Porque se o José Wilker pode, eu também posso.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Indicados Oscar 2010

Indicados – Oscar 2010

[Finalmente, assisti a todos os dez filmes que receberam uma indicação para a cerimônia desse ano. Não foi assim tão fácil, ainda mais considerando que na cidade que moro somente 4 dos 10 foram passados no cinema...
Como consegui vê-los, você pergunta?
*não se esqueça que pirataria é crime e blá blá blá blá*
Então.
Três deles tem roteiros no meu blog, então já está meio que patente o que penso a respeito. Fiquei com muita preguiça de fazer o restante naquele formato, sem contar que escrever roteiro de filme bom nem é tão divertido assim.
Sendo assim, patrocinada pelas minhas férias extremamente improdutivas, apresento Os Indicados Deste Ano:]



1. Avatar
(Avatar, James Cameron, 2009.)

James Cameron e sua monstruosidade azul.
Todo mundo e seu cachorro que me conhece sabe o meu absoluto desprezo por esse filme. Pocahontas + Dança com Lobos no espaço. É simplista, é idiota, é lotado de clichês mal trabalhados e não consigo parar de pensar na quantidade de Haitianos que esse filme poderia ter ajudado se alguém tivesse dito “James Cameron, supera. Essa história não presta.”
De qualquer forma, por mais que me doa escrever isso, essa coisa deve ganhar Melhor Filme. Por que? Porque deu dinheiro, ora essa. E acho que já foi estabelecido que a humanidade é burra.
[Se você é fã do filme e achou os Smurfs do espaço como a melhor coisa que já viu na sua vida, e se sente ofendido em sua alma pelo que estou dizendo... o azar é seu. Não é minha culpa se nasceu sem gosto cinematográfico. Lembrando que não tenho nada contra quem achou o filme “divertido” ou algo do tipo. Mas desde quando um filme “legalzinho” merece um Oscar?]
Levando o prêmio máximo para casa, só nos resta rezar para que Deus esteja de bom humor e não deixe, de forma nenhuma, que James Cameron leve o de Melhor Diretor.
Pq nada vai ser pior do que ver esse homem acreditando com ainda mais força que o que ele fez foi válido em qualquer ponto, além do ponto de vista tecnológico da coisa.
Ah, e Avatar deve levar os prêmios técnicos também. Nada a dizer sobre isso, exceto que será bem merecido.


2. Bastardos Inglórios
(Inglorious Basterds, Quentin Tarantino, 2009.)
Quentin Tarantino está de volta. Com menos sangue e mais roteiro. Embora tenha dito (e repito) que o filme está mais maduro do que gostaria, é essa uma das razões que levou a Academia a finalmente dar indicações para ele (quer dizer, só UM prêmio por Pulp Fiction? Eles não tem nem vergonha na cara).
Embora seja um dos meus prediletos do ano, a chance desse filme ganhar é... na zona dos polinômios negativos. É claro que ficaria super feliz de ser provada errada, mas de jeito nenhum que os velhos críticos da Academia vão premiar um jovem diretor revolucionário que teve a cara de pau de dar de ombros para o Oscar.
A bem da verdade é que só consigo pensar em uma razão para esse filme ter entrado na lista desse ano: o aumento de cinco para dez vagas na categoria. (Deus sabe que seu filme vende bem mais legal se você pode colocar indicado ao Oscar de Melhor Filme na capa...) E como esse ano foi terrivelmente atroz em quesito filmes decentes lançados, não tiveram escolha a não ser lembrar da excelente produção do Tarantino.
Deve levar um Melhor Ator Coadjuvante por Cristoph Waltz (que já levou um Globo de Ouro, então o Oscar vai meio que se sentir obrigado a não cometer uma injustiça flagrante) e, se Deus estiver de bom humor e com uma bebida gelada na mão, levar o de Melhor Roteiro Original.
Migalhas, migalhas. Nem perto do que merece.



3. Um Homem Sério
(A Serious Man, Irmãos Coen, 2009.)

Tenho um problema não identificado causado por alguma razão obscura com os irmãos Coen. Um amigo meu jura que é causada pela popularidade deles nos EUA, e que eu, como boa indie-em-formação que sou, não posso evitar de odiar o popular.
Meu amor pelo Johnny Depp meio que quebra essa teoria, no entanto.
Todos os filmes que vejo dirigido pela dupla me deixam um tanto quanto... sei lá. Eles costumam ser bons, mas alguma coisa simplesmente não “clica” para mim. É como faltasse alguma coisa indefinida para que ele se tornasse perfeito.
Um Homem Sério não fica atrás. O filme é bom. O filme é interessante. O filme tem uma excelente construção, roteiro, atuação, iluminação e foi capaz de me envolver com o sofrimento do personagem. E ainda assim...
A verdade seja dita é que, depois de Fargo, esse é meu filme preferido dos dois. E um dos melhores do Oscar desse ano. Se tem chance? Olha, considerando como os EUA babam em cima dos irmãos, quem sabe?
Mais uma vez, 10 vagas, tão pouco filmes decentes para preenchê-las...



4. Educação
(An Education, Lone Scherfig, 2009.)
Ok. Aqui está meu filme preferido dessa lista. Aquele que sentei para assisti sem esperar nada e chorei de tão perfeito que é.
É isso que um filme deveria ser: roteiro, roteiro, roteiro, roteiro. Bem feito, bem escrito e, especialmente, bem atuado. Carey Mulligan deveria muito ganhar o Oscar de Melhor Atriz (que deve perder para Sandra-Bullock-loira-ajudando-os-pobres, mas tudo bem).
A história parte de uma premissa bem clichê: jovem de 16 anos encontra homem mais velho, rico e interessante, e se apaixona por ele. Aí você para e pensa: já vi isso antes. Aí você assiste dez minutos do filme e percebe o quanto você estava errado.
Não, esse filme não deve ganhar o Oscar de Melhor Filme, pq não há justiça nesse mundo. Esse foi uma das melhores coisas que vi nos últimos meses, e Deus sabe que sou muito chata para se agradar.



5. Up – altas aventuras
(Up. Pete Docter, 2009.) Existem duas teorias do pq esse filme conseguiu uma tão almejada indicação ao prêmio máximo do Oscar, e elas são:
a) a Academia queria se redimir do erro de não ter dado uma indicação para Wall-e, no ano anterior;
b) (e sinto muito por repetir, mas...) O dobro de vagas para a premiação e realmente nada de bom sendo lançado.

Ao meu ver, nenhuma das duas está correta. Quer dizer, desde quando a Academia se importa em ser justa? Fala sério, ingenuidade. Wall-e deveria sim ter sido indicado, e se duvidar merecia ganhar o Oscar porque o filme é fenomenal. Foi-se a época que algo considerado infantil era bobinho e ignorável. Go, Pixar, amo vocês.
Up é bom. Up é lindo. Up não chega nem aos pés de Wall-e. Up não merece um Oscar, mas certamente merece a indicação mais do que *cof* James Cameron *cof* alguns outros. Up é o tipo de filme que te deixa feliz com o futuro do cinema. Up vai ganhar o Oscar de Melhor Animação, e é basicamente isso.



6. Um sonho possível
(The Blind Side, Jonh Lee Hancock, 2009.)

Preciso tirar isso do caminho primeiro... (toma fôlego/) OSCAR BAIT! OSCAR BAIT! OSCAR BAIT!
Como esse ano não temos nenhum filme sobre o Holocausto, nosso costumeiro filme-designado-para-arancar-o-máximo-de-Oscar-possíveis é Um sonho possível. Do que esse filme trata, você se pergunta?
Ora, é a história de um jovem, negro, pobre, com um passado abusivo. E o que acontece com esse jovem, você se pergunta? Ora, ele encontra redenção através do esporte (não, dessa vez não é baseball, é futebol americano mesmo. A única diferença entre os dois é que o segundo consegue ser mais idiota que o primeiro) e do amor de uma família branca e rica e decente.
Ah, e mencionei que é baseado, mesmo que bem levemente e moldado a gosto, em uma história real?
Ok, só mais uma vez: OSCAR BAIT!
Olha, esse seria igual a milhares de outros filmes com exatamente o mesmo roteiro (acho que eles nem mesmo escrevem mais, só pegam páginas de antigos e moldam um novo. Quer dizer, é IGUAL), se não fosse pq... ele é pior. Sério mesmo. Tem coisas na sessão da tarde que são mais bem atuadas que esse filme. Ou que tem algo relacionado com desenvolvimento de personagem, essa arte tão esquecida pelos diretores/roteirista/atores de hoje em dia.
O cara negro-pobre-gordo-feito-sob-medida-para-ganhar-nossa-empatia não é capaz de atuar para salvar sua vida. Considerando que um dos nós narrativos da coisa era o fato do negro ser grande e forte, eles meio que tiveram que pegar qualquer um que preenchesse o papel, sem ligar muito se o cara era capaz de demonstrar emoções...
Perdi a conta de quantas vezes coloquei o dedo na garganta enquanto via esse filme, tendo meu irmão como companhia no gesto. Discurso clichê + cena de alívio cômico + cena de futebol americano. Esse looping por mais de duas horas. Taí o filme.
Duvido que tenha qualquer chance de ganhar Melhor Filme, mas Sandra Bullock deve receber um Oscar de Melhor Atriz por seu papel como A Boa Samaritana. Ela merece? Olha, nem sei. O fato é que o filme foi tão ruinzinho que só consigo me lembrar da minha sensação de alívio quando acabou...
E só para terminar: OSCAR BAIT!


7. Guerra ao terror
(The Hurt Locker, Kathryn Bigelow, 2009.)

Deixa eu começar dizendo que tenho um problema com filmes de guerra. Tenho mesmo. Para mim, são todos iguais. Com raríssimas exceções, não consigo ver qual é o propósito deles: soldados são mandados para guerra; lá aprendem como a guerra é algo ruim (é, pq eu realmente estava sob a impressão de ser um passeio no parque); lá eles fazem amizades que duram para vida e as vezes se arriscam e morrem para salvar o ator principal; tudo termina com alguma cena bonita de por de sol, fim de guerra, e renovação da esperança. BLEH.
Agora, Guerra ao terror é uma exceção. Mesmo não gostando do estilo, achei esse filme extremamente bem feito, com uma maneira crua-quase-documentário de apresentar suas cenas que achei uma ótima sacada. Os personagens me pareceram reais, não um ideal americano de bravura, que é o que normalmente se encontra em filmes assim. Além do mais, o fato de retratar uma guerra que ainda não acabou, e que é uma ferida aberta para a maior parte dos americanos, e não dar qualquer lição de moral ou pender para um dos lados (contra ou favor à ocupação).... algo me diz que o fato de ter sido dirigo por uma mulher tem correlação, viu.
Ao que me consta, esse filme tem mais chances de ganhar do que Bastardos Inglórios e menos do que Avatar. A verdade é que o único que realmente consigo ver tirando esse prêmio das mãos de JC é Guerra ao terror. Mas, mesmo assim, duvido que aconteça;
Se não levar Melhor Filme, deve roubar de Tarantino o prêmio por Melhor Roteiro Original. O que, sabe, é uma pena.




8. Distrito 9
(District 9, Neill Blomkamp, 2009.)

Até agora não entendi pq esse filme foi indicado....
[10 vagas, Livia. 10 Vagas, lembra? Sem contar, sabe, diretor cult pq é de uma minoria cultural? E a Academia quer provar que não são velhos babões contra a globalização]
Tá. Sei pq ele foi indicado.
Olha, ele não é exatamente ruim. Nem exatamente bom, ou excepcional como deveria ser para receber uma indicação. Ele até que vai bem, exceto pelo final e... tem roteiro dele mais para baixo, minhas opiniões são as mesmas até hoje.
A chance desse filme ganhar? Mas de jeito nenhum vejo isso acontecer.
Eu... juro, estou perplexa. Não esperava por essa.


9. Amor sem escalas
(Up In The Air, Jason Reitman, 2009.)

George Clooney interpretando ele mesmo, um solteiro convicto, bonitão, rico e bem sucedido profissionalmente, que vive a vida sem laços com ninguém e viajando de um ponto dos EUA a outro, demitindo pessoas. A mocinha que faz uma das amigas irritantes da Bella em Twilight é sua coadjuvante, e mostra que ela sabe, sim, atuar (só imagino o quanto deve ser frustrante sair da companhia do Clooney para ir gravar ao lado do Vampiro Que Brilha...) faturando inclusive uma indicação para Melhor Atriz Coadjuvante, que nunca vai ganhar, mas não vem ao caso.
Gostei muito desse filme, tenho um amor todo especial pelo George Clooney, adorei o final e a reviravolta que deram na história... mas duvido muito que chegue a ganhar qualquer coisa. Ele é um filme “light”, e filmes “lights” não ganham Oscar. Ao menos, não filmes “lights” que não gastaram bilhões em efeitos especiais na tentativa de esconder com tecnologia a incrível falta de roteiro...
Logo, sinto muito aos realizadores desse filme bem válido. Nem vai ser dessa vez.


10. Preciosa – uma história de esperança (Precious, Lee Daniels, 2009).
Último filme da minha lista, e também o último que assisti. Estava esperando a segunda parte do OSCAR BAIT Um sonho possível, dessa vez com uma negra-pobre-com-pais-abusivos-e-sem-futuro. De certa forma, estava certa. A diferença é que esse filme é realmente bom, com coisas como atuação sendo consideradas importantes no processo, sem contar aquilo que se tornou minha nova Meca: desenvolvimento de personagem, pessoas. Nem é tão difícil assim.
Temos a história de Preciosa, uma adolescente negra obesa que é continuamente estuprada pelo pai e agredida pela mãe. Está em sua segunda gravidez e nem ao menos sabe ler. Todo mundo sabe muito bem o que acontece por aqui, exceto que não é tratado de forma tão absurdamente milagrosa: em dois cortes de cenas e uma música, a pessoa deixa de ser um analfabeto funcional para se tornar um gênio da literatura (como em Um sonho possível, mais ou menos).
O que conta nesse filme, mais do que o enredo básico em si, é a atuação de Mo’Nique, que faz a mãe de Preciosa. Não me lembro da última vez que alguém arrasou tanto em um filme. Se ela não levar o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, aí sim eu jogo a toalha desse prêmio. Ela conseguiu me deixar, ao mesmo tempo, com vontade de matar e de confortar o personagem. Um excelente, e um filme muito bom no geral.



sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

The Room



(The Room. Tom Wiseau, 2003.)




The Room

Ou




AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!


(Ok, não o suficiente)

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!



(só mais um pouco)

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!




Algumas coisas que gostaria de dizer antes de começar com isso:

Primeiro: peço desculpas a qualquer diretor/roteirista/produtor/qualquer coisa que tenha ridicularizada nesses dois anos de blog. Sinto muito. Seja lá o que você fez, empalidece comparado com esse filme. Logo, sinto muito: Michael Bay, James Cameron, M Night Shylaman, Nicolas Cage, Vince Vaughn...

Segundo: isso estava na lista de pré-indicações do Framboesa de ouro para pior filme da década. E essa é uma das razões que me levou a assisti-lo. Outra é meu masoquismo ainda não diagnosticado, mas isso é assunto para outra hora.

E terceiro: todas, e quando digo todas quero dizer todas, as falas apresentadas nesse roteiro são originais do filme. Não vou mudar contexto, não vou mudar pontuação, nada. E sinto muito se isso ficar grande, simplesmente não sei se vou ser capaz de sintetizar esse aborto da sétima arte.



Cena: começo do Pior Filme Que Já Vi Na Minha Vida (Mesmo)

[em que Johnny chega em casa com um pacote. É um presente para sua noiva, Lisa. Ela abre, vê um vestido vermelho, fica toda feliz e vai se trocar.]

LISA
(aparece usando um vestido que mais parece manequim básico do Torra Torra)

JOHNNY
“Oh, mas você está muito sexy, Lisa.”

LISA
“Não é lindo?”

JOHNNY
“Faria qualquer coisa pela minha garota.”

[então a porta se abre e entra... Denny. O que é Denny, você pergunta? Não faço ideia. Ele até que é *cof cof* apresentado como personagem mais tarde, mas por agora o que sabemos dele é... nada. Bom, ele entra e comenta como Lisa está bonita. Ela agradece, dizendo que foi presente de Johnny, que repete: “faria qualquer coisa pela minha princesa.” É, a gente entendeu, você é patologicamente ligado a essa garota. Então os dois decidem que querem transar, e vão para o quarto. E Denny... segue os dois. Agora, a maçã que ele estava carregando meio que se perde entre um corte de cena e outro...]

DENNY
“Só gosto de ver vocês dois.”

[Ninguém acha isso nem relativamente assustador, e Johnny quer saber se “ele[Denny] não tem nada para fazer”. Denny responde que “precisa fazer tarefa”.
Ah, ótimo. Ele é menor de idade E tarado? Lindo.
De qualquer forma, agora que o infanto está longe, temos a primeira cena de sexo.
Em menos de 10 minutos de filme.

Quer ver a bunda de Tommy Wiseau? Pois é.

Nem ninguém.]


Cena: segundo dia.

[O despertador toca, Johnny acorda e sai para trabalhar. Essa é a primeira informação que temos a respeito de nossos protagonistas. Quer dizer, você sabe o formato exato das costas e do peito deles, mas nada sobre sua vida. Enquanto está sozinha, Lisa (que não trabalha? Quem sabe?) recebe a visita de sua mãe.]

MÃE DE LISA
“O que tem de errado com você? Me diz.”

LISA
“Não me sinto muito bem hoje.”

MÃE DE LISA
“Por quê? Me diz.”

LISA
“Não o amo mais.”

MÃE DE LISA
“Por que você não o ama mais? Me diz.”

LISA
“Ele é tão... cansativo.”

[Depois disso, a Mãe De Lisa passa a enumerar todas as razões pela qual a filha não podia se separar de Johnny: eles se conhecem faz cinco anos, estão noivos e, mais importante, ele a sustenta financeiramente – quer até mesmo comprar uma casa para ela! Ao que Lisa retruca “mas é justamente por isso que ele é cansativo.”
Por querer comprar uma casa para você??
Mas... mas...
Espera. Por que estou tentando usar a lógica nisso?]

LISA
“Não quero mais falar sobre isso.”


Cena: justamente por coisas assim que não devia tentar usar a lógica...

LISA
(no telefone com Mark, com quem ela está falando como se tivesse uma relação íntima acontecendo faz tempo. O que, se a cena seguinte é qualquer indicação, não é o caso)
“Acabei de falar com a minha mãe. Ela é uma vadia. Fica querendo controlar minha vida.”

MARK
“Você deveria fazer o que te faz feliz.”

[Então eles decidem se encontrar no dia seguinte, meio-dia. Mark aparece, Lisa o manda sentar. Eles se encaram em silêncio. Então Lisa diz “está quente aqui, não?” e tira a blusa que cobria o vestido tomara-que-caia que está usando. Mark, sendo o cara brilhante que ele é, logo percebe que algo não está muito certo: “as velas, a música, o vestido sexy... o que está acontecendo aqui?” Lisa senta em seu colo e diz que gosta muito dele, que não ama Johnny e que não quer mais se casar.
Tudo isso com uma habilidade de interpretação que deixaria Carla Perez com VA.]

MARK
“Johnny é meu melhor amigo. Vocês vão se casar no mês que vem.”

LISA
“Esqueça sobre Johnny. Isto é entre você e eu.”

MARK
“Não... vou embora agora.”

LISA
“Por favor, não me deixe. (...) Quero que faça amor comigo.”

MARK
“Acho que não. Tudo vai ficar bem, prometo.”

Foi nessa parte que comecei a me perguntar se o roteirista realmente pensou nas frases como uma conversa sequencial ou se só pegou palavras soltas, as colocou juntas e foi fumar mais um pouco.

[Então eles vão para o quarto e temos a segunda cena de sexo.
Fez sentido para você?
Para mim também não.
Ao menos esse é o ator que faz Mark: Greg Sestero.
– e desse temos um lençol tampando o corpo. Quer dizer, fala sério.]


Cena: Johnny não conseguiu uma promoção no trabalho

JOHNNY
(que consegue ser pior que o Edward Cullen demonstrando emoções)
(gritando, do nada, e ainda assim sem mover um músculo facial)
“O filho da mãe me disse que seria promovido em três meses. Já os salvei várias vezes. Eles são loucos. Acho que nunca vou conseguir. Eles me traíram, não cumpriram a promessa. Eles me enganaram e não me importo mais.”

[Lisa diz que o ama mesmo assim, e tem como solução o álcool. Eles bebem, e temos a terceira cena de sexo do filme. Sabe, durante muitos anos a rosa foi usada como flor-símbolo do amor e do erotismo... não mais.
Mencionei que só estamos nos primeiros 27 minutos disso? Pois é.]


Cena: e a Mãe De Lisa tem câncer de mama. Por que isso importa, qual é o ponto dessa cena, isso será lembrado mais tarde por algum personagem, é usado como base para o crescimento pessoal de Lisa?
Nem.

MÃE DE LISA
“Ninguém quer me ajudar, e estou morrendo.”

LISA
“Não está morrendo, mãe.”

MÃE DE LISA
“Acabei de pegar os resultados dos exames. Definitivamente tenho câncer de mama.”

LISA
“Não se preocupe com isso. Vai ficar tudo bem.”

E é isso. Sua mãe tem câncer, acabou de te dizer, e sua reação é dizer um clichê básico e expulsá-la de casa? Ah, mas não sem antes inventar que Johnny ficou bêbado e te bateu na noite passada. Agora sim, mande sua mãe embora.


Cena: outro casal de amigos que aparece do nada e transa no apartamento de Johnny e Lisa. Mais uma vez, não é relevante, mas ao menos é mencionado mais tarde.
Sabe, é... Deus. Põe a mão e guia a alma torturada desse ser.


Cena: Denny está sendo ameaçado por um traficante, em um telhado???? WTF?????

TRAFICANTE DE TOCA
“Cadê a porra do meu dinheiro?”

DENNY
“Está vindo, cara. Está vindo... espere só mais cinco minutos.”

TRAFICANTE DE TOCA
(tira uma arma do bolso)
“Cadê a porra do meu dinheiro?”

[Eis que surgem... Johnny e Max, completamente do nada. Eles aparecem e começam a lutar com o Traficante. E então surge Lisa e Mãe De Lisa, também do nada, gritando e querendo saber o que está acontecendo.
É, todo mundo ficou com vontade de ir até o topo do prédio bem naquela hora.
Então Johnny e Max levam o Traficante embora, deixando Lisa e sua Mãe para interrogaram um Denny que não para de chorar. O que se segue é o diálogo do horror.]

LISA
“Denny, está tudo bem? O que aquele cara queria com você?”

DENNY
“Nada. (...) Eu devo dinheiro para ele.”

LISA
“Que tipo de dinheiro?”

DENNY
“Não é nada.”

LISA
“Que tipo de dinheiro?”

DENNY
“Não é nada.”

[...]

[No fim, Denny meio que admite ter comprado drogas do cara, mas “não é nada, ele foi embora agora e ele vai para a cadeia”, então para quê se preocupar com um menor de idade usando substâncias ilícitas? Sério, drogas e câncer não são coisas muito legais para se pensar a respeito, é bem melhor ignorar mesmo, entendo totalmente o ponto de vista dessa coisa.
Mark e Johnny voltam, Mãe De Lisa conta que Denny usa drogas e... fica por isso mesmo.
Essa cena, justamente como a do câncer de mama, é lenda na continuidade desse “filme”. Você nunca mais ouvirá falar sobre ela, então é melhor esquecer que aconteceu.
E vamos em frente.]


Cena: de novo, no telhado, Mark e Johnny tem uma DR.

JOHNNY
(entrando, e gritando para um telhado que ele pensava estar vazio)
“Eu não bati nela. É mentira. Não bati nela. Não bati. Aghhh... oi, Mark.”

Como diabos ele sabe que Lisa contou para a mãe dele sobre ter apanhado? E por que ainda pergunto essas coisas?

MARK
(com uma bola de futebol americano na mão, na frente de um fundo de computação gráfica bem falso)
“Oi, Johnny. E aí?”

[Eles conversam um pouco sobre a mente feminina, Johnny diz que Mark deveria arranjar uma namorada, Mark retruca que talvez já tenha encontrado alguém. Que seja. Mark logo vai embora e Denny aparece. Acho que é a vez dele de ter uma DR.]

DENNY
“Preciso conversar com você.”

JOHNNY
“Fala, Denny.”

DENNY
“É sobre Lisa.”

JOHNNY
“Continue.”

DENNY
“Ela é linda. E fica ótima em seu vestido vermelho.”

Essa deve ser a terceira ou quarta vez, no mínimo, que alguém menciona o quanto essa mulher é bonita/gostosa/fenomenal. Acho que eles sentam que precisam repetir muitas e muitas vezes para ver a se a audiência acredita, pq a atriz... não é bonita. Nem de leve.


DENNY
“Acho que estou apaixonado por ela.”

WTF???

JOHNNY
“Continue.”

[Então Denny conta que tem horas que ele quer se declarar para Lisa e beijá-la, e Johnny fica super de boa quanto a isso. Quer dizer, quem se importaria se um menor de idade tarado quisesse pegar sua noiva, uma mulher de quem você é ridiculamente dependente? Johnny então pergunta se Denny não estava a fim de uma tal de Ruth (nunca mencionada antes ou depois) e Denny confirma “acho que a amo. Quero me casar com ela.”
Não vou nem comentar nada. A coisa é auto-explicativa de ruim.]


Cena: e... não consigo descrever isso. Sinto muito.
Mas, sério, quando você assiste algo em que a atuação do ator principal faz com que você pense hm.... Zack Efron até que sabe interpretar, a coisa está muito feia.
O *importante* do que aconteceu aqui é que Johnny e Lisa meio que brigam, meio que não brigam.

JOHNNY
“Mas eu te amo mesmo assim, baby.”


Cena: Lisa e Mãe De Lisa conversam no apartamento.

LISA
“Mãe, não estou mais apaixonada pelo Johnny. Nem mesmo gosto dele. Eu transei com outro cara.”

MÃE DE LISA
“Você está falando sério?”

LISA
“Você não entende.”

MÃE DE LISA
“Quem?”

LISA
“Não quero falar sobre isso.”

[E elas vão embora. Johnny, que estava escutando tudo da escada (um lugar que é aberto e visível para quem estiver na sala do apartamento) fica puto e ameaça para o ar “vou mostrar para elas. Vou gravar tudo.” Então ele vai lá, pega um gravador que ele tira de algum lugar (“mas é óbvio, Robin, tirei do cu, de onde mais?”), uma fita que estava no bolso de seu paletó só Deus sabe porque e conecta tudo ao telefone.]


Cena: Mark fica drogado no telhado, e aparece o Amigo Psicólogo

AMIGO PSICÓLOGO
(apresentado umas duas cenas atrás. Não sabemos nada dele, exceto que é um psicólogo, obviamente.)
“Por que está fumando essa merda? Vai acabar com você.”

MARK
(bravo?)
“Você não sabe de nada, cara.”

AMIGO PSICÓLOGO
(bravo?)
“Espera um pouco. Quem você pensa que é? Parece até uma criança.”

MARK
“Quem é criança? Vá se fuder.”

AMIGO PSICÓLOGO
“Calma. Só quero ajudar. (pausa de três segundos). Está tendo um caso com Lisa, não?”

[Aí Mark tenta jogar ele do prédio... mas acaba não conseguindo e admitindo estar pegando a noiva de seu melhor amigo. E não vou gastar mais um WTF aqui porque falta muito pouco para a sigla perder todo o sentido para mim...]


Cena: Johny, Mark, Denny, Amigo Psicólogo aparecem no apartamento usando ternos.

Essa cena não faz sentido. Tá, o “filme” todo não faz sentido, mas essa em especial é absurda. Pelo diálogo você poderia supor que eles estão se aprontando para ir ao casamento de Johnny, que só deveria ser no mês que vem. Mas considerando que eles não se casam no filme, a razão de todo mundo estar de terno é... hm... ahn.....
Bom, todos saem para a rua, de terno, e começam a jogar a bola de futebol americano de um para o outro, de um para o outro, de um para o outro...


Cena: Mark e Johnny em uma lanchonete, DR parte II

MARK
“Como foi o trabalho hoje?”

JOHNNY
“Foi bom. Temos um novo cliente.”

MARK
“Que cliente?”

JOHNNY
“Não posso contar. É confidencial.”

MARK
“Ah, qualé.”

JOHNNY
“Não posso. Falando nisso, como está a sua vida sexual?”

WTF???


Cena: mais sexo entre Mark e Lisa. Mais drama entre Lisa e sua Mãe. Mais angústia de Johnny sobre qual-o-problema-de-minha-noiva.


Cena: estamos chegando no final disso. A festa de aniversário de Johnny.

Reusmindo: Lisa manda todo mundo para fora do apartamento, menos Mark. Eles começam a se pegar no sofá. Ela, Homo sapiens sapiens que é, não tranca a porta. Entra um Personagem Qualquer que fica indignado com aquela cena. Afinal, como ela pode fazer uma coisa dessas com um cara tão decente, legal, interessante e bom como Johnny?

Alguém quer apostar comigo que esse filme foi escrito como uma auto-biografia, contando o fim de um relacionamento de Tommy Wiseau com alguma namorada que ele teve, através de seu ponto de vista míope e simplista do que aconteceu? Quer dizer, todo mundo durante o filme todo fica repetindo o quanto Johnny é bom, responsável, legal, simpático... isso me cheira fortemente a ego, pessoal.

PERSONAGEM QUALQUER
“Você vai destruir Johnny. Ele é muito sensível.”

Viu?

LISA
“Não me importo. Amo o Mark.”

[três segundos depois, mantendo a tradição do filme, completamente do nada...]

JOHNNY
“Tenho um aviso a fazer: vou ser pai!”

Personagem Qualquer e Amiga De Lisa decidem que é hora de intervir, e repetem sem parar que ela “tem que falar com o Johnny.” Personagem Qualquer quer saber “quando o bêbe nasce” e Lisa responde que não está grávida.

LISA
“Só disse isso para tornar as coisas mais interessantes.
Nós provavelmente vamos ter um filho uma hora ou outra.”

WTF? Você não está deixando o cara?
AAAAAAAAAAAAAAAAAAARGH! Meu cérebro! Eu sinto meu QI caindo. Estou a um passo de voltar a assistir “Malhação ID” e ler “Capricho”.


Então os dois passam a argumentar o quanto o que ela está fazendo é errado, o quanto aquilo vai destruir a amizade deles e acabar com o grupo de amigos... é, porque é bem esse o ponto da coisa toda. Lisa, no entanto, não está nem ligando, e “não quer mais falar sobre isso”.


Cena: Johnny e Mark brigam na festa de aniversário.

Por que eles brigam? Porque Mark e Lisa estão dançando colados e se acariciando, só por isso.

MARK
“Se você satisfizesse sua garota, ela não ia me procurar.”

JOHNNY
(sem expressão nenhuma. Mesmo. É assustador o quanto a expressão não existe)
“Seu filho da puta, eu te mato.”

LISA
“Vocês parecem duas crianças!”

JOHNNY
“Todos me traíram! Estou cansado desse mundo!”

E o que você faz quando o mundo te traí? Se tranca no banheiro, é claro.

LISA
“Johnny, saí daí.”

JOHNNY
“Daqui a pouco, vagabunda.”

E o que você faz quando tem um noivo trancado no banheiro? Liga para o amante, é claro. Ah, mencionei que ele mora no mesmo prédio? Pois mora.

LISA
(no telefone)
“Mark? Preciso falar com você.”

MARK
“O que está acontecendo?”

LISA
“Não se preocupe com Johnny. Ele está se comportando como um bebê. Sabe, eu te amo muito.”

MARK
“Por que não dá o fora nesse maluco? Não gosto mais dele.”

LISA
“Eu sei. Ele não merece. Por que não vou até o seu apartamento?”

MARK
“Claro, querida. Vem. Eu quero seu corpo.”

Johnny decide sair do banheiro no momento que ela desliga o telefone. Quando Lisa não quer contar com quem estava falando (como se não fosse a coisa mais óbvia do mundo), ele pega o gravador que colocou lá algumas cenas atrás, e pira ao perceber (de novo) que é um chifrudo.

Aí ele saí pela casa toda, quebrando tudo e gritando, e é impressionante notar que o cara consegue fazer uma cena com uma carga emocional dessas sair totalmente vazia. Na verdade, seria hilário se não estivesse me doendo na alma. Então ele tira sei lá de onde uma arma (não me diga que é a mesma arma do Traficante De Toca, vai) e dá um tiro na própria boca.
Corta para Mark, Lisa e Denny chorando desesperados em cima do corpo...


E FIM, finalmente.


Olha, não sei bem o que dizer. Mentira, não sei NADA o que dizer. Esse filme não é só ruim. Esse filme não é só ridículo. Esse filme não é só absurdo. Esse filme NÃO É. Ponto.
Olha, só os fortes conseguem ver essa coisa inteira. Só os verdadeiramente preparados e iluminados por Deus. Eu me sinto um ser humano mais forte e pronto para encarar as coisas da vida após ter assistido + feito um roteiro disso.
E, Tommy Wiseau, onde quer que você esteja, que apodreça no inferno. De coração.

Deus, preciso de álcool. Sério mesmo.

Ai.





























terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Encontro de casal

(Couples Retreat. Peter Billingsley, 2009.)


Encontro De Casal

Ou

Deus, Meu Cérbero Dói!


Cena: e vamos começar esse desastre

VINCE VAUGHN
(na cama, dormindo)

FILHO CAÇULA FOFO SEMPRE EM CLOSE PARA A PORÇÃO FEMININA DIZER “AW” QUANDO ELE APARECER
Oi!

PORÇÃO FEMININA
Aaaaaaaaaaaaaw!

FILHO CAÇULA FOFO SEMPRE EM CLOSE PARA A PORÇÃO FEMININA DIZER “AW” QUANDO ELE APARECER
Eu fiz Xixi!

*risadas do Chaves ao fundo*

[Sim, isso foi uma piada. E foi a melhor do filme todo.
Aham.
Tem noção da minha dor agora? Tem? Tem?]

VINCE VAUGHN
Olá, minha Esposa Gostosa. Olá, Filho Mais Velho Que Aparece Ainda Menos Que O Filho Caçula. Vamos todos tomar café da manhã juntos como a grande família feliz que somos.

FILHO MAIS VELHO QUE APARECE AINDA MENOS QUE O FILHO CAÇULA
...

ESPOSA GOSTOSA DE VINCE VAUGHN
Não se esqueça que temos que ir comprar azulejos ou algo assim. O que só é relevante para que possamos ter mais uma piada no filme: a do nosso Filo Caçula fazendo xixi em um vaso sanitário de exposição.

FILHO CAÇULA FOFO SEMPRE EM CLOSE PARA A PORÇÃO FEMININA DIZER “AW” QUANDO ELE APARECER
Eu fiz xixi!

PORÇÃO FEMININA
Aaaaaaaaaaaaaaaw!

[Aguente firme, porque isso é só a primeira cena. Espera até ser apresentado aos Outros Personagens Que Vince Vaughn Escreveu Para Que Se Parecessem Com Ele Mesmo.]


Cena:1° Casal: o de negros (cotas, baby, cotas)

NEGRO GORDO
(em uma loja de motos, falando no telefone com Vince Vaughh)
Preciso que me empreste dinheiro. Vou comprar um veículo para me reafirmar como um homem e impressionar minha nova-namorada-pós-divórcio-conturbado.

VINCE VAUGHN
Mas ela só tem 20 anos! Compre um álbum da Hello Kitty para ela!

* risadas do Chaves ao fundo*

NAMORADA DE 20 ANOS COM VOZ DE ESQUILO
(que, obviamente, não tem 20 anos. Será 20 anos uma hipérbole de que ela é mais nova que seu namorado ou os realizadores dessa coisa acharam mesmo que a audiência não notar que ela é mais velha que isso?)
Papai, vamos logo com isso!

NEGRO GORDO
Ah, qualé, cara. Sabe como estou deprimido depois que minha mulher me deixou. Eu a amava. Muito. Mesmo. Demais. Ela era a minha cara metade, meu...
[é, entendemos que ela deve voltar no final. Vamos logo com isso?]
Preciso de compensação.

VINCE VAUGHN
Tudo bem, sou um pateta mesmo.


Cena: 2° Casal: Cara Nojento + Samantha, de Sex and the city

Cara Nojento chega em casa, senta, e vê a Filha Adolescente Vadia fantasiada de Carla Perez.

FILHA ADOLESCENTE VADIA
Vou sair.

CARA NOJENTO
Vestida assim? Esse short é do tamanho de um absorvente!

FILHA ADOLESCENTE VADIA
Dã. É de um estilista. Francês.

*risadas de Chaves ao fundo*

SAMANTHA
Seu pai tem razão, não pode sair de casa com uma roupa dessas. Por que não disse isso antes de seu pai mencionar qualquer coisa? Também não sei.

FILHA ADOLESCENTE VADIA
Tá, vou me trocar... queria saber porque diabos pareci, já que nunca mais sou mencionada novamente, ou tenho qualquer relevância para a historia.

VINCE VAUGHN (O ROTEIRISTA/ATOR/PRODUTOR) E DIRETOR PETER BILLINGSLEY
Porque queríamos uma adolescente em trajes mínimos?

ATRIZ QUE FAZ FILHA ADOLESCENTE VADIA
Me sinto tão suja....


Cena: 3° (e último, graças a Deus) Casal: Cara Qualquer + Veronica Mars

[deitados na cama, com um computador entre eles]

CARA QUALQUER
Checou tudo?

VERONICA MARS
É claro. Me conhece, sabe que sempre checo tudo três vezes.

[e é o fim da cena de exposição desse casal. Sério. E olha que eles meio que são o nó narrativo principal da coisa toda. Meu palpite? Não tinha ninguém semi-nu na tela (como a Namorada De 20 Anos ou a Filha Adolescente Vadia) então para quê gastar tempo com algo tão trivial como desenvolvimento de personagem? Quer dizer, dispensável.]



Cena: festa de aniversário de um dos filhos do Casal Zero (Vince Vaughn e Sua Esposa) e onde, finalmente, algo semelhante a um “roteiro” nos será apresentado.

CARA QUALQUER
Por que não deixa seus filhos vendo o show de mágica e vamos lá para cima? Temos que conversar sobre algo importante com vocês.

VERONICA MARS
Melhor de tudo, será em Power Point!

[então todos os casais se agrupam – menos a Namorada De 20 Anos, já que ela não é o verdadeiro par romântico do Negro Gordo e não tem pertinência nenhuma na cena]

CARA QUALQUER
O que queríamos dizer para vocês é que estamos considerando seriamente a possibilidade de nos separar. Olha só, fizemos até alguns gráficos no computador mostrando que nossas chances de encontrar um novo parceiro serão maiores se terminamos nosso relacionamento nos próximos meses, ao invés de daqui há alguns anos.

ESPOSA GOTOSA DO VINCE VAUGH
Mas vocês são perfeitos um para o outro!

VERONICA MARS
Não temos tanta certeza disso. Bom, por isso que tivemos uma ideia: antes de assinarmos o papel do divórcio, viajaremos para um lindo resort paradisíaco especializado em lidar com casais em crise. Mas, como não temos dinheiro necessário para irmos sozinhos, pensamos em dividir entre todos aqui. Que tal?

NEGRO GORDO
Mas achei que era pobre...

CARA QUALQUER
Não é mais importante para essa cena. Cala a boca. E aí, vamos vão com a gente? Tem um monte de coisa para fazer: jet-ski, trilha, praias, terapia de casal...

VINCE VAUGHN
Terapia de casal? Bah. Não acredito em terapia. Tenho o casamento perfeito.

CARA NOJENTO
Eu também.

NEGRO GORDO
Quando eu ainda era casado com a minha primeira mulher, quem eu amava como nunca amei antes, a responsável por me fazer acordar com um sorriso no rosto, a minha razão de viver, a gente fez terapia. Não adiantou de nada.

VINCE VAUGHN
É isso aí. Somos americanos, não acreditamos em terapia.

* risadas do Chaves ao fundo *

[vou pular um monte de cenas que só serviram mesmo para arrastar o ritmo dessa coisa, já que é bem evidente que todo mundo vai concordar, uma vez que essa é a premissa dessa p****.]

(desculpa, mas Vince Vaughn faz isso comigo)

CARA QUALQUER
(quase que textual)
Vamos lá, Vince Vaugh, diga que vai. Sabe muito que se concordar todos os outros personagens vão te seguir.

EGO DO VINCE VAUGHN
Não é ótimo encontrar um lugar de exposição e ainda ser pago por isso?

EGO DO NICOLAS CAGE
(Levando em consideração os filmes A lenda do motoqueiro fantasma, O Vidente e o remake de O sacrifício)
Não é?


Cena: Ilha Paradisíaca, que, ao menos, é realmente maravilhosa. Cartão-postal-Fernando-de-Noronha-com-hotéis-cinco-estrelas maravilhosa.

CARA QUE OS RECEBE NA ILHA
(com um sotaque... hm... não faço ideia. Era para ser francês??)
Sejam bem vindos. Espero que gostem de sua estadia aqui, na ilha tão cuidadosamente planejada pelo Monsieur Marcel.

CARA QUALQUER
Obrigado. Estamos ansiosos para começar.

CARA QUE OS RECEBE NA ILHA
Venham comigo que os levarei para os respectivos quartos. Monsieur Marcel decorou os quartos sozinho, porque Monsieur Marcel é um homem extraordinário. Monsieur Marcel fundou esse ilha para casais com problemas depois de unir a arte do yoga, de mais alguma coisa, e de ler A arte da guerra.

* risadas do Chaves ao fundo *

Messie Marcel é um mestre no que faz. E também, Monsieur Marcel é um excelente chefe...

[7 referências ao Monsieur Marcel depois...]

E aqui está o Itinerário De Viagem de vocês.

ITINERÁRIO DE VIAGEM
Terapia de casal: 6 da manhã

TODO MUNDO
Nããããããããããããããããããããããããão!

VINCE VAUGHN
Deve haver algum engano. Somente o Casal 3 vai para a terapia. O resto de nós vai dormir até meio dia, e passear pela praia.

CARA NOJENTO
É! E ver se conseguimos achar uma maneira de chegar até a ilha que fica do outro lado, a Ilha Da Pegação (não, é sério, esse é o nome da ilha), mesmo quando os garçons nos dizem que é impossível...

CARA QUE OS RECEBE NA ILHA
Não funciona assim. Se quiserem desfrutar da sabedoria do Monsieur Marcel precisam fazer todas as atividades. Todas. Ou vocês vão embora sem aproveitar nada. Muahahahahahhaa!


Cena: começo das sessões com Monsieur Marcel + começo da terapia de casal

MONSIEUR MARCEL
Bom dia, meus jovens padawans. Vamos começar nossa busca em direção a iluminação da alma, ou algo igualmente ridículo. E, sem mais explicações, vamos todos tirar a roupa e encarar nosso parceiro. Por quê? Isso.. ahn... isso... ajuda a acabar com inibições e fortalecer a sua força interior e... tirem logo.

ESPOSA GOSTOSA DE VINCE VAUGH, SAMATHA, VERONICA MARS E NAMORADA DE 20 ANOS COM VOZ DE ESQUILO
(tiram a roupa. Sem muitos problemas, todas estão maquiadas, com o cabelo feito e usando Victorias’ Secret às 6 da manhã. A câmera se demora nelas porque são todas gostosas.)

Pergunta: como homens normais (feios e pobres) são casados com mulheres gostosas?
Resposta: acho que não preciso xingar mais Vince Vaughn até o fim desse roteiro, preciso?


VINCE VAUGH, CARA NOJENTO E CARA QUALQUER
(tiram a roupa. A câmera passa rápido por cima deles, já que, sabe.)

GORDO NEGRO
Hm. Sabe o que é? Bem hoje esqueci de colocar minha cueca.

[Isso quer dizer que...]

BUNDA DO GORDO NEGRO
(na tela do cinema)

SUA RETINA
(jamais será a mesma)

*risadas do Chaves ao fundo *

[Casal 0 Na terapia: ah, então quer dizer que eles tinham problemas no relacionamento escondidos pela fechada de casamento perfeito? Quem diria uma coisa dessas? Estou genuinamente surpresa com esse desenvolvimento.]

[Casal 1 Na Terapia: ela fica com cara de entediada. Ele fala sobre a sua primeira esposa, e como ele a amava do fundo de seu coração, como ela fazia seu dia feliz, como... ]

[Casal 2 Na Terapia: eles se odeiam e não tem uma relação íntima sabe-se lá a quanto tempo. Mais uma vez, choque!]

[Casal 3 Na terapia: querem saber, em porcentagem, se deveriam acabar com o casamento ou dar mais uma chance a eles mesmos]


Cena: Sabe o Cara Nojento? Ele tem uma cena de quase-mastrubação. Legal, não?

CARA NOJENTO
(deitado no sofá. Ele pega uma foto de uma gostosa qualquer de biquíni, tira a camisa, pega o lubrificante, puxa a calça e... graças a Deus Pai todo poderoso, senhor do céu e da terra, ele é interrompido pela chegada do serviço de quarto)

* risada do Chaves ao fundo *


Cena: segunda sessão com Monsieur Marcel + terapia de casal

[em que todo mundo está alimentando peixes no mar. O ponto disso? Não faço ideia. E nem sei se foi especificado. Mas também, deve ser uma explicação bem tosca do tipo “sintam a energia da natureza” ou “mergulhem no ciclo da vida”. O importante é que, de repente, tubarões aparecem (oh, não, tubarões no mar! Que coisa mais inesperada!) e Cara Qualquer derruba um balde cheio de sangue e peixes em cima de Vince Vaughn.

Não, infelizmente Vince Vaughn não é devorado por monstros marinhos.

Ele consegue escapar com apenas um arranhão, mas esse Encontro De Quase Morte Nos Dentes De Um Tubarão de torna uma piada recorrente no resto do filme.]

A única pessoa que consegue fazer uso de piadas recorrentes sem provocar minha ira interior é Woody Allen. Qualquer outro vai acabar me irritando, na certa porque a pessoa Não Sabe Quando Parar. Qualquer outro sendo Vince Vaughn...
Que bom para a humanidade que não tinha uma arma de fogo na minha bolsa.



Cena: agora, o Cara Nojento vai ter uma ereção enquanto é massageado por uma loira gostosa

CARA NOJENTO
(tem uma ereção enquanto recebe a massagem)

HOUAISS
Ereção: Subst. Feminino. Levantamento ou endurecimento do pênis.

PROFESSORA RESPONSÁVEL POR DAR AULA DE REPRODUÇÃO SEXUAL, NA 4° SÉRIE
A ereção é um processo totalmente natural, que acontece com todo homem. E que bom, não é, do contrário ninguém aqui teria nascido? Logo, crianças, não precisam rir ou ficar envergonhados com a palavra, certo?

PELÉ
Caso tenha algum problema, fale com seu médico.

[sinto dizer, mas houve risadas no meu cinema.
Sim, risadas. Em outras palavras: 2012 é uma bênção]


Cena: olha, eu não aguento mais escrever essa desgraça. Vamos pular por mais algumas brigas, e chegamos até a Pior Sequência Desse Filme: aula de yoga.

ESTERIÓTIPO LATINO DE SUNGA MINÚSCULA
(saí da água, batendo os cabelos, com a câmera grudada no seu abdômen.)

VOCÊ
De repente estou em um filme pornô e ninguém me avisou?

ESTERIÓTIPO LATINO DE SUNGA MINÚSCULA
(com algum sotaque ainda mais indecifrável que o do Cara Que Os Recebe Na Ilha)
Olá, classe. Vamos começar a aula de yoga de hoje. Ou, como prefiro chamar, Aula De Poses Com Forte Conotações Sexuais. Vamos lá?

VOCÊ
Acho que isso conta como um aviso...

QUALQUER PESSOA QUE ENTENDA QUALQUER COISA DE YOGA
(chora)

Pessoas que deram risada nessa cena se dividem em dois tipos:
a) ri porque a coisa é ruim demais, e rir é preferível do que chorar
b) ri porque é muito engraçado, cara. Olha lá, de quatro!
Preciso dizer quem deveria evitar de procriar para ajudar na evolução do mundo?


Cena: tá, vamos logo para o final. Quando todo mundo brigou com todo mundo, e a Namorada De Vinte Anos Com Voz De Esquilo cansou de ficar em uma ilha paradisíaca com tudo na faixa com seu namorado, e fugiu para a Ilha Da Pegação.

CARA NOJENTO
Ilha Da Pegação (baba).... Olha, eu vi quatro canos abandonadas na praia há alguns dias. Vamos pegar as canoas, remar até o outro lado. Vamos, por favor, vamos, vamos?

CARA QUALQUER
Tudo bem. Mas temos que voltar logo. Monsieur Marcel nos disse que deveríamos aparecer na praia ao nascer do Sol para completarmos nosso curso.

[eles vão para a ilha. De canoa. E começa a chover no meio do caminho. E eles brigam mais um pouco. E o grupo se separa entre XX e XY]

GRUPO XX
Estamos todas deprimidas. Precisamos...

ESTERIOTIPO LATINO, DESSA VEZ SEM SUNGA MINÚSCULA
Ah, desculpe-me por estar pelado. Estava nadando. Já vou colocar uma toalha.
Ah, e querem beber?

GRUPO XY
Não podemos parar. Temos que encontrar a Namorada De Vinte Anos...

CARA NOJENTO
E mulheres gostosas que, por alguma razão obscura, vão dar em cima da mim, quando estão rodeadas de modelos da Calvin Klein...


Cena: ah, quase ia me esquecendo. O campeonato de Guitar Hero.

[Então o grupo XY encontra uma cabana no meio da floresta, e como toda e qualquer pessoa sensata faria nessa situação, tentam atravessar a cabana por dentro, já que ela aparentemente fica bem no meio da trilha. Não vou nem entrar em uma discussão do porque diabos alguém colocaria uma casa no meio de uma trilha, porque, né? Roteiro: Vince Vaughn. Estava na minha cara quando entrei no cinema.
De qualquer forma, dentro da cabana é a casa dos funcionários do lugar, e onde o Cara Que Os Recebe Na Ilha está jogando Guitar Hero. Na tentativa de evitar ser dedurado para Monsieur Marcel, Vince Vaughn propõe o seguinte:]

VINCE VAUGH
Que tal uma aposta? Quem se sair melhor no Guitar Hero vence? E se ganhar, não conta para seu chefe que desobedecemos as regras e estamos na Ilha Da Pegação.

CARA QUE OS RECEBE NA ILHA
E se eu ganhar? O que você tem que pode me interessar?

[...]

* som de grilo*

[...]

* bola de feno passando ao fundo*

[...]

*qualquer outro clichê indicando falta de resposta/movimento*

Sim, senhoras e senhores, temos mais um buraco no roteiro. Vamos fazer de conta que ninguém viu e pular direto para a cena do “duelo”.

EDITOR DA CENA DO DUELO
Olha, papai, consegui trabalhar em um filme importante! Falei que não precisava de ensino superior para ser editor, não falei?


Cena: festa na Ilha Da Pegação, ou Todo Mundo Se Acerta

CASAL ZERO
Sim, nós temos nossos problemas, mas também nos amamos. Nunca mais vamos deixar de usar aquela força tão poderosa chamada “diálogo”...

PRIMEIRA MULHER DO GORDO NEGRO
(surgindo do nada. E, adivinha só? Ela também é gostosa.)
Oi! Surgi na última cena para dizer que escutei alguém em algum lugar dizendo que você estaria por aqui e tive que te procurar. Claro, pedi o divórcio. E, claro, te causei sérios traumas psicológicos. Mas o importante é que te amo e quero voltar para você.

CASAL DOIS
É, a gente tem o péssimo costume de um chifrar o outro. Mas isso é provavelmente porque não fazemos sexo dentro de casa! Assim que a gente começar a transar regularmente, não vamos mais sair procurando por parceiros em bares noturnos.

CASAL TRÊS
A gente se ama, no fim das contas.

PESSOA QUE DISSE PARA VINCE VAUGHN QUE ELE PODIA ESCREVER
(tem lugar cativo no inferno)


Cena: a última sessão com o Monsieur Marcel

MONSIEUR MARCEL
Vocês não apareceram aqui no nascer do Sol.

CARA QUALQUER
Desculpa então, mas estávamos ocupados demais nos reconciliando para nos preocuparmos com as suas lições idiotas.

TODO MUNDO EM CENA
(engole o ar, chocado)

MONSIEUR MARCEL
(orgulhoso)
Muito bem, discípulos. Isso prova que vocês aprenderam. Como última cena desse suplício, vou entregar para cada casal uma estátua de um animal, que representa o espírito de cada dupla.

(tá, juro que não lembro com certeza. Algo como, Casal 1: Porco; Casal 2: Abelha; Casal 3: coelhos)

MONSIEUR MARCEL
E agora, para o Casal Zero... você, Vince Vaugh, é um ass (= asno).

* risadas do Chaves ao fundo *

EU
Como se precisasse de duas horas de filme para descobrir isso...


FIM, GRAÇAS A DEUS