correto. (não que
isso vai me impedir, né)
Mas, pq comecei e
não quero quebrar tradição, os nove indicados para Melhor Filme desse ano (já que Pixar não tá fazendo nada decente pra ocupar a décima posição), na
ordem em que eu assisti a lista.
[Como sempre,
lista pessoal, opinião pessoal, liberdade de expressão, sabe como é]
Gravidade
(Gravity. Alfonso Cuarón, 2013)
A primeira coisa
que me falaram sobre esse filme era que tinha a Sandra Bullock presa no espaço
por 1h30m. Nada contra a Sandra Bullock, nem como atriz nem como pessoa, mas
caramba, 1h30m no espaço? Em 3D? Estava preparada emocionalmente para a coisa
mais monótona da minha vida e... não foi. Acabou sendo um filme interessante,
visualmente lindo e surpreendentemente entretente. Não foi o melhor filme da
minha vida, e eu sei que não é assim que
o espaço funciona ok, mas foi... válido. E isso é mais do que posso dizer
de mais da metade dessa lista.
Dou muito apoio
também para o fato de que esse é um dos poucos filmes desse ano que não é
baseado em fatos reais, já que tenho uma antipatia involuntária com filmes que
usam a vida de alguém para ganhar dinheiro.
Indicações: Melhor Filme, Melhor Diretor
(Cuarón), Melhor Atriz (Sandra Bullock), Melhor Trilha Sonora, Melhor Edição de
Som, Melhor Mixagem de Som, Melhor Direção de Arte, Melhor
Cinematografia/Fotografia, Melhor Edição/Montagem, Melhores Efeitos Visuais
Deve levar: Melhor Filme é sempre uma
possibilidade, embora acho que esse vai pro Oscar Bait Para Acabar Com Todos Os
Oscar Baits [12 anos de escravidão].
Deve levar melhor diretor, vindo na toada dos últimos prêmios. Deve ganhar
todos os prêmios técnicos dessa vida e vai ser extremamente merecido, pq o
visual daquele espaço está fenomenal.
Capitão Phillips
(Captain Phillips. Paul Greengrass, 2013)
Ai meu senhor
Jesus, que filme porre.
“Baseado em fatos
reais”, o que na verdade é um codinome para “você já deve conhecer o final
dessa história mesmo, pq aconteceu de verdade e ficou famosa o suficiente para
que fizessem um filme dela, então sabe como o filme vai acabar e já foi metade
da graça aí mesmo”, Capitão Phillips é
a história do capitão de um navio que foi sequestrado por uma trupe de
africanos em busca de aventuras em muito clima de azaração. Tom Hanks faz o
Capitão (que *spoiler* não morre, o que sabia pq essa é uma história conhecida,
caramba, então não existia a menor tensão sobre será que ele vai viver ou não e
já foi 90% só nisso).
Capitão Phillips conta com o mesmo
problema de 12HAHAHHA pra mim: eu não
sei nada do cara a não ser que ele é interpretado pelo Tom Hanks, que tem uma
esposa que aparece por uma mísera cena inicial e filhos que são mencionados em
uma conversa. Não me importo se ele
morrer ou não pq ele não é nada além de uma pessoa-que-respira por mim. Não
existe envolvimento nenhum em momento algum na história que me deixa
interessada no que está acontecendo no navio. Exceto, a presença do Barkhad
Abdi – o chefe da trupe de bandidos. Ele é excelente em outro nível, e todas as
vezes em que aparecia na tela o filme tinha pelo menos o potencial de ser
decente. Ele está indicado para melhor ator coadjuvante, deve perder para o
Jeremy Leto-mulher, mas pelo menos ganhou um Bafta, então tem dessas.
Indicações: Melhor Filme, Melhor Ator
Coadjuvante (Barkhad Abdi), Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Edição de Som,
Melhor Mixagem de Som.
Deve levar: Um beijo e um aperto de mão.
Não sei qual é a piada por trás de
indicarem esse filme para Melhor Roteiro Adaptado, mas não estou rindo.
Deveria levar: Melhor Ator Coadjuvante.
Por mais que o Jared Leto mulher esteja excelente (ele está), se não fosse pela
Abdi nesse filme, teria entrado em coma de tédio. E com o pouco material que
ele tinha para trabalhar é ainda mais impressionante.
O lobo de Wall Street
(The wolf of Wall Street. Martin Scorsese, 2013)
Scorsese e
DiCaprio estão de volta, como minha dupla diretor/ator preferida do momento. O lobo de Wall Street é a história de um
cara que ficou rico enganando a galera, usou altas drogas e fez orgias mil –
coisa normal, de rotina. O filme tem quase 3h (saudades quando os filmes tinham
menos de 2h, viu) e o DiCaprio está em cena 97% do tempo, fazendo malabarismos
de atuação e... mesmo assim ele não deve ganhar o Oscar. É praticamente o
Corinthians do cinema, exceto que ele realmente merece a estatueta. A direção
caótica e o pacing irregular ajudam
na construção da atmosfera do universo do filme, o elenco todo está ótimo
(qualé a do Jonah Hill e sua capacidade incrível de fazer babacas? Ele está
para babacas como o Michael Cera está para adolescentes com problema de
convívio social.) e mesmo com meu problema com a cena final (não com o final do
filme, mas com a cena escolhida para fechar a coisa toda – um pouco abrupta
demais depois de 3h de tempo, sabe) esse é um dos meus preferidos nessa lista. É bom no sentido melhor-filme-do-ano? Não. Mas é melhor do que o filme do Ben
Affleck que ganhou o ano passado que nem lembro o nome de tanto impacto que
teve na minha vida.
Indicações: Melhor Filme, Melhor Diretor
(Scorsese), Melhor Ator (DiCaprio), Melhor Ator Coadjuvante (Jonah Hill),
Melhor Roteiro Adaptado.
Deve levar: o mundo inteiro está na
maior torcida de todos os tempos do Leo finalmente desencantar e ganhar um
prêmio. Eu me conto nesse grupo e ficaria super saltitante se ele ganhasse, mas...
duvido. Duvido quanto temos o escravo-sofredor e o aidético-sofredor e tá
complicado com a quantidade de Oscar Bait esse ano, pelo amor. Talvez Melhor
Roteiro Adaptado, mas estou mais inclinada para Filomena nessa.
Clube de compras de Dellas
(Dallas Buyers Club. Jean-Marc Vallé, 2013)
O primeiro da
nossa lista de Oscar baits com o
acréscimo de “baseado em fatos reais”, conta a história de um babaca homofóbico
que contraiu AIDS em uma época em que a galera não sabia que dava pra ser HIV+
se não fosse gay. Ele descobre que os remédios aprovados pelo governo não são
lá essas coisas e que tem coisa melhor no México e passa a vender pra geral. O
mais chocante desse filme é o fato de que o Matthew McConaughey aparentemente
sabe atuar – quem diria? Ele está impressionante no papel principal e deve
acabar ganhando esse Oscar do Leo. O Jared Leto como um homossexual
soro-positivo está outro nível também, no ponto em que parei o filme e fui
checar no IMDB quem era o ator pq simplesmente não reconheci de primeira. Ele
deve ganhar o Oscar de Melhor Ator Coajuvante, e embora prefira o Barkhad
Abdi, é uma escolha válida também. O filme é melhor do que esperava, mas o
elenco vale mais do que a história em si, exceto pela Jennifer Garner, que
super não consegue chegar no mesmo nível do resto da galera.
Indicações: Melhor Filme, Melhor Ator
Principal (Matthew McConaughey), Melhor Ator Coajuvante (Jared Leto), Melhor
Roteiro Original, Melhor Edição, Melhor Maquiagem.
Deve levar: o combo de melhor ator.
Honestamente, Melhor Roteiro Original deve acabar indo para Ela (infelizmente), ou, se Deus decidir
ser justo, para Nebraska.
Ela
(Her. Spike Jonze, 2013)
De 0 ao final de
Lost, meu nível de desapontamento nesse filme foi 9. Eu estava esperando algo
tão mas tão diferente que nem sei
lidar com esse filme. A premissa é excelente: numa versão um pouco mais
avançada do nosso futuro, um homem solitário desenvolve um relacionamento
romântico com o seu celular ( a SiRi com a voz da Scarlett Johansson, que
infelizmente não é tão boa atriz assim para conseguir passar emoção sem ajuda do
corpo físico). Os primeiros 15min desse filme me deixaram super feliz, quando
ainda pensava que ia desenvolver alguma coisa além de uma história de amor romântica, bege e sem graça que passaria
de boa na sessão de tarde se não fosse pelo fato de que uma das pessoas no par
é um aparelho telefônico. Existem tantas possibilidades que podiam ser
exploradas aqui, se ao menos esse filme fosse menos fofo-cor-pastel e fosse
mais mind fuck. As poucas cenas que exploram o quanto é disfuncional vc ter
esse relacionamento são ótimas, mas o resto do filme é todo um comercial de
margarina irritante com a voz da Scarlett questionando a importância da vida e,
sério, tem hora que o diálogo chega a meros dois passos acima de Paulo Coelho.
O Spike Jonze fez uns dos meus filmes favoritos e ele costuma ser tão
maravilhoso em filmes perturbadores e essa oportunidade foi tão perdida que olha...
Ocupando o espaço reservado para os Filmes Cults-Fofos do Oscar desse ano (vide
Pequena Miss Sunshine e Juno para outros exemplos), é uma ótima
premissa que foi desperdiçada e acabou virando um Cidade dos anjos hipster em tons pasteis com mais tecnologia.
Indicações: Melhor Filme, Melhor Roteiro
Original, Melhor Música Original, Melhor Trilha Sonora.
Deve levar: Gostaria que não levasse porcaria
nenhuma, mas existe a possibilidade real de Melhor Roteiro Original. Um minuto
de luto pela raça humana.
12 anos de escravidão
(12 yeras a slave. Steve McQueen, 2013)
Eu tenho uma
teoria: se você consegue resumir o filme em uma frase e ela encaixa
perfeitamente como explicação, é provavelmente pq o filme não tinha muito a
dizer pra começo de conversa. 12 anos de
escravidão é um filme sobre um negro livre que é vendido e permanece
escravo por 12 anos. E é isso. Ele vai lá e sofre, pq escravos sofrem. Ele é
abusado por brancos, pq brancos são filhos da puta. Ele chora e se desespera
porque é tratado como uma propriedade. Não sei mais de quantas maneiras a
indústria cinematográfica vai nos dizer que escravidão foi uma coisa ruim. Se
vc quer fazer mais um filme sobre a
escravidão, ao menos procure outro ângulo além do fato de que não é uma coisa
boa. O maior Oscar bait dessa lista é também o mais sem graça, sem nada
impressionante acontecendo. O fato do Chiwetel Ejiofor ser um excelente ator
certamente ajuda com a mesmice, mas não é o suficiente para salvar o filme. Se
não fosse sobre escravidão, ninguém ia olhar duas vezes, mas como trata de um
período claramente horrível da raça humana, ignorar o filme é praticamente
admitir racismo – o melhor tipo do Oscar bait existente.
Indicações: Melhor Filme, Melhor Diretor
(Steve McQueen), Melhor Ator (Chiwetel Ejiofor), Melhor Atriz Coajuvante (Lupita
Nyong’o), Melhor Ator Coajuvante (Michael Fassbender), Melhor Roteiro Adaptado,
Melhor Edição, Melhor Figurino
Deve levar: Melhor Filme. Imagino que
não corre o perigo de Melhor Diretor. Existe a possibilidade real de Melhor Ator
e Melhor Atriz Coadjuvante. Não me leve a mal, a Lupita fez um ótimo trabalho,
mas ela é completamente uni-dimensional como uma escrava sofrendo e em dor e
chorando e gritando. Jennifer Lawrence merecia mais e white guilt não muda isso.
A trapaça
(American Hustle. David O. Russell, 2013)
E mais um filme
baseado em fatos reais, desse vez de um casal de trambiqueiros que acaba
trabalhando com a polícia criando uma armadilha para políticos corruptos. É um
filme completamente bipolar: tem hora que é super sério e dramático, tem hora
que é 11 homens e um segredo. Se
tivesse escolhido um caminho a ser seguido, e tivesse um pacing um pouco menos quebrado, esse filme poderia ter sido
excelente. No final, ele acabou sendo ok. E a razão dele ser ok está mais no
elenco (todo mundo ta ótimo nesse filme) do que em qualquer outra coisa. O diálogo
varia entre pérolas de roteiro (“ela era o Picasso do caratê passivo-agressivo”
é uma descrição tão boa que vai comigo para o túmulo) e clichês e, quando
acaba, você fica naquele limbo de não saber se valeu ou não a pena. Não é ruim,
com certeza, e é melhor que muitos nessa lista, mas é triste quando isso
aparentemente é o melhor que a indústria hollywoodiana tem a nos oferecer. Umas
duas reescritas de roteiro e esse filme poderia ter sido ao menos coerente.
Indicações: Melhor Filme, Melhor Diretor
(David O. Russell), Melhor Ator (Christian Bale), Melhor Atriz (Amy Adams),
Melhor Atriz Coadjuvante (Jennifer Lawrence), Melhor Ator Coadjuvante (Bradley
Cooper), Melhor Roteiro Original, Melhor Edição, Melhor Figurino.
Deve levar: Melhor Atriz Coajuvante, pq
tenho fé que a galera vai superar essa “ai se não for é racismo” e votar nela
pq J-Law tá destruindo nesse filme. A Amy Adams, a DiCaprio feminina, tem uma
chance real, embora acredite que a Cate Blanchet mereça mais por Blue Jasmin. Nenhum dos atores leva
essa, e quem sabe leve Melhor Figurino, mas imagino que deva ir para o 12 anos de escravidão mesmo.
Philomena
(Philomena. Stephen Frears, 2013)
Esse é o
verdadeiro filme fofo dessa lista, saí daí Ela.
Baseado na história real (quem diria, não?) de uma mulher que engravidou na
adolescência, foi praticamente escravizada por freiras e teve o filho adotado
por uma família americana. Anos depois, ela decide procurá-lo com ajuda de um jornalista
desempregado. Em geral, esse filme seria monótono, mas a beleza da Judi Dench
no papel-título não pode ser ignorada. Ela carrega o filme nas costas sem a
menor dificuldade, e você torce por ela a cada segundo em cena. É o tipo de
filme bem mais Cannes do que Oscar, e se ganhar alguma coisa vai ser Melhor
Roteiro Adaptado, mas pelo menos foi indicado e tomara que venda mais colocando
essa informação na capa do DVD.
Indicações: Melhor Filme, Melhor Atriz
(Judi Dench), Melhor Roteiro Adaptado.
Deve levar: Talvez se pá quem sabe
Melhor Roteiro Adaptado.
Merecia levar: Melhor Atriz. Ainda sou
mais a Cate Blanchet, mas se a Judi Dench ganhasse, seria muito mais do que
merecido.
Nebraska
(Nebraska. Alexander Payne, 2013)
Todo ano, o Oscar
tem um filme x que vc nunca ouviu falar que está indicado. Todo ano, esse filme
é o preferido do Zé Wilker. É com muita dor no coração que venho por meio deste
dizer que, esse ano, Nebraska também
é o meu preferido. Esse é único filme dessa lista que é bom o suficiente para
ganhar o título de melhor filme (e, claro, vai ganhar patavinas). Contando a
história de um homem idoso que acredita que ganhou um milhão de dólares e quer
atrás desse dinheiro com o auxílio de sua família, é um estudo em
relacionamento humano e atuação. O filme é cru, é inconfortável na sua
realidade e na dissecação da condição humana. Outro com bem mais cara de Cannes
do que de Oscar, vale a pena não só por um roteiro maravilho e uma ótima
premissa, mas por uma atuação impressionante por parte do Bruce Dern e pela belíssima cinematografia em preto e branco. O fato de
que ele vai perder o Oscar pro pobre-aidético ou pro pobre-escravo é
extremamente triste. O fato de que esse filme não deve ganhar absolutamente
nada e qu quase ninguém nem deve ter visto, é ainda pior.
Indicações: Melhor Filme, Melhor Ator (Bruce
Dern), Melhor Cinematografia, Melhor Roteiro Original, Melhor Atriz Coajuvante
(June Squibb).
Deve levar: *risos ao fundo*. Ok, se
tiver alguma justiça nesse mundo, Melhor Roteiro Original pelo menos.
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