Oscar 2020
ou
It’s raining man, huh, e já estava mais do que na hora de parar
Vamos começar logo de cara falando sobre o ano passado: sim, Oscar 2019 existiu. Sim, “Green Book” ganhou Melhor Filme. Não, não vamos admitir que esse fato foi realidade. Da mesma forma como a sociedade decidiu em conjunto ignorar o epílogo do último livro do Harry Potter por ser a coisa mais idiota do mundo, vamos também fazer de conta que a premiação do ano passado não aconteceu. Green Book? I don’t know her.
Agora, sobre Oscar 2020. Nove filmes, que insisto sempre em deixar destacado que deveriam representar as melhores produções cinematográficas de uma das maiores indústrias do mundo, já que o pessoal parece sempre se esquece desse singelo detalhe e continua me indicando coisas como “Ford vs Ferrari” e “História de um casamento”. Nove filmes dos quais apenas dois salvam, e desses dois, um é tão incrivelmente superior que não tem nem o que falar aqui, só sentir (sim, claramente “Parasita”, qual mais poderia ser?). Nunca antes vi um Oscar tão desigual em qualidade e nunca antes vai ficar mais claro o caminho pelo qual a premiação decide seguir a próxima década: Parasita vai levar Melhor Filme para o Oscar conseguir ainda fingir que tem qualquer relevância e que sabe o caminho futuro do mundo, ou Parasita vai levar apenas Melhor Filme Estrangeiro e Oscar vai provar mais uma vez que é um antro de xenofobia e privilégio branco sem fim com audiência cada vez mais baixa?
Só o tempo dirá, mas alguém tem coragem de colocar a mão no fogo?
Também nunca antes vi um Oscar tão cheio de filmes masculinos – Deus sabe o quanto não curto o trabalho da Greta Gerwig de um ponto de vista puramente pessoal, mas a alegria que tive de assistir “Mulheres adoráveis” e finalmente parar de ver XYs na minha tela sem parar... 1917, Ford vs Ferrari, Coringa, O irlandês e Era uma vez em Hollywood (Margot Cotas-Feminina Robbie dançando e aparecendo deitada seminua não conta, ok)... santa testosterona, Batman. Se mulheres existem, são as esposas de fundo ou as filhas de fundo ou as mães de fundo e aparecem por breves 5 segundos apenas para o filme não ser literalmente apenas homens – e olha, num universo de 786 filmes produzidos em Hollywood em 2019, você olhar na minha cara e me dizer seriamente que top 9 incluem 5 só de homens, nessa altura do campeonato, e não ver o que tem de errado e absurdo nessa frase (ainda mais quando FORD VS FERRARI TÁ NESSA LISTA, PELO AMOR), isso é um problema puramente seu e desejo sorte no seu futuro.
Exausta: define.
1917
E 1917 é um filme de guerra.
Se você não é um estranho no meu blog, sabe o quanto odeio filmes de guerra, todos eles. Quantas vezes nós, como sociedade, precisamos criar filmes que mostram 1) as atrocidades da guerra e quanto ela é horrível, 2) o sofrimento das pessoas comuns que só queriam viver a vida e acabam no meio da guerra, 3) a coragem das pessoas comuns que só queriam a viver a vida e acabam no meio da guerra? Caso esteja na duvida, esse filme aqui é sobre o ponto 2.
1917 é o favorito desse Oscar para Melhor Filme e Melhor Direção (Parasita existe, mas também existe xenofobia) e você pode estar pensando: mas é assim tão bom? A resposta pra sua pergunta é: não, mas é filmado em plano contínuo e, como a história retrata dois soldados levando uma mensagem do ponto A para ponto B em uma zona de guerra, o trabalho e o cuidado necessários para filmar essa história estão são bem evidentes.
Posso não gostar de filme de guerra, mas não sou cega a ponto de não ver que foi um incrível feito técnico. Mas é apenas isso: um feito técnico. A escolha de filmagem em plano contínuo não agrega nada à narrativa além de sua dificuldade intrínseca, e se você retirar esse elemento extra do filme, não sobra absolutamente nada de valor. O filme foi filmado assim por algum motivo além de mostrar olha o que eu sei fazer, mãe e assim ganhar prêmios? No aguardo de mais e mais filmes serem produzidos dessa forma, já que esse tipo de filmagem está para diretores assim como perder peso e morrer em câmera está para atores quando o quesito é “como ganhar um prêmio”.
É complicado analisar esse filme, já que por mais que não vejo o ponto de filmar em plano contínuo, ele foi filmado assim e o resultado final é realmente impressionante. A desnecessariedade não apaga a realidade, e entendo muito bem pq esse filme deve levar Melhor Diretor. Mas o precedente está mais do que aberto para filmes vazios bem filmados, e agora só aguenta coração pro futuro.
Indicações: Melhor Filme, Melhor Diretor (Sam Mendes), Melhor Roteiro Original, Melhor Trilha Sonora, Melhor Cinematografia, Melhor Maquiagem, Melhor Direção de Arte, Melhor Edição de Som, Melhor Mixagem de Som, Melhor Efeitos Visuais
Deve levar: a grande maioria, se não todos, dos prêmios técnicos. Ficaria extremamente surpresa se não levasse Melhor Direção. Como a esperança ainda é a última que morre, gostaria que perdesse Melhor Filme para Parasita. Mas, milagre não acontecendo, meu voto está nele para Melhor Filme.
Ford vs. Ferrari
(James Mangold, 2019)
Puta que me pariu, esse filme.
Conta a história, baseada em fatos reais, da rivalidade entre o dono da Ford e o dono da Ferrari, e como a Ford decidiu construir um carro novo de corrida com a ajuda de Carroll Shelby (Matt Dmanon) e corredor Ken Miles (Christian Bale) só para ganhar da Ferrari na 24 horas de Le Mans na França. Tenho absoluta que existiu mais por trás dessa decisão de negócios do que apenas o dono da Ferrari ter chamando o dono da Ford de gordo e o recalque que esse comentário gerou, mas o filme faz o máximo possível para você encarar a situação toda como uma batalha de egos entre homens que discutem quem tem o pau maior via seus carros, com zero profundidade ou interesse, mas olha carros rápidos!
Imagino que deva existir alguém no mundo que tem interesse por essa história, contada da forma mais não inspirada possível por um diretor que seriamente chama Mangold (piada_pronta.jpeg) e que também nos brinda com uma sequência de 40 minutos no final do filme de apenas corrida e mais corrida e mais corrida. O resto do mundo só viu um filme de sessão da tarde com dois atores francamente bons demais para essa produção (a Mulher Cotas desse filme é a esposa do Christian Bale, a única pessoa não homem presente), com um Christian Bale tentando demais ser indicado para Melhor Ator, conotações sexuais não intencionais de que o Batman quer mesmo transar com carros, e um final que não só destoa da produção como um todo, mas é de mau gosto e péssimo tom. Uma nulidade que gastou 2h30 da minha vida, que podia ter passado procurando pontas duplas no cabelo e teria sido uma tarde mais proveitosa.
Será que deu pra perceber que odiei esse filme?
Indicações: Melhor Filme, Melhor Edição, Melhor Edição de Som, Melhor Mixagem de Som
Deve levar: HAHAHHAHAHAHAHHAHHAHHAHAH
Coringa
(Joker. Todd Phillips, 2019)
Se foi um das pessoas que se chocou com a indicação de Coringa pro Oscar de 2020, você não estava prestando atenção. Depois de Mad Max e Pantera Negra, temos precedente e era apenas uma questão de “qual filme”. Já disse antes e repito: tenho zero problema com filmes mais “populares” ou baseados em HQ serem indicados, desde que tais filmes tenham qualidade pra isso. Coringa é tão médio quanto a grande maioria nessa lista, então o fato de que é um vilão do Batman importa negativo nesse blog.
O que me importa mesmo é: estamos falando de um filme que foi hypado ao máximo pela interwebs e que tenta tão forte ser político que qualquer toque de sutileza é rejeitado e a mensagem do filme é enfiada na sua goela sem qualquer análise posterior ou maior, violência disfarçada de ativismo e justificada pela negligência social – o tipo de coisa que um moleque de 15 anos que acabou de ver Clube da Luta e acha que ser ateu é traço de personalidade escreve em seu blog enquanto escuta Eminem muito alto.
O filme não respeita o telespectador em nenhum momento. Nada é implícito, tudo é explicado, algumas vezes repetido, para que você não perca nenhum segundo. Absolutamente ninguém nessa produção acreditava na capacidade interpretativa da audiência – esse filme é o equivalente a uma tia do pré falando devagar com um menino de 5 anos que não pode bater no amiguinho.
No entanto, esse filme tem o Joacquin Phoenix, que mesmo no meio das cenas mais forçadas do mundo, tem talento o suficiente para fazer você esquecer do absurdo e comprar o filme. Por mais talentoso que ele seja, e por melhor que seja essa trilha sonora, o filme só realmente vale a pena pelo terço final, e passa tempo demais procurando um fio narrativo condutor por mais de 1h. Ainda assim, diria pra assistir Coringa antes de Ford vs. Ferrari.
Indicações: Melhor Filme, Melhor Diretor (Todd Phillips), Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Ator (Joaquin Phoenix), Melhor Fotografia, Melhor Maquiagem, Melhor Figurino, Melhor Edição, Melhor Trilha Sonora, Melhor Edição de Som, Melhor Mixagem de Som
Deve levar: risos pra Melhor Filme, Melhor Direção ou Melhor Roteiro Adaptado. A possibilidade do Joacquin levar Melhor Ator existe e não me ofende nem um pouco – ainda mais levando em consideração quem mais está na categoria. Raramente opino de técnicos, mas a Trilha Sonora desse filme está sensacional e, se levasse, seria bem merecido.
Era uma vez em... Hollywood
(Once upon a time in... Hollywood. Quentin Tarantino, 2019)
Ai, ai, ai Tarantino. Me ajuda a te ajudar, colega.
Já vou deixar claro que gosto dos filmes do Tarantino – mas isso? Isso é ridículo.
Sabe quando um cantor fica muito famoso e para de produzir música boa, por que sabe que qualquer coisa que fizer no estúdio vai vender pra caramba baseado no nome dele apenas (tipo Justin Biener, Ed Sheeran e Taylor Swift em 2019)? Então. É exatamente isso que senti com Era uma vez em Hollywood.
Contando a história de um ator em fim de carreira de filmes de faroeste (Leonardo DiCaprio) e seu dublê/amigo/motorista (Brad Pitt), o filme dá a impressão real de que começou a ser filmado antes de saber para onde ia, foi feito apenas porque o Tarantino achou a ideia legal e queria colocar pedaços de filmes antigos e referências na filmagem, e o “plot twist” foi feito apenas porque alguém deve ter comentando que tava faltando violência.
Tem momentos muito bons. Tem cenas excelentes. Tem uma ótima trilha sonora, ótimos atores, ótima direção de arte. E isso tudo só me deixa mais puta de pq um ótimo filme não foi feito: porque não tem uma direção clara ou uma história coesa. E, como alguém que viu a filmografia praticamente completa do Tarantino, sei muito bem que ele sabe fazer melhor do que isso, e a escolha de não ter feito aqui? Ofensiva.
Qualquer outra pessoa no mundo que não ele que lançasse esse filme seria ridicularizado por ter tentado emular Tarantino das antigas e nunca o peso de um nome foi tão evidente para justificar as críticas positivas. Quem sabe se tivesse rescrito esse roteiro umas três vezes em vez de acrescentar mais e mais cenas do Brad Pitt dirigindo por Hollywood, a coisa seria diferente. No momento? Vindo na cola do Oito odiados, que já não curti muito, esse filme me faz pensar se não está na hora de deixar Tarantino novo de lado e só reassistir Kill Bill de vez em quando mesmo.
Indicações: Melhor Filme, Melhor Diretor (Quentin Tarantino), Melhor Ator (Leonardo DiCaprio), Melhor Ator Coadjuvante (Brad Pitt), Melhor Roteiro Original, Melhor Fotografia, Melhor Figurino, Melhor Direção de Arte, Melhor Mixagem de Som, Melhor Edição de Som
Pode levar: Brad Pitt está cotado para Melhor Ator Coadjuvante. Ele é a melhor coisa desse filme, o que não quer dizer lá essas coisas, mas Brad Pitt nunca vai atuar nada diferente do Brad Pitt, então ainda preferia que Al Pacino levasse.
Agora, existe a chance real de Melhor Roteiro Original e Deus põe a mão se essa bagunça ganhar melhor roteiro em cima de Parasita... fujam paras colinas.
Parasita
(Gisaengchung. Bong Joon-ho, 2019)
Se você ainda não viu Parasita, por favor, vá assistir.
Se você já viu Parasita, por favor, vá reassistir.
O melhor filme dessa lista, um dos melhores filmes do ano passado, um dos melhores filmes em muito tempo e tudo o que você já deve ter ouvido de pessoas falando bem desse filme é 100% correto – faça esse favor a você mesmo e assista Parasita.
Já tinha gostado do filme antes mesmo de sair a lista de indicações. Depois que fui forçada a ver todos os filmes desse ano, é incrível o quanto a qualidade superior salta aos olhos quando comparado com o restante...
Contando a história de uma família em situação econômica precária que começa a trabalhar para uma família rica, o filme é um estudo social entre diferenças de classe econômica – trata-se de um filme coreano e é incrível o quanto isso não importa: pobre é pobre e rico é rico em qualquer lugar, e os sentimentos e as situações expressas no filme ressoam mundialmente sem empecilho cultural.
Não tenho muito o que dizer aqui sem parecer uma lista interminável de adjetivos (impactante, singelo, real, sagaz, emocionante, genial...), mas que fique registrado que há anos escrevendo esse blog não via um filme assim tão bom indicado ao Oscar. Em qualquer outra situação, ele seria o favorito disparado e ninguém nem se atreveria a esboçar a possibilidade de outro filme levar o prêmio máximo. Mas estamos falando de um filme em coreano na América do Trump, então...
Seja como for, Parasita é sensacional e o Oscar decidir coroar isso (ou não) diz muito mais sobre a própria premiação e sua relevância do que sobre o mérito indiscutível do filme.
Sério, vai ver Parasita.
Indicações: Melhor Filme, Melhor Diretor (Bong Joon-ho), Melhor Roteiro Original, Melhor Filme Internacional, Melhor Direção de Arte, Melhor Edição
Merecia levar, se o mundo fosse justo: Tudo. Literalmente todos os prêmios nessa lista, e ainda mais, porque os atores deveriam ter sido indicados nas categorias de atuação também.
Deve levar: Melhor Filme Estrangeiro, a escolha segura
Talvez leve: Melhor Roteiro Original, a escolha um pouco menos segura
Ia ficar chocada mas feliz se levasse: Melhor Filme. Porque é o Melhor Filme dessa lista, sem nem o que discutir, tão melhor que é vergonhoso pra qualquer pessoa ir pro palco receber esse prêmio.
O irlandês
(The Irishman, Martin Scorsese, 2019)
Antes de ver esse filme, sabia apenas três coisas sobre ele: era sobre máfia, tinha o Al Pacino e o De Niro no elenco, e tinha 3h30 de duração.
Após acabar esse filme, tenho a dizer que é literalmente isso.
Em uma espécie de slice of life da máfia, você tem o personagem Frank Sheeran (De Niro), o irlandês do título, num asilo contando pra câmera suas peripécias quando mais novo. O filme não tem uma história principal, mas sim vários contos interligados pela presença dos mesmos personagens. Por mais de 3h, você navega pela narração e extrema falta de personalidade do personagem principal enquanto é apresentado a outros personagens e as brigas internas da máfia americana.
A impressão que tive desse filme é que não é um filme, mas sim uma série que não acabou. Scorsese estava em dúvida se devia fazer uma série ou em um filme, ficou com preguiça de filmar os últimos três episódios, pegou o material que já tinha gravado e transformou em um filme de 3h30 que não tem muito ponto de existir além de que foi filmado.
Sei que mencionei o tamanho aqui algumas vezes, mas o motivo pra isso não é apenas que acho um abuso qualquer filme ter mais de 3h de duração, mas é ainda pior um filme ter mais de 3h de duração e ainda assim não desenvolver pontos importantes da narrativa – o quê, faltou tempo de mostrar o relacionamento do De Niro com a filha, já que decidiu usar como ponto-chave nos momentos finais?? Quase 4h e não tinha como explorar esse relacionamento? Colocar uma mulher em cena por mais de 2 minutos ia corroer seu filme?
O irlandês é uma boa primeira temporada de série, sem os últimos dois episódios. Como filme? Se você gosta muito do De Niro e do Alpacino, vai passar 15% do seu dia se divertindo. Do contrário, tem Ilha do Medo no Amazon Prime se quiser um filme coeso do mesmo diretor.
Indicações: Melhor Filme, Melhor Diretor (Scorsese), Melhor Ator Coadjuvante (Al Pacino, Joe Pesci), Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Direção de Arte, Melhor Fotografia, Melhor Edição, Melhor Efeitos Visuais
Pode levar: Ator Coadjuvante pro Al Pacino é sempre uma opção; não costumo opinar em prêmios técnicos, mas fora isso não vejo levando Melhor Filme/Diretor. Honestamente, indicar Scorsese para melhor diretor parece ter sido feito mais por inércia do que por qualquer outra coisa.
Adoráveis mulheres
(Little women. Greta Gerwig, 2019)
Nunca li o livro, então não tenho o que dizer sobre sua adaptação. No entanto, um dos grandes problemas quando se adapta uma obra clássica pro cinema está na quantidade enorme de cartas presentes na história – elas precisam ser mantidas pra narrativa fazer sentido, mas é muito difícil transpor para um meio visual algo tão estático quanto uma carta. Nesse filme, a escolha foi deixar o personagem que escreveu a carta em pé, olhando pra câmera e declamando o conteúdo do texto. Algo que, confesso, desgostei e muito.
A escolha da edição de ir e voltar no tempo foi mais desnecessária do que qualquer outra coisa, e não acrescentou nada a uma história que já não é nada demais. Meryl Streep aparece algumas vezes e nos abençoa com algumas risadas, e o filme é fofo o suficiente para ser divertido – mesmo sendo mais um filme de sofrência feminina e branca da Saoirse Ronan, que logo mais vai ser incapaz de atuar em qualquer outro papel.
Não deve ganhar nada importante, mas é bem menos exaustivo do que a grande maioria nessa lista, e ao menos me deu um descanso do desfile sem fim de homens sendo machos na minha televisão.
Indicações: Melhor Filme, Melhor Atriz (Saorise Ronan), Melhor Atriz Coadjuvante (Florence Pugh), Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Trilha Sonora, Melhor Figurino
Poderia levar: Florence Pugh é a melhor coisa desse filme como Amy, mas ainda prefiro Laura Dern (História de um casamento) ou mesmo Scarlett Johansson (Jojo rabbit) para esse prêmio. Filme de época sempre tem chance de levar Melhor Figurino, e filme adaptado de clássico da literatura também pode levar Melhor Roteiro Adaptado (embora continue preferindo Jojo rabbit pra esse prêmio).
Jojo rabbit
(Taika Waititi, 2019)
Fora Parasita, o único filme dessa lista que realmente gostei. Um encanto de filme, contando a história de uma criança de 10 anos, Johannes Jojo (Roman Griffin Davis), que vive na Alemanha nazista, se diz apoiador da causa e tem como amigo imaginário nada menos do que sua interpretação infantil do Hitler (Taika Waititi). Comédia em seu início, nos apresenta a visão infantil dos absurdos da guerra e do perigo da repetição contínua de conceitos sem análise ou raciocínio, o filme gradualmente deixa seu lado mais comédia de lado e volta-se para a realidade mais crua da guerra, representando pela perda da inocência do protagonista quando confrontando com os efeitos reais do conflito que sua imaginação não é mais capaz de mascarar.
Um belo filme, divertido sem nunca chegar a ser desrespeitoso, alcançando um equilíbrio leve em um assunto complicado e trazendo uma perspectiva nova sobre um tema tão batido quanto o nazismo. Outra surpresa desse filme é a personagem da Scarlett Johansson (que atua como a mãe), que não só tem uma personalidade (!) como é engraçada (!!) e honestamente nunca soube que a Scarjo era capaz de algo assim – a diferença que um personagem bem escrito não faz, não é mesmo. Nunca escondi que não sou a maior fã do mundo dela, mas sua presença nesse filme está ótima e se ganhar Melhor Atriz Coadjuvante, não será um problema.
Recomendo Jojo rabbit com uma ressalva: pode começar como uma comédia mas é, em sua essência, um filme dos horrores do nazismo, e seu tom leve inicial esmaece com o seu desenvolvimento. Se está procurando apenas uma comédia engraçada sobre Hitler, recomendo Primavera para Hitler (de 1968); do contrário, Jojo rabbit vale muito a pena.
Indicações: Melhor Filme, Melhor Atriz Coadjuvante (Scarlett Johansson), Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Direção de Arte, Melhor Figurino, Melhor Edição
Pode levar: Melhor Atriz Coadjuvante (Scarlett Johansson), que está com duas indicações essa noite (uma para Melhor Atriz também) e imagino o quanto não deve ser triste você ter duas indicações na noite e sair sem nada?
Deve levar: Melhor Roteiro Adaptado é de Jojo rabbit e só não vê quem não quer. Absolutamente genial e não existe motivo algum para Taika não sair com o Oscar na mão no domingo.
História de um casamento
(Marriage story. Noah Baumbach, 2019)
Quero que feche os olhos e tente imaginar um filme feito direto para TV sobre um casal no meio de um divórcio. Quero que pense nas escolhas mais clichês do mundo (cortes de cenas com fade to black, simbolismo forçado e nada de sutileza) com atores que não inspirem uma gota de simpatia. Imaginou? História de um casamento é pior.
Não sei quem chupou quem para esse filme entrar nessa lista, porque não estamos falando apenas de uma história genérica clichê branca e heterossexual ao extremo, mas é também um dos filmes mais mal dirigidos que já vi nos últimos tempos. A grande maioria dos diretores atuais é genérica, e posso não elogiar ninguém, mas dificilmente é problemático – isso aqui, com a quantidade de cenas simbólicas (o casal fechando o portão, um de cada lado, a câmera lenta enquanto se encaram até o portão da garagem finalmente fechar e não conseguirem mais ver o rosto um do outro, como metáfora pela separação do casamento?? Sério?? In front of my salad???) forçadas e a escolha de usar fade to black como fechamento de todas as cenas consideradas importantes pra narrativa? Isso aqui se chama amadorismo, o que nem é o caso porque o diretor atua desde 1995. Então vou chamar apenas de incompetência.
O fato de que tanto a Scarlett Johansson quanto o Adam Driver estão indicados como Melhor Ator/Atriz é só mais um tapa na cara de que ninguém de Parasita recebeu essa honra – os dois são tão críveis como seres humanos reais como qualquer personagem de "Twilight". A cena principal, da briga entre os dois (que o twitter fez o favor de transformar em um meme)? Atroz. Absolutamente ridícula e hilária. Talvez você precise ser muito mais branco e hétero do que eu jamais vou ser para apreciar esse filme. Talvez o pessoal precise de mais contato com filmes melhores. Talvez rezar para ter Jesus no coração ajude na causa.
Não tenho nada de positivo a dizer aqui. Absolutamente nada. Ok, Laura Dern como a advogada de divórcio da Scarlett Johansson é um ponto de luz na escuridão total que foi esse filme. Fora isso?
Para você ter uma noção, temos uma cena inteira de Adam Driver tentando (e falhando) cantar Broadway e essa cena nem é top 10 piores cenas do filme.
Um minuto de silêncio pela morte real da qualidade cinematográfica e pela vitória das conexões dentro da indústria. Da próxima vez, Netflix, escolhe um filme menos ruim para forçar na nossa vida, pode ser?
Indicações: Melhor Filme, Melhor Ator (Adam Driver), Melhor Atriz (Scarlett Johansson), Melhor Atriz Coadjuvante (Laura Dern), Melhor Roteiro Original, Melhor Trilha Sonora
Deve levar: Me recuso a entreter sequer a possibilidade disso aqui ganhar qualquer coisa além de talvez Melhor Atriz Coadjuvante para Laura Dern. O fato de que isso foi indicado pra Melhor Roteiro Original me faz acreditar que ninguém na Academia saiu de casa nos últimos 20 anos.