Porque se o José Wilker pode, eu também posso.

domingo, 28 de fevereiro de 2016

Oscar 2016

E mais um ano chega, mais um horário de verão termina, e mais um Oscar é transmitido com tradução simultânea na TNT. Cada vez mais, o Oscar tá ali porque acontece todo ano e ninguém liga muito – é tipo aquele caminho que você faz quando dirige da casa pro trabalho. Liga o piloto automático e só vai. É tipo o “Altas Horas”, programa mais esquecível do mundo que ainda existe na programação da TV. É tipo aquele doce de gelatina que sua tia faz e ninguém gosta muito mas ainda assim tem em todo churrasco de domingo, e como está em cima da mesa mesmo você acaba comendo.

A única diferença deste Oscar para o dos últimos anos foi apenas uma: todos os filmes foram super fáceis de achar no PirateBay. O que já faz dele um Oscar melhor do que o de 2013, por exemplo. 

Sem mais delongas, os indicados a Melhor Filme deste ano na ordem que aparecem no site oficial:

A Grande Aposta

(The Big Short. Adam McKay, 2015)

Aí me chamaram pra ver esse filme no cinema. Sobre o que é, quis saber. “Sobre a quebra do sistema de hipotecas americano”.
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Sem surpresas que não estava exatamente querendo assistir, né?
A Grande Aposta foi uma grata surpresa não só por (a) não ser a coisa mais chata do mundo (é bem entretente, na verdade) e (b) ser capaz de explicar economia ao menos superficialmente para que eu acompanhasse a narrativa, mas por (c) usar o meio cinematográfico para contar uma história.
Isso é algo que vem me incomodando faz um tempo, e só me toquei o quanto no meio da minha maratona Oscar: cada vez menos filmes estão usando as possibilidades visuais e criativas do cinema pra contar uma história. Explico: um filme é um meio visual, diferente de um livro (ou um roteiro) que é um meio escrito. Sim, sei que isso é óbvio e até o Lula admite saber essa diferença, mas por conta disto, um filme deveria ser mais do que apenas um roteiro televisionado. Ele deveria aproveitar a composição de cena, a edição, a trilha sonora, a computação gráfica, o caralho a quatro disponível no meio tridimensional e enriquecer e alterar a maneira como a narrativa é passada.
A Grande Aposta usa e abusa do fato de ser um filme, introduzindo cenas e cortes e edições que um livro não seria capaz de fazer com a mesma eficácia. Isso está cada vez mais raro de tal forma, que seriamente gostaria que levasse o prêmio de melhor filme. No mais, é uma ótima escolha dessa lista e recomendo mesmo se você, como eu, nunca conseguiu entender economia.
Indicações: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator Coadjuvante (Christian Bale), Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Edição
Deve levar: Melhor Roteiro Adaptado, a não ser que perca para O quarto de Jack. Eu gostaria, de verdade, que levasse Melhor Filme, mas esse deve ser O Regresso mesmo. Melhor Edição deve ser dele tb.


Ponte dos Espiões 


(Bridge of Spies. Steven Spielberg, 2015)

                Esse é um filme do Spielberg. Com o Tom Hanks. Sobre um homem de princípios e a guerra fria.
                Podia parar a descrição por aqui, porque você já sabe o resto.
                Tom Hanks segura o filme sozinho só por ser Tom Hanks, interpretando um advogado que defende um espião russo acusado de traição em plena guerra fria nos EUA. O filme é baseado em fatos reais (que é outro problema que eu tenho com a ficção atual, mas posso reclamar disso outra hora) e é beeeem direção e roteiro “siga os pontos” – tudo como deve ser, sem nunca fugir do tradicional e honrando a moral e os bons costumes. É ruim? Não. É bom? Olha, não é ruim.
                Honestamente? Se alguém lembrar desse filme em 5 anos, vou ficar surpresa. Está indicado pra cumprir tabela, e vai ganhar nada além do direito de colocar “Indicado a Melhor Filme” no Oscar na capa do DVD.
Indicações: Melhor Filme, Melhor Ator Coajuvante (Mark Rylance), Melhor Roteiro Original, Melhor Direção de Arte, Melhor Mixagem de Som
Deve levar: Minha aposta? Nada. Sempre existe a chance de Melhor Roteiro Original, mas prefiro ter fé na humanidade e apostar em Straight Outta Compton ou Divertida Mente.

Brooklyn



(Brooklyn. John Crowley, 2015)

                Também conhecido como Sofrência branca: o filme.
                Brooklyn é a história de uma imigrante irlandesa (Saoirse Ronan) que muda pros EUA pra ter uma vida melhor. E é isso. Juro. É isso. O filme se resume em uma frase. E tem mais de duas horas. Sabe o que eu podia ter feito nessas duas horas?? Podia ter reassistido 4 episódios de Parks & Rec. Você me deve 4 episódios, filme.
                Ouvi pessoas amando esse filme. Ouvi pessoas dizendo que a XXX vai levar o Oscar de melhor atriz. E para essas pessoas eu pergunto: quem machucou vocês? Porque considerar as desventuras da Moça Branca (que nem existem, porque ela sai da Irlanda com lugar pra morar e trabalho e acha um macho logo em seguida, então, oi?) enquanto nada acontece na vida normal dela como qualquer coisa além de perda de tempo e energia vai além da minha capacidade de compreensão.
                E não tenho nada contra a Ronan. Acho inclusive que ela fez um trabalho decente considerando a personagem sem personalidade (sei que ela é irlandesa, e que é tímida e... e... e...). Mas o problema dela é a falta de carisma. Como já disse (e repito todos os anos), talento e carismas não necessariamente vão juntos, e você segurar um filme que é basicamente você não é pra qualquer um. Matt Damon consegue em Perdido em Marte. Tom Hanks consegue em Jogo de espiões. James Franco não conseguiu em 127 horas e Saoirse Ronan definitivamente não consegue em Brooklyn.
                E, finalmente, só tenho a dizer que um filme que termina com freeze frame em 2016 não merece o ar que respira.
Indicações: Melhor Filme, Melhotr Atriz Principal (Saoirse Ronan), Melhor Roteiro Adaptado
Deve levar: existe uma chance real de levar Melhor Atriz Principal, mas minha torcida vai pra Brie Larson até o fim (ou pra Cate Diva Blanchett em Carol, que não vi, não particularmente pretendo ver, mas meu amor pela Cate é assim, incondicional).
Merecia levar: um tapa na cara pra ver se encontra Jesus
               

Mad Max: Estrada da Fúria

(Mad Max: Fury Road. George Miller, 2015)

                Quando vi a lista de indicações, dois filmes me surpreenderam. Mad Max foi um deles. A Academia indicar para o prêmio máximo um filme de ação futurista com quase nenhum diálogo e perseguição a cada quatro trocas de cenas? Pouca importa se o filme é válido ou não, só a indicação já abre precendente para um futuro menos esnobe (esperamos).
                Especialmente curto que Mad Max foi indicado e oscar baits óbvios ficaram de fora dessa lista (olhando pra você, Garota dinamarquesa).
                Sobre o filme: gostei. Bem mais do que esperava. O primeiro Mad Max é um dos filmes mais chatos que já vi, em que nada acontece por mais de uma hora (sei porque apostei com o meu irmão quando alguma coisa ia finalmente acontecer no filme. Meu palpite foi 1h15min e eu ganhei) então estava meio cética em relação a este. Mas de similar os dois têm apenas o nome e a ambientação.
                Muito bem editado e atuado (Tom Hardy é meu pastor e nada me faltará), Mad Max é um filme que consegue criar um ambiente novo e surreal que é mostrado pelo visual e por detalhes, e não por diálogos e exposição. É um filme-filme e não um filme-livro. E tem todo o meu amor e respeito por isso.
                Claro que não vai ganhar Melhor Filme. Ninguém realmente sonha. Mas sua indicação é um ótimo sinal pro futuro, deve ganhar vários (se não todos) prêmios técnicos e tomara que a inevitável continuação seja tão boa quanto. E tenha o Tom Hardy. Amén.
Indicações: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Cinematografia, Melhor Edição, Melhor Direção de Arte, Melhor Figurino, Melhor Maquiagem, Melhor Efeito Visual, Melhor Mixagem de Som, Melhor Edição de Som
Deve levar: todos os prêmios técnicos do universo. Pense Senhor dos Aneis no passado.


Perdido em Marte


(The Martian. Ridley Scott, 2015)

                Esse foi a minha segunda surpresa. Porque Perdido em Marte é uma comédia, e comédia não são indicadas a não ser que sejam dirigidas pelo Woody Allen. Ridley Scott é um diretor reconhecido, claro, mas ainda assim: comédia. Comédia com ficção científica e um certo drama no espaço, mas não deixa de ser um filme com mais humor do que drama.
                De qualquer forma, é outro bom sinal, assim como Mad Max, para a possibilidade de um futuro com filmes diferentes indicados, e não apenas mais do mesmo dramalhão com filtro azul de duas horas com um protagonista sofrendo.
                Matt Damon está indicado como melhor ator (o que muito me surpreende quando XXX de O quarto de Jack não foi, mas beleza) e ele faz, como normalmente, um ótimo trabalho. O filme é basicamente ele sendo maravilhoso em Marte e é isso. É entretente, é divertido, ótimos efeitos, não posso opinar sobre a ciência da coisa como sei nada sobre o espaço, mas ouvi falar que estava ok.
                Embora tenha gostado, ainda assim tive dois grandes problemas com esse filme: 1) som. Galera, sei que Inception foi um puta filme, ainda amo mais do que muita gente na minha vida, mas precisa colocar aquele “PAM” de música de suspense a cada 5 segundos em uma cena? Certas influências devem morrer, porque isso é irritante pra caramba; 2) o filme chama de Perdido em Marte, vi no trailer que ele está perdido em Marte criando plantas, todos sabe que o filme tem mais de duas horas então é claro que ele não vai morrer nos primeiros 15minutos. Filmes podiam parar de tentar criar tensões óbvias e só seguir com a vida – pula pra próxima cena que ninguém vai morrer, caralho.
                Fora isso, bom filme. Não deve levar nada, claro, exceto talvez algum prêmio técnico. Mas válido. Pessoalmente, acho que Divertida Mente deveria ter sido indicado a Melhor Filme mais do que esse, mas o que um bom lobby e o nome do diretor não faz, não é mesmo?
Indicações: Melhor Filme, Melhor Ator Principal (Matt Damon), Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Efeito Visual, Melhor Direção de Arte, Melhor Mixagem de Som, Melhor Edição de Som
Deve levar: Sempre existe a chance de algum técnico (sou bem ruim em adivinhar técnicos, sempre fui), mas ainda acho que Mad Max tem mais chance nessa parte.

O Regresso

(The Revenant. Alejando Iñárritu, 2015)

                Unpopular opinion time: Leonardo diCaprio não merece o Oscar que vai ganhar por esse filme.
                Ele merece um Oscar? Sem a menor dúvida. Jamais me conformarei que não ganhou um por Revolutionary Road (e nem indicação, pq a Academia decidiu que indicar por Diamente de Sangue era melhor? Babacas). Ele é um ótimo ator injustiçado a um ponto que virou piada? Claramente. Essa é a melhor atuação do ano e portando merecia ser premiada? Não. Desculpa, mas não.
                Tudo o que o diCaprio faz nesse filme é grunhir e não morrer. Quero nem saber o desconforto que o ator sofreu, ou que ele dormiu numa carcaça de animal e pegou pneumonia e quase morreu. Isso pouco importa (é tipo quando você assiste, sei lá, The Voice e a pessoa fica “ai, mas eu larguei tudo para estar aqui, emprego/família/escola, só tenho essa chance!” – ninguém mandou, se não cantar bem vai ficar sem emprego/família/escola pra largar de ser besta). O que importa, por exemplo, é que Tom Hardy está melhor do que diCaprio nesse filme (o fato de que ele vai perder o Oscar pro Rocky me machuca profundamente pq Tom Hardy é vida) e ninguém nem fala dele pq o momentum Oscar é todo diCaprio. Ele vai ganhar, claramente, e em geral ele merece ter um Oscar no currículo. Uma pena que venha por esse filme.
                Que não gostei, inclusive. Em geral, curto o Iñárritu. Birdman foi um dos meus favoritos anos passado. Esse filme é a definição maior de “trying too hard” – a pessoa DORMIU NUMA CARCAÇA, galera. Se isso não é forçar demais a barra, não sei o que é.
                Achei o filme longo, desnecessário, monótono, azul e um pouco óbvio demais com certos comentários sobre direitos dos índios americanos (o que não seria um problema em si se a edição do filme não tentasse muito ser artística com composições de imagens metafóricas de sonho. Ou você brinca de metáfora ou você brinca de comentário escancarado. Os dois? Fode o tom do seu filme). De positivo tenho a dizer: Tom Hardy (can I get an Amen?) e o fato de que os índios não falam inglês.
Indicações: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator (Leonardo diCaprio), Melhor Ator Coajuvante (Tom Hardy), Melhor Cinematografia, Melhor Direção de Arte, Melhor Maquiagem, Melhor Efeito Visual, Melhor Edição de Som, Melhor Mixagem de Som, Melhor Edição, Melhor Figurino
Deve levar: Melhor Ator Principal. Gostaria muito de Melhor Ator Coadjuvante. Pessoalmente, não queria bem Melhor Filme nem Melhor Diretor, mas né? Um dos dois deve levar (se não os dois). Num mundo ideal, levaria Melhor Diretor e perderia Melhor Filme para A Grande Aposta. 
Deve melhor Melhor Cinematografia pq "ai meu Deus, filmado com luz natural!!!!". Sem desmerecer esse feito, por quê? Só porque você pode não quer dizer que deveria, pq a iluminação desse filme cansa demais os olhos. 

O quarto de Jack


(Room. Lenny Abrahamson, 2015)

                Vamos falar de coisa séria agora: o que é a atuação dessa criança, e como ela não foi indicada? Pelo amor de Deus, galera, prestenção.
                The Room é o meu favorito dessa lista, de longe. Lindo filme, fotografia fantástica, ótima história, atuação impressionante tanto da Brie Larson (a mãe) quanto do Jacob Tremblay (o Jack do título) e se você precisar ver apenas um filme da lista dos melhores desse ano, faça um favor a si mesmo e escolha esse.
Tudo o que sabia quando comecei a assistir é que uma mãe e um filho moravam num quarto pequeno pq sim. Não quero contar mais detalhes caso você queira ver esse filme e prefira assistir sem preparação (como eu fiz, e foi uma excelente escolha). Só tenho a dizer que é amor, e que se todas as indicações fossem nesse nível, não teria mais do que reclamar.
Indicações: Melhor Filme, Melhor Atriz Principal (Brie Larson), Melhor Diretor, Melhor Roteiro Adaptado
Deve levar: se existe justiça nesse mundo, Melhor Atriz Principal. Se existisse justiça nesse mundo, Jacob Tremblaylevaria Melhor Ator Principal, mas acho que o mundo não tinha mais condições de não dar esse prêmio pro diCaprio, então nem indicação ele levou.

Spotlight


(Spotlight. Tom McCarthy, 2015)

                Spotlight conta a história de um grupo de jornalistas que descobre o escândalo de padres pedófilos na igreja católica. Ponto final.
                Filmes que são perfeitamente resumidos em uma frase, em geral, não são bons filmes. Filmes baseados em fatos reais que são perfeitamente resumidos em uma frase quase nunca são bons filmes. Ainda mais quando seguem a fórmula de narração ainda presa a uma estrutura escrita e ficam ainda mais tradicionais e sem graça. 
                A história desse filme é interessante. O livro dessa história seria ótimo. O filme em si? É ok. Não é ofensivo, tem atores bons, Mark Ruffalo é sempre uma graça, mas... bleh. O filme como ferramenta narrativa visual foi tão mal utilizado que seria engraçado se não fosse tão comum. O fato desse filme estar indicado para Melhor Diretor e Melhor Edição é um tapa na cara da sociedade.
Indicações: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator Coadjuvante (Mark Ruffalo), Melhor Atriz Coadjuvante (Rachael McAddams), Melhor Roteiro Original, Melhor Edição
Deve levar:  risos ao fundo
Tá, mentira. Pode levar Melhor Roteiro Original.