Porque se o José Wilker pode, eu também posso.

sábado, 30 de abril de 2011

A garota da capa vermelha

(Red Riding Hood. Catherine Hardwicke, 2011)


A Garota Da Capa Vermelha

Ou

Seus Sonhos Se Realizaram: Twilight Finalmente Deu Cria Cinematográfica



“A garota da capa vermelha”, como o cartaz e o trailer e praticamente qualquer material de divulgação desse filme vai te avisar, foi dirigido pela diretora do primeiro Twilight. Como se você não fosse ser capaz de descobrir essa sozinho. E é bem mais do que o fato de que qualquer filme adolescente lançado nesse momento teria, forçosamente, uma pitada de Twilight. Praticamente, o que a gente tem em “A garota da capa vermelha” é uma protagonista que narra a história em primeira pessoa, mora em uma pequena vila-medieval-não-identificada-no-tempo-e-espaço, e está dividida entra dois homens. Um usa preto, é mais rebelde e sexy. O outro é delicado e se preocupa com o bem-estar e a felicidade da mocinha antes de qualquer outra coisa. Eles não estão nem mesmo tentando ser sutis aqui, galera.
A única diferença, na verdade, é que o Par Romântico oficial da mocinha nesse filme é o Jacob e não o Edward – na certa tentando capturar a parte da audiência que preferia que a Bella ficasse com o lobisomem.
Se já não fosse ruim o suficiente um filme ser genérico de Twilight, ainda tem o fato dos diálogos serem vergonhosamente rasos. Esse filme não te mostra nada, ele te conta: e te conta uma vez só e é bom você acreditar, já que ngm vai se preocupar em tentar te convencer. Por exemplo, a protagonista ama o Jacob-genérico. Como sabemos? Ela fala. E o Edward-genérico também ama a mocinha. Como sabemos? Simples, ele fala. E eles se odeiam. Óbvio, eles também falam isso. Mostrar romance, brigas e AÇÕES em geral exigiria muito da diretora.
Mais um detalhe: o constante movimento. Deus, o movimento. Quando os atores não estão andando a esmo pelos cenários, a câmera está andando a esmo pelo cenário. Isso quando as duas coisas não acontecem ao mesmo tempo. É como se o filme tivesse medo da gente reparar no rip-off absurdo e monótono que estávamos vendo se ficasse parado por tempo suficiente.

[E não, não vou contar que é o lobo]



Cena: meu Deus do céu, alguém para essa narração voice-over, por td o que é mais sagrado

NARRAÇÃO VOICE-OVER DA PROTAGONISTA GENÉRICA
Então, essa é a minha terra. Que parece um daqueles globos que vende nos aeroportos, que qdo agita sai flocos de neve. Só que com castelos. De qualquer forma, moro numa vila genérica com ares medieval, onde todo mundo parece ter saído de uma comic-con. Não fica em nenhum país, ou em nenhum momento do tempo. É um reino mágico com flores e neves e onde pessoas podem usar um simples vestido fino o dia todo e não congelar. Só temos um pequeno problema: um lobo que nos ataca há 20 anos. Mais isso não me afeta particularmente, pq sou uma adolescente bonita e feliz e tenho um amor de infância: Jacob-Genérico.

JACOB-GENÉRICO
(que é cortador de lenha)
Não sabe que sua mãe prometeu sua mão em casamento pro Edward-Genérico?

PROTAGONISTA GENÉRICA
(com cara de surpresa. Sério que seu namorado sabe disso e vc não??)
Então ela conseguiu o que queria. Dinheiro.

JACOB-GENÉRICO
(textual)
E ele conseguiu o que sempre quis. Você.

PROTAGONISTA GENÉRICA
(alguma coisa assim)
Mas é você que eu quero.

[Eles tem uma cena romântica, em que rolam em cima de folhas e prometem fugir juntos na primeira oportunidade. Mas essa exposição de roteiro sutil é interrompida pelo desenvolvimento da narrativa.]

ALGUÉM NÃO IMPORTANTE
O lobo! O lobo atacou!

[E quem o lobo matou? A irmã da nossa Protagonista. É claro que você não ia saber que ela tinha sido morta por um lobo sem que te contassem, já que ela nem está destroçada ou algo assim. Na verdade, tem só um pouco de sangue em volta da cabeça dela e é só.
Lobisomem muito, muito fraco.]


Cena: todos de luto na casa da protagonista

MÃE DA PROTAGONISTA QUE PARECE A JOELMA DO CALYPSO
(que tem o melhor botox medieval de todos os tempos)
Oh, estou tão triste!

AMIGAS DA PROTAGONISTA
Nós também! Não entendemos como o lobo não cumpriu sua parte do pacto. Sempre sacrificamos animais pra ele, e assim somos deixados em paz... Ah, e vamos mencionar que a morta tinha uma queda pelo Edward-Genérico e não deve ter ficado muito feliz ao saber que sua irmã caçula ia se casar com ele.

PAI DA PROTAGONISTA
(bebe)

PROTAGONISTA
(se sente culpada)

[No meio da choradeira – mentira, não tem lágrimas em momento algum, mas você imagina que elas existiriam se tivessem comprado cristal japonês na produção desse filme – Jacob-Genérico aparece para dar seus pêsames, mas é bloqueado pela Mãe Da Protagonista.]

MÃE DA PROTAGONISTA
O que pensa que está fazendo aqui? Minha filha vai se casar com outro e ter uma vida melhor do que teria com você. É um mísero lenhador (tudo bem que o outro é um ferreiro, então não vejo um avanço tão grande na escalada social da minha filha, mas beleza). Você não é bom o suficiente. Está bom de clichê ou quer que eu solte mais alguns?

JACOB-GENÉRICO
Estou imediatamente convencido de que você está certa, e vou deixá-la ser livre.


Cena: o povo dessa vila-qualquer não são lá muito esperto

PAI DA PROTAGONISTA
(bebe no bar que parece uma versão mais medieval daquele da Bela e a Fera)

PAI DO EDWARD-GENÉRICO
Temos que matar a fera.

BANDO DE GENTE QUE SEMPRE FICA NO BAR DAS VILAS ANTIGAS
Aeeeeeeeeh! Bora matar a fera!

PADRE DA VILA
Mas já mandei chamar o Especialista Em Lobisomens, é só esperar. Sem contar que, segundo a lenda narrada em voice-over há algumas cenas, o lobo não pode entrar em solo sagrado e só ataca de noite. O que quer dizer que vocês deveriam esperar o amanhecer do dia seguinte, e não ir atacar o bicho hj a noite. Questão de segurança e tals.

EDWARD-GENÉRICO
Concordo com o Padre.

PAI DO EDWAR-GENÉRICO
(textual, dando uma caneca de álcool pro filho)
Cadê a sua coragem?

EDWARD-GENÉRICO
Estou imediatamente convencido. Vamos caçar a fera!

[Enquanto, no lugar pouco suspeito também conhecido como meio da rua]

PROTAGONISTA-GENÉRICA
(pro amor da sua vida)
Tenha cuidado!

JACOB-GENÉRICO
Não podemos fazer mais isso. Estou cansado de você. Era tudo uma mentira. Nem te quero mais. Podia continuar, mas meu papel misterioso não permite que fale mais de cinco frases em sequência direta, logo...

PROTAGONISTA-GENÉRICA
Oh, não! Agora tenho que ir pra floresta e me enrolar em posição fetal no chão, enquanto choro pelo fato de não ter mais uma presença masculina na minha vida... droga, filme errado.

[Aí todo mundo pega tochas e decide ir atrás da fera. Quase dá pra ouvir o coro de “vamos matar” da Bela e a Fera. Protagonista segue o bando pela floresta até a casa da sua Avó Bizarra – pelo que entendi sem contar pra mãe o que pretendia. Legal de abandonar o enterro da irmã e sumir sem avisar seus pais. Nem vão ficar preocupados, tenho certeza.
Todas as cenas com a Avó Bizarra são desnecessárias e cansativas. Sua única serventia é dar a capa vermelha pra moça e servir como Supeito De Ser O Lobo Nº 32.]


Cena: a caverna onde o lobo mora. De noite.

GRUPO DE PESSOAS COM TOCHAS NA MÃO
Esse é o lugar. Vamos todos matá-lo! Pq será que nunca nem tentamos isso antes? É de imaginar que não gostássemos de morar em uma vila perpetuamente ameaça por uma fera assassina que exige sacrifícios de nossos melhores animais.

[Aí chegam numa bifurcação da caverna e decidem se separar. Tudo bem, ainda ficam umas cinco/seis pessoas em cada grupo. Mas então chegam em outra bifurcação e decidem se separar de novo. Gente, burrice tem limite ou vocês viram o Harry Potter.
Resumo da história: o lobisomem mata o Pai Do Edward-Genérico.]


Cena: chegada do Especialista Em Lobisomens

[Um Velho Idiota matou um lobo qualquer e trouxe a cabeça de volta, convencido que se trata do lobisomem. Todos da cidade comemoram no bar – mesmo que o Pai Do Edward-Genérico tenha morrido e o enterro esteja sendo na mesma hora. Insensível, pessoas. Muito insensível.
Protagonista tb está no bar (sabe-se lá pq, sendo a única XX do ambiente) e quando a Mãe Do Edward-Genérico, agora viúva, passa do lado de fora, lança um olhar q acho deveria ser sinistro pra mocinha. Não se preocupe, no entanto. Não é relevante e nunca será explicado.]

MÃE DA PROTAGONISTA QUE PARECE A JOELMA
(chora desconsolada em cima do corpo do Pai Do Edward-Genérico)

PROTAGONISTA-GENÉRICA
(vê a cena e automaticamente chega a uma conclusão – acho q pode ser considerado spoiler)
Ele é o seu amor do passado! Sabe, aquele que você teve e nunca foi mencionado antes!

MÃE DA PROTAGONISTA QUE PARECE A JOELMA
Vou imediatamente te contar tudo, já que não se pode chorar por uma pessoa que não tenha compartilhado fluidos corporais com você. É, eu amava ele. E sei que não perguntou, mas sua irmã que morreu era na verdade filha do outro cara.

[Então, do nada, a comitiva do Especialista Em Lobisomens chega – várias caravanas, inclusive um tipo de elefante de metal.
Pausa básica. A vila-não-identificada fica no meio de uma floresta. Como eles passaram um elefante de metal pela floresta?]

EMPREGADOS NEGROS DO ESPECIALISTA EM LOBISOMENS
(abrem a porta da carruagem)
Dêem as boas vindas para o nosso antagonista!

ESPECIALISTA EM LOBISOMENS
Oi galera. Vim matar seu monstro e acabar com essa zona.

FILHAS DO ESPECIALISTA EM LOBISOMENS
(do nada, e de maneira muito, mais muito forçada mesmo)
Pai, pai! Estamos com medo! Sabemos que vai matar mais um monstro – igual ao monstro que matou a nossa mãe, não é mesmo, papai?

ESPECIALISTA EM LOBISOMENS
Claro, querida. (manda elas embora, e nunca mais as vemos.) Então, esse diálogo só foi introduzido pra que eu tivesse uma maneira de contar pra vocês que não foi um lobisomem que matou minha esposa. Ela era um lobisomem e eu a matei!

GALERA REUNIDA PRA VER O ESPECIALISTA CHEGAR
(engasga)

VELHO IDIOTA
Larga de ser besta. Matei o lobo. Olha a cabeça dele aqui.

ESPECIALISTA EM LOBISOMENS
Esse é um lobo comum. O lobisomem é uma pessoa que vira um lobo, e deve ser um de vocês.
(pausa)
Sério, vocês SABEM que o lobisomem não pisa em solo sagrado e só aparece de noite, mas não sabem que ele é uma pessoa que vira lobo? De onde vocês tiram essas informações?
Ah, e estamos no período da lua de sangue, que acontece de 13 em 13 anos e é a única época em que um lobisomem pode transformar outra pessoa em lobisomem, através da mordida.


Cena: festa mais drogada do mundo e quando o filme se transforma de chatinho-suportável pra eles-estão-falando-sério-comigo?

[Todo mundo bebe, dança, usa drogas, dança mais um pouco, toca Bjork (acho), a galera rola no chão, tudo muito alucinógeno e desconfortável. Ah, e câmera, claro, nunca para.]

JACOB-GENÉRICO
(dança se esfregando com uma Piriguete Qualquer)

PROTAGONISTA-GENÉRICA
Ah, isso não vai ficar assim.

(puxa sua Amiga Estranha e começa a dançar com ela. Hm. Era pra ser uma cena homo-erótica? Pq se você quer fazer ciúmes no cara, não é mais fácil usar seu noivo?
De qualquer forma, eles têm uma conversa definitiva mais tarde:)

PROTAGONISTA-GENÉRICA
Sabe que te amo. E sei que sente o mesmo. Não dê ouvidos pra minha mãe.

JACOB-GENÉRICO
Estou automaticamente convencido de que devemos ficar juntos.
Que tal dar uns amassos no feno?

[De repente, e não mais do que de repente, o lobisomem aparece e mata geral.]

GRUPO DE MENINAS NA MINHA FRENTE NO CINEMA
(grita)

O RESTO DO CINEMA
(ri do grito)

[O lobisomem encurrala nossa Protagonista e sua Amiga Estranha, e... começa a falar.
Sério mesmo. O lobisomem fala. Claro que só a Protagonista entende, mas mesmo assim.
O LOBISOMEM FALA, GENTE. QUE TIPO DE FILME É ESSE?]

LOBISOMEM FALANTE
Protagonista, venha comigo. Se não for, vou continuar matando as pessoas. Só Deus sabe pq não te coloco nas minhas costas e saio correndo, mas tudo bem...

O RESTO DO CINEMA
(ri do lobisomem falando.
Sério, não é possível que acharam essa uma boa ideia.)

PROTAGONISTA-GENÉRICO
Não posso ir com você. É um assassino!

LOBISOMEM FALANTE
Lembra de quando matou um coelho quando era criança? (e que é uma cena que aconteceu quando estava na companhia do Jacob-Genérico, fazendo dele o Suspeito De Ser O Lobo N°1.)

PROTAGONISTA-GENÉRICA
Mano, um coelho. Tá, foi mancada, mas você acabou de estraçalhar uns seis figurantes.

LOBISOMEM FALANTE
Que seja. Decide logo se vai comigo, ou as ruas vão ficar pintadas de vermelho ou algo igualmente brega e batido. Até mais.


Cena: hm... okay, então. Juro que vou parar de pedir pra galera dessa vila racionalizar.

[O Especialista Em Lobisomens decide prender o irmão da Amiga Estranha, já que ele é deficiente mental, logo se comunica com o diabo, e logo sabe da identidade do lobisomem. Lógica é uma coisa linda, não e mesmo?
De qualquer forma, a Amiga Estranha decide trocar a informação de que a mocinha é uma bruxa pela liberdade do irmão.]

AMIGA ESTRANHA
Ela é mais rápida do que o resto de nós. E mais bonita. E usa uma capa vermelha, da cor do diabo. Ah, e ela também é capaz de falar com o lobisomem.

GALERA DA CIDADE
Estamos imediatamente convencidos que ela é uma bruxa. Burn the witch!

ESPECIALISTA EM LOBISOMENS
O que a fera quis com você? Sim, pq eu tb estou imediatamente convencido que você pode falar com um lobisomem, pq não tem nada de estranho nisso.

PROTAGONISTA-GENÉRICA
Que eu deveria ir com ele pra isso acabar.

ESPECIALISTA EM LOBISOMENS
Fácil, não? É só usá-la como isca e isso tudo termina.

[e fazem isso, colocando uma máscara-da-vergonha na mocinha. A vila inteira está super de boa com isso, sacrificando uma de suas moradoras – uma que todo muno parecia gostar até quatro segundos atrás. Inteligentes e caridosas: os genes devem ser uma coisa nesse lugar.]

JACOB-GENÉRICO
Tenho que salvar o amor da minha vida da morte certa.

EDWARD-GENÉRICO
E eu vou ajudar. Mesmo que a gente se odeio. Já disse antes que te odeio, né?

JACOB-GENÉRICO
Imediatamente aceito sua ajuda, embora tb te odeie. Odeio, odeio, odeio. Uma pena que não consiga atuar esse ódio...

[A partir daí, seria meio impossível continuar a narrativa sem spoilers frequentes, logo...]


Cena: só mais um na lista dos grandes mistérios da ficção: quem matou Laura Palmer? Quem matou Odete Roitman? O que diabos aconteceu no final de “Lost”? “Naruto” um dia vai ter fim? Quem poderá ser o lobisomem?

PROTAGONISTA-GENÉRICA
Sei que é um humano de olhos castanhos. Sei que é alguém próximo de mim. Quem poderá ser? A gente bem que podia dar um close nos olhos de TODO MUNDO que chegar perto de mim até o final do filme, não?

JACOB-GENÉRICO
Se eu for o lobo, imagina o conflito emocional que isso causaria. Sem contar a inutilidade, um vez que a Protagonista já ia fugir comigo desde a primeira cena do filme.

EDWARD-GENÉRICO
Se eu for o lobo... bom, isso quer dizer que matei meu próprio pai. Então seria um filho da puta, não é mesmo? Se pá tenho um complexo de Édipo mal resolvido...

AVÓ BIZARRA
Se eu for o lobo... bom, então matei uma das minhas netas. Certeza que é pq ela era a neta gorda. Gosto mais da Protagonista, que é magra e tals.

PADRE DA VILA
Se eu for o lobo... quem se importa? Mas tenho olhos castanhos.

PIRIGUETE QUALQUER
Se eu for o lobo... mano, não faz sentido. Odeio a protagonista, pq ia querer fugir com ela? Mas que seja, isso não impede o close nos meus olhos castanhos.

MÃE DO EDWARD-GENÉRICO
Se eu for o lobo... matei meu marido? Bom, tenho olhos castanhos e dei aquela encarada assustadora na nossa protagonista no começo do filme. Tudo é possível.

O VERDADEIRO LOBISOMEM
Pois é. O mais legal é que se você presta atenção nas coisas que digo qdo estou na forma de um lobisomem, não faço o menor sentido quando humano. Sei coisas que não deveria saber, ajo de maneira que contradiz meu comportamento nesses últimos 20 anos que morei aqui...
Final depressivo para um filme doloroso.

FIM

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Eu sou o número quatro

(I am number four. D J Caruso, 2011)



Eu Sou O Número Quatro

Ou

Mas... Mas... Mas... Mas... Roteiro, Cadê?



“Eu sou o número 4” é aquele filme que todo mundo viu o trailer e meio que não sabia muito bem o que esperar.Sim, pq até o trailer dessa coisa é confuso. Mas, como tinham explosões em neon azul, toca assistir pq a esperança de ser válido é sempre a última que morre.
Tenho certeza que já vi filme com roteiro (de modo geral) pior do que esse. Agora, com roteiro mais mal explicado... A galera esquece que não é só me dar a premissa básica, você tem que completar com a resposta de algumas perguntas óbvias (como “por que diabos eles estão na Terra?”, só para dar um pequeno exemplo) do contrário o filme inteiro perde o sentido. Não vou nem perder tempo pedindo desenvolvimento de personagem em filme de ação adolescente – claro que seria legal se tivesse algum, mas... sabe... sou realista – mas o mínimo que eles podiam fazer era sentar e só ler o roteiro. Pq se alguém tivesse parado para ler a coisa toda, veria como um geral esse filme não faz o menor sentido.
E não, não acho que é pq vai ter continuação (é, o final é um gancho descarado para um próximo, que acredito que será feito, uma vez que esse filme deu um lucro apreciável) que decidiram deixar pra responder as dúvidas no segundo filme. Acho que eles nem mesmo pensaram nas dúvidas em primeiro lugar.
Tirando o queijo suíço como roteiro, o filme é bem normal-medíocre. Nem mesmo os efeitos especiais são tão impressionantes assim (não são ruins, mas tem coisa bem melhor sendo feita por aí). No fim das contas, você sai da sala do cinema com aquela sensação de que “okay, já vi coisas bem piores, mas que podia ter sido bem melhor, podia”. Sem contar a sua incapacidade de explicar “sobre o que é o filme” quando te perguntam...

[Não sei se pode ser considerado spoiler quando é mais óbvio do que o final das piadas da “Praça é nossa”, mas... por vias das dúvidas, estou avisando]



Cena: prólogo em alguma floresta

[Basicamente: um cara e um adolescente (número 1) dormem em uma cama com mosquiteiros. São atacados por um vulto monstruoso. O cara morre de primeira. O adolescente ainda corre e dá uns pulos pela floresta antes de ser capturado por um alien humanóide com a cabeça tatuada, que acaba matando o dito e o transformando em cinza.]


Cena: alguma praia americana, onde todas as pessoas brancas e magras se reúnem, dançam, bebem e andam de jet-sky por cima de um mar azul

NÚMERO QUATRO
(dá um duplo twist carpado com o jet-sky)

PIRIGUETE DE BIQUINI
Radical. Acho que quero te pegar no mar. Mas só depois que anoitecer, pode ser?

[Eles estão na água, conversando, quando a perna do Número 4 começa a arder e brilhar. Ele afoga e vê, embaixo da água, um rosto de fumaça que diz algo do tipo “logo será a sua vez” ou “sinta o que está por vir”. Bem Mufasa da parte do roteiro. E completamente irrelevante.]

PIRIGUETE DE BIQUINI
Ai meu Deus, está saindo luz da perna dele! Aberração! Fujam pras colinas.

NÚMERO QUATRO
(se arrasta até a orla, e aparentemente é deixado lá por todos seus amigos, já que o dia amanhece e ele ainda está largado no chão).


Cena: em que os “hãn?” começam

MENTOR MAIS VELHO QUE VAI ACABAR MORRENDO PARA SERVIR DE MOTIVAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO PESSOAL DO HERÓI (ou só Mentor)
(surgindo do nada com uma espada na mão)
O número três está morto.

NÚMERO QUATRO
É, eu sei. Esqueceu que aparecem esses símbolos bizarros na minha perna, tipo queimadura de gado, quando mais um de nós morre? Agora tenho três.

MENTOR
Temos que ir embora.
(tacam fogo nos pertences pessoais e entram no carro. A câmera dá um zoom e acompanha por vários segundos enquanto uma espécie de lagarto entra no porta-malas.
Imagino se será importante mais tarde...)
Enquanto estamos dirigindo pelas estradas vazias dos Estados Unidos, bem que você podia explicar, em narração voice-over é claro, o que os roteiristas chamam de roteiro pra esse filme.

NARRAÇÃO VOICE-OVER
Ah, não. De novo, não. Exijo um aumento!

NÚMERO QUATRO
Claro. Bom, eu sou um alien do planeta ________. Por alguma razão nunca mencionada na narrativa me mandaram pra Terra e todos do meu planeta morreram. Só sobraram nove de nós. Cada um tem um protetor – que, embora também não tenha sido mencionado devem ser habitante do meu antigo planeta também. Não sei pq digo que existiam nove e não dezoito de nós... Talvez não considere os empregados como habitantes dignos?
De qualquer forma, por alguma razão nunca mencionada tem uma raça de aliens maligna atrás de nós. Mais uma vez sem qualquer explicação os aliens nos matam em sequência. Logo, eu sou o próximo a morrer. E acho que é isso por enquanto.

ALIENS MALIGNOS
Certeza que temos uma forma intergaláctica de TOC.

MENTOR
Esqueceu da Caixa Especial que estou guardando para te entregar na hora certa...


Cena: Paradise, Ohio (metafórico? Só o tempo dirá)

[O lagarto sai do porta-malas, passa por detrás de uma moita, a moita chacoalha e aparece um cachorro do outro lado. Boa tentativa de economizar nos efeitos especiais, galera.]

MOÇA NA MINHA FRENTE NO CINEMA
Mas, pera, esse cachorro é a lagartixa?

NAMORADO DA MOÇA NA MINHA FRENTE NO CINEMA
Não... não sei. É?

NÚMERO QUATRO
Mi mi mi essa casa é muito velha mi mi mi não posso ficar aqui trancado mi mi mi quero ir pra escola mi mi mi olha, um cachorro perdido! Posso ficar com ele? Posso, posso? Por favor, diz que sim, diz que sim, diz que sim, sim?

MENTOR
Putz, como você é chato. Ta, fica com o cachorro. Mas nada de escola.

NÚMERO QUATRO
Deixa, vai. Prometo que sei passar despercebido. Que dizer, quem vai notar um cara gostoso, alto, bonito? Super sussa.

MENTOR
Ok, mas vou ligar de hora em hora pra saber se v está bem. Se não atender, apareço.


Cena: oi, edição, tudo bem com você?

LOIRA X
(explode uma casa e sai andando de óculos escuros do local)

A cena termina tão abruptamente como começou, e a Loira X só volta no fim do filme.
Pois é.



Cena: colegial, quando de repente o filme se transforma em uma comédia romântica adolescente da sessão da tarde. E fica assim por muito mais tempo do que deveria.

QUINN DO GLEE
(linda, loira e de boina, pq ela é a fotografa sensível da escola)
*passa pelo corredor*

NÚMERO QUATRO
*baba*

VALENTÃO DO COLÉGIO
E aê, novato? Por alguma razão não explicada estou sendo legal com vc, mesmo sendo um filho da puta com o Nerd Ufólogo. É claro que é só até você dar em cima da minha ex... sabe que a Única Menina Bonita Do Colégio é obrigada pela lei que rege os clichês colegiais a ser a minha ex-namorada, não sabe?

NERD UFÓLOGO
(leva uma bolada na cara do Grupo De Amigos Do Valentão)

NÚMERO QUATRO
*defende os fracos e oprimidos*

QUINN DO GLEE
*fica impressionada*

menos de seis trocas de cenas depois, eles se amam como só mesmo protagonistas de Malhação conseguem se amar.


Cena: os Aliens Malignos estão no supermercado! Sério mesmo, gente.

ALIEN MALIGNO PRINCIPAL
(de casaco preto, compra um monte de perus e um litro de leite)

CAIXA DO SUPERMERCADO
Dinheiro ou cartão?

E a edição não nos mostra como o nosso querido Alien, vilão que quer destruir o mundo, pagou pela sua compra. Não é lindo quando uma raça alienígena que está interessada em acabar com a humanidade pode usa Visa?


CAPANGA DO ALIEN MALIGNO PRINCIPAL
(usa os perus para alimentar um monstro que está na traseira de um caminhão. Pq se alimentar de crianças recém-nascidas seria bárbaro demais...)


Cena: é um pássaro? É um avião? Não, é uma Lanterna Humana!

NÚMERO QUATRO
(está super de boa vendo um documentário numa aula quando suas mãos começam a brilhar azul. Ele sai correndo, todo agoniado, e se esconde no armário do zelador.)

MENTOR
(surge, de alguma forma sabendo exatamente onde nosso herói estava)
Feche os olhos e tente controlar a força.

NÚMERO QUATRO
(faz isso e sua mão para de brilhar. Legal que ele passou os últimos minutos em posição fetal, gritando dentro de um armário – e ninguém da escola pensou em checar o que estava havendo – mas nem ao menos tentou controlar a luz.)

MENTOR
Isso quer dizer que seus poderes estão acordando. Você tem alguns dons. Não sei muito bem se todo mundo no planeta tinha, ou se só os nove que vieram pra cá têm, mas que seja. Não é pra você dar bandeira com seus super-poderes, ok?

Super poderes que consistem de: super velocidade, super força, explodir luzes de poste com as mãos (os aliens malvados se recusam a roubar um mísero supermercado, enquanto o alien bom fica pela cidade destruindo propriedade pública. Alguém consegue vê alguma disparidade?), levitar a galera e soltar uma luz azul da mão que deve ser muito útil quando acaba a energia e você não consegue encontrar os fósforos.


Cena: festival da primavera na cidade

NÚMERO QUATRO
Não sei o que fazer... vou ou não vou me encontrar com o meu par romântico? Estou apaixonado por ela (e, segundo meu Mentor, nossa raça é tipo os papagaios: a gente acasala pra vida), mas ao mesmo tempo o Valentão me disse para ficar longe... ó, dúvida cruel.

[Ele acaba indo. Os dois saem para passear no túnel do terror ou algo do tipo – pq você é o próximo na lista de morte de uma raça alienígena cruel e fica andando por aí, desprotegido e a noite, no meio da floresta. De qualquer forma, são atacados pelo Grupo De Amigos Do Valentão.]

QUINN DO GLEE
(grita enquanto alguém a carrega nas costas, estilo saco de batata)
Socorro!

NERD UFÓLOGO
(que já estava seguindo os dois antes de ouvir os gritos – perv alert)
O que será que está acontecendo?
(ele corre e chega a tempo de ver nosso herói jogando luz azul na cara da galera)


Enquanto isso, do outro lado da floresta...

VALENTÃO
Te raptei pra que a gente pudesse conversar. Ainda te amo, Quinn.

QUINN DO GLEE
Você tem sérios problemas psicológicos. E parece uma versão mais doente do Cilian Murphy.

NÚMERO QUATRO
(aparece e quase quebra o braço do Valentão. Então entra em uma mini-crise sobre quase ter perdido o controle. Que passa logo em seguida, então você pode respirar aliviado que ninguém vai tentar desenvolver personagem nesse filme não.)


Cena: alguém pode, por favor, fazer sentido?

NERD UFÓLOGO
Pois eu vi vc soltando luz azul das mãos! Isso é a prova de que é um alien. E, você sendo um alien prova que meu pai – que era ufólogo e sumiu faz anos – não abandonou a família, e sim foi abduzido!

TIAZINHA
E ainda por cima colocam um chip no seu pescoço. Não recomendo.

NÚMERO QUATRO
Tudo bem, admito. Mas não pode contar pra ninguém, já que querem me matar e tals.

Legal de ver que é de madrugada, e nada do Mentor ligar pro nosso herói. Quer dizer, faz todo sentido ele ficar em cima quando o Número 4 está protegido pelos muros da escola, mas estar de boa quando o cara está sozinho, pelas ruas, de madrugada.

XERIFE DA CIDADE
(na manhã seguinte)
Então, eu sou o pai do Valentão. Ninguém quer me contar nada, mas de alguma forma mágica sei que você está envolvido no braço do meu filho quase ter sido quebrado ontem.

NÚMERO QUATRO
Nada a declarar.

XERIFE DA CIDADE
(faz cara de mau, e repara nas câmeras de segurança em volta da propriedade)

MENTOR
Como assim, lutou com quatro ontem? Não sabe mesmo brincar de ser incógnito. Vamos embora daqui. Faça as malas.

NÚMERO QUATRO
Não. Estou apaixonado.

MENTOR
Sabe que seus pais morreram pra te salvar, né? E que você e mais os outros cinco são a única esperança da humanidade de ser salva dos Aliens Malignos.

NÚMERO QUATRO
Como podia saber? O roteiro só pensou em mencionar isso agora! Então quer dizer que os Aliens Malignos querem destruir o mundo? O que diabos eles estão esperando? Quer dizer, estão nos caçando faz vinte anos já. O que os impede de destruir a Terra e nos caçar ao mesmo tempo?

ALIENS MALIGNOS
Já não dissemos que temos TOC intergaláctico?

NÚMERO QUATRO
E pq eles querem nos matar tanto assim? A ponto de seguir a gente pra outro planeta, e passar anos nos caçando? Sabe, é só usarem uma estrela da morte e explodem tudo por aqui, e a gente vai junto nessa conta.

MENTOR
Quer parar de fazer perguntas e focar no... ahm.... hum... é... então.


Cena: gente, mas que absurdo.

[Basicamente: os Aliens Malignos se juntaram com uns Humanos Que Assistiram Arquivo X Demais e capturam o mentor pra servir de isca. Mas bem na hora que nosso herói chega pra resgatar o “pai”, os aliens tinham saído. Pq, você não dá uma volta pra tomar o ar no meio de uma cilada? De qualquer forma, os aliens voltam, eles lutam, coisas explodem, e o Mentor leva uma espadada na barriga.
Demorou pra morrer, hein.]

MENTOR
(deitado na beira da estrada, sangrando. Número 4 nem mesmo tenta levar o pobre coitado no médico. As vezes tinha cura, sabe.)
Agora é o momento de dizer algo clichê-motivacional que irá repetir mais pro fim do filme. Preparado?

NÚMERO QUATRO
Manda.

MENTOR
Você não sabe do que é capaz.

NÚMERO QUATRO
Nossa. Isso foi o melhor que você pôde fazer?

ROTEIRO DO FILME
Reclama não. Durante muito tempo ia ser há uma força dentro de você, mas ficamos com medo do Geroge Lucas processar.

[Aí o Mentor morre. E um trem passa (de novo, metafórico?). E o nosso herói decide ir atrás do par romântico em uma festa meros segundos depois de ver sua figura paterna virar cinzas. Sensibilidade é para os fracos mesmo, viu.]

GALERA QUE ESTÁ NA FESTA
(começa a cochichar loucamente quando nosso herói passa)

NÚMERO QUATRO
(sobe no telhado, que é exatamente onde seu par romântico está – sentada e em crise)

QUINN DO GLEE
Você mentiu pra mim! Estão dizendo que você e seu pai são terroristas.

NÚMERO QUATRO
Oi?

QUINN DO GLEE
É. Invadiram sua casa e descobriram equipamentos e identidades falsas.

NÚMERO QUATRO
Mano, como? A polícia precisa de um mandato pra entrar na minha propriedade, e precisa de uma acusação e alguma prova pra conseguir um desse. Não é só ir entrando. Nem circunstancial existia no meu caso, pq não estou sendo acusado de nada, já que ninguém falou pro Xerife que bati no Bando De Amigos Do Valentão.

[Não é como se o roteiro fosse começar a se preocupar com lógica nesse momento, não é mesmo? E a gente continua o non sequitur com os Aliens Malignos parando o Valentão e dizendo que ele tem que mostrar onde o Número Quatro está.
O que só está mesmo implorando pela pergunta: como eles podem saber que o Valentão conhece o Número Quatro? Ou foi pura sorte? Para o primeiro carro que ver, e cruza os dedos na esperança da pessoa saber onde está seu inimigo?]


Cena: escola

NÚMERO QUATRO
Sabe que estou sendo perseguido pela polícia, não sabe? E que acabei de virar uma viatura no ar, na frente de vários adolescentes com celular. Certeza que meu vídeo já está no youtube. Acha que é prudente irmos pro colégio?

QUINN DO GLEE
Aham. Tenho que revelar essas fotos suas, só assim poderei conhecer seu verdadeiro eu e saber se estou mesmo apaixonada.

[Enquanto o casal tem o seu momento de aprofundamento de relação, o Nerd Ufólogo vê quando os Aliens Malignos soltam seus monstros: duas cópias de computação gráfica do Monstro De Cloverfield. Nesse momento o lagarto-cachorro se transforma em alguma coisa não identificada e parte pra luta contra um dos monstros.]


Cena: lembra da Loira X do começo do filme? Então, ela voltou.

LOIRA X
(aparece, destrói todos os Aliens Malignos presentes no corredor da escola e salva o dia)

NÚMERO QUATRO
Quem é você?

LOIRA X
Sou a Número 6. E sou bem mais bad-ass do que você jamais será.

NERD UFÓLOGO
(aparece)
O lugar está cercado de Aliens! Sem contar que o seu cachorro virou um monstro gigante!

LOIRA X
Mas claro que virou. Ele é uma quimera. É do nosso planeta.

NÚMERO QUATRO
É sinal de como esse roteiro é uma coisa zuada que vou deixar essa passar sem nem mesmo mover a sobrancelha. Vamos partir pra umas cenas de luta e efeitos especiais que a gente ganha mais, pode ser?

[Enquanto isso, o Cachorro Transformista luta contra um dos Monstros De Cloverfield no banheiro. Água espalha para todos os lados. O cachorro cai. Quando o Monstro se prepara para dar o último bote... ele escorrega no chão molhado e o Cachorro mata a criatura.
Até agora não sei se foi tosco-intencional ou só tosco mesmo.]


Cena: grande batalha épica final que dura muito pouco tempo

[Todos correm, lutam, desviam de luzes azuis e vermelhas, coisas explodem, e em menos de cinco minutos Número 4 e Loira X acabaram com praticamente todos os aliens malignos.
Hm. Quem diria que seria tão fácil, não? Se pá se vocês tivessem ido atrás dos malditos ao invés de ficarem sentados esperando para morrer, teria poupado um trabalho e tanto
Raça alienígena retardada.
De qualquer forma, Número 4 consegue prender o Líder Dos Aliens Malignos e está prestes a matá-lo... e está prestes a matá-lo... e continua pestes a matá-lo por cerca de sete segundos, que é o tempo suficiente para o Monstro De Cloverfield atacar a Loira X.]

LOIRA X
Número 4, me ajuda!

NÚMERO QUATRO
Claro.
(ele solta o Líder Dos Aliens Malignos – pq, afinal, ele não pode gastar mais 2 segundos pra matar o cara, precisa dar toda a sua atenção para a Loira X.)

[Aí o Número 4 salva a Loira X, mas enquanto isso o Líder se recuperou e agora está pronto para matar o nosso herói... oh, não, como será que isso vai terminar??]

NÚMERO QUATRO
(textual)
Você não sabe do que eu sou capaz.
(explode uma das bombas no cinto do Líder – pq diabos ele não fez isso antes? Deus, que pessoa idiota – e graças ao campo de força da Loira X Em Pose De Foto Da Playboy ninguém importante morre.)


Cena: todos prontos para Eu Sou o Número Cinco?

NÚMERO QUATRO
Bom, é isso. Agora vamos juntas das duas partes das pedras que servem como GPS e assim vamos ficar sabendo onde estão os outros da nossa espécie.

LOIRA X
Claro. Exceto que... bom, nossos inimigos foram derrotados. Logo, não tem mais ninguém atrás da gente, então podíamos muito bem deixar os outros em paz. A não ser que eles não fossem os únicos da raça... mas se esse for o caso, pq não mandaram logo um exército de aliens tatuados pra destruir a Terra e acabar com apenas nove de nós?

NÚMERO QUATRO
Quer parar de tentar racionalizar esse filme? O importante é que vamos fazer uma continuação. E, pra isso, o Nerd Ufologo vai com a gente. Temos que achar o pai dele. E meu cachorro transformista também.

QUINN DO GLEE
E eu espero você voltar.

VALENTÃO DO COLÉGIO
E eu roubei a sua Caixa Especial da sala de evidências. O que é crime, mas beleza. Pior do que o crime é o fato de que mudei de água para o vinho totalmente do nada. O único personagem não-plano desse filme, e meu desenvolvimento pessoal acontece off-screen. Falar nada, viu.

NÚMERO QUATRO
Ótimo. Bora então acabar com o filme? E vamos logo antes que comecem a perceber como praticamente nada nesse roteiro faz o menor sentido...


FIM

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Sucker Punch - Mundo Surreal

(Sucker Punch. Zach Snyder, 2011)


Sucker Punch – Mundo Surreal

Ou

Quer Saber Como É Cair Em Um Cérebro De Um Adolescente De 15 Anos? Agora Sabe.


Garoto Genérico 1: Nossa, sabe o que é muito da hora? Quando tem explosão no filme!
Garoto genérico 2: Massa, né? Mas eu prefiro quando tem mulher...
Garoto Genérico 1: Mano, imagina como ia ser se tivesse um filme com explosão e mulher ao mesmo tempo! E tivesse SÓ isso?
E assim surgiu “Sucker Punch”.
Não faço ideia do que estava esperando. Mas com certeza não estava esperando o amontoado de cenas que só estavam lá para marcarem o tempo entre as cenas em que a protagonista, de barriga de fora, saia curtinha e decote, pulava e mostrava a calcinha no meio de explosões. Nada contra, pessoalmente, se você gosta desse tipo de filme. Cada um com seus fetiches e tal. Mas ao menos filme pornô nem mesmo tenta ter um roteiro, pq sabe mto bem que o público alvo está pouco se lixando pra “história”. Já "Sucker Punch" não só se leva absurdamente a serio, como pensa que é um filme inspirador e metafórico-profundo por trás de toda a coisa da ninfeta-lutando-com-zumbis-nazistas (bem que eu gostaria que fosse, mas não é uma piada). Foi como ver "Eu Sou A Lenda" – não, a história do Will Smith sozinho no mundo não foi inspiradora e não me deixou com vontade de mudar pra África e salvar o mundo. Do mesmo jeito que "Sucker Punch" não vai te fazer, de maneira alguma, considerar desligar a televisão e ler um livro e reavaliar a maneira como vc encara a realidade.
E sabe qual é a pior parte? Até as cenas de ação desse filme eram monótonas. Ok, talvez o fato de não ser dotada de um cromossomo Y não me permita ter o mesmo nível de apreciação pelo quadro geral da coisa, mas costumo gostar de filmes de ação – ao menos pelo seu quociente absurdo-mas-divertido. Dessa vez, nem isso.
E nem me venha com essa de que é “bem mais profundo do que parece”. Se quiser, sou capaz de achar um significado oculto em "American Pie". Quer dizer, Pedro Bial não utiliza os participantes de um reality show pra falar sobre a humanidade? Achar coisas onde não existe é fácil. Difícil é elas existirem em primeiro lugar.


[Apresentando o novo método de medida para os Níveis De Ridículo De Um filme, utilizando os métodos referenciais em cinco classes:
Nível 1: Último Indiana Jones
Nível 2: Filmes do Nicolas Cage
Nível 3: a nova trilogia do Star Wars
Nível 4: "Avatar".
Nível 5: "The Room".



Cena: prólogo todo narrado na música, e a melhor cena do filme

Ninfeta Loira está sentada na cama, toda deprimida pq a mãe dela está pra morrer. Uma narração em voice-over (sempre bom ver que não se cansaram desse método de narrativa, não é mesmo?) nos conta sobre como todo mundo tem um anjo, e como esse anjo pode tomar várias formas, e blá blá blá. Você vai esquecer disso até o fim do filme mesmo.

Então a Mãe Da Ninfeta morre, o Padrasto Filho Da Puta fica feliz – até descobrir que ela deixou tudo pras duas filhas.
[Pausa: as duas filhas são menores de idade, o que quer dizer que não tem tanto problema assim. Ele tem pelo menos um ano (a Ninfeta tem 20) pra pensar em como resolver a situação. Mas é sempre melhor ficar bêbado e pirar, não é?]
O Padrasto Filho Da Puta mata a Irmã Menor Da Ninfeta, a Ninfeta fica louca do pó e a culpa sobre a morte da irmã recai sobre ela.


Cena: manicômio

PADRASTO FILHO DA PUTA
Ela surtou e matou a irmã... então vou mandá-la para um manicômio. Acho o máximo que nenhuma autoridade policial questiona nada disso, ou nem mesmo tenta falar com a Ninfeta pra saber a versão dela da história. Quem quer interrogar uma possível assassina hj em dia?

ENFERMEIRO CORRUPTO
Não se preocupe, ela vai ser bem cuidada aqui. Olha o tour (e por favor, preste atenção para as correlações que virão mais tarde, ok?): aqui temos o teatro – que é como chamamos a área comunal, e onde a Terapeuta Com Sotaque Russo faz seu trabalho. Olha ela lá, no momento, tratando da Menina Loira Com Cabelo Sujo. Mas nada disso importa, já que como combinamos, vamos lobotomizar sua filha por dois mil, não?

NINFETA LOIRA
(com a mesma expressão de desconforto vago no rosto que ela deveria ter patenteado)
...

[Então, do nada, o filme dá um 180°, em algo que confesso que me deixou momentaneamente perdida sobre o que estava acontecendo. Pois é, é bem depressivo quando você para e pensa caramba, não estou entendendo um filme chamado Sucker Punch.]


Cena: um bordel, creio

SWEET PEA/MENINA LOIRA COM CABELO SUJO
(vestida como a Ninfeta Loira, interpretando tudo o que a gente acabou de ver)
Olha só, até entendo o fetiche da órfã. Ou do paciente psiquiátrico. Mas lobotomia? É levar isso um pouco longe demais, não? A gente precisa excitar os clientes.

CAFETINA COM SOTAQUE RUSSO/TERAPEUTA COM SOTAQUE RUSSO
Vou ver o que posso fazer.

ENFERMEIRO CORRUPTO/GIGOLÔ COM BIGODINHO DE MOTOBOY
Sweet Pea, venha aqui. Quero que mostre o lugar pra Ninfeta Loira, que o Padre Nojento trouxe lá do orfanato. Sabe que vou vendê-la por muito dinheiro daqui a 3 dias? Pois é.

PADRASTO FILHO DA PUTA/PADRE NOJENTO
Cuide-se bem, minha filha.

SWEET PEA
Ai, estou ocupada sendo uma diva. Pede pra minha irmã menor, pode ser?

A irmã menor é a Rocket – única das strippers com cabelo curto. O que pede para uma explicação dos Clichês Por Trás Dos Cabelos Femininos Em Hollywood – Lição Básica:
Cabelos longos: sexy. Protagonistas, amigas putas da protagonista, pessoa responsável pela separação do casal principal, Bond Girls, etc.
Cabelos no ombro: responsabilidade. Bibliotecárias (cabelo normalmente preso em um coque, mas se solto , pode apostar que chega nos ombros), melhor amiga do protagonista, a moça de óculos que aponta como faremos para nos livrar dos aliens, etc.
Cabelos curtos no estilo vilã Russa: mal. Vilã Russa.
Cabelos bem curtos: sexy-rebelde. Protagonista que não se curva às leis da sociedade, amiga que tem uma banda de rock, etc.
Sem cabelo: dor. Paciente de câncer ou alguma outra doença terminal. Ou a Natalie Porter em V de Vingança.


Cena: oh, como é difícil a vida em um bordel, não? Quem iria imaginar.

ROCKET
(ajudando na cozinha, decide que ia ser uma boa ideia roubar um pouco de chocolate. Sem surpresa, o Cozinheiro Gordo percebe o que está acontecendo e a ataca. Hm, não que seja uma especialista, mas pensava que na hierarquia de um bordel uma puta valia mais do que um cozinheiro... então ele não está meio que arriscando o emprego fazendo algo assim?)

NINFETA LOIRA
(escuta gritos, decide investigar e diz sua primeira fala no filme inteiro:)
Larga ela, porco.

[Seguindo a lei milenar do Não Quero Aprofundar Relacionamento Com Roteiro Então Bora Forçar Uma Cena De Salvamento De Vida, elas imediatamente são melhores amigas.]


Cena: primeira dança mágica da Ninfeta Loira

STRIPPER ASIÁTICA QUALQUER
Blá blá blá não gosto daquela menina blá blá blá

ROCKET
Ela só está assustada.

A MENINA DO HIGH SCHOOL MUSIC
Tb não gosto.
(pausa)
E vocês notaram que eu sou a principal do High School e que estou fazendo um filme controverso, onde uso lingerie o tempo todo? Eu cresci, gente. Cresci! Por favor, liguem meu agente e me ofereçam outros papeis. Por favor, por favor!

CAFETINA COM SOTAQUE RUSSO
Você aí, Ninfeta Loira. Venha até o meio desse teatro e dance pra gente. Pq aqui todo mundo tem que dançar pra continuar vivendo.

NINFETA LOIRA
Hm... mas não estou por aqui só por enquanto? Tipo, achei que iam me vender em 3 dias.

CAFETINA COM SOTAQUE RUSSO
(praticamente textual)
Você tem as armas! Use! Lute pela sua vida.

NÍVEL DE RIDÍCULO DA CENA
Nível 2 (Filmes Nicolas Cage)

NINFETA LOIRA
Não, sério. Eu já tenho comprador. Não preciso usar minhas armas, ou o qualquer outro eufemismo que queria usar pro meus peitos, pra me manter viva.

CAFETINA COM SOTAQUE RUSSO
Dança logo!

[Então Ninfeta Loira fecha os olhos, e quando abre está em um mundo diferente – onde ela está com saia curta, barriga de fora e uma espada na mão. Legal que ela é um fetiche ambulante até no próprio subconsciente...]


Cena: Luta! Explosões! Calcinha! Armas!

VELHO (QUE ZACK SNYDER ACHOU SER) METAFÓRICO
O que você quer?

NINFETA LOIRA
Acho que quero sair daqui.

VELHO (QUE ZACK SNYDER ACHOU SER) METAFÓRICO
Acha?

NINFETA LOIRA
Putz, você vai ser um daqueles personagens que falam em metáforas que cheiram a inteligência, mas só enchem o saco mesmo das pessoas normais. Não vai?

VELHO (QUE ZACK SNYDER ACHOU SER) METAFÓRICO
Aham. Então, acha?

NINFETA LOIRA
Ta, ta, que seja. Eu sei que quero sair. Melhor agora?

VELHO (QUE ZACK SNYDER ACHOU SER) METAFÓRICO
Bom. Você vai precisar de mapa, fogo, faca, chave e um item misterioso. Quem diria que iríamos utilizar a ideia nem um pouco gasta de que pra narrativa poder seguir, temos que achar as Cartas Clow... Agora vai lá e gasta milhões de efeitos especiais lutando contra essas estátuas-ninjas, pode ser? E não se esqueça do close que vamos dar na sua saia.

NINFETA LOIRA
(faz tudo isso).

[Assim que ela derrota as estátuas-ninjas, ela volta ao mundo “real”, onde tudo mundo está espantando com a dança maravilhosa e hipnotizante que ela apresentou.]


Cena: se strippers fossem inteligentes, elas seriam médicas, não putas

NINFETA LOIRA
Enquanto estava dançando, entrei num universo paralelo e tive uma ideia de como podemos fazer para escapar daqui. Vamos precisar de mapa, fogo, faca e chave. Mapa pra que a gente possa saber a posição dos guardas, fogo pra criar uma distração, faca pra usarmos como defesa, e chave para... hm... passarmos pela porta. E tem um último item também, um item misterioso que não faço ideia do que seja, sendo tão misterioso e tal, e com certeza vai ser uma reviravolta no roteiro única e jamais pensada antes.

ROCKET, HIGH SCHOOL E ASIÁTICA QUALQUER
Mas que ótimo plano! Vamos todos escapar, yay!

SWEET PEA
Pera só um pouco aê. Isso pode dar muito errado. E aí todos nós morremos.

ROCKET
(textual)
Nós já estamos mortas.

DIRETOR E ROTEIRISTA ZACK SNYDER
(enxugando os olhos de emoção)
Isso é tão poético. E profundo. E fica ainda melhor qdo dito por uma puta em roupas íntimas.

NINFETA LOIRA
Agora que já decidiram que vão me obedecer... quem vai pegar o mapa da sala do Gigolô Com Bigodinho De Motoboy? Vou dançar mais tarde, e os poderes mágicos da minha habilidade de mexer o quadril vão manter o cara ocupado por um tempo.

SWEET PEA
Tá, eu faço. Mas sob protesto.

[Aí Ninfeta Loira dança – fechando os olhos e entrando no mundo paralelo dos fetiches doentios. Dessa vez, O Velho Metafórico (que é o “comandante” de todas as missões daqui pra frente) diz que as meninas têm como missão recuperar um mapa das mãos de um exercito de alemães nazistas zumbis movidos a vapor.
...
Quem pensa nessas coisas, Deus meu? Ah, mas é claro que os nazistas representam a opressão da sociedade machista e capitalista para com as mulheres, e o fato deles serem zumbis mostra que essa repressão nunca vai morrer, não importa o quanto você atire ou jogue granada nelas. E o vapor é um símbolo do... hm... do fato de que os representantes desse ponto de vistas são vazios e ocos, cheio de convicções que não são nada mais do que fumaça.
Todo mundo tomar naquele lugar, viu.]

GIGOLÔ COM BIGODINHO DE MOTOBOY
(volta pro escritório dele, td bobo com a dança hipnótica da Ninfeta. Ele encosta na máquina de Xerox que convenientemente tinha num canto e... surpresa! Ela ainda está quente! Então ele vai checar a integridade do mapa que ele deixa exposto na parede de trás da sua mesa, sem nem mesmo uma tampa de vidro na frente e percebe que alguém fez um furo no lugar errado na hora de recolocá-lo na parede.)
Há algo de podre no reino da Dinamarca...


Cena: fogo

NINFETA LOIRA
Bom. Estamos na metade do filme! Agora, temos que pegar o isqueiro do prefeito, que vem aqui hoje a noite me ver dançar. Claro que seria mais fácil e menos na cara roubar um fósforo da cozinha, mas... Asiática Qualquer, ele é seu cliente, então é sua vez de ser a principal.

ASIÁTICA QUALQUER
Hm... vou tentar.

HIGH SCHOOL MUSIC
Eu cresci e agora sou mulher...

[Adivinha o que acontece agora? Pois é, a Ninfeta Loira dança, entra no mundo paralelo, onde dessa vez ela e sua gangue tem como missão pegar duas pedras de dentro de um dragão-bebê, protegido por um exército de coisas que parecem Orcs].
Milhões e milhões gastos em efeitos especiais depois...]

ASIÁTICA QUALQUER
Consegui, consegui! Olha, o isqueiro dourado!

NINFETA LOIRA
Não disse que ninguém resiste a minha dança mágica? Agora, vamos esconder os itens debaixo da gaveta do nosso camarim e...

GIGOLÔ COM BIGODINHO DE MOTOBOY
(aparece)
Bom, o isqueiro do prefeito sumiu. Vocês não acharam mesmo que ninguém ia notar uma coisa dessas, não é? Sei que estão tramando alguma coisa, então é melhor pararem por aqui.

SWEET PEA
(gritando, assim que ele saiu)
Está vendo, é melhor abandonar esse plano ridículo de fuga agora?

NINFETA LOIRA
(também gritando. Que bom que o camarim do bordel é a prova de som, do contrário todo mundo já teria ficado sabendo o que elas planejam fazer, sabe.)
Temos que ir até o final!

ROCKET
Preciso sair daqui. Eu vou até o final, irmã, você indo ou não.

HIGH SCHOOL MUSIC
... tenho que encarar com muita fé. Seria o bastante.

Cena: faca

[Na cozinha, Asiática Qualquer, Rocket, Sweet Pea e Ninfeta Loira ligam um rádio. Ninfeta Loira começa a dançar e o Cozinheiro Gordo automaticamente senta e se desliga da realidade. Dessa vez, as Super Strippers precisam desativar uma bomba antes que ela chega à cidade, lutando contra robôs no processo.
Deus do céu. É só o que eu digo.
Está tudo indo muito bem, até que o rádio para de pegar. Nesse momento, Ninfeta Loira volta ao mundo real – consequentemente parando de dançar e libertando o Cozinheiro Gordo do feitiço mágico bem na hora que a Rocket está pegando a faca da cintura dele.
Ah, gente, sério mesmo que as únicas facas na cozinha inteiras estão na cintura do cara? Não tem nenhuma gaveta de talheres em lugar nenhum??
De qualquer forma, o Cozinheiro Gordo fica puto, faz menção de atacar e... a música volta.
Uau. Ninfeta Loira volta a dançar no meio de uma situação tensa dessas. Beleza, então. No mundo dos fetiches doentios, Rocket salva a irmã e fica para trás, explodindo com a bomba.
Ninfeta Loira finalmente para de dançar (né?) e vemos que o Cozinheiro Gordo matou Rocket.]

ROCKET
Promete pra mim que vai fugir, Sweet Pea. Promete que vai voltar pra casa.
(soluço emocionado)
E diga a nossa mãe que eu a amo...

DIRETOR E ROTEIRISTA ZACK SNYDER
(assoa o nariz)
Eu sou muito, mas muito bom.

NÍVEL DE RIDÍCULO DA CENA
Nível 3 (Trilogia Star Wars)

GIGOLÔ COM BIGODINHO DE MOTOBOY
(surgindo do nada)
Mas o que diabos você acabou de fazer? Olha só, é tudo culpa sua, Ninfeta Loira. Não sei pq, mas é. E prendam a Sweet Pea na dispensa, que ela está histérica. Vamos embora daqui.


Cena: chave

[Todas as strippers vivas e não-trancadas-na-dispensa estão reunidas, com cara de choro. Exceto pela Ninfeta Loira, que continua com sua expressão de vago desconforto no rosto – uma que ela mantém durante o filme todo. Impressionante, sabe. Keanu Reeves, aka Mestre De Uma Expressão Só, ficaria orgulhoso.]

GIGOLÔ COM BIGODINHO DE MOTOBOY
Espero que estejam felizes, todas vocês. Queriam me apunhalar pelas costas? Eu, que sou o patrão, o protetor de vocês? Queriam escapar daqui, é isso?
(vai até a lousa onde a gênia da Ninfeta escreveu os itens e os expõe pra td mundo)
É isso aí. Eu sei do plano todo. Nunca daria certo, suas vagabundas.

HIGH SCHOOL
Isso não vai ter fim, nem que eu quiser você sai de mim...
Tá, sem motivo nenhum vou gritar aqui no meio que fui eu quem dedurou o plano todo pra Cafetina Com Sotaque Russo – mas ela prometeu não contar pra ninguém e me ajudar...

CAFETINA COM SOTAQUE RUSSO
(falando pro Gigolô)
Por alguma razão estou surpresa por você estar agindo com tanta hostilidade.

GIGOLÔ COM BIGODINHO DE MOTOBOY
Vamos acabar logo com essa p****.
(atira e mata a High School e a Asiática Qualquer).
Agora, Ninfeta Loira... você vai me render muito dinheiro. Isso seria razão suficiente pra não te matar. Mas de repente decidi que não quero mais vender meus brinquedos para os outros, quero brincar também.

NINFETA LOIRA
O que te impede de brincar comigo e me vender depois? Tenho 20 anos, morava num orfanato com um Padre Nojento... acha mesmo que sou virgem?

GIGOLÔ COM BIGODINHO DE MOTOBOY
Cala a boca e me dá um beijo.

[Eles lutam, Ninfeta pega a faca que estava debaixo da gaveta e apunhala o Gigolô, roubando a chave que ele carregava no pescoço.]


Cena: que coisa mais chocante, nem sei o que pensar desse item misterioso.

[Ninfeta Loira liberta Sweet Pea da dispensa. Elas botam fogo em uma sala pqna, e correm pros portões – que abrem automaticamente uma vez que o alarme de incêndio dispara. Quando chegam lá fora, percebem que há um número de homens de ternos entre elas e o portão de ferro.]

NINFETA LOIRA
Mas não pode ser... eu fiz tudo certo. Peguei todos os itens... a não ser que...

DIRETOR E ROTEIRISTA ZACK SNYDER
É agora... é agora...

NINFETA LOIRA
... é claro. Eu sou o item misterioso. Eu tenho que me sacrificar pra que você possa escapar.

ROTEIRISTA XXXXX
Isso! Isso!
(tem um orgasmo)
Deus, eu sou mesmo um gênio!

NÍVEL DE RIDÍCULO DA CENA
Nível 4 (Avatar)

SWEET PEA
Não... não posso fazer isso...

NINFETA LOIRA
Você é a esperança de um Sucker Punch 2 e todos sabemos que sequências bem piores que essas já foram feitas em Hollywood, então não é assim tão impossível.

[Então Ninfeta Loira distraí os homens enquanto Sweet Pea foge.]


Cena: retorno triunfal da narração voice-over

VOICE OVER
(fala alguma coisa qualquer sobre anjos e sei lá mais o quê. Não lembro, e não importa. Era, pra combinar com o resto do roteiro desse filme, bem ruim.)

SWEET PEA
(de vestido normal, que ela deve ter roubado de algum lugar, tenta entrar num ônibus)

POLICIAL
Mocinha, será que podíamos falar com você?

VELHO (QUE ZACK SNYDER ACHOU SER) METAFÓRICO
(como motorista do ônibus)
O que querem com ela? Deixa eu dizer que ela está viajando comigo desde ________, e só saiu agora pra usar o banheiro. Não é mesmo, minha querida?

POLICIAL
Bom, acho que vou aceitar a palavra de um motorista e deixar essa investigação pra lá. Desculpe o incômodo, boa viagem.

SWEET PEA
(entrando no ônibus)
Esse não vai ser o gancho pra uma sequência, vai? Sei que a Ninfeta me disse que seria, mas...

VELHO (QUE ZACK SNYDER ACHOU SER) METAFÓRICO
Quem sabe? Não fizeram você lutar com múmias radioativas ou aliens gosmentos, não é? O mundo dos fetiches doentios é bem mais vasto do que qualquer um de nós imagina...


Cena: final/spoiler

[E tudo não passou de uma ilusão escapista de nossa protagonista, que estava o tempo todo dentro do manicômio – exatamente como mostrado no começo].
Chocante, não?
Bom, ela ajudou mesmo a Menina Loira Com Cabelo Sujo a escapar, e causou um incêndio, e esfaqueou o Enfermeiro Corrupto e tudo tals... mas nada disso importa mais, já que foi lobotomizada – o que, de alguma forma, faz com que ela mude de expressão facial: de Desconforto Vago para Conforto Vago. É uma mudança sutil, e não se sinta mal se não perceber. Anos de treino pra pegar uma coisa dessas.

DIRETOR E ROTEIRISA ZACK SNYDER
(tremendo de emoção)
Está vendo a metáfora? Esta vendo? Está vendo nos olhos vazios da Ninfeta? Está?


FIM